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sexta-feira, 7 de março de 2025

Música em "Ainda Estou Aqui"

 



Trilha completa:

“A Festa Do Santo Reis” – Tim Maia

“Jimmy, Renda-Se” – Tom Zé

“É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” – Erasmo Carlos

“Acaua” – Gal Costa

“Je T’aime Moi Non Plus” – Serge Gainsbourg Et Jnae Birkin

“Alexander” – Philip May, Alan Walker, Richard Taylor Clifford, John Povey

“Take Me Back To Piaui” – Juca Chaves

“Baby” – Os Mutantes

“Agoniza Mas Não Morre” – Nelson Sargento

“As Curvas Da Estrada De Santos” – Roberto Carlos

“Como Dois E Dois” – Roberto Carlos

‘The Ghetto” – Donny Hathaway

“The Fight” – Johann Johannsson

“Fora Da Ordem” – Caetano

“Petit Pays”- Cesaria Evora

“Um Indio Live In Brazil” – Caetano

“Falsa Baiana” – Gal Costa

Roberto Carlos - Filme Ainda Estou Aqui

TOM ZÉ E AINDA ESTOU AQUI - JIMMY RENDA-SE



quarta-feira, 5 de março de 2025

O filme "Eu estou aqui" sob o olhar de pesquisadores acadêmicos especializados no tema golpe de 1964 e ditadura e a janela de oportunidades aberta pelo filme..

 #Falas 1 - Marcos Napolitano (USP) sobre Ainda Estou Aqui, memória e a ditadura brasileira

A DUPLA IMPORTÂNCIA DO OSCAR PARA AINDA ESTOU AQUI. NOTA. Por Romero Venâncio (Universidade  Federal de Sergipe)

Independente das polêmicas ou os limites políticos ou estéticos do filme "Ainda estou aqui", o Oscar de melhor filme estrangeiro/internacional veio em boa hora. As polêmicas ocorreram nas redes digitais e algumas foram sérias e nos ajudaram a pensar no real valor do filme. De Chavoso da USP a Jones Manoel; de Marcelo Ikeda a Wesley P. de Castro, o filme virou uma boa polêmica nas redes... Acompanhei todas essas e participei até certo ponto. Mas reconheço uma coisa: as polêmicas não apagaram em nada a importância do filme e nem os autores da polêmica queriam isto. 

A vitória no Oscar só não foi completa porque Fernanda Torres não ganhou a estatueta de melhor atriz. Merecida, inclusive. A atriz é a peça chave do filme. Interpretação singular. Não ganhou. Uma pena. Mas o filme tornou-se o melhor filme estrangeiro/internacional neste 2025. E isto é importante. Na América Latina, a Argentina ja levou mais de um vez o prêmio, o Chile já ganhou também. Cuba não ganhou esse titulo pelas razões políticas de sempre. Por exemplo, em 1969 o genial "Memória do subdesenvolvimento" (Tomás Gutiérrez Alea) ganharia tranquilamente o titulo de melhor filme estrangeiro, mas nos EUA dos anos 60 jamais um filme cubano ganharia algo no Oscar.

Em tempo. "Ainda estou aqui" trouxe o primeiro Oscar para o cinema brasileiro. Ganhou reconhecidamente com  a estatueta de melhor filme estrangeiro/internacional e este prêmio tem uma dupla importância:

