terça-feira, 22 de julho de 2025

Sergipe fazendo a sua parte no absurdo golpe de destruição da legislação de proteção ambiental. Quem são os responsáveis em nosso meio?

 

🌱 Na última sessão do primeiro semestre na Assembleia Legislativa de Sergipe, os deputados votaram em 49 projetos, tudo às pressas, urgente, sem debate público. Um deles foi o Projeto de Lei 200/2025, do governador Fábio Mitidieri (PSD), que facilita a dispensa de licenciamento ambiental em áreas rurais no estado, abrindo caminho para a devastação. 

Mesmo com falta de documentos e debates, o projeto foi aprovado. Dos 24 deputados, só Linda Brasil (PSOL) e Paulo Júnior (PV) votaram contra. “Em um momento de emergência climática global, com secas extremas, enchentes, não podemos abrir mão de mecanismos de proteção ambiental. Pelo contrário, deveríamos fortalecer as leis, não flexibilizá-las”, afirmou a deputada Linda Brasil. 

Ela ainda lembrou que as áreas rurais abrigam ecossistemas sensíveis, territórios tradicionais e recursos hídricos essenciais. “A Caatinga e os manguezais já estão sob pressão, e a liberação de atividades sem avaliação adequada pode acelerar a degradação”. Mas, de nada adiantaram os apelos da deputada. Cristiano Cavalcante (União), disse que o projeto vai “destravar, desburocratizar pequenas obras. Não podemos travar o estado”

A Mangue Jornalismo já publicou mais de uma dezena de reportagens denunciando o permanente ataque institucional ao meio ambiente em Sergipe. A Administração Estadual do Meio Ambiente assegurou que o PL 200/2025 “não representa, em nenhuma hipótese, a flexibilização do licenciamento ambiental na zona rural”.

*📲 Reportagem completa em https://manguejornalismo.org/na-contramao-da-emergencia-climatica-governo-de-sergipe-facilita-dispensa-de-licenciamento-ambiental/

O Congresso que assinou o atestado de devastação

*Emanuel Rocha

Enquanto o país dormia, deputados aprovam projeto que desmonta décadas de proteção ambiental e colocam em risco populações, biomas e a imagem do Brasil no cenário internacional.

Na calada da noite, enquanto o país dormia, a Câmara dos Deputados aprovou, às 3h40 da madrugada desta quinta-feira (17), um dos maiores retrocessos ambientais da história recente do Brasil. O Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental, apelidado por organizações e especialistas como “PL da Devastação”, passou com 267 votos favoráveis e 116 contrários, ignorando veementemente os apelos da sociedade civil, de ambientalistas, de cientistas e de representantes de povos tradicionais. Em meio a discursos inflamados no plenário e uma votação remota feita pelo aplicativo Infoleg, o Congresso selou uma decisão que pode custar caro ao presente e, principalmente, ao futuro do país.

Não se trata apenas de um ajuste burocrático ou técnico. Trata-se de um esvaziamento profundo das regras que protegem o meio ambiente brasileiro. O texto aprovado permite, entre outras aberrações, que grandes empreendimentos se autolicenciem, dispensando estudos prévios de impacto ambiental e livrando-se da obrigação de ouvir comunidades afetadas. Dá um cheque em branco ao setor produtivo e desarma o Estado na função de fiscalizador. A aprovação acontece, ainda por cima, às vésperas da COP30, a conferência global do clima que será realizada em Belém, no coração da Amazónia. Ou seja, enquanto o Brasil tenta se posicionar como líder climático no exterior, dentro de casa avança o desmonte da proteção ambiental.

O projeto também retira poderes de órgãos essenciais como Ibama, ICMBio e Funai, fragilizando ainda mais os direitos de indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Libera o agronegócio de obrigações básicas e flexibiliza o licenciamento de obras urbanas sensíveis como cemitérios, avenidas e aterros sanitários, com possíveis impactos diretos à saúde pública. É uma avalanche de retrocessos aprovada à revelia da maioria da população.

Em Sergipe, quatro deputados votaram a favor do projeto: Delegada Katarina (PSD), Ivaro de Valmir (PL), Nitinho (PSD) e Rodrigo Valadares (União). Três parlamentares estavam ausentes: Gustinho Ribeiro (Republicanos), Thiago de Joaldo (PP) e Yandra Moura (União). Apenas João Daniel (PT) votou contra a proposta, posicionando-se ao lado da preservação ambiental e da responsabilidade política.

É impossível dissociar essa aprovação da ganância e da sede de lucro que movem setores do poder legislativo. A pressa, o horário incomum e a condução do processo mostram que não havia interesse em debate público ou em transparência. Essa é mais uma demonstração de como interesses econômicos conseguem se sobrepor, sem pudor, ao interesse coletivo, colocando em risco a vida da fauna, da flora e, inevitavelmente, a nossa também.

Agora, o texto segue para a sanção presidencial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem até 15 dias para decidir se veta — total ou parcialmente — o projeto. Cabe a ele, que construiu sua imagem no exterior como defensor do meio ambiente, mostrar coerência entre discurso e prática. A sociedade brasileira aguarda com apreensão, e o mundo observa atentamente.

