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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

2020 e a luta não para....Ferrez e a periferia fascista. GOG o "poeta do Rap" mandando ver na Rádio Brasil Atual...Gilberto Gil dando uns toques de quem já enfrentou outras barras pesadas....E MAIS....




Algumas intervenções do escritor Ferréz na mesa “Comunicação e hegemonia cultural” do Seminário Internacional "Democracia em Colapso?". O debate contou também com a presença do psicanalista Christian Dunker e da cientista política Esther Solano, e teve mediação de Claudia Motta (Rede Brasil Atual).
Debate completo: https://youtu.be/CGI6HtxKYSQ

Construir formas de comunicação com todas as esferas da população, ou “falar a língua do povo”, na linguagem popular, se coloca hoje como um dos grandes desafios ao debate sobre a democracia e à implantação de projetos políticos e sociais. De que maneira poderosas máquinas comunicativas são criadas para fundamentar discursos de intolerância? Como o campo progressista pode se organizar diante desses ataques? O debate tratará também de aprofundar na reflexão a respeito de como, ao fabricar e insuflar sentimentos de ódio, torna-se necessária a criação de novos modelos críticos que deem conta desse cenário. 📚 O ÓDIO COMO POLÍTICA: a reinvenção das direitas no Brasil https://bit.ly/2PPggSX
FERRÉZ Romancista, contista, poeta e empreendedor. Dedica-se à considerada literatura marginal, desenvolvida na periferia das grandes cidades e que trata de temas a ela relacionados. Publicou, entre outros, Capão Pecado (Planeta, 2001) e Deus foi almoçar (Planeta, 2005). É fundador do 1DaSul, que promove eventos e ações culturais no Capão Redondo, da Ong Interferência, que trabalha com crianças da Zona Sul, e da editora independente Selo Povo. É um dos autores do livro de intervenção "O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil", organizado por Esther Solano
#DemocraciaEmColapso #hegemoniacultural #Periferia



O rapper GOG é o convidado de hoje do programa Hora do Rango.
Com mais de 30 anos de estrada, o “poeta do rap nacional”, como é conhecido, está na memória afetiva das periferias do Brasil, com seu som provocativo de denúncia e conscientização. Sempre politizado e militante das “causas e das canções”, GOG tem um currículo extenso, com 12 discos lançados e diversos prêmios. O artista lançou recentemente duas músicas que estarão no seu próximo álbum, previsto para sair ainda neste ano. No programa, GOG vai falar sobre a fase atual e cantar ao vivo algumas de suas novas e clássicas músicas.



Inscreva-se e receba os vídeos em primeira mão: 👉🏾 http://bit.ly/1bxZhtb
Trechos da participação do pastor Henrique Vieira no debate que foi amplamente considerado o mais quente e fértil de todo o Seminário Internacional "Democracia em colapso?". ComAmanda Palha, Flávia Biroli e Henrique Vieira, ele marcou o lançamento da edição especial da revista Margem Esquerda dedicada a enfrentar as articulações e tensões produtivas entre marxismo e lutas LGBT, para além da querela da "cortina de fumaça". A mediação foi de Andrea Dipp. 📕 MARXISMO E LUTAS LGBT
http://bit.ly/35AUI53 Com textos de Amanda Palha, Angela Davis, Renan Quinalha, Rafael Dias Toitio, Isadora Lins França, Lucas Bulgarelli, Judith Butler, Carla Rodrigues, Maria Lygia Quartim de Moraes, Yara A. Frateschi, Mario Mieli, Clara Zetkin, Osvaldo Coggiola, Mario Duayer, entre outros. Estamos publicando os vídeos do Seminário Internacional "Democracia em colapso?" na TV Boitempo. Todas as aulas, conferências e mesas foram gravadas e serão disponibilizadas gratuitamente aqui no canal toda semana! Inscreva-se e acompanhe o seminário online (http://bit.ly/1bxZhtb). Para melhor entender as relações entre a política, a família e a religião, que tanto têm pautado as decisões políticas e pessoais da sociedade brasileira nos últimos tempos, a mesa reúne debatedores de campos e linhas diversas a fim de entender esses modos de organização social e questionar: quais são as fronteiras entre religião e política? A ideia de família representa uma força formadora da política brasileira? Esta mesa do seminário reuniu a militante transfeminista e marxista Amanda Palha, a cientista política Flávia Biroli e o Pastor e historiador Henrique Vieira em um debate quentíssimo intitulado “Família, religião e política”, mediado por Andrea Dip (Agência Pública). A conferência de encerramento, apresentada por Angela Davis, também está disponível aqui no canal em duas versões (com áudio original, em inglês, e com áudio da tradução simultânea para o português). Tem muito conteúdo incrível para ser publicado aqui no canal, incluindo conferências internacionais de Patricia Hill Collins, Silvia Federici e Michael Löwy, aulas de Marilena Chaui, Virgínia Fontes, Antonio Carlos Mazzeo e Luis Felipe Miguel, debates com pensadores do calibre de Leda Paulani, Sabrina Fernandes, Ruy Braga, Amanda Palha, Ferréz, Flávia Biroli, Maria Rita Kehl, Renan Quinalha, Luiz Eduardo Soares, Jones Manoel, Thula Pires, Esther Solano, Christian Dunker, Alysson Mascaro, Henrique Vieira, Raquel Barreto e tantos outros... PASTOR HENRIQUE VIEIRA Formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, é pastor, ator, pesquisador da arte do palhaço, cientista social e historiador. É uma das expressões da teologia negra que busca resgatar a potência negra da Bíblia e da história do cristianismo, bem como combater o fundamentalismo religioso. Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense e em História na Universidade Salgado de Oliveira. Integra o Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog e a Aliança de Batistas do Brasil. É um dos autores da coletânea O ódio como política (Boitempo, 2018) e lançou este ano O amor como revolução (Editora Objetiva). #DemocraciaEmColapso #evangélicos #fundamentalismo

Nesta entrevista com o notável ex-Ministro da Cultura, conversamos sobre o papel de artistas negres brasileires nas relações internacionais, sobre as culturas nordestinas como elemento de enfrentamento ao fascismo, sobre os desafios diante das ruínas que se acumulam no campo das políticas para cultura, sobre seu último disco OK OK OK. Entre outros assuntos, Gilberto Gil alertou para o enfrentamento cotidiano ao totalitarismo."[Há] um modo de ser da sociedade atual, que os proto-fascismos, neo-fascismos, o conservadorismo embrutecedor não conseguem dar conta. E penso eu que não darão conta. Porque o desenvolvimento da história da humanidade é para frente e para os lados, os desvios, as bifurcações... Essa coisa de plantar uma bandeira de um princípio único, uma monocultura da política, monocultura da religião, monocultura do entretenimento, monocultura da informação, tudo isso não cabe mais".
Leia mais na edição de janeiro de 2020 do Le Monde Diplomatique Brasil:






Celebrada no exterior e perseguida no Brasil, a cineasta Petra Costa tem substituído nossas dúvidas por certezas um tanto melancólicas. Tanto seu filme "Democracia em Vertigem" quando a perseguição contra ele deixam pouca margem para acreditar na máxima de que as instituições estão funcionando normalmente.