Primeiro. No âmbito da história do cinema brasileiro. Foi um titulo que honra a brava e acidentada história do cinema brasileiro. Desde o cinema novo, não vibrávamos tanto com um filme numa concorrência fora do país. Importante lembrar "O Quatrilho" ou "Central do Brasil". Confesso: não vibrei tanto com eles. Por exemplo, esse "O Quatrilho" ganhar o titulo de melhor filme estrangeiro nos anos 90 no lugar de "A excêntrica família de Antonia" (filme holandês) seria uma profunda injustiça. Mesmo depois da chamada "Retomada" do cinema brasileiro na segunda metade dos anos 90, não produziu filmes com força dentro e fora do país para concorrer a altura com outros filmes "estrangeiros". Foi um momento importante do cinema brasileiro e preparou o caminho para se chegar ao "Ainda estou aqui". E vou mais além: cria ânimo para avançarmos na produção cinematográfica nativa. Temos diretores/diretoras muito bons. Temos atrizes/atores muito bons. Mas oscilamos demais em governos e ministérios da cultura. Cinema é arte cara e precisa de apoio estatal. Precisa de boas escolas. Precisa de pesquisa  e produção. E ainda de grande importância, precisa de público. Uma luta histórica nossa. 

Segundo. A importância política do Oscar. "Ainda estou aqui" é o triunfo de uma memória. Nunca podemos esquecer: tivemos um golpe civil/militar em 1964. Deste golpe, seguiu-se uma brutal ditadura com consequências graves para os rumos do Brasil. Prisões arbitrárias, exílios, tortura, corpos desaparecidos, sufocamento da democracia, políticas econômicas concentradoras de renda e grande empobrecimento do país. Resumo da história: tivemos governos militares desqualificados para o cargo. O filme de Walter Salles é uma vitória (simbólica) sobre esta turma das casernas. O filme é sobre um homem perseguido pela ditadura. Tem sua prisão fora da lei. É torturado e assassinado. Seu corpo é tornado desaparecido e sua mulher fica sem chão com filhos para criar. Uma família foi destruída por uma ditadura militar. Este fato é necessário que se diga sempre. Depois de 60 anos do golpe de 1964, um filme brasileiro sobre a ditadura e do ponto de vista dos torturados ganha um prêmio internacional e um reconhecimento mundial. Depois de uma tentativa de mais um golpe civil/militar em 2023 e um ex-presidente na liderança e ainda sem punição merecida. Temos que guardar este dia em que "Ainda estou aqui" honrou nossa memória democrática e deixar para a memória das futuras gerações. Memória para uso diário.

Ainda Estou Aqui' e as camadas de esquecimento da ditadura | Entrevista com LUCAS PEDRETTI


Nos últimos meses, o debate público voltou a ser tomado por disputas em torno da memória da ditadura militar, uma questão-chave na política desde a redemocratização e intensificada com o surgimento do bolsonarismo. O gatilho dessa nova discussão é o sucesso do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que conta a história real do desaparecimento do deputado Rubens Paiva, assassinado pelo regime.

O longa foi celebrado por recolocar o tema em evidência e alcançar reconhecimento internacional, mas também recebeu críticas por abordar a violência do período, mais uma vez, sob a ótica da classe média. Essa limitação, de fato, não é nova: o próprio Relatório Final da Comissão da Verdade foi alvo de questionamentos semelhantes por parte de familiares de vítimas e de setores do movimento negro e indígena.

Para aprofundar esse debate, CartaCapital recebe o historiador Lucas Pedretti. Doutor em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ (Iesp/UERJ), ele é membro da Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia e autor dos livros Dançando na mira da ditadura – bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970  e  A transição inacabada: violência de Estado e direitos humanos na redemocratização.

'Ainda Estou Aqui' vencendo Oscar ajuda a exumar crimes da ditadura militar | Toledo e Thais Bilenky


#Memórias 19 - 1964: Nunca mais! - Abertura - O golpe militar e a universidade


Informações da fita

Título: 1964: Nunca mais! - Abertura - O golpe militar e a universidade 

Participantes: István Jancsó, Maria Helena Rolim Capelato, Alberto Carvalho da Silva, Isaias Raw, Sebastião Baeta Henriques, José Sebastião Witter, Alberto Luiz da Rocha Barros

Data: 11 abr. 1994

Descrição:  Na Abertura: O golpe militar e a universidade, do evento 1964: Nunca Mais!, realizada no dia 11 abr. 1994, os participantes falam sobre suas experiências de vida como acadêmicos na ditadura, ressaltando o papel da universidade na repressão e no enfrentamento do regime. Eles abordam vários eventos e discursam também sobre colegas perseguidos e o contexto internacional e nacional do golpe.