*Emanuel Rocha é historiador, coautor dos livros Bacias Hidrográficas de Sergipe, Unidades de Conservação de Sergipe e Bairro América: A saga de uma comunidade. Também atua como repórter fotográfico e poeta popular.






domingo, 20 de julho de 2025

Democracia Sempre. Artigo assinado pelos presidentes Lula 🇧🇷, Gabriel Boric 🇨🇱, Pedro Sánchez 🇪🇸, Yamandú Orsi 🇺🇾 e Gustavo Petro 🇨🇴 , publicado neste domingo (20) na Folha de S. Paulo.

 

📰 DEMOCRACIA SEMPRE

Em diferentes partes do mundo, a democracia enfrenta um momento de grandes desafios. A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade. A isso se somam as persistentes desigualdades, o retrocesso nos direitos fundamentais, a disseminação da desinformação e de discursos de ódio em plataformas digitais, e a expansão de redes criminosas que desafiam a legitimidade do Estado.

Diante desse cenário, não cabe o imobilismo nem o medo. Defendemos a esperança. Em um mundo cada vez mais polarizado, como líderes progressistas temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições. Porque não basta evocar a democracia nem falar em seu nome: devemos fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa para aqueles que sentem suas promessas não cumpridas. É com mais democracia que criaremos mais oportunidades para as gerações futuras, e como melhor nos adaptaremos aos desafios globais impostos pela inteligência artificial ou a mudança do clima. Resolver os problemas da democracia com mais democracia, sempre.

Esse é o princípio que convoca os governos do Chile, Brasil, Espanha, Uruguai e Colômbia à Reunião de Alto Nível “Democracia Sempre”, a ser realizada em Santiago no próximo dia 21 de julho.

Esse esforço compartilhado não é apenas a continuação do encontro impulsionado pelos governos do Brasil e da Espanha durante a Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado, mas dá um passo adiante. Porque, longe de ser um gesto isolado ou simbólico, é uma iniciativa que busca defender a democracia como um bem comum.

Sabemos que as democracias não se constroem apenas a partir dos governos. Construir propostas conjuntas e eficazes que fortaleçam a coesão social, a participação cidadã e a confiança nas instituições é um trabalho que não pode se limitar a cartas de boas intenções ou recair apenas sobre os governos de turno e seus representantes. Por isso, essa iniciativa também convoca organizações sociais, centros de pensamento, juventudes e diversos atores da sociedade civil, porque sua participação e ação são fundamentais para que a democracia recupere sua capacidade transformadora.

Sabemos também que defender a democracia exige que sejamos capazes de condenar as derivas autoritárias e, ao mesmo tempo, falar de forma positiva, propondo reformas estruturais para enfrentar a desigualdade em nossos países e no mundo. A história nos demonstrou repetidamente que a democracia é o melhor caminho possível para garantir a paz e a coesão social, e as oportunidades para todos. Impulsionar estratégias comuns em favor do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, da justiça social e dos direitos humanos é um imperativo ético e político. Porque a democracia é frágil se não for cuidada.

Hoje nos reúne a certeza compartilhada da necessidade de melhorar a resposta do Estado às demandas de nossos povos e governar com eficácia, com justiça, com direitos. Com democracia, sempre. E com a convicção de que defender a democracia nestes tempos difíceis não é apenas resistir e proteger, mas propor e seguir avançando. Essa é a tarefa urgente do nosso tempo.

🇧🇷 Luiz Inácio Lula da Silva

Presidente da República Federativa do Brasil

🇨🇱 Gabriel Boric Font

Presidente da República do Chile

🇪🇸 Pedro Sánchez Pérez-Castejón

Presidente do Governo da Espanha

🇺🇾 Yamandú Orsi Martínez

Presidente da República Oriental do Uruguai

🇨🇴 Gustavo Petro Urrego

Presidente da República da Colômbia

Presidente Lula em 21/07/2025

Este encontro no Palácio de La Moneda, ao lado dos presidentes Boric, Pedro Sanchez, Petro e Yamandu, tem uma simbologia especial. Aqui a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina.

Nossos países conhecem de perto os horrores de ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram. O caminho para a reconquista da liberdade foi longo. Democracias não se constroem da noite para o dia. Zelar pelos interesses coletivos é uma tarefa permanente.

Vivenciamos uma nova ofensiva anti-democrática. O sistema político e os partidos caíram em descrédito. Por essa razão, conversamos sobre o fortalecimento das instituições democráticas e do multilateralismo em face dos sucessivos ataques que vêm sofrendo. 

Concordamos sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação, para devolver ao estado a capacidade de proteger seus cidadãos. A chave para um debate público livre e plural é a transparência de dados e uma governança digital global.

Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito.

Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade. Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta direitos sociais.  O salário médio global de um presidente de multinacional é 56 vezes maior que o de um trabalhador.

Políticas de austeridade obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias. A Aliança contra a Fome e a Pobreza lançada pela presidência brasileira do G20, no ano passado, busca superar definitivamente esse flagelo.

