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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Governo Lula, a democracia, os militares e o Brasil. Como evitar futuros golpes como em 01 de abril de 1964 e 8 de janeiro de 2023?




 Os ecos do Orvil em 2021, o livro secreto da ditadura

Guilherme Peters/Agência Pública

Documentos inéditos indicam que, mesmo com veto de José Sarney, os ideais do Orvil foram divulgados dentro das instituições militares e reverberam no discurso bolsonarista

30 de agosto de 2021 - 12:00 - Lucas Pedretti

Orvil foi desenvolvido entre 1985 e 1988 e proibido de circular . No entanto, o CIE disseminou seus ideais em relatórios entre 1989 e 1991. O Exército afirmou que os documentos a partir de 1991 foram destruídos 

No início de 1989, o chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, mudou o formato dos Relatórios Periódicos Mensais (RPM) do órgão para a “difusão de conhecimentos destinados ao seu público interno”. Com alterações na diagramação, na linguagem e na distribuição, o militar tentava ampliar a influência dos chamados RPMs na formação da tropa. Era um tempo de transformações no país, e o Exército se estruturava para o novo momento: a redemocratização. 

Após mais de duas décadas de ditadura militar (1964-1985), o Brasil vivia sob a vigência da chamada Constituição Cidadã. Aprovada em outubro de 1988, a nova Carta Magna vinha com a promessa de aprofundamento da democracia, ampliação dos direitos sociais e respeito aos direitos humanos. Mas para o CIE as mudanças não eram positivas, ao menos segundo os informes RPMs obtidos pela Agência Pública que vão de fevereiro de 1989 a julho de 1991.

Esses informes são parte de um conjunto de RPMs do CIE, alguns deles inéditos, e transferidos para o Arquivo Nacional junto ao acervo do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).

No RPM de dezembro de 1989, por exemplo, a Nova República seria caracterizada como um “regime de permissividade política e social sem precedentes”, o que abriria espaço para uma nova “tentativa de tomada do poder” pelas esquerdas. Como consta nesses documentos, foi ampliando a disseminação dos RPMs que o CIE buscou melhor preparar os oficiais da força para enfrentar a nova ameaça. 

O material indica que a principal influência do general Avellar Coutinho ao elaborar os relatórios de inteligência do Exército, já na vigência do regime democrático, era o Orvil, um projeto secreto do CIE desenvolvido entre 1985 e 1988.

A história do Orvil se tornou pública desde que o jornalista Lucas Figueiredo, autor de Olho por olho: os livros secretos da ditadura, revelou sua existência em 2007. O documento de pouco menos de mil páginas, cujo nome oficial é “As tentativas de tomada do poder”, sempre circulou entre militares da reserva que haviam integrado a estrutura repressiva da ditadura. Foi a fonte de inspiração para livros escritos por esses militares, como por exemplo Rompendo o silêncio, publicado em 1987 pelo único militar reconhecido pela Justiça brasileira como torturador, Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

Os relatórios inéditos do CIE, que podem ser lidos abaixo, apontam para um capítulo ainda desconhecido desta história, revelado agora. Os documentos analisados indicam que os ideais do Orvil – que significa livro ao contrário – não circularam apenas entre pequenos núcleos de militares da reserva. Eles foram disseminados, de forma oficial, dentro da instituição. 

Leia a reportagem completa no site da agência pública

https://apublica.org/2021/08/os-ecos-do-orvil-em-2021-o-livro-secreto-da-ditadura/


terça-feira, 9 de maio de 2023

PORQUE A URSS SEMPRE REFERIU-SE AO 9 DE MAIO COMO A DATA DA RENDIÇÃO ALEMÃ E OS EUA E SEUS ALIADOS OCIDENTAIS USAM O 8 DE MAIO?

      Raul Carrion, 09.05.23


Soldado hasteia bandeira soviética no telhado do Reichstag, a sede do Parlamento alemão, em 9 de maio de 1945 - Foto: Yevgeny Khaldei

     A resposta a essa pergunta nos obriga a rememorar os acontecimentos que levaram à 2ª Guerra Mundial e à derrota da Alemanha nazista e seus aliados.