No TEDxUFPR de 2019 contamos com os fundadores e apresentadores do Canal Meteoro Brasil, uma plataforma que fala de tudo um pouco, desde cultura pop, até ciência e filosofia, contando com mais de 500.000 inscritos. Ao longo do desenvolvimento de seus trabalhos, ambos têm percebido cada vez mais a importância de lidar com fontes numerosas e variadas.




Nete talk, a socióloga, professora e youtuber Sabrina Fernandes fala sobre a importância de ser ter mais produção de conteúdo educacional político nas redes sociais e como ela mesma tem feito isso através do seu canal. Sabrina é doutora em Sociologia pela Carleton University, feminista, professora substituta e pesquisadora da Universidade de Brasília. Mas o currículo dela não acaba por aí: Fernandes também é a produtora por trás do Tese Onze, um canal do Youtube focado em debater o senso comum, trazer pontos sobre sociologia e política, e acumular bagagem pra transformar o mundo



Rita Von Hunty aproveita que o DOPS ainda não encontrou o seu gabinete, em algum porão do Brasil, para falar sobre como funciona o liberalismo e o neoliberalismo.




Recentemente, Caetano Veloso mudou sua cabeça , em suas próprias palavras, graças as idéias de um jovem pensador nordestino. Jones Manoel é militante do PCB, professor de história e escritor. Em sua nova coluna na Mídia NINJA, Caetano Veloso entrevista Jones Manoel. Acompanhe essa conversa profunda sobre geo política internacional, revolução e tropicalismo. Assista no nosso canal do Youtube. #CaetanoNinja #CaetanoeJonesManoel



Hoje as codepus se reuniram para responder perguntas sobre a Mandata Coletiva, o Movimento Bancada Ativista e como funcionam as dinâmicas aqui dentro Ver menos




Pedro A. Ribeiro de Oliveira – Análise de conjuntura – 2020



Introdução
Este texto atualiza a análise publicada em maio de 2019, evitando repetir suas justificativas teóricas e os dados de caráter estrutural[1]. Sua novidade reside no aprofundamento das consequências da derrota do povo brasileiro na guerra de 4ª geração que derrubou o governo Dilma e resultou no atual regime ultraliberal. Quanto ao esquema, o texto segue a forma habitual: o sistema Terra, o sistema-mundo capitalista e o Brasil.

Sistema Terra
A catástrofe climático-ambiental continua a dar sinais de antecipação. As medidas recomendadas pela comunidade científica internacional no sentido de evita-la continuam sendo promessas vagas. Devemos esperar, portanto, o agravamento das dificuldades climáticas porque a data-limite para estancar o processo é o ano de 2021. Sinal positivo é o Fórum Econômico de Davos receber neste ano a adolescente Greta Thumberg, que deu seu recado de protesto a quem manda no mundo dos negócios e na política: os 2.150 bilionários cuja riqueza equivale à riqueza de mais da metade da população mundial. Mas é preciso ser ingenuamente otimista para acreditar que aquele clube de ricaços (cujo número dobrou depois da crise 2008) abra mão da riqueza que lhe garante status privilegiado para evitar a deterioração da vida na Terra. Noticia-se que uma parte deles aceita abrir mãos de (alguns) privilégios, mas outra parte continua dizendo que o clima é um problema entre outros, e que o importante é o crescimento econômico. Se eles não se mexem em favor da Terra, tampouco se mexem os milionários, os muito ricos ou apenas ricos. Sinal disso são os dividendos da Vale, que superaram as indenizações pelo crime de Brumadinho, levando suas ações a recuperar o valor anterior à tragédia.

Longe do mundo dos milionários e ricaços, porém, cresce na juventude a consciência da Terra como sujeito de direitos e isso poderá trazer resultados positivos para a vida da Terra e da Humanidade. Também os povos originários e tradicionais – exímios cuidadores da natureza – estão assumindo protagonismo no mundo político. Ameaçados de extinção, eles ganharam nova energia. Os novos movimentos sociais, organizados de forma horizontal, como coletivos, despontam como sujeitos do processo que marcará o final do atual modo de produção e consumo capitalista. Ainda é cedo para saber por quanto tempo esses coletivos serão atuantes e qual a sua real incidência nesse processo (porque com a mesma rapidez que se formam, podem se desfazer), mas diante do esgotamento das instituições políticas usadas pelas classes trabalhadoras (partidos, sindicatos, igrejas) é neles que hoje surgem sinais esperançosos de mudança. Ainda que não seja mais possível escapar da catástrofe que se anuncia, ela poderá ser amenizada se esses coletivos conseguirem produzir a real solidariedade universal, como é seu propósito.

Sistema-mundo capitalista em crise – clima de guerra
A crise financeira de 2008 marca o final do ciclo de acumulação puxado pelos EUA no século 20. A intervenção dos Bancos Centrais injetando alguns trilhões de US dólares no sistema bancário deu-lhe uma sobrevida, mas não alterou o processo de financeirização do capital, que beneficia a concentração da riqueza em poucas mãos. Hoje 147 grupos (dos quais 75% são bancos) controlam 40% do sistema corporativo mundial, de modo que 1% dos habitantes da Terra detêm riqueza igual à dos 99% restantes. Enquanto o capital financeiro se agiganta, os capitais produtivos quase não crescem, exceto no campo polarizado pela China e pela Índia, fazendo que o polo mundial se transfira do Atlântico Norte ao Pacífico.