A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo. Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço. Só o combate às desigualdades sociais, de raça e de gênero pode resgatar a coesão e a legitimidade das democracias. 

A crise ambiental introduz novas formas de exclusão, com impactos desproporcionais para os setores mais vulneráveis. Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria.

Este encontro também foi um momento de reflexão sobre o estado da integração regional e do mundo. A América Latina e o Caribe são uma força positiva na promoção da paz, no diálogo e no reforço ao multilateralismo. Com a Espanha e a Europa compartilhamos uma longa história e laços econômicos e sociais. 

Somos duas regiões incontornáveis na ordem multipolar nascente. Enfrentamos desafios semelhantes no enfrentamento da discriminação racial, da xenofobia e da mudança do clima. Também nos une a promoção e proteção dos direitos humanos. 

Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos. A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado.

No dia de hoje, participaremos de diálogo para aproximar nossa iniciativa dos movimentos sociais, das ONGs, dos sindicatos, da academia e dos estudantes. 

Esta caminhada continuará em setembro, com outro evento em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, envolvendo mais países latino-americanos, europeus, africanos e asiáticos.



Fotos: Ricardo Stuckert


Discurso de Lula na íntegra:
"Este encontro no Palácio de La Moneda, ao lado dos presidentes Boric, Pedro Sanchez, Petro e Yamandu, tem uma simbologia especial.

Aqui a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina.

Nossos países conhecem de perto os horrores de ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram.

O caminho para a reconquista da democracia e da liberdade foi longo.

Democracias não se constroem da noite para o dia.

Zelar pelos interesses coletivos é uma tarefa permanente.

Vivenciamos uma nova ofensiva anti-democrática.

Para reagir a esse movimento, Espanha e Brasil promoveram um encontro à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro do ano passado.

De lá para cá, a situação no mundo se agravou.

O quadro que enfrentamos exige ações concretas e urgentes.

A reunião de hoje, organizada pelo presidente Boric, é um passo nessa direção.

A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas.

Cumprir o ritual eleitoral a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente.

O sistema político e os partidos caíram em descrédito.

Por essa razão, conversamos sobre o fortalecimento das instituições democráticas e do multilateralismo em face dos sucessivos ataques que vêm sofrendo.

Concordamos sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação, para devolver ao estado a capacidade de proteger seus cidadãos.

A chave para um debate público livre e plural é a transparência de dados e uma governança digital global.

Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito.

Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade.

Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta direitos sociais. 

O salário médio global de um presidente de multinacional é 56 vezes maior que o de um trabalhador.

Políticas de austeridade obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias.

A Aliança contra a Fome e a Pobreza lançada pela presidência brasileira do G20, no ano passado, busca superar definitivamente esse flagelo.

A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo.

Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço.

Só o combate às desigualdades sociais, de raça e de gênero pode resgatar a coesão e a legitimidade das democracias.

A crise ambiental introduz novas formas de exclusão, com impactos desproporcionais para os setores mais vulneráveis.

Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria.

Este encontro também foi um momento de reflexão sobre o estado da integração regional e do mundo.

A América Latina e o Caribe são uma força positiva na promoção da paz, no diálogo e no reforço do multilateralismo.

Com a Espanha e a Europa compartilhamos uma longa história e laços econômicos e sociais.

Somos duas regiões incontornáveis na ordem multipolar nascente.

Enfrentamos desafios semelhantes no enfrentamento da discriminação racial, da xenofobia e da mudança do clima.

Também nos une a promoção e proteção dos direitos humanos.

Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos.

A defesa da democracia não cabe somente aos governos.

Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado.

Logo mais, participaremos de diálogo para aproximar nossa Iniciativa dos movimentos sociais, das ONGs, dos sindicatos, da academia e dos estudantes.

Esta caminhada continuará em setembro, com outro evento em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, envolvendo mais países latino-americanos, europeus, africanos e asiáticos.

Muito obrigado."

 


MARTA ACOLHE, MARIA COLHE - (Breve reflexão para cristãos ou não) - Por Chico Alencar.

 