     Como todos sabem, o reerguimento e o rearmamento alemão durante os anos 30 só foi possível devido à conivência e à ajuda do “ocidente”, que via na Alemanha e no nazismo um “dique” contra a União Soviética e a ascensão das lutas revolucionárias em todo o mundo.

     Os líderes das nações imperialistas apostavam no avanço da Alemanha nazista para o Leste, em direção às fronteiras soviéticas. Mas “o tiro saiu pela culatra” e, ao invés de primeiro atacar a URSS – a quem temia –, Hitler preferiu começar invadindo as ditas “democracias ocidentais”, para só depois, fortalecido, atacar à União Soviética.

     Criou-se uma situação, então, que forçou os países capitalistas ainda não ocupados por Hitler – como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos – a buscarem uma aliança de conveniência com a URSS, para defender-se da Alemanha nazista.

     Esses países chegaram a assumir o compromisso de abrir – já em 1942 – uma segunda frente de luta na Europa, para aliviar a pressão alemã contra a União Soviética. Na prática, porém, apostaram no desgaste mútuo entre a Alemanha e a URSS e postergaram indefinidamente a abertura dessa segunda frente.

     Será somente em 6 de junho de 1944 – após três anos de tergiversações e quando o Exército Vermelho já levava de roldão os exércitos nazistas e se aproximava das fronteiras alemãs – que os EUA e a Inglaterra decidiram desembarcar no Sul da França e abrir a segunda frente, para não deixar que a URSS vencesse sozinha a 2ª Guerra Mundial.

     Nos meses seguintes, diante da derrota inevitável e temerosos de ter de capitular frente ao Exército Vermelho, os líderes nazistas propuseram uma paz em separado com os EUA, a Grã-Bretanha e a França, inclusive sugerindo depois “atacarem juntos os inimigos comunistas”.

     Como isso não prosperou, decidiram capitular diante somente dos aliados ocidentais, o que foi feito na madrugada do dia 8 de maio, em Reims, na França. Ali, o Coronel-General Jodl assinou a “rendição alemã”, perante o Tenente-General Walter Smith, do Alto Comando anglo-americano, e do General François Sevez, da França.

     O Alto Comando soviético protestou contra essa capitulação unilateral e exigiu a rendição formal da Alemanha na sua capital, Berlim, tomada pelo Exército Vermelho.

     Assim, na madrugada de 8 para 9 de maio de 1945, em Berlim, o Marechal de Campo alemão Wilhelm Keitel – secundado pelo Coronel-General da Força Aérea Hans Stumpf e pelo Almirante Friedeburg – assinaram a ata de rendição incondicional da Alemanha nazista frente à URSS – representada nesse ato pelo Vice-Comandante Supremo das Forças Armadas Soviéticas, Marechal de Campo Gueorgui Júkov – e perante seus aliados ocidentais, representados pelo Comandante da Força Aérea Estratégica dos EUA, General Carl Spaatz, pelo Marechal da Força Aérea da Grã-Bretanha, Arthur Tedder, e pelo Comandante em Chefe do Exército francês, General Jean de Lattre de Tassigny,

     O primeiro parágrafo do ato de rendição rezava: “Nós abaixo assinados, agindo em nome do Alto-Comando da Alemanha, junto ao Comando do Exército Vermelho e ao Comando Supremo das Forças Expedicionárias Aliadas, estamos de acordo com a rendição incondicional de todas as nossas Forças Armadas do mar, terra e ar, bem como todas as forças que no momento se encontram sob o comando alemão.”

     Dessa forma, a guerra na Europa foi concluída com o aniquilamento do nazifascismo pela União Soviética (com uma pequena contribuição dos aliados ocidentais), sepultando os planos de Hitler e dos grandes capitalistas alemães de impor ao mundo a dominação da “raça ariana” e a escravização dos povos ditos “inferiores”.

