sábado, 19 de julho de 2025

Soberania Nacional. Pe. Manuel Joaquim R. dos Santos - Arquidiocese de Londrina

 Na década de 1880, face ao crescente interesse das potências europeias pelo continente africano, também Portugal quis fazer valer o seu “direito histórico” na África, elaborando um plano, que ficou conhecido como o “mapa cor de rosa”. Tratava-se basicamente de ligar Angola a Moçambique por uma linha férrea, acrescentando centenas ou milhares de quilómetros de cada lado! Apesar de arrojado, não era para a época de modo algum insensato, o que levou a França e a Alemanha a concordarem com a pretensão lusa. Portugal, contudo, já dava sinais nítidos de decadência do seu império (o Brasil tinha decretado a sua independência), e internamente, o enfrentamento da monarquia com as forças republicanas atingia uma tensão insustentável. A Inglaterra opôs-se veementemente a este projeto. 

Ora, a Inglaterra era a primeira aliada de Portugal desde o início da nacionalidade, aliança selada no século XIV com o casamento de Dom João I com a princesa Filipa de Lencastre. Nas constantes lutas contra a Espanha, nas invasões francesas e principalmente no episódio da fuga da família real para o Brasil em 1807, as forças inglesas foram fundamentais. A Inglaterra era “nossa amiga”! Mas, como bem sugere a gíria popular, “amigos amigos, negócios à parte”! É sabido também, que por trás da oposição inglesa havia o seu interesse em construir um caminho de ferro do Cairo à cidade do Cabo na África do Sul. Em 1890, o primeiro-ministro britânico Lord Salisbury  não hesitou em dar um ultimato a Lisboa, ameaçando bombardear a capital, se Portugal não renunciasse às suas pretensões. A monarquia portuguesa, mais fiel à ligação dinástica do que aos interesses nacionais, na pessoa do recém empossado D. Carlos, cedeu a Londres. O hino nacional “a portuguesa” nasceu exatamente como reação ao Ultimato. Os seus versos assim o retratam: 

“Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal! (...) Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre mar, às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões, marchar, marchar!” 

O embaixador português em Londres trabalhou em favor dos ingleses! A monarquia alegava laços ancestrais. Com isso, a já fragilizada dinastia de Bragança, assinava o seu fim! Acusada de conspirar contra a pátria, viu surgir com força implacável os ideais republicanos, que poucos anos depois aboliriam o antigo regime e proclamariam a República. Os “traidores” pagaram com a vida; o regicídio de 1908 matou o rei e o príncipe herdeiro. Este episódio triste da história portuguesa revela duas coisas: em momentos difíceis da nação, a soberania não pode ser negociada, custe o que custar, porque daí deriva a própria essência do que se é como país independente! Em segundo lugar, é exatamente em circunstancias delicadas e constrangedoras, que se revelam os verdadeiros patriotas. 

O Brasil vive sob um ultimato! É grave afirma-lo, mas não restam dúvidas perante as cartas “midiáticas” de Trump! Ou a justiça brasileira se submete à humilhação de rasgar os ditames constitucionais e subverter os trâmites processuais legítimos e normais, ou o país amarga pesado tarifaço sobre os seus produtos exportados aos EUA. Não existe eufemismo para esta operação! Talvez o que nos surpreenda não seja a verborreia do presidente americano que já mostrou o quanto é falastrão e mentiroso. São os cerca de 20% de brasileiros (e vários políticos de renome) que apoiam a bizarrice do hóspede da casa Branca. Não existe nenhuma justificativa para esta aberração. Os magnatas do Agro sabem e os grandes industriais também, que pesa acima de tudo uma enorme injustiça e uma falácia, uma vez que o Brasil respondeu por 1,2% dos produtos importados pelos Estados Unidos e por 2,39% das exportações americanas, de janeiro a maio deste ano.

O nome do caldo litigioso é outro! São as bilionárias big techs! Promotoras de fake News, de misoginia, de atentados contra a Democracia e Estado de Direito, aptas a derrubar regimes legitimamente eleitos. Seus donos almoçam em Washington! Trump sabe onde quer chegar. Mas o Brasil tem instituições sólidas o suficiente para brecar seus intentos escusos!




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