Jan Vermeer (1632-1675)
É presente dominical lindo essa passagem de Lucas (10, 38-42), relatando a visita de Jesus a Marta e sua irmã Maria, a convite da primeira (por sinal, as mulheres têm grande protagonismo no Novo Testamento, mas até hoje a cultura patriarcal em muitas igrejas as relegam a um papel subalterno...).
Marta, Maria e Jesus: um encontro singelo, despretensioso, mas carregado de afeto e lições do cotidiano.
Marta é como tanto(a)s de nós: no afã de receber bem o Amigo, aflige-se com os afazeres, não para, fica estressada, ansiosa para que tudo corra bem.
Já Maria quer receber do Mestre o que ele tem de melhor: sua sabedoria, suas palavras de vida eterna. Leve, escolhe o que considera o essencial, a "melhor parte", a mais perene: ouvi-lo, refletir, vivenciar a arte do encontro.
"Marta, Marta, você se preocupa e se agita com tantas coisas... No entanto, poucas são necessárias, talvez uma só" - pondera Jesus (v. 41 e 42).
O desafio para nós é equilibrar contemplação e ação, prática e meditação, reflexão e trabalho digno e bom. Silêncio e som.
O mundo veloz do "time is money" e da blogosfera e das fake news escraviza, neurotiza e mediocriza. Enfrentá-lo não é refugiar-se numa "espiritualidade" desencarnada e autocentrada, alheia às dores dos semelhantes e às guerras genocidas. Nem ter uma religiosidade do ego, da "salvação" individual, distante dos clamores por justiça, direitos coletivos e por um mundo menos desigual e devastado.
Encontrar o equilíbrio entre tarefas diárias e oração nos faz crescer em fraternura e ter paz interior, imprescindível para lutar por Paz na Terra.
Atualizando o encontro no vilarejo de Betânia, vejo Jesus dizendo para Marta: "Obrigado, querida, mas desligue o celular, vamos conversar...".
PS: Hoje, 20/7, é o DIA DO AMIGO, no Brasil e em alguns outros países. Sugestão do médico argentino Enrique Febbraro feita há 56 anos, quando da chegada do homem à Lua ("com ciência, afeto e vontade, nada nos é impossível" - afirmou).
Amiga(o) é aquela(e) irmã(o) que a gente escolhe e gesta na vida. Sou grato a Deus por ter encontrado tant@s, que me ajudam a ser. Ainda que os que já "partiram fora do combinado" - e são cada vez mais - deixem um vazio de doída saudade ..

Chico Alencar é professor,  historiador, escritor e atualmente está deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro 

A canção abaixo fica por conta da memória afetiva e cultural do editor deste blog. Lembrança principalmente como jovem e depois pai, de um programa musical em fita VHS produzido pelas edições paulinas que incluiu essa canção. A versão no programa "Ilha dos Sonhos" é muito bonita e conta com a participação de três meninas, porém essa interpretação não está disponível no youtube.
Zezito de Oliveira





sábado, 19 de julho de 2025

Soberania Nacional. Pe. Manuel Joaquim R. dos Santos - Arquidiocese de Londrina

 Na década de 1880, face ao crescente interesse das potências europeias pelo continente africano, também Portugal quis fazer valer o seu “direito histórico” na África, elaborando um plano, que ficou conhecido como o “mapa cor de rosa”. Tratava-se basicamente de ligar Angola a Moçambique por uma linha férrea, acrescentando centenas ou milhares de quilómetros de cada lado! Apesar de arrojado, não era para a época de modo algum insensato, o que levou a França e a Alemanha a concordarem com a pretensão lusa. Portugal, contudo, já dava sinais nítidos de decadência do seu império (o Brasil tinha decretado a sua independência), e internamente, o enfrentamento da monarquia com as forças republicanas atingia uma tensão insustentável. A Inglaterra opôs-se veementemente a este projeto. 

Ora, a Inglaterra era a primeira aliada de Portugal desde o início da nacionalidade, aliança selada no século XIV com o casamento de Dom João I com a princesa Filipa de Lencastre. Nas constantes lutas contra a Espanha, nas invasões francesas e principalmente no episódio da fuga da família real para o Brasil em 1807, as forças inglesas foram fundamentais. A Inglaterra era “nossa amiga”! Mas, como bem sugere a gíria popular, “amigos amigos, negócios à parte”! É sabido também, que por trás da oposição inglesa havia o seu interesse em construir um caminho de ferro do Cairo à cidade do Cabo na África do Sul. Em 1890, o primeiro-ministro britânico Lord Salisbury  não hesitou em dar um ultimato a Lisboa, ameaçando bombardear a capital, se Portugal não renunciasse às suas pretensões. A monarquia portuguesa, mais fiel à ligação dinástica do que aos interesses nacionais, na pessoa do recém empossado D. Carlos, cedeu a Londres. O hino nacional “a portuguesa” nasceu exatamente como reação ao Ultimato. Os seus versos assim o retratam: 

“Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal! (...) Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre mar, às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões, marchar, marchar!” 

O embaixador português em Londres trabalhou em favor dos ingleses! A monarquia alegava laços ancestrais. Com isso, a já fragilizada dinastia de Bragança, assinava o seu fim! Acusada de conspirar contra a pátria, viu surgir com força implacável os ideais republicanos, que poucos anos depois aboliriam o antigo regime e proclamariam a República. Os “traidores” pagaram com a vida; o regicídio de 1908 matou o rei e o príncipe herdeiro. Este episódio triste da história portuguesa revela duas coisas: em momentos difíceis da nação, a soberania não pode ser negociada, custe o que custar, porque daí deriva a própria essência do que se é como país independente! Em segundo lugar, é exatamente em circunstancias delicadas e constrangedoras, que se revelam os verdadeiros patriotas. 