Palavras-chave: universidades e instituições de ensino, elitismo e classismo, intervenção militar, anticomunismo, contribuição civil para o golpe, disputas de poder, Inquéritos Policiais Militares (IPM), políticas reacionárias, ensino da História, contexto internacional, Guerra Fria, reformas sociais, governo João Goulart, fascismo, repressão, Holocausto, Doutrina de Segurança Nacional, Ato Institucional No 5 (AI-5), Atos Institucionais, anistia

Pessoas e entidades mencionadas: István Jancsó, Maria Helena Rolim Capelato, Alberto Carvalho da Silva, Isaias Raw, Sebastião Baeta Henriques, José Sebastião Witter, Alberto Luiz da Rocha Barros, Humberto de Alencar Castello Branco, Darcy Ribeiro, João Belchior Marques Goulart, Luís Antônio da Gama e Silva, Getúlio Vargas, Jânio da Silva Quadros, Samuel Barnsley Pessoa, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, Adhemar Pereira de Barros, Mário Schenberg, Kusno Sosrodihardjo (Sukarno), Luis Carlos Prestes, Getúlio Vargas, Filinto Muller, Augusto José Ramón Pinochet, Fernando Henrique Cardoso, Vladimir Herzog, Antônio Delfim Netto, Crodowaldo Pavan, Carolina Bori, Simão Mathias, Domingos Valente, Caio Prado Junior, Olga Baeta Henriques, Arthur da Costa e Silva, Antonio Carlos Pacheco e Silva, Philip Morrison, César Lattes, José Leite Lopes, Adolf Hitler (Adolfo Hitler), Zilda Marcia Grícoli Iokoi, Olga Gutmann Benário Prestes, Hélio Lourenço, Marcos Lindenberg, Emílio Garrastazu Médici, João Cruz Costa, Sérgio Buarque de Holanda, Warwick Estevam Kerr, FM-USP, Fundação Ford, IEA-USP, FAPESP, Escola de Medicina Paulista (EPM), IF-USP, ADUSP, UNESCO, Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), Comissão Nacional da UNESCO no Brasil (IBECC), EDUSP, Universidade de Brasília (UnB), Editora Universidade de Brasília (Editora da UnB, EDU), TV Tupi, Fundação Carlos Chagas (FCC), FUNBEC, EA/FE-USP, Revista Veja, SBPC, USP, Instituto Adolfo Lutz, Fundação Oswaldo Cruz, Polícia Militar (PM), CRUSP, CNPQ, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Fundação CAPES), UNIFESP, Faculdade de Ciências Médias e Biológicas de Botucatu (FCMBB, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP), FFCL-USP, Institutos Isolados do Ensino Superior, Universidade Estadual Paulista (Júlio de Mesquita Filho, UNESP), PCB, ESG, National War College dos Estados Unidos da América, forças armadas, CCC, Universidade Presbiteriana Mackenzie, DOI-CODI, Associação de Auxiliares de Ensino da Universidade de São Paulo (USP), Comitê Brasileiro pela Anistia, Universidade de Princeton, Institute for Advanced Study da Universidade de Princeton (IAS)



DITADURA MILITAR INTERCEPTOU CARTA PARA RUBENS PAIVA, DE AINDA ESTOU AQUI | PLANTÃO

1964 - PRIMEIRO EPISÓDIO - O ANO MAIS LONGO DA HISTÓRIA BRASILEIRA


As cartas que a ditadura escondeu

Em 2021, recebi um lote de correspondências escritas por exilados que nunca chegaram aos destinatários – entre eles, Rubens Paiva. Desde então, venho tentando entregá-las.  