     Desde então – e em especial depois do início da chamada “Guerra Fria” – os Estados Unidos e os seus satélites passaram a utilizar o 8 de maio como a data de referência da capitulação alemã, e a URSS e os revolucionários de todo o mundo a referenciar a rendição alemã ao 9 de maio.

     Portanto, não se trata de uma mera “confusão de datas”, mas uma disputa em relação ao papel fundamental que a URSS jogou na derrota da Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial – aniquilando 90 divisões alemãs, contra apenas 6 divisões derrotadas pelos aliados ocidentais.

Leia também:

Dia da Vitória: Em 9 de Maio de 1945 a humanidade se libertou do nazifascismo


domingo, 7 de maio de 2023

Os sonhos não envelhecem. Só Alegria! A roda de conversa sobre Teatro como educação popular na Aracaju dos anos de 1980..

 

Zezito de Oliveira - Foto Raoni Smith

GIlvanete de Melo - Foto Raoni Smith

Só alegria! O final da tarde de hoje, 05 de maio de 2023,  quando chegamos ao fim da conversa sobre teatro como educação popular na Aracaju dos anos 1980. Mais especificamente no Bairro América...

Foi uma tarde que correspondeu a todas nossas expectativas, repetindo o que já tinha acontecido quando assisti a excelente roda de conversa sob a batuta  do professor Romero Venâncio sobre teatro contra a ditadura militar, realizada há cerca de quarenta dias. 

Nesta tarde de hoje, contamos com a presença tanto de alunos da Escola de Arte Valdice Teles, ex-alunos, professor Carlos Mascarenhas (UFS)  e com a presença luxuosa de Marcélio Bonfim, grande liderança da luta e da resistência contra a ditadura militar em Sergipe.

Interessante saber que Marcélio, assim como o escritor de literatura de cordel, o Sr. Jaci, foram participar da roda de conversa por meio de convite publicado nas redes digitais.

Do nosso círculo mais próximo contamos com a presença de Raoni Smith, que fez a cobertura fotográfica e apoio técnico na projeção de slides, Antônio Luiz,  integrante da diretoria, depois conselho deliberativo da AMABA , desde meados dos anos de 1980 até o inicio dos anos 2000 e Alan de Oliveira, escritor, pesquisador e ativista cultural do campo da literatura, membro fundador do Fórum de Literatura de Sergipe, criado em janeiro deste ano no bojo das discussões para implementação das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc,

No primeiro momento da estréia do Café com Teatro quando convidado, afirmei  via instagram “tudo que o artista Raimundo Venâncio toca como diretor, vira ouro” aqui lembrando o nosso grande cantor e compositor Guilherme Arantes.

Do mesmo modo acrescento, “tudo que Tânia Maria interpreta como atriz e cantora vira ouro”, a peça "Billie Holiday, a canção"  que o diga, assim como as magistrais interpretações de canções especialmente escolhidas de acordo com a temáticas das rodas de conversa.  No dia de hoje fomos brindados na abertura com a interpretação da  canção “O amor é o meu país” de Ivan Lins.

Vida longa ao Projeto Café com Teatro, com o desejo que gere outras ramificações, outras iniciativas semelhantes, assim como vida longa a todos que estão a frente do projeto, assim como aos demais que estiverem presentes nesta tarde...

E que os sonhos de mais igualdade e liberdade democráticas nunca acabem, nunca envelheçam, como disse na apresentação utilizando o verso de uma canção de Gilberto Gil “O sonho acabou, quem não dormiu de sleeping bag nem sequer sonhou.”

Portanto, overdose de sonhos e desejos de construção e reconstrução de homens e mulheres novos, mediados pela arte e pela cultura, assim como por meio das práticas esportivas e de atividades de interação com o meio ambiente. O “sleeping bag” , saco de dormir ou colchonete utilizados em acampamentos e congressos estudantis e de movimentos culturais ambientalistas e populares na década de 1980,  foi a  a metáfora que utilizei, pegando emprestado o verso da canção de Gilberto Gil, um de nossos artistas geniais.

O que garantirá o antidoto ou a vacina necessária contra o retrocesso civilizatório que sofremos nestes último anos, sem esquecer que ainda não estamos fora de perigo, o que inclusive foi destacado pelo bravo lutador do povo, Marcélio Bonfim...