O poder militar, porém, continua sendo dos EUA, que exibiu sua força ao matar o principal chefe militar iraniano em visita ao Iraque. Não se enquadrando numa operação de guerra, esse atentado confirma que os EUA hoje não se submetem às normas do convívio internacional. E isso alimenta o clima de tensão mundial, que caminha para a intensificação dos conflitos armados.

Essa crise financeira que se encaminha para o agravamento de conflitos militares incide no campo das ideias e das relações políticas como expressão de um mal-estar generalizado. O processo de dissolução da civilização ocidental moderna (capitalista, colonialista, patriarcal e antropocêntrica) está avançando, fazendo eclodir movimentos reacionários ou ultraconservadores – dos quais o bolsonarismo é um exemplo – em diferentes partes do mundo. Sua presença se dá também no campo religioso: os fundamentalismos e a oposição a Francisco atacam intransigentemente as inovações em nome de um passado idealizado. S. Bannon –que respalda os reacionários no campo político (campanhas eleitorais) e no campo religioso e cultural – é um dos cérebros desses movimentos de reação ao processo de construção de uma sociedade planetária. Eles são incapazes de apontar uma solução viável às dificuldades do tempo presente, mas têm a capacidade de demolir as propostas de estruturas sociais, econômicas, culturais e políticas alternativas àquelas da civilização ocidental em decadência. Daí o mal-estar contemporâneo que parece atingir todos os setores da sociedade.

Em muitos lugares da Terra esse mal-estar resulta em guerras. Seu pretexto varia: podem ser questões étnicas, religiosas, políticas, combate ao terrorismo ou às drogas, mas trata-se sempre de eliminar um poder definido como hostil. No final do século 20, as corporações e o governo dos EUA impuseram sua vontade unilateral ao resto do mundo, mas o ressurgimento da Rússia, a emergência da China como maior economia mundial, e a resiliência da União Europeia quebraram aquela hegemonia. Hoje temos um quadro multipolar no qual as tensões se equilibram sem chegar ao confronto direto entre as grandes potências, embora não esteja descartado um conflito de grandes proporções – inclusive com o uso de armas nucleares de baixa intensidade.

A novidade das guerras do século 21 é o uso racional e metódico da informação via internet como meio de ataque a um poder hostil. Trata-se de produzir informações parcialmente verdadeiras (pós-verdade) ou falsas (fake-news) que sejam plausíveis para quem as recebe. Difundidas pela grande mídia (TVs, rádios e jornais), redes digitais, ou instituições (Igrejas, ONGs, institutos de produção de ideias), elas são replicadas por quem as recebe, multiplicando-se nas redes virtuais (como o vírus do hacker). Elas agem sobre as consciências no sentido de deslegitimar o inimigo (a acusação mais frequente é de corrupção) até que, fragilizado esse poder seja facilmente derrubado por meios militares, políticos ou judiciais. Essa forma de guerra (chamada híbrida ou de 4ª geração) foi experimentada no Iraque (em 2003) e depois na Primavera árabe. O Irã é alvo constante dessa guerra, mas tem resistido, tal como a Venezuela. Em nossa América, ela foi empregada em Honduras, na Venezuela, no Paraguai e agora na Bolívia. No Brasil, ela conduziu o processo de derrubada da Presidenta Dilma até a eleição de Bolsonaro e mantém-se até hoje como forma de dissuasão a possíveis reações populares contra o regime em vigor.

Para entender essa forma de guerra, é preciso ter em conta que ela não tem um único comando centralizado, mas diferentes nodos – grupos de poder econômico, político, cultural e militar – atuando em vista de seus próprios interesses, mas objetivamente conectados e reforçando-se mutuamente. P. ex.: agências governamentais e fundações dos EUA oferecem bolsas para formar gente que vai pensar e atuar conforme suas leis e valores; agências de segurança interceptam informações que trafegam na internet e definem os alvos para ataques policiais ou econômicos (ver Snowden); sites produzem e falseiam notícias, que são reproduzidas por instituições confiáveis e replicadas na rede virtual; promovem-se manifestações públicas, com repercussão midiática, que enfraquecem as instituições definidas como “hostis”. O resultado é que a grande massa, confundida por notícias disparatadas, acaba sendo levada por argumentos que apela antes para as emoções do que para a razão.

É claro que o sucesso das guerras de 4ª geração requer a cumplicidade de grupos sociais no país alvo. No caso do Brasil, foram os 20.000 muito ricos, que romperam o pacto de 2002 com o PT (que suspendeu as reformas agrária, fiscal e política e a auditoria da dívida pública em troca da governabilidade e do projeto social-desenvolvimentista do governo Lula) e se alinharam com as corporações e o governo dos EUA. Disso resultou o governo Temer-PSDB e a eleição de Bolsonaro, ambos dando cobertura à política ultraliberal: o máximo ao mercado, o mínimo ao Estado de proteção social.

Brasil: Estado cliente
Se aceitarmos a hipótese – plausível, embora sujeita a contestação – de que houve uma guerra de 4ª geração vencida pelas corporações e governo dos EUA com a cumplicidade dos muito-ricos do Brasil, devemos explicitar suas consequências. A primeira delas, já mencionada em textos anteriores, foi a derrota histórica das classes trabalhadoras e dos setores nacionalistas[2]. Outra consequência foi a imposição de um regime de subordinação do Estado brasileiro aos vencedores. Para facilitar a compreensão, podemos fazer um paralelo com o regime em vigor na França após sua derrota diante do exército alemão em 1940[3]. O Marechal Pétain, herói da Guerra de 1914-18, assumiu o governo do Estado Francês e assinou o armistício que dividiu o território francês em duas partes. Uma, ficou sob controle direto das forças alemãs de ocupação e outra, com cerca de 3/5 do território mais as antigas colônias, ficou sob governo francês com sede na cidade de Vichy. Sua soberania era apenas formal, para permitir a manutenção das relações diplomáticas e o controle das “províncias ultramarinas”, porque de fato só fazia o que não contrariasse a orientação nazista. Por isso, pode ser usado o conceito de “Estado cliente” da Alemanha. Embora contestado por um pequeno setor militar comandado por De Gaule, refugiado na Inglaterra, e por grupos nacionalistas de esquerda, que assumiram a Resistência na clandestinidade, aquele governo sobreviveu até a invasão aliada em 1945, tendo o apoio das classes médias e altas e do clero católico.

