Nesta entrevista, ele fala sobre solidão digital, impotência política, desilusão com a esquerda e a urgência de encontrar alegria em meio à agonia.
"O filósofo italiano perdeu a esperança. “Temos de criar as condições para a alegria e a solidariedade durante a agonia”.
Conhecido por “Bifo” desde jovem, o italiano Franco Berardi é uma referência do pensamento de esquerda das últimas décadas. Em maio de 1968 participou na revolta dos estudantes da Universidade de Bolonha. Faria parte do grupo extraparlamentar Potere Operaio, ao lado de figuras como Antonio Negri. Nesses anos de agitação rebelde fundou a revista A/traverso e esteve na rádio pirata Alice. Nos seus livros, Berardi sai das baias do marxismo mais ortodoxo, chamando, por exemplo, ensinamentos e conceitos da psicanálise para a sua crítica às sociedades capitalistas pós-industriais.
O seu último livro, Disertate (2023), identifica na “onda” de depressão entre os jovens um sintoma de um mundo de trabalho em excesso e em crise climática. Perante o caos e a dor, a resposta desses jovens é a “deserção”, a desistência, como se a alegria só pudesse ser encontrada nas “ruínas”, defende “Bifo”.

Sim, Franco Berardi, hoje com 75 anos, perdeu a esperança. Quisemos falar com ele tendo a recente edição portuguesa de Futurabilidade — A Era da Impotência e o Horizonte de Possibilidade pela VS. como pretexto. Nesse livro, editado originalmente em 2017, o filósofo já fazia um diagnóstico sombrio da vida enformada pelo capitalismo, mas ainda acreditava que seria possível abrir uma rota de fuga. Como? “Criando uma consciência comum e uma plataforma técnica comum para os trabalhadores cognitivos do mundo”. Foram eles, os trabalhadores intelectuais (os artistas, os engenheiros, os cientistas), que montaram a engrenagem, cabia-lhes agora “reprogramar” a grande máquina do mundo para benefício coletivo.
Quase dez anos depois de escrever essas linhas, a esperança de Franco Berardi, que conversou com o Ípsilon por videochamada a partir da sua casa em Bolonha (uma entrevista terminada por e-mail), esfumou-se.
A entrevista é de Pedro Rios, publicada por Público, 31-07-2025.
"Tenho trabalhado particularmente com jovens, estudantes, militantes, pessoas que falam comigo por razões psicanalíticas, e o que descubro é que, para eles, a solidão é o seu futuro. Não há nada que permita imaginar solidariedade no futuro. É por isso que digo que a experiência humana acabou.Agora, a verdadeira novidade é que a nova geração está consciente do fato de que o genocídio é a regra do mundo em que vivemos hoje " Franco Berardi
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