Fotos abaixo: Raoni Smith





SERGIPE E BRASIL: SEM ARTE E MEMÓRIA NÃO HÁ FUTURO.

Sensacional! A roda de conversa na tarde de ontem, 06/05/2023, no projeto Café com Teatro da Escola de Arte Valdice Teles (Funcaju) na qual fiz a fala provocadora/inspiradora, juntamente com a colega professora e atriz Gilvanete de Melo.

 O texto com as nossas impressões já está pronto e será publicado até amanhã, domingo,  juntamente com as fotos tiradas pelo filhão Raoni Smith, trabalhador da área do audiovisual e da comunicação digital e radiofônica.

Alguns amigos manifestaram a vontade de ir, mas por várias razões ficaram impedidos de estarem presentes, como relatado por alguns ontem e agora pela manhã. E para os que puderam chegar junto   Raoni  Smith, Alan de Oliveira e Antônio Luiz, como para àqueles que desejaram, mas que não puderam ir, os nossos agradecimentos.

No final da conversa, coloquei-me a disposição para ir até a UFS para falar sobre a nossa vivência e pesquisas com alunos do curso de teatro.

Da mesma maneira, reiterei de viva voz, o que publiquei no blog da Ação Cultural, iniciativas como estas do Café com Teatro são necessárias e urgentes, principalmente em razão de estarmos imersos em um estado de guerra cultural declarado pela extrema-direita, guerra cultural que fere gravemente a nossa democracia, mesmo limitada e inconclusa,  e as nossas expectativas de vivermos em uma nação solidária, como cantou Alceu Valença, nos anos de 1980, anos em que o Brasil estava tentando novamente se tornar “irreconhecivelmente inteligente”, na feliz expressão do critico literário Roberto Schwarz

Lembrei da necessidade da universidade realizar atividades de pesquisas e extensão inspiradas no Café com Teatro , assim como o SINTESE e o MST. A CUT dos anos de 1980/1990 também foi lembrada por causa do projeto SINDIARTE.

Até dezembro deste ano, pretendo gravar um programa a ser disponibilizado no canal da Ação Cultural no youtube com o conteúdo desta roda de conversa, com o intuito de atingir um público mais amplo, inclusive quem mora fora do estado e que manifestou interesse via redes digitais... P.S.: E era para ser apenas um textinho.. rsrsr
Fiquem com a matéria da Ascom da Funcaju e publicada no site oficial, e busquem participar na medida do possível do projeto Café com Teatro, inclusive para o mesmo ser expandido sob os auspícios da Funcaju em parceria com outras instituições. As Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2 , como falei ontem, oferecem ótima janela de oportunidades para isso...

Leia também:

Café com Teatro realiza primeiro encontro de maio na Escola de Artes Valdice Teles
Cultura
05/05/2023 18h40


quinta-feira, 4 de maio de 2023

Café com teatro apresenta a potência do teatro na periferia de Aracaju, bairro américa, nos anos 1980

  CAFÉ COM TEATRO

🎭
É consenso que a tecnologia nos afastou do humano, distanciou o olhar, anulou o som da voz, impossibilitou a discussão, o diálogo no cara a cara. Emburrecemos, empobrecemos intelectualmente, e o ritmo de vida moderna nos escravizou.
Onde e quando, HOJE, em nossa cidade, pra servir de exemplo, teríamos a oportunidade de ouvir histórias envolvendo a Arte, e, neste excerto, o Teatro, como esta que será contada pelo historiador, professor, agente cultural, Zezito de Oliveira, e pela professora Gilvanete Melo, sobre a memória de um tempo, de um lugar, num canto de Aracaju, que transformou vidas, impulsionou ações e ideias afirmativas, ecoou de modo pulsante, efervescente? No Café com Teatro isso será possível. Aproveitem!
🎭
* Sergipe não é lugar onde as coisas costumam durar.