É evidente que a realidade do Brasil hoje é muito diferente do que ocorreu na França e em outros países sob ocupação nazista. Mas se houve uma guerra e uma derrota – tal é nossa hipótese de trabalho – o regime aqui imposto não decorre somente de uma troca de governo resultante das eleições de 2018. Novos parâmetros políticos foram estabelecidos pelos vencedores: a Constituição e as instituições republicanas permanecem em vigor, mas seu funcionamento foi enviesado para proteger os interesses das corporações e das empresas a elas subordinadas, em detrimento do trabalho[4]. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, devidamente amparados pelo Ministério Público e pelas Forças Armadas, estão conduzindo a sociedade brasileira na direção do ultraliberalismo econômico. A redução dos gastos públicos com políticas sociais, as privatizações, o favorecimento ao agronegócio, as concessões de exploração mineral na Amazônia e em Territórios Indígenas, e outras medidas já anunciadas são evidências de que aquele projeto avança praticamente sem resistência da sociedade.

A cada semana tomamos conhecimento de novas violações de Direitos assegurados pela Constituição, mas a indignação dos setores democráticos não resulta em punição dos transgressores nem produz efeitos na política: na hipótese mais favorável, o responsável é demitido e outra pessoa toma seu lugar. A cena política é ocupada por falas provocadoras ou disparatadas do presidente, de algum ministro ou ministra e de pessoas de seu entorno, produzindo indignação de um lado e recebendo aplausos de outro. Esses jogos de cena distraem o público enquanto a equipe econômica de P. Guedes faz seu serviço nos bastidores. É importante observar que os resultados nefastos dessa política, especialmente para os setores de média e baixa renda, já são evidentes, mas os equipamentos da guerra de 4ª geração continuam em pleno funcionamento: a Mídia corporativa, as redes digitais, setores importantes das Igrejas evangélicas e católica, e organismos formadores de opinião tratam de camuflar as notícias e, sempre que possível, atribuem os malefícios atuais aos governos passados ou os apresentam como remédios amargos mas necessários para o País atingir a almejada prosperidade geral. De vez em quando faz-se ouvir a voz de militares – boa parte deles treinados para manter a lei e a ordem dos brancos no Haiti – para lembrar que o atual regime tem seu respaldo e que não serão tolerados desvios de seu rumo político.

Nesse contexto, é ingênuo propor manifestações de massa, greve geral ou ocupações de terra, assim como é ingênuo pensar que uma vitória eleitoral possa mudar o regime. Há que se disputar as eleições municipais, pelo menos para dificultar o avanço do projeto ultraliberal em âmbito local e constituir mandatos em defesa das causas populares, mas sabendo que elas se limitam a reduzir danos. Também a atuação nos espaços sindicais, de associações civis, movimentos organizados e Igrejas deve ser conduzida por objetivos claros: minimizar o alcance da política econômica ultraliberal e de seus efeitos colaterais. No contexto de um Estado que hipotecou sua soberania, as ações de libertação têm que mirar o médio e o longo prazo, preparando hoje o terreno para a contra-ofensiva que deverá aguardar o momento oportuno para alcançar êxito.

Diante do quadro acima, o atual momento brasileiro deve ser visto como um “deserto fértil”, no dizer de D. Hélder. É o momento de plantar as sementes que alimentarão o processo de criação de um novo modo de produção e consumo justo, construtor da paz e respeitoso da Terra. Essas sementes serão tanto mais fecundas quanto mais forem adubadas pelo exame sereno e crítico dos erros e equívocos cometidos pelas forças populares, que não perceberam a realidade de guerra de 4ª geração na qual foram envolvidas. Uma dessas sementes é a conscientização popular, tema que preciso estudar e aprofundar antes de aborda-lo num futuro artigo.

[2] Não cabe aqui analisar seus erros estratégicos, porque a derrota era inevitável devido à superioridade das armas de 4ª geração empregadas pelas forças vencedoras.
[3] Para quem não conhece esse fato histórico, um breve relato encontra-se em https://pt.wikipedia.org/wiki/França_de_Vichy
(Publicado originalmente no site do Movimento Fé e Política, e 03/fevereiro de 2020)

Daniela Lima recebe o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.




O ministro Sérgio Moro é o convidado do Roda Viva nesta segunda, 20 de janeiro. Nenhum das dezenas de jornalistas envolvidos na #VazaJato foram convidados para a entrevista. Nesta live, a redação do Intercept comenta a entrevista do ex-juiz e faz as perguntas que ele não quer responder. ----
ASSISTA O VÍDEO ABAIXO NO YOUTUBE.





segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

E agora José? E agora PT?

 * A propósito das recentes  criticas feitas por Tarso Genro a aspectos centrais  da organização do PT no momento,   e sobre as perspectivas de futuro,  é importante lembrar  que,  sob o ponto de vista eleitoral, o partido até pode obter alguns bons resultados nas próximas eleições.

Porém,  pode ficar aquém ou bem aquém do esperado e o mais complicado, irá governar dentro de condições bem mais desfavoráveis do que teve antes do golpe de 2016.

Não custa lembrar, o fato de até ali, algumas regras mínimas do pacto democrático estivera sendo respeitadas por parte dos opositores. Em que pese a grande imprensa, emblematicamente representado pela Rede Globo e pela revista Veja, terem rompido esse pacto bem antes.

Aqui , trago por exemplo, a quantidade de minutos ou de páginas dedicadas a desqualificar o PT , muitas vezes com bases em ilações irresponsáveis, ou então com  noticias falsas mesmo. E isso,  sem o devido direito de defesa, com o mesmo espaço de tempo e de páginas.

E assim será com Freixo do PSOL no Rio de Janeiro, caso venças as eleições na antiga capital federal.

Assim será com Manoela D’ávila em Porto Alegre e etc.. E etc...
E sobre a imprensa ter rompido o pacto democrático. É importante reconhecer no caso da Rede Globo, esse respeito  nunca ter acontecido. Basta lembrar a forma como o canal se relacionou com os governos militares e como Brizola foi tratado, antes e concomitante, a trajetória de Lula.

Sem lembrar os canais religiosos, cuja atuação não se restringe somente a comunicação de massas.

Portanto, não é só a batata do PT que está assando...

No post abaixo, incluímos quatro publicações, inclusive deste que escreve, para ajudar o debate.

Vale a pena ler e/ou reler.  Vale a pena utilizá-las para nortear um circuito de conversas.  Vale a pena aprofundar com leituras de livros e vídeos especializados  sobre a  temática principal e derivadas.  Tarefa agora e sempre...