https://piaui.folha.uol.com.br/cartas-ditadura-rubens-paiva-almino-affonso/

Oscar do Brasil: Ida do brasileiro ao cinema cresce, mas não chega ao nível pré-pandemia | Toledo


ELENIRA VILELA RELEMBRA FILMES NACIONAIS SOBRE DITADURA


CONHEÇA A HISTÓRIA DE DONA LILA, VÍTIMA DA DITADURA MILITAR


20 filmes para quem quer saber mais sobre a ditadura militar brasileira

Veja, por meio do cinema, como foi o período da ditadura militar brasileira, que levou o país a 21 anos de repressão, tortura e violência


terça-feira, 4 de março de 2025

Sobre os críticos de “Ainda estou aqui”

 03/03/2025



Por LÚCIO VERÇOZA*

A capacidade do cinema de Walter Salles de adentrar os raquíticos fios do debate público no Brasil – ou da opinião publicada

O filme Ainda estou aqui circula. Prossegue circulando. E sua circulação não é como a de um ventilador de padaria: que gira, gira e permanece no mesmo lugar – soprando pouco vento. O começo da circulação da película se deu, sobretudo, na pele e nos pelos das pessoas que saíram de casa para ir ao cinema.

O segundo circuito de circulação, que é um desdobramento do primeiro, está na capacidade do cinema de Walter Salles de adentrar os raquíticos fios do debate público no Brasil – ou da opinião publicada. Logo, nessa segunda esfera da circulação, não tardou para que os autores de resenhas alimentassem os blogs, YouTube, Instagram, TikTok e páginas da grande mídia – tanto com análises elogiosas, quanto implacáveis.

Dentre as críticas mais duras, gostaria de sublinhar o texto de Raul Arthuso, divulgado recentemente no jornal Folha de S. Paulo. O escrito tem sua relevância, pois desloca a discussão para o campo da estética. Porém, no afã de sustentar a tese na qual o filme de Walter Salles seria um passo atrás no contexto do cinema nacional contemporâneo, o autor contorce o argumento, rebaixando o peso político de Ainda Estou Aqui.

Numa rápida análise, é possível destacar trechos nos quais Raul Arthuso carrega excessivamente nas tintas – fazendo com que o filme analisado pareça outro: “sua ênfase está na narrativa íntima, na memória, nas relações pessoais em detrimento da história e da realidade social, mesmo que isso esteja presente como pano de fundo difuso.” “[…] a realidade política é só um detalhe na trama.” “[…] não consegue construir um mundo ficcional que diga algo para a nossa realidade.” “[…] produzir efeitos de emoções, sem agredir ou tensionar questões locais”.

Toda essa linha argumentativa leva à construção de um retrato de filme que seria politicamente minúsculo e quase irrelevante: “que pouco tem a dizer sobre a nossa realidade”; no entanto, se trata do inverso: pela via da estética do detalhe íntimo, Walter Salles conseguiu atar um nó que liga o passado ao presente – fazendo o espectador sentir o passado como algo que diz respeito ao que está em nossa frente. E esse traço, de conseguir reavivar a memória por meio da arte, tem uma enorme potência política.

 Tanto os críticos que gostariam que o filme fosse algo próximo de um panfleto (a exemplo das análises de viés excessivamente programático de Jones Manoel, ou do Chavoso da USP), quanto os que exigem uma estética de vanguarda, desconsideram que o forte impacto político do longa decorre de uma abordagem que toca na grande política pela chave da sutileza do detalhe e da micro-história.

A obra forma uma espécie de nó artístico – sem adotar uma linguagem explicitamente herdeira do Cinema Novo dos anos 1960, nem das vanguardas recentes do mangue ou dos sertões nordestinos –; um nó que não escreve um tratado da política econômica dos governos da ditadura militar, nem da luta sindical (como reivindicaram os críticos programáticos).