Será um prazer e uma honra estar com vocês neste evento de importância ímpar para a nossa cidade, porque traz a reflexão sobre a arte teatral para o lugar da interseção em que esta se faz e se refaz, mediada com a reflexão sobre a experiência vivenciada e ancorada no pensamento de renomados artistas, filósofos, historiadores, sociólogos, antropológos, comunicadores, pedagogos, psicólogos e etc. Penso ser uma forma potente de enfrentar o avanço do pensamento e das práticas neofascistas em nosso meio...Penso que esta proposta pode ser ampliada e apropriada por outros espaços e contextos, como o ambiente acadêmico dentro de uma proposta de extensão e diálogo com a sociedade, realizando troca de saberes com quem não está mais dentro das salas próprias, como também com quem nunca frequentou o ambiente acadêmico. Penso no movimento sindical, em especial no SINTESE com seu departamento cultural, que poderia também refletir sobre políticas e práticas culturais nos moldes como vocês da escola de arte estão realizando...Penso no movimento estudantil e na ação cultural desenvolvida por estes como o CPC da UNE no pré golpe de 1964 e as marcas indeléveis que deixou em nossa história, politica e cultural. Penso no MST de Sergipe com seu setor de cultura, mas que parece meio apagado depois de perdermos Lupércio Damasceno , grande e saudosa referência cultural.



sábado, 15 de abril de 2023

Coronel explica ascensão do bolsonarismo nos quartéis e diz que generais golpistas precisam ser punidos para erro não se repetir

Marcelo Pimentel foi contemporâneo do irmão de Bolsonaro na Aman e conviveu com oficiais que, ao virar generais, atuaram para desestabilizar o governo de Dilma Rousseff

14 de abril de 2023, 23:04 h Atualizado em 14 de abril de 2023, 23:09

www.brasil247.com - 


247 - O coronel da reserva Marcelo Pimentel disse em entrevista à TV 247 que, se os comandantes militares que estimularam a indisciplina e violaram princípios democráticos não forem "responsabilizados de alguma forma", o Brasil voltará a sofrer com os mesmos problemas daqui a vinte ou trinta anos. "É um problema contratado", disse ele a Joaquim de Carvalho, na terceira parte do programa Boa Noite de quinta-feira (13/04).

"Por mais iniciativas que o governo atual tenha de tomar para adotar medidas para sanar, esse problema, pelo aspecto geracional, já está contratado para que, quando a geração de hoje – de jovens capitães, tenentes, cadetes –, que está vendo os seus generais protagonistas (desses atos), quando essa geração chegar, daqui a vinte, trinta anos, chegar ao generalato, (e se) essa geração (de comandantes) agora não for responsabilizada de alguma forma, isso tende a se repetir e a gente ficar no eterno retorno, um eterno regresso histórico", afirmou.

Marcelo Pimentel é graduado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman, turma de 1987), com mestrado em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Em mais de 30 anos no Exército Brasileiro, exerceu sucessivas funções de comando e outras funções relevantes, destacando-se as de instrutor da Escola Preparatória de Cadetes do Exército; comandante da tropa do III Contingente Brasileiro da Força de Paz da ONU no Timor Leste; oficial de Operações; oficial de Inteligência; analista de Inteligência e Contrainteligência nível estratégico; e subcomandante de Batalhão de Polícia do Exército. 

Após sua  passagem à reserva do Exército, atuou como consultor de Inteligência e contrainteligência junto a empresas, associações, condomínios e instituições; e como palestrante para entidades ligadas à indústria e ao comércio. Desde 2018, tem escrito artigos em que critica a politização nos quartéis e usou a expressão Partido Militar.

Segundo ele, a candidatura de Bolsonaro nas eleições de 2018 fez parte de um projeto de poder protagonizado por comandantes militares, incluindo os da Força Aérea e da Marinha, que eram cadetes, tenentes e capitães nos anos 70 e 80. Muitos deles foram contemporâneos de Bolsonaro na Aman.