Zezito de Oliveira 

Após a leitura dos textos abaixo, também é recomendável o seguinte post: 

2020 e a luta não para....Ferrez e a periferia fascista. GOG o "poeta do Rap" mandando ver na Rádio Brasil Atual...Gilberto Gil dando uns toques de quem já enfrentou outras barras pesadas....E MAIS....


 * acrescido em 08 de fevereiro de 2020

O PT ficou obsoleto Em depoimento ao UOL, Tarso Genro diz que não vai à festa de 40 anos do partido e defende mudança no discurso





O Partido dos Trabalhadores faz 40 anos na próxima segunda-feira e hoje começa uma grande festa no Rio de Janeiro. Mas eu não pretendo participar. Não me sinto identificado, hoje, com o tipo de visão que o PT construiu de si mesmo.

Acho que o partido fez transformações democráticas muito positivas na sociedade brasileira, em particular no governo do presidente Lula. Mas também acho que ele teve que fazer uma série de modulações na sua linha política que bloquearem a sua renovação.

Ao longo destes 40 anos ocorreram composições e renúncias que nunca ficaram esclarecidas. Não sei se algumas destas concessões não foram renúncias de princípios. A festa de aniversário é uma boa iniciativa e tenho certeza que nem vão dar grande importância para a minha ausência.


Metade da missão cumprida

Já tive muitas responsabilidades na política. Fui vereador, vice-prefeito, prefeito, governador e ministro. Também fui presidente do PT. Assumi como interino na época em que o mensalão estava no auge [2005]. Eu tinha dois objetivos. Primeiro, concorrer nas eleições internas. Foi inclusive o que o pessoal do grupo hegemônico do partido me propôs. E também chamar o PED [Processo de Eleições Diretas], que seria fundamental para reestruturar o partido nos estados e na direção nacional.

Uma missão eu cumpri: o PED foi feito, mas a ideia de reformar as estruturas do partido não foi possível. Eu bati radicalmente com a maioria que, vamos dizer assim, controlava o partido e achava imprudente um processo de renovação/refundação.

Não foram ações individuais de qualquer dirigente que impediram a reestruturação. Na verdade, era o pacto hegemônico do partido que, naquele momento, não pretendia se renovar. E na minha opinião, não se renovou até hoje.

Isto aí me fez recuar de ser candidato. Organizei as eleições internas e voltei para Porto Alegre.


PT ficou obsoleto

A "autocrítica" que eu defendi não significava transformar o partido em delegacia de polícia. Quadros do PT cometeram erros ao longo destes 40 anos e isso não é nenhuma novidade em qualquer partido de qualquer ideologia. A reestruturação que eu defendia e defendo vai bem além.

Nós temos um discurso e um programa ancorado na época em que o partido foi fundado e ainda agimos como se existisse uma classe trabalhadora nas fábricas que teria potencial hegemônico na sociedade. Operamos como se o nosso trabalho fosse organizar esta classe de pessoas para lutar por uma utopia. Isto mudou radicalmente.

Não adianta, por exemplo, o PT prometer se renovar e pregar a restauração da CLT. Os processos de trabalho foram fragmentados e hoje temos autônomos, horistas, PJs, precários, intermitentes... Trata-se, neste caso, de organizar um outro sistema público protetivo que envolva estes excluídos das legislações trabalhistas, que irão aumentar.

Acho que o partido não acompanhou estas mudanças. E, a esta nova organização do trabalho, soma-se a tensão social resultante de questões de gênero, cultura, preconceito racial e condição sexual. Precisamos absorver as suas demandas e oferecer propostas concretas.

Vou exemplificar usando a declaração de um amigo dirigente do Partido Socialista chileno sobre como eles foram atropelados pelas manifestações que assolaram aquele país. "Fomos pegos de surpresa, não sabemos o que ocorreu. Estamos fora. Queremos ficar dentro."

Isto é o que está acontecendo conosco também. Mas não é só o PT que está fora. São mudanças que atingiram o mundo todo e levam toda esquerda a dificuldades. Estamos falando em vão, com formas discursivas que amplos setores da sociedade não prestam mais atenção.


Luta pela hegemonia

Aqui no Brasil também existe a possibilidade de movimentos de rebeldia política e econômica. Eles não têm direção, um organizador, e podem ser aproveitados pelo fascismo, como a equipe "ideológica" em rede do [Jair] Bolsonaro está aproveitando até agora.

Temos que aprender urgentemente como falar com este mundo novo do trabalho nestes tempos de relações sociais em rede. A luta é pela hegemonia. E a luta da hegemonia se faz através de valores.

Nós, da esquerda, precisamos determinar nossos compromissos e buscar convergências com outros campos políticos. Avaliarmos as condições das alianças e decidirmos unir (ou não) forças sociais, dependendo de cada situação concreta.

Acho que a frente ampla do Uruguai é uma inspiração. É uma aliança composta por organizações sociais, partidos e personalidades. Os uruguaios, antes de nós, entenderam esta nova pluralidade, esta nova fragmentação da sociedade e constituíram uma forma de organização política que teve abrangência e princípios.

Eles perderam as eleições ano passado, mas a sua derrota não permitiu a ascensão do fascismo, que espreita sempre os momentos de crise. Eles aglutinarem mais setores sociais e por isso suas conquistas democráticas foram mantidas.


PT tem que aprender a dividir

Para compor uma frente de esquerda o PT precisa trabalhar com a possibilidade de não indicar o candidato em uma chapa na eleição presidencial. E acho que se o PT não está preparado, tem que se preparar para isto. Eu defendo Lula ou [Fernando] Haddad como candidatos, mas nossa opinião tem que ser avalizada sinceramente por todas as forças convergentes.

Não é pelo fato de o PT ter o maior número de votos na esquerda, e ele tem de fato, que deve ter sempre as cabeças de chapas. O partido tem que conduzir o projeto de alianças pela questão programática e avaliar qual candidato tem mais chance de vencer a eleição. Não podemos ser hegemônicos pré-datados.

Esta revisão de procedimentos vale para as políticas partidárias internas também. O PT tem instâncias democráticas que funcionam, mas eu creio que existe uma hegemonia que paira sobre estas instâncias de como e "o quê" elas devem decidir. E esta capacidade de influenciar recai, principalmente, sobre grupo paulista.