O Brasil vive sob um ultimato! É grave afirma-lo, mas não restam dúvidas perante as cartas “midiáticas” de Trump! Ou a justiça brasileira se submete à humilhação de rasgar os ditames constitucionais e subverter os trâmites processuais legítimos e normais, ou o país amarga pesado tarifaço sobre os seus produtos exportados aos EUA. Não existe eufemismo para esta operação! Talvez o que nos surpreenda não seja a verborreia do presidente americano que já mostrou o quanto é falastrão e mentiroso. São os cerca de 20% de brasileiros (e vários políticos de renome) que apoiam a bizarrice do hóspede da casa Branca. Não existe nenhuma justificativa para esta aberração. Os magnatas do Agro sabem e os grandes industriais também, que pesa acima de tudo uma enorme injustiça e uma falácia, uma vez que o Brasil respondeu por 1,2% dos produtos importados pelos Estados Unidos e por 2,39% das exportações americanas, de janeiro a maio deste ano.

O nome do caldo litigioso é outro! São as bilionárias big techs! Promotoras de fake News, de misoginia, de atentados contra a Democracia e Estado de Direito, aptas a derrubar regimes legitimamente eleitos. Seus donos almoçam em Washington! Trump sabe onde quer chegar. Mas o Brasil tem instituições sólidas o suficiente para brecar seus intentos escusos!




sexta-feira, 18 de julho de 2025

Grande Dia! 18/07/2025 - Um ridiculo tirano de tornozeleira eletrônica e um estadista brilhante lutando como um Davi contra outro ridiculo tirano.

'Postagem recomendada para quem quer entender como articular melhor canções, filmes e literatura com o debate politico e existencial  na contemporaneidade' 

 "A América católica e gospel produzindo ridículos tiranos, como também estadistas brilhantes. Para entender a força da religião nas Américas"abordada por Caetano Veloso em "Podres Poderes" , também de forma contraditória, pois "Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres. E adolescentes, fazem o carnaval"

.  Recomendo para o dia de hoje, além da canção de "Apesar de Você", "Vida de Gado", "Kizomba", o filme "Apocalipse nos Trópicos". Este nos ajuda a entender como a religião foi importante na construção de dois ridículos tiranos e na construção do estadista brilhante, embora o foco do filme esteja mais voltado para a construção da liderança dos dois primeiros...

E vamos dar a maior força a Música Popular Brasileira em toda a sua diversidade, pois como afirma Caetano em "Podres Poderes". "Será que apenas os hermetismos pascoais, e os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais, nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais" & "Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo, daqueles que velam pela alegria do mundo, indo e mais fundo. Tins e bens e tais".



E vamos sorrir hoje, como também assistir o filme e ler o livro "Ainda Estou Aqui" para ajudar a  compreender porque #semanistia para Bolsonaro e seu bonde de criminosos golpistas. 


Vale também ler o icônico "Brasil Nunca Mais", relançado recentemente. Este livro foi fruto de uma operação ousada e arriscada de uma ação ecumênica articulada por um cardeal católico, um pastor presbiteriano e um rabino judeu,  com apoio do Conselho Mundial de Igrejas. Aqui a América católica e protestante mostra a sua melhor face... Luís Inácio Lula da Silva é um dos brilhantes líderes que resultaram  desta ação articulada,  como de  milhares de outras nas Américas e em outras parte do mundo. Confrontando o lado sombrio e obscuro do cristianismo. 

Livro Brasil: Nunca Mais completa 40 anos com edição especial

Obra foi escrita clandestinamente nos nos finais da ditadura militar

https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2025-07/literatura-brasil-nunca-mais-completa-40-anos-com-edicao-especial

Brasil Nunca Mais: 40 anos de memória e luta contra a ditadura
Nesta edição da coluna Vozes de Emaús, Magali Cunha destaca o legado do livro, que revelou o papel das igrejas na denúncia da violência da ditadura e aponta caminhos para uma nova esperança. AQUI

"Eles vão queimar todos os processos! Já fizeram isso antes!" Nos últimos anos da ditadura, uma advogada e um advogado, engajados na defesa de presos políticos, estão decididos a encontrar uma forma de preservar a documentação arquivada no Superior Tribunal Militar. São centenas de milhares de páginas, que revelam os abusos cometidos pelo poder judiciário e as mais terríveis violações de direitos, incluindo tortura, mortes e desaparecimentos cometidos por agentes do Estado. Como fazer isso? Quem pode ajudar? E o que pode acontecer se esse trabalho for descoberto?

NUNCA MAIS é uma série em podcast apresentada pelo Grupo Prerrogativas, produzida pela NAV Reportagens e apresentada por Camilo Vannuchi.