 "A geração do Bolsonaro, nos anos 88, 87, era capitão como ele, e na última década estava comandando o Exército. Eu assisti tudo isso como oficial que saiu da Aman em 87, quando Bolsonaro promovia atos de insubordinação no Rio de Janeiro, quando houve os eventos do croqui, da matéria da Veja. Ele era uma fonte jornalística de uma determinada jornalista setorista. A gente não pode esquecer que o chefe da sucursal de Veja era Ali Kamel, o grande protagonista editorial da Rede Globo já faz algum tempo", comentou.

Essa geração, segundo ele, ficou em silêncio quando Bolsonaro foi punido por indisciplina, quando informou à repórter de Veja que preparava atos terroristas para obter vantagens corporativas aos militares. Mas o silêncio não significa discordância, mas estratégia. "Aqueles capitães, colegas de Bolsonaro ficaram calados ao longo da carreira e procuraram se desvincular do colega para não se queimar nas suas ascensões profissionais", afirmou.

Nos anos 90, chegaram ao posto de coronel e tenente coronel, e passaram a integrar o Estado Maior do Exército. Nos anos 2000, nos dois primeiros governos de Lula, foram promovidos a generais e atuaram em missões importantes, no Brasil e no Exterior. A partir de 2010, passaram a ocupar postos de comando do Exército.

"O ano de 2015 é fundamental, porque de 2008 até 2014 o presidente Lula e a presidenta Dilma tinham como comandante do Exército o general Enzo Martins Peri, que é um oficial oriundo da arma de Engenharia, engenheiro militar pelo IME, com uma personalidade muito tranquila e muito calma. Mas em 2015 foi escolhido para comandar o Exército o general Villas Boas, que grande parte da imprensa, da própria política, da academia, reputava como um democrata, um legalista inquestionável", relembra.

A crise política, que levaria à deposição de Dilma de Rousseff, se acentuou a partir da posse de Villas Bôas como comandante militar. "O fator militar é preponderante (na crise). Existiram outros fatores que contribuíram para isso, mas essa questão geracional explica isso. E muita gente ainda tem dúvida. Parece que as pessoas veem o Exército e não raciocinam que as gerações vão mudando no comando do Exército. E calhou da geração Bolsonaro estar comandando o Exército na última década, quando aconteceram todos estes fatores, como a Lava Jato", diz.

A força-tarefa de Curitiba, segundo ele, foi um fator importante para "recriar uma relação histórica que vem lá do Segundo Império, entre a magistratura, lideranças da magistratura e lideranças militares, como fatores de estabilização do Estado, da fundação das instituições, algo que hoje é anacrônico, porque, se antes havia esse papel histórico, no Segundo Império, no início da República, em alguns momentos da República, mas depois do advento da Constituição de 88 e das lições da nossa história em relação ao pós-ditadura, é inadmissível que esse fenômeno do protagonismo político, de poder hierárquico das Forças Armadas, esteja de novo aí.".

Marcelo Pimentel se formou pela Aman um ano antes de Renato Bolsonaro, irmão de Jair, e viu o colega se transformar em um vendedor de objetos feitos com retalhos de paraquedas. Hoje, Renato é um rico empresário no Vale do Ribeiro, São Paulo, e foi funcionário fantasma na Assembleia Legislativa, ligado ao grupo de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, abrigo de Jair Bolsonaro.

O coronel da reserva foi perseguido pelo Exército durante o governo Bolsonaro com processos administrativos, embora já estivesse na reserva, por suas manifestações contrárias à politização nos quartéis. Pelo que disse na entrevista, não se arrepende. Ele é contra essa politização em qualquer época e ligada a qualquer ideologia, mas destaca que a atual geração defende bandeiras políticas danosas à democracia.

"É um projeto absolutamente neoliberal, sem dissidência, sem outras visões, um projeto que se aproxima de concepções bastante autoritárias de Estado, até com ideologias relacionadas ao neofascismo, ao neonazismo. E um grave fisiologismo, aquela ocupação de cargos para aumentar capitais sociais, aumentar capitais econômicos, e isso é muito ruim, porque desgasta a nossa imagem como instituição e como indivíduos que pertencemos a ela".

https://www.youtube.com/watch?v=SomraLk0TiM