Todavia, é um nó ainda mais arguto, pois liga a ponta do passado à do presente em frente aos olhos e ouvidos do grande público: dando um tapa simbólico no rosto e na máscara do bolsonarismo. E, faz isso, sem dizer explicitamente o que faz. E faz isso construindo uma estética que sintoniza muito bem a forma ao conteúdo – sem pertencer às vanguardas da forma, e sem conceder a patrulha estreita dos que exigiram um filme-panfleto.

Talvez o grande acerto do filme esteja justamente nisso: em captar uma forma de pertencer a um tempo pelo 3×4 de uma família. E o faz sem a pretensão de lançar um tratado. E o faz demonstrando que uma linguagem aparentemente simples (em termos de inovação) pode ser sutil e profunda. A plateia, por diferentes caminhos, sacou o que estava na tela e sentiu, por alguns minutos, o sentimento do mundo. E o sentimento do mundo é ambíguo: carregado de choro, fúria, esperança, aplauso e memória.

*Lúcio Verçoza é professor de sociologia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Referência

Ainda estou aqui

Brasil, 2024, 135 minutos.

Direção: Walter Salles.

Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega.

Direção de Fotografia: Adrian Teijido.

Montagem: Affonso Gonçalves.

Direção de Arte: Carlos Conti

Música: Warren Ellis

Elenco: Fernanda Torres; Fernanda Montenegro; Selton Mello; Valentina Herszage, Luiza Kosovski, Bárbara Luz, Guilherme Silveira e Cora Ramalho, Olivia Torres, Antonio Saboia, Marjorie Estiano, Maria Manoella e Gabriela Carneiro da Cunha.

publicado em "A terra é redonda"

https://aterraeredonda.com.br/sobre-os-criticos-de-ainda-estou-aqui/

WALTER SALLES SER RICO IMPORTA SOBRE O FILME?


A meia verdade é a pior forma de mentira. 

É por aí que caminha um texto, que viralizou, apresentando o cineasta Walter Salles – do filme “Ainda estamos aqui” – como um beneficiário da ditadura que matou o deputado Rubens Paiva.

Walter Salles é herdeiro do banqueiro Walther Moreira Salles. No texto, o pai é apresentado como financiador do IPES, o Instituto de Pesquisas Econômico Sociais que teve papel fundamental no financiamento midiático em favor do golpe de 1964. Falso!

Eu escrevi a biografia de Moreira Salles. Não foi uma biografia autorizada, apesar do acesso que tive ao próprio embaixador, em dezenas de entrevistas, à parte do seu acervo e aos seus primeiros sócios. O livro descontentou os filhos por mencionar episódios delicados, como seus embates com Roberto Marinho, de quem foi sócio no Parque Lage, ou seus negócios com dívida externa brasileira. Foi um livro que homenageou a grande estatura pública dele, mas sem ocultar as fraquezas.

Walther Moreira Salles fazia parte de um grupo de empresários que apoiou Getúlio Vargas e seu sucessor João Goulart. Foi sua indicação para Ministro da Fazenda de Jango que viabilizou o parlamentarismo contra o golpismo das Forças Armadas, que queriam impedir Jango de assumir a presidência, com a renúncia de Jânio.

Aliás, pouco antes de renunciar, Jânio foi procurado pelos três comandantes militares oferecendo seu apoio para o caso de pretender dar um golpe. Jânio recusou apostando em outra saída: ele renunciando, saindo do país em um cruzeiro marítimo e, na volta, sendo consagrado pelo povo que exigiria sua volta. Na volta do cruzeiro, o povo não compareceu.

Há um conjunto de informações inéditas no livro. A história dos militares me foi relatada por Rafael de Almeida Magalhães. A do cruzeiro, pelo próprio Walther, que contou que foi planejado meses antes da renúncia.

Para viabilizar a posse de Jango, foi armada uma operação sigilosa para levar Walther até Porto Alegre, onde ele testemunhou a enorme coragem de Leonel Brizola, comandando a resistência – conforme me relatou. Walther foi o avalista do parlamentarismo justamente por suas relações estreitas com o sistema financeiro norte-americano – era amigo íntimo de Nelson Rockefeller – e com os grandes grupos de comunicação dos EUA.