Leia também: 
Quando recebi noticia do mais recente e ultrajante ataque desferido ao Brasil pelos americanos do norte, eu me lembrei de quatro canções que tratam dessa questão do patriotismo fake e da elite do atraso, estes que fazem  o que pode para a maioria dos brasileiros não viverem como filhos abençoados por Deus de um país tropical e bonito por natureza.
Aí me lembrei o quão importante são as canções que ouvimos na infância e na juventude, e que nos levam nesses momentos a nos lembrar quem somos, de onde viemos e os melhores caminhos que devemos seguir como pessoas e como nação.
Canções bem diferentes do que a maioria de nossas crianças, adolescentes e jovens ouvem atualmente nos programas de rádio e de televisão de maior audiência.
Logo, "há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor e fruto" proporcionando oportunidade para que canções como as que eu lembrei por conta do ataque mais infame sofrido pelo Brasil nestes último anos, possam ajudar mais pessoas a encontrar respostas ágeis e decididas para a defesa dos valores materiais e simbólicos que mais nos interessam como classe e como nação.
ZdO

Roberto Carlos - Nossa Canção (Áudio Oficial)



Jair Bolsonaro organizou novo 8 de Janeiro contra carteira dos brasileiros

CELSO ROCHA DE BARROS (*)

Jair Bolsonaro é o único presidente brasileiro que conseguiu aumentar impostos depois de deixar o cargo. O imposto Bolsonaro é bem maior e bem menos justo do que qualquer coisa proposta por Fernando Haddad e contribui para reduzir o déficit público americano, não o brasileiro.

A turma que destruiu a praça dos Três Poderes agora quer fazer um 8 de Janeiro na sua carteira, leitor.

Desta vez as "Déboras" querem assinar com batom a sua demissão. Ao invés de roubarem a toga do Alexandre de Moraes, querem roubar a mensalidade da escola do seu filho. Ao invés de esfaquearem o quadro do Portinari, querem esfaquear seu plano de saúde. Ao invés de quebrarem o vaso chinês ou o relógio antigo do Planalto, querem quebrar sua empresa.

Depois de perder no voto e no golpe, Jair agora tenta voltar ao poder como governo fantoche de potência estrangeira.

Os bolsonaristas pediram que o país mais poderoso do mundo deixasse os brasileiros mais pobres por muitos anos até que o Brasil aceitasse deixar de ser um país soberano e uma democracia com Judiciário independente. Afinal só neste caso Jair escapa da cadeia.

No passado, países foram sancionados por violações graves de direitos humanos, como no caso da África do Sul do Apartheid. O Brasil é o primeiro país a receber sanções por ser uma democracia com um Judiciário independente.

O que ofende Trump no Brasil não é nenhum de nossos defeitos, mas o fato de que nossa democracia foi capaz de julgar, e deve ser capaz de prender, um ex-presidente que, como Trump, tentou dar um golpe de Estado quando perdeu uma eleição.

O segundo governo Trump, aliás, é a prova de que o Brasil fez certo em punir seus golpistas. Quando eles conseguem fugir da cadeia, voltam com muito mais ousadia. As tarifas contra o Brasil violam inclusive as leis americanas, mas Donald não se importa.

De agora em diante, se Jair Bolsonaro for inocentado ou anistiado, nada disso terá acontecido pelo funcionamento normal dos Poderes Judiciário ou Legislativo. Jair terá fugido da cadeia durante uma intervenção estrangeira liderada por suas tropas de quintas colunas. Todo defensor da anistia é um soldado nessa tropa.

Quanto a Trump, o sugar daddy dos bolsonaristas, é claro que a defesa de Bolsonaro não foi o único motivo de sua declaração de guerra ao Brasil.

As big techs trumpistas estão tristes porque o STF quer que elas gastem algum dinheiro impedindo que suas redes sociais sejam usadas para tráfico sexual de crianças ou organização de golpes de Estado.

Trump está subindo tarifas alucinadamente de qualquer jeito: acaba de impor 35% ao Canadá para tentar anexá-lo.

Nada disso apaga o fato de que Bolsonaro e seus cúmplices, como Eduardo Bananinha e Paulo Figueiredo, o nepobaby do golpe, trabalharam, com sucesso, para convencer Trump a roubar esse dinheiro dos brasileiros.

Torço para que o governo Lula resolva essa crise e devo falar disso em outras colunas. Mas, por enquanto, a traição dos Bolsonaros só tem um lado bom: quando a direita se preparava para abraçar os golpistas em 2026 com paixão, Trump esfregou em sua cara o que o bolsonarismo sempre foi: um movimento violento, criminoso e que agora se revela como tropa avançada de fascistas estrangeiros mais poderosos.

(*) Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História"

FSP 12.07.2025


Bolsonaro alvo da PF: trompetista toca marcha fúnebre para ex-presidente, réu por tentativa de golpe



“Defende meu pai” Explodem os memes com Lula zoando Eduardo Bolsonaro


EMOCIONANTE CLÁSSICO CHILENO CANTADO EM PORTUGUÊS: “O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO” | Cortes 247

URGENTE: POR QUE A PF COLOCOU UMA TORNOZELEIRA EM BOLSONARO?


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CULTURA

Nem romântica, nem ingênua: o sentido oculto de “Baby”, sucesso de Gal Costa escrito por Caetano

Tomada como uma música de amor juvenil, “Baby” traduz, com certa melancolia, um embate brasileiro de natureza histórica entre projetos de governo inconciliáveis entre si





FAFÁ VIRALIZA E CAI NA GARGALHADA; EDU KRIEGER FAZ A PARÓDIA 'OFICIAL' DA TORNOZELEIRA | Cortes 247

OS MELHORES MEMES DE BOLSONARO DE TORNOZELEIRA - A CAMINHO DA PRISÃO | PLANTÃO




quinta-feira, 17 de julho de 2025

Finalmente! Odair José em Sergipe neste primeiro de agosto de 2025

 Muito feliz por poder assistir um show do Odair José em Sergipe e na cidade onde nasci... São Cristóvão.