Separando funções

Nestas reflexões o PT também precisa compreender que há diferença entre política partidária e políticas de governo. Até porque as responsabilidades são diferentes. Você pode pegar a sucessão do presidente Lula como exemplo.

O nome da companheira Dilma foi aprovado pelo partido através de uma proposta do presidente Lula, sem debate. Hoje, a opinião generalizada do PT é que ela teve uma enorme dificuldade de compreender de maneira adequada as diferenças internas que o partido tinha.

Ela não sofreu golpe exclusivamente por este motivo, mas como o partido não conseguiu dialogar com a Dilma, e nem a presidenta com o partido, não foi possível formar um núcleo político dirigente que processasse a resistência. O Fernando Haddad era prefeito de São Paulo, por exemplo, e ficou meses tentando marcar uma reunião com a Dilma. Sem sucesso.

Agora, você me pergunta se a presidenta Dilma é culpada? Eu não acho isso. Acho que ela é vítima desta situação, que não foi enfrentada de maneira adequada pelo conjunto dos nossos dirigentes.


Reestruturação levará 15 anos

Na minha opinião, verei a reestruturação do PT se viver até uns 90 anos [Tarso tem 72 anos]. Acho que estamos numa fase de transição e formulação de uma nova esquerda num momento em que o próprio capitalismo não se reacomodou. As relações pessoais em rede, a fragmentação das relações de trabalho estão em curso. As mudanças continuarão em ritmo acelerado, e nós correndo atrás delas.

Acho que nos próximos 15 anos deveremos ter alguns governos mais ao centro, mais à direita e ameaças fascistas como o governo Bolsonaro. E acredito que o PT vai manter mais ou menos seu status e eleitorado, permanecendo atuante na sociedade brasileira.

Até pela força política do presidente Lula. Mas precisamos oferecer respostas mais consistentes sobre a questão democrática e a natureza da sociedade que desejamos.

Quase 60 anos de políticas

E eu trabalho para buscar estas respostas. Continuo filiado ao partido, me orgulho disso, tenho contatos com companheiros da direção nacional, deputados e, eventualmente, com o próprio presidente Lula. E pretendo continuar ajudando com as relações que mantenho.

Mas, no momento, não tenho aspirações políticas que me seduzam a concorrer nas eleições. As pessoas ouvem que não vou mais concorrer e acham que estou "aposentado". Continuo militante ativo e pensante.

Eu e um grupo de companheiros elaboramos documentos que submetemos aos partidos de esquerda. Sigo discutindo e escrevendo artigos. Pretendo ajudar, com meus limites, não somente ao PT, mas os companheiros de todos os partidos de esquerda que pensam numa renovação de paradigmas da esquerda.


A autocrítica de Tarso

Já fiz várias autocríticas nesta jornada de 58 anos de militância. Tenho meus arrependimentos. Quem não tem é porque não está na vida. O maior deles foi ter derrotado o então governador Olívio Dutra na prévia do PT em 2002. Impedi o Olívio de tentar a reeleição e perdi.

Resolvi concorrer naquela eleição porque a disputa interna no partido estava muito radicalizada. Foi um erro político de minha parte. O Olívio deveria ter sido candidato. Eu tratei de recuperar as nossas relações pessoais e políticas, mas é um período que eu guardo com uma lembrança amarga.

A minha decisão também causou um incômodo doméstico. A Luciana [Genro, filha de Tarso] deu uma declaração dizendo que achava que o Olívio deveria ter sido o candidato do PT. A partir disso, houve uma pequena rusga entre nós. Durou uns dois dias, mas foi transmitida pela mídia como se fosse uma "crise" de pai contra filha.

Eu e a Luciana temos uma relação extraordinária e amorosa. Até hoje eu brinco com a Luciana quando ela vai fazer campanha aqui em Porto Alegre. Quando ela volta de uma jornada eu pergunto: 'Dos dez votos que tu ganhaste hoje, oito não foram porque és minha filha'? Ela ri e diz: 'só metade'.


Esperança vai vencer o medo

Este episódio com o Olívio foi o ponto baixo de uma trajetória que começou na década de 1960. Quando vivia com meus pais, eu tinha aquela energia que caracteriza alguns jovens. Minha mãe pedia para meu pai me levar nos compromissos do PTB. Ele era da ala janguista do partido, foi vereador, vice-prefeito. Eu acompanhava as discussões, os debates e fui tomando gosto.

Como aquele guri que vai com o pai ao futebol e se apaixona pelo esporte. Entrei no movimento estudantil com 14 anos, fui preso no congresso da UNE em Belo Horizonte em 1966, parei no Dops em Porto Alegre e acabei por me exilar dois anos no Uruguai. Recomecei depois minha carreira advogando nos sindicatos, já em Porto Alegre.

Tudo isto para nesta fase da vida ver um integrante do governo federal fazer um vídeo copiando um líder nazista! Sobre este assunto tenho uma memória pessoal amarga porque minha família por parte de mãe descende de judeus alemães. Meu avô Herman Herz morou na nossa casa e sempre falava dos irmãos.

Um deles, o Carl Herz, era jurista, social-democrata e foi prefeito de um distrito de Berlim na época em que o Hitler tomou o poder. Precisou fugir para Inglaterra. Mas um filho dele não conseguiu escapar. Foi levado para Auschwitz [maior símbolo do holocausto] e morreu lá.

O outro irmão, o Jorge, ficou 60 anos sem conseguir ver meu avô. Então, aquele vídeo toca muito a gente e de uma maneira muito dolorosa. Tão triste, mas muito mais desconcertante, foi ver que num evento na Hebraica o Bolsonaro foi chamado de "Mito" pelo público. Mito é como o Hitler se apresentava na sociedade alemã.

Mas estes fatos só me dão mais impulsos para seguir na luta. Espero chegar aos 90 anos e ver que o PT, a esquerda e o Brasil estarão diferentes e melhores. Quem sabe até me animo, daí, a de participar da festa de aniversário do partido.