Acertado o parlamentarismo, teve que voltar escondido, indo a Buenos Aires e voltando para São Paulo com carteira de identidade falsa.

O texto diz que sua ligação com Rockefeller foi fundamental para evitar sua cassação. Tem razão, mas não significa, em nenhum momento, adesão ao golpe.

Não se deve esquecer que a primeira grande denúncia contra as torturas praticadas pelo regime foi feita a Nelson Rockefeller em um evento no Museu de Arte Moderna que, possivelmente, foi a causa do assassinato de Zuzu Angel.

Para se contrapor à enorme frente midiática contra Vargas, Moreira Salles chegou a negociar uma grande editora, fundindo a Érica (que publicava a revista Sombra) com a Última Hora, de Samuel Wainer. Por conta disso, foi alvo da CPI da Última Hora. Como afirmar que ele financiava o IPES?

Walther foi salvo da cassação por duas circunstâncias. A primeira, no governo Castello Branco, por uma circunstância familiar: dona Argentina, esposa de Castello, tinha relações de parentesco com a família de Elisinha, esposa de Walther.

A segunda tentativa foi com Costa e Silva. José Carlos Marcondes Ferraz, conhecido playboy do Rio de Janeiro dos anos 60, me contou que passou uma noite na casa de Walther, com a ameaça de, a qualquer momento, a casa ser invadida por militares. Telefonemas de autoridades norte-americanas influentes – cuja amizade Walther cultivara como embaixador de Vargas e de JK – seguraram a cassação. E Delfim Neto foi essencial, a partir de uma conversa que teve com Costa e Silva – que me foi relatada pelo próprio Delfim.

Costa e Silva o procurou e perguntou o que aconteceria se cassasse Moreira Salles. E Delfim:

Pouca coisa, general. Nos indisporíamos com os banqueiros norte-americanos e europeus, e também com as grandes redes de comunicação dos Estados Unidos. Mas apenas isso.
Mesmo assim, a família Moreira Salles saiu do país e mudou-se para a França, por receio de ter o mesmo fim de Rubens Paiva.

O texto não informa que Waltinho, o filho, frequentava a casa de Rubens Paiva, era amigo de suas filhas. Fugia do ambiente pesado da sua própria casa – devido aos embates constantes do casal Moreira Salles – e ia buscar a leveza da família Paiva.

O Unibanco, de fato, foi beneficiado pela política econômica de Castello Branco, como outros bancos nacionais, a partir das reformas conduzidas por Roberto Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. O texto não consegue entender que, por baixo da política, havia uma estrutura empresarial e uma elite econômica carioca que orientava o país desde Vargas.

Roberto Campos foi assessor de Café Filho, de JK, participou da fundação do BNDES e, assim como Gouvea de Bulhões, transitava pelo alto mundo financeiro e empresarial do Rio de Janeiro.

É essa elite carioca – que se frequentava desde os anos 40, quando o Rio era apenas uma cidade que ainda não se internacionalizara -. além das ligações ultramarinas, que impediu Moreira Salles de ter o mesmo destino de grupos paulistas destruídos pela ditadura pelo apoio a Jango – como os Wallace Simonsen.

Mesmo no ambiente opressivo da ditadura, Moreira Salles ajudou JK e o próprio Jango, em seu exílio no Uruguai. Na ocasião, entrou em contato com banqueiros uruguaios, garantindo operações de financiamento das atividades de Jango.

Publicado no GGN

NÃO ENTENDEU A PERGUNTA

A treta entre Sandra Annenberg e a Folha por causa de Ainda Estou Aqui

Âncora da TV Globo fez questionamento direto ao jornal paulista após a publicação de uma matéria descabida que tentou colocar o longa de Walter Salles numa posição delicada