Como integrante da chamada geração 1980, cresci no Rio de Janeiro, onde residi por treze anos, em uma realidade controversa em torno do nome de Odair Jose, por conta da divisão que se estabeleceu desde o inicio dos anos 1960  com a arte engajada de um lado e a arte alienada no polo oposto, essa última no campo da música, representada pelas canções românticas populares de artistas como Odair José, Fernando Mendes, Márcio Greyck, entre outros, além do rock da jovem guarda, e porque não dizer, também pela bossa nova, mas essa era música de classe média, zona sul do Rio,  que emergiu com os anos dourados no Brasil de JK, portanto não era objeto das mesmas críticas recebidas por canções compostas por Odair José.

Mas o tempo passou, e eu que cresci tanto ouvindo música de protesto ou engajada, ao mesmo tempo que canções da tropicália.  fui me tornando mais receptivo de forma gradativa as canções que batiam forte nos corações daqueles mais próximos a  mim, residentes na baixada fluminense, quase fronteira com a zona norte do Rio de Janeiro que , segundo  a dupla Antônio Carlos e Jocafi, não eram compreendidos pelos  intelectuais “que não usam o coração como expressão. “ , uma critica injusta mas que pode ser entendida dentro de um contexto elitista e excludente de parcelas importantes da elite cultural , mesmo se revolucionária, como em muitos casos.

E surpresas descobertas nestes anos mais recentes, a perseguição a Odair José pela ditadura militar, assim como a outros autores de músicas românticas, pejorativamente chamada de bregas e a veia roqueira de Odair José, e por que não dizer contracultural também, essa última,  descoberta quando assisti o musical "Eu vou tirar você deste lugar - As canções de Odair José.", em São Paulo no ano de 2015 -  Centro Cultural Banco do Brasil  e quando ouvi o disco icônico, "O filho de Maria e José."

Zezito de Oliveira



CAETANO TRAZ ODAIR JOSÉ PARA OUTRO LUGAR.

José teles

Nada como um dia atrás do outro, e uma noite no meio. O velho ditado se aplica ao goiano Odair José, o mais polêmico dos artistas populares da música brasileira (na foto com Caetano Veloso em 1973). Dia 20 de maio, ele será agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, maior honraria do Ministério da Cultura, que em 2025 celebra 40 anos de criado. 

A entrega da medalha da OMC, a Odair, e outras pessoas ou entidades que, de alguma forma, contribuíram pra cultura do país, acontece no Rio, na reinauguração do Palácio Campanena.

50 anos atrás, Odair José chegava ao ápice da carreira, como hit maker, emplacando sucessos seguidos, com temas que provocavam celeuma, e idas ao departamento de censura federal. 

Cantava sobre empregadas domésticas, prostitutas, pilula anticoncepcional, culminando, em 1977,  com um disco conceitual que trazia a Sagrada Família para a década 70. 

Com o álbum O Filho de Maria José, Odair conseguiu desagradar a gravadora, a igreja católica, a censura, os fãs, e o levou a entrar para o clube dos "malditos" da MPB. Maldito na ditadura, e agraciado com uma honraria num governo democrático. Em tempo, a outorga da OMC está sendo retomada. Não acontecia desde 2019.

Tendo como gancho, o disco Seres Humanos, que Odair Jose lançou dias atrás, fiz uma entrevista com ele, uma das mais longas e mais interessantes das centenas que já publiquei. Abaixo um dos trechos da conversa. Confiram a entrevista completa em telestoques.com 

TT – Você foi alvo constante da censura durante a ditadura. Quantas músicas suas foram proibidas? 

Odair José - Não sei exatamente quantas, tem uma estimativa. Pesquisadores que vão atrás disso sabem. Dizem que depois de Chico Buarque, os mais censurados fomos eu e Taiguara. Acho que tenho umas trinta músicas censuradas. Até fazer sucesso com Vou Tirar Você Deste Lugar não tinha problema com censura, eu era um desconhecido. Quando a música estourou, o pessoal da editora me mandou uma carta que pedia pra eu comparecer ao departamento de censura no Rio. Fiquei meio que enrolando aquilo. Mandaram outra carta dizendo pra eu ir que a coisa era séria. E eu fui. 

Chego lá, tinha um monte de gente fardada, outros sem farda. Um deles falou que eu estava usando uma frase pouco recomendável naquele momento, 'eu vou tirar você deste lugar".  Achava que tinha a ver com o governo, com política. Ai eu esclareço que era a história de um rapaz que se apaixonou por uma prostituta, uma garota de programa que conheceu numa boate. Quando conto isto, o cara foi ficando vermelho, ele e os outros que estavam na sala. Parecia que tiveram uma crise de raiva, chega espumavam. E o cara falou: 'O que o senhor está dizendo é um absurdo.  Isto é muito pior do que pensamos. Como o senhor propõe o casamento de um cara com uma prostituta? O senhor é louco". Ele só faltava urrar. "Pois agora todo o disco que o senhor for fazer tem que vir pra censura". Enquanto a censura existiu todos as minhas músicas passavam por ela.