 * acrescido em 08 de fevereiro de 2020


Lula: PT deve olhar evangélico e periferia, que vive entre igreja e tráfico  

Também percebi em LULA após a saída da prisão, um avanço em termos do olhar sobre a questão dos evangélicos em nossa sociedade, assim como acerca do papel da arte e da cultura. A minha expectativa é que isso possa irradiar para o conjunto do PT. Acredito que além das caravanas de cidadania e cultura que pretende realizar em diversos locais, também espero que haja seminários internos com a participação de pesquisadores e especialistas sob a coordenação da Fundação Perseu Abramo. Acompanhei de forma direta e indireta ações de fomação da Perseu Abramo no campo da juventude e da cultura, mas ainda precisam melhorar o projeto pedagógico. Uma dica: A ABONG, O INSTITUTO PAULO FREIRE, O CESEEP e PÓLIS, possuem uma expertise conceitual e metodológica em matéria de educação popular, incluindo o formato EAD, que pode ajudar bastante. Essa dica vale também para o PSOL e a sua Fundação Lauro Campos.
P.S. Também abordei essa questão com o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PC do B e agora PDT)mas percebi pela resposta dele, ainda estar preso em conceitos ultrapassados com relação as relações, arte/cultura-evangélicos-juventude nas periferias. Ainda tratarei dessa resposta do prefeito em outro momento.
Zezito de Oliveira



“Sociedade que deu origem ao PT não existe mais. Estamos com um retórica envelhecida”, constata Marcio Pochmann
REVISTA IHU ON-LINE


 15 Agosto 2019 
Estamos vivendo uma mudança de época profunda na história brasileira que pode ser comparada aquelas que ocorreram na década de 1880, quando ocorreu a abolição da escravatura, e na década de 1930, quando o país começou o seu processo de industrialização. As mudanças se dão em diversos níveis que vão desde o perfil demográfico do país, passando pela estrutura de classes, pelo funcionamento do trabalho e da economia e chegando à dinâmica das cidades. É preciso ter esse horizonte mais amplo como referência para se pensar os desafios políticos colocados por essa realidade que já implodiu o pacto político instaurado pela Nova República.

O diagnóstico é do economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores (PT), que esteve em Porto Alegre nesta segunda-feira (12) para falar sobre “os desafios de uma gestão de esquerda em meio à crise democrática”, tema proposto pelo PT de Porto Alegre para pensar a atuação do partido nas eleições municipais do ano que vem.

A reportagem é de Marco Weissheimer, publicada por Sul 21, 13-08-2019.

Segundo o presidente do PT de Porto Alegre, Rodrigo Campos Dilelio, o seminário realizado no auditório do Sindicato dos Bancários deu início a um processo de debate programático do partido sobre a cidade, tendo em vista as eleições de 2020. “O PT está fortemente engajado na construção de uma frente de esquerda em Porto Alegre”, anunciou o dirigente municipal do partido. Debate programático, frente de esquerda, política de alianças…tudo isso passa, enfatizou Marcio Pochmann em sua fala, pela compreensão da nova configuração da sociedade brasileira. “Habermas disse que toda vez que perdemos a referência do horizonte, a gente se debruça sobre amenidades. Temos hoje uma narrativa inapropriada que nos leva à acomodação e a saídas individuais”, disse o economista.

Essa narrativa, defendeu Pochmann, diz que estamos vivendo um período de transformações em relação às quais não temos muito o que fazer além de nos adaptar a elas. Ele apontou como exemplos dessa narrativa os discursos da globalização financeira e da revolução tecnológica, dois fenômenos globais sobre os quais não teríamos muita capacidade de influência. A inovação tecnológica, nesta narrativa, seria uma das principais responsáveis pelo desemprego e exigiria que os trabalhadores se preparassem melhor para enfrentar a nova realidade do mercado de trabalho.

Esses discursos estão repletos de equívocos, sustentou Pochmann, que citou o fato de países que lideram o processo de inovação tecnológica, como Alemanha, Estados Unidos e China, não enfrentarem problema de desemprego. Ele também citou o exemplo do setor bancário brasileiro que investiu fortemente em automação nos últimos anos. “Temos hoje cerca de 400 mil bancários no pais, mas também aproximadamente 1,2 milhão de correspondentes bancários no setor financeiro e mais de 110 mil trabalhadores autônomos que prestam serviços de consultoria neste setor. Esse discurso que relaciona inovação tecnológica e desemprego é terrorismo” .

Estamos vivendo a transição de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços, acrescentou o presidente da Fundação Perseu Abramo. No entanto, ressaltou, diferentemente do que ocorreu nas décadas de 1880 e 1930, essas mudanças vêm sendo protagonizadas e capitalizadas pela extrema-direita. “Estamos vivendo um período pré-insurrecional onde a população está extremamente insatisfeita e a extrema-direita tem maior facilidade de conversar com o povo do que a esquerda. Precisamos prestar muita atenção neste momento, pois estamos definindo o país que teremos nos próximos 40 ou 50 anos”, alertou Pochmann.

A perspectiva histórica invocada pelo economista, em relação ao passado e também ao futuro, é acompanhada por um diagnóstico, de certo modo, dramático para a definição do que fazer no presente político do país: “a sociedade do final dos anos 70 e início dos anos 80, que deu origem ao PT, não existe mais. Se seguirmos fazendo as coisas do jeito que fizemos até aqui não teremos melhores resultados do que os que já obtivemos”. Pochmann detalhou essa transmutação social, do ponto de vista da estrutura de classes, que impõe novos desafios programáticos e organizativos:

“Na década de 80, tínhamos uma burguesia industrial no país. Hoje, a indústria brasileira representa menos de 10% do PIB, o que equivale ao que tínhamos em 1910. Hoje, temos o predomínio de uma burguesa comercial, que quer comprar barato e vender caro. Nos anos 80, tínhamos uma classe média assalariada, que praticamente não existe mais. Hoje, temos uma classe média de PJs (pessoas jurídicas) e consultores. Houve um desmoronamento do emprego clássico da classe média. A classe trabalhadora também mudou. Cerca de quatro quintos dos trabalhadores estão concentrados no setor terciário, nas diversas áreas de serviços. Eles não estão mais concentrados em grandes fábricas, mas em shoppings center, complexos hospitalares, prestando serviços para condomínios de ricos. A classe trabalhadora está cada vez mais ligada a um trabalho imaterial e submetida a nova organização temporal e espacial. Essa nova realidade não faz parte do discurso dos sindicatos e dos nossos partidos. Estamos com uma retórica envelhecida”

