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sábado, 14 de junho de 2025

Cineclube Realidade exibe os filmes Sem Asas e Marés da Noite no Centro Integrativo Social Carajás no municipio de Socorro (SE).


 No dia 11 de junho, o Cineclube Realidade ocupou o Centro Integrativo Social Carajás, no Marcos Freire II (Socorro), com a exibição de dois filmes que não deixam margem para neutralidade: Sem Asas e Marés da Noite (Tragédia de São Sebastião). Duas produções que provocam, comovem e nos forçam a olhar para as dores de um país que ainda insiste em silenciar as vozes negras e periféricas.

O Centro  integrativo social  carajás , atua no município  de Nossa Senhora  do Socorro desde 2013 iniciando  suas atividades  como associação  de Moradores,  em 2019  passa  ser uma instituição de abrangência em todas áreas  da cidade, trabalhando  em rede  com instituições locais e de  outros territórios.

Hoje conta com público de 200 pessoas assistidas, ofertando acolhimento, orientação  e cuidados em saúde. 

Fomenta o empreendedorismo institucional  com artesanato  e economia  solidária. 

Promove ações relacionadas  ao fomento da cultura.

A exibição de Sem Asas (1) acendeu o debate sobre o racismo estrutural e a desumanização diária enfrentada por famílias negras no Brasil. A pergunta lançada ao público — “Como vocês captaram o que foi passado no filme?” — abriu espaço para reflexões potentes:

— “É uma realidade muito presente. A cor negra é muito discriminada, é algo que ainda se passa de geração a geração, infelizmente.” — Osmar.

— “Trouxe uma questão intrigante: será que a discriminação social vem antes do racismo? Pessoas negras bem vestidas são, às vezes, tratadas com mais respeito do que aquelas em situação precária. Isso diz muito sobre a nossa sociedade e como as autoridades ainda agem seletivamente.” — Audisséia.

Já Marés da Noite, que trata da tragédia em São Sebastião (2), tocou fundo em cada pessoa presente. Já a segunda pergunta da noite foi direta: “O que lhes foi transmitido através desse filme?”. As respostas, carregadas de emoção, mostraram a força do cinema como denúncia e memória:

— “Transmitiu muitos sentimentos intensos, tristes, mas também esperança. A narradora acreditava que a cidade voltaria ao normal.” — Cremildes.

— “Não precisou mostrar cenas de impacto. As falas por si só já mostraram a realidade. O começo depois do meio... é o recomeço.” — Osmar.

— “Foi uma mensagem explícita que transmitiu luto, denúncia, escancarou o abandono, a desigualdade e o descaso com as pessoas, as vítimas daquela região.” — Iasmin.

Foram momentos de silêncio respeitoso, seguidos de falas fortes, que reafirmaram o compromisso do Cineclube com a memória, a justiça e a escuta sensível. Porque resistir também é isso: reunir, assistir, refletir — e não deixar que a dor alheia seja esquecida.

A exibição faz parte da  14º Mostra Difusão Cinema e Direitos Humanos é realizada pelos Ministérios da Cultura (MinC) e dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). No Estado de Sergipe, conta com 11  pontos de exibição credenciados, incluindo o Cineclube  Realidade, como parte dos  320 credenciados em todo o Brasil.  A iniciativa teve inicio em 15 de maio e se  encerra em 22 de junho.

Com a temática “Viver com dignidade é direito humano”, a Mostra reforça a importância deste evento como um espaço de diálogo e reflexão sobre questões fundamentais que afetam nossa sociedade. Viver com dignidade pressupõe um conjunto de fatores que passam pelo direito à moradia, educação, saúde, cultura e lazer.

Iasmin Santos Feitosa - Agente Cultura Viva.

P.S.: Por Zezito de Oliveira

(1) A sessão realizada com um grupo pequeno de pessoas, cinco no total, garantiu um espaço maior de liberdade para no debate pós exibição do filme "Sem Asas",  surgir uma voz representativa de um grande contingente de brasileiros  influenciadas por um pensamento conservador do status quo de injustiças e desigualdade a que somos submetidos   desde a época da colonização, trata-se de um pensamento que não reconhece a existência de racismo no Brasil e a não necessidade de cotas raciais para reparar a injustiça de uma abolição incompleta e inconclusa. 

No debate foram trazidos alguns exemplos que confirma a existência do racismo com base na REALIDADE, como a violência da discriminação sofrida por negros quando vão fazer compras  em supermercados, quando são observados com maior ênfase  e seguidos  por vigilantes, muitas vezes também negros. 

Foi citado em defesa das cotas raciais, por ser  uma forma de reparação pela  abolição da escravidão ter sido realizada sem indenização aos escravos libertos, o que poderia ser feito pelo menos por meio da cessão de terras públicas, em razão da grande extensão territorial do Brasil, o contrário do que aconteceu com um grande contingente de imigrantes europeus que chegaram ao país nos anos finais do  séc. XIX e inicio do século XX recebendo doação de terras, garantia de pagamento de passagens, acomodação e ferramentas de trabalho, para trabalhar e "embraquecer"  a terra brasilis... 

Assista AQUI a uma palestra do historiador Luiz Antonio Simas, partindo da ideia da história a contrapelo, questionou o ensino conformista da história, eurocentrado até quando fala de africanos e índios, e discutiu o racismo epistemológico que fundamenta a intolerância religiosa, inclusive nas escolas, apresentando alternativas para combatê-lo.

(2) Antes da apresentação do filme Marés da Noite, fizemos  uma rápida contextualização da questão de fundo que o filme traria por meio de animação e um belo texto narrado  e escrito  como um quase poema.

Dois anos da tragédia de São Sebastião: mobilização e resistência por justiça.  Aqui


sexta-feira, 13 de junho de 2025


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