Em 1973, em plena ditadura militar, a Música representava uma das mais fortes expressões dos sentimentos populares. Assim, em maio de 1973, realizou-se um festival no Palácio de Convenções do Anhembi, com o elenco da gravadora Phonogram (Universal), que tinha como contratados a nata da música popular brasileira. No festival, grandes momentos merecem registro: Elis, Gal e Bethânia juntas, Toquinho e Vinícius, Gil e Chico com Cálice. Mas um momento chamou a atenção e vaias do público. Foi o dueto entre Odair José e Caetano Veloso, cantando a música “Eu vou tirar você desse lugar”, em que o eu-lírico revela o seu amor por uma prostituta e promete resgatá-la, mesmo diante das dificuldades e preconceitos que a situação ensejava. Consta que a vaia no Anhembi foi fenomenal, sobretudo porque Odair José, que há pouco se tornara conhecido pela canção “Pare de tomar a pílula” (que na época causou revolta em setores conservadores do clero), era um representante de uma música considerada “brega” e “alienada” Foi justamente a partir desta apresentação que Caetano cravou uma de suas frases emblemáticas: “Não há nada mais Z do que a classe A”. O episódio deixa bem claro o caráter tropicalista de Caetano, que através de sua postura conseguiu “legitimar” , ainda que tardiamente, muitas músicas não consumidas por uma chamada “elite” intelectual brasileira, que patrulhava e rotulava artistas.  Crédito: blog música em prosa.
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Em vez dos festivais competitivos que tinham feito história, Phono 73 foi um evento que reuniu dezenas de artistas da gravadora Phonogram. Já seria um acontecimento por apresentar, no mesmo palco, os principais nomes da MPB e revelações como Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Fagner. Mas a situação do país, sob a ditadura num de seus momentos mais sombrios, não ficou de fora. Chico Buarque driblou a censura para poder cantar “Cálice” ao lado de Gilberto Gil. E canções como “Pesadelo” eram explicitamente contra a ditadura. O festival, que virou disco, ainda teve o surpreendente duo entre Caetano Veloso e o “brega” Odair José. O programa de Joaquim Ferreira dos Santos conta com depoimentos de Roberto Menescal, que era diretor da Phonogram.

Repertório

Loteria de Babilônia (Raul Seixas e Paulo Coelho) – Raul Seixas

Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio) – Sérgio Sampaio

Ladeira da preguiça (Gilberto Gil) – Elis Regina e Gilberto Gil

Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi) – Gal Costa e Maria Bethânia

Pesadelo (Maurício Tapajós e Paulo Cesar Pinheiro) – MPB-4

Vou tirar você desse lugar (Odair José) – Odair José e Caetano Veloso

Manera, Fru Fru, manera (Fagner e Ricardo Bezerra) – Fagner

Quinze anos (Naire e Paulinho Tapajós) – Nara Leão

Cálice (Gilberto Gil e Chico Buarque) – Gilberto Gil e Chico Buarque

Baioque (Chico Buarque) – Chico Buarque

 
Roteiro e apresentação: Joaquim Ferreira dos Santos

Edição: Filipe Di Castro





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Estúdio F

Odair José

Apresentado na Rádio Cultura Brasil em 24 de agosto de 2013

Apresentação: Paulo César Soares

Produção: Rádio Nacional - Rio de Janeiro

Ouça AQUI 

Odair José nasceu em Morrinhos no interior de Goiás, mas foi no Rio de Janeiro que, nos anos 70, se tornou um legítimo representante da MPC – música que o povo canta. Dono de hits que deixaram a censura de cabelo em pé, ele ficou conhecido, entre outros títulos, como o Bob Dylan da Central do Brasil. Mas sempre derrubando preconceitos.

Odair José de Araújo, seu nome de batismo, foi um dos compositores mais visados pela censura federal durante o regime de 1964. Não por razões políticas, mas o motivo era por questões comportamentais, caso da música “Uma vida só”, popularmente conhecida pelo refrão: “Para de tomar a pílula, porque ela não deixa nosso filho nascer”.

A música de Odair José que tanto sucesso fazia no rádio, também incomodou a Igreja, chegando a ser excomungado pela canção “O filho de José e Maria”.

O Estúdio F focaliza a carreira do cantor e compositor que no auge do sucesso dividiu palco com Caetano Veloso, a pedido desse, e anos depois teria suas músicas gravadas por bandas alternativas, como a Vexame, e mais recentemente regravações produzidas por Zeca Baleiro.

No repertório do programa estão “Essa noite você vai te que ser minha”, “Viagem”, “Minhas coisas” e “Eu vou tirar você desse lugar”.

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Vou tirar você desse lugar - Tributo a Odair José (Álbum Completo)