Outra novidade na paisagem social brasileira é a força gravitacional das igrejas evangélicas e de grupos ligados ao crime organizado. Essa capacidade de atração e aglutinação, defendeu o economista, deriva de sua capacidade de fornecer respostas de curto prazo aos problemas cotidianos das pessoas, à falta de perspectiva de futuro especialmente para a juventude pobre das periferias. “Hoje, cerca de 80 milhões de brasileiros frequentam semanalmente assembleias, as assembleias de Deus. Por volta de 2032, os evangélicos já serão maioria no Brasil. A lógica que rege esse fenômeno está mais ligada à subjetividade das pessoas do que à racionalidade. Essas igrejas são espaços de sociabilidade onde as pessoas podem falar sobre seus desejos e anseios. Lá elas encontram laços de fraternidade e solidariedade. Temos que ter a humildade de reconhecer a nossa defasagem de compreensão dessa realidade”. No entanto, ressaltou Pochmann, ao mesmo tempo em que estão com a retórica envelhecida, os partidos e sindicatos são mais necessários do que nunca em uma sociedade com cada vez menos diálogo e mais individualismo. Mas terão que se reinventar.

A expressão político-partidária dessa transformação social não é menos dramática. “O ciclo político da Nova República desapareceu e com ele também desapareceu a possibilidade de termos governos de conciliação. E sem a conciliação o que temos é a polarização”, resumiu Pochmann. Esse ciclo se encerra, acrescentou, com muitas tarefas não feitas. “Não fizemos nenhuma reforma profunda do capitalismo. Não prendemos nenhum ditador, após uma ditadura assassina e corrupta. O orçamento inicial previsto para a construção de Itaipu era de R$ 4 bilhões. No final, a obra custou R$ 21 bilhões. A Argentina prendeu cerca de mil torturadores. Nós não prendemos nenhum”.

O desafio das eleições municipais de 2020
Na parte final de sua fala, Marcio Pochmann apresentou um cenário do impacto dessas transformações sociais no vida social das cidades e de como isso exige um repensar radical de práticas. Um desses impactos é de natureza demográfica. A população brasileira não vai crescer mais nos próximos anos em razão da queda da taxa de natalidade, assinalou. Caminhamos, nas próximas décadas, para sermos um país de 240 milhões de habitantes e mais envelhecido.

Uma das conseqüências práticas disso, no plano das políticas públicas, é a diminuição da pressão sobre as escolas. A população de faixa etária entre zero e 14 anos vem caindo desde 1980. Nas eleições de 2018, a parcela de eleitores com mais de 65 anos já foi maior que a dos jovens em torno de 18 anos.

Outro fenômeno para o qual o economista chamou a atenção é o processo de desindustrialização do país, principalmente na região Sul e Sudeste e, mais especificamente, em São Paulo, que até bem pouco tempo era chamado de “locomotiva do país”. Na vida dos municípios, isso teve como conseqüência imediata o aumento das ocupações no setor de serviços. Associado à desindustrialização, está em curso um processo de desmetropolização, com a diminuição do crescimento das regiões metropolitanas e aumento do crescimento de cidades menores, especialmente cidades médias. Isso não significa que a população das regiões metropolitanas esteja diminuindo, mas sim que estão recebendo menos migrantes e crescendo em uma velocidade demográfica menor.

Esse conjunto de fenômenos exigirá, para a definição de propostas a serem apresentadas à população nas próximas eleições, um grande esforço de aprendizado, enfatizou Pochmann. Será totalmente ineficaz acionar o piloto automático e repetir as práticas tradicionais de campanhas eleitorais realizadas na última década. Dois ex-prefeitos de Porto Alegre, Olívio Dutra e Raul Pont, fizeram intervenções comentando a conferência de Marcio Pochmann. Ambos concordaram sobre a necessidade de dar conta das implicações de todas essas transformações sociais e defenderam que as experiências positivas das administrações populares em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul devem estar também na memória desse aprendizado.

“Não foi por promover a participação e procurar radicalizar a democracia que nós erramos”, disse Raul Pont, lembrando a experiência que tornou o Orçamento Participativo de Porto Alegre uma referência internacional.


Na mesma linha, Olívio Dutra chamou atenção para o que faltou fazer ou foi feito de modo insuficiente do ponto de vista da ampliação da democracia e da justiça social. Nós tivemos o Ministério das Cidades, mas, por razões que são conhecidas de todos aqui, não conseguimos levar adiante o projeto que tínhamos e ele acabou se tornando um balcão de negócios. Os dois ex-prefeitos apostam que o aprendizado a ser feito pode ser facilitado pela experiência dos erros e dos acertos. “Não será fácil, mas podemos fazer. Teremos que assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”, resumiu Olívio.




Cresce aprovação a Bolsonaro: a esquerda à sombra das maiorias silenciosas



Era uma vez uma Oposição que achava que bastaria deixar Bolsonaro governar, tarefa para a qual é evidentemente desqualificado... e deixar sangrar até se demitir. Um ano depois, as coisas não estão bem assim: os números da pesquisa de opinião CNT-MDA deste mês revelaram um crescimento na aprovação a Bolsonaro. E que mais da metade dos entrevistados confia nas três grandes redes televisivas: Globo, Record e SBT. Bolsonaro continua um desqualificado (o início do apagão do serviço público começou com crises no INSS e Enem), mas a vitória, até aqui, na guerra da comunicação dá a vantagem da prestidigitação: a sua “guerra cultural”, na qual ganha de 7 X 1 de uma esquerda que caiu no alçapão deixado pela extrema-direita – a mídia progressista se esfalfa em denunciar que Bolsonaro é misógino, sexista, miliciano, pró-ditadura...  e daí? Para a maioria silenciosa, sobrevivendo no cotidiano, tudo isso é abstrato, “politicagem”. A grande mídia cria o chamariz com a pauta da guerra cultural (identidade, gênero, raça, etnia, meio ambiente etc.), aprisionando a esquerda em seu tautismo (tautologia + autismo midiático) – abandona a comunicação direta com a maioria silenciosa e se desconecta do deserto do real: a economia.


Bolsonaro é machista, misógino, fascista, miliciano, intolerante, xenófobo, ofende mulheres, índios, é sexista, racista, pró-ditadura militar, negacionista das mudanças climáticas e indiferente às questões ambientais. Não só a esquerda, mas também a grande imprensa nacional e internacional, acusa o ex-capitão da reserva de tudo isso... e daí? 
O que isso significa para o povão, imerso nos problemas do dia-a-dia entre o desemprego e o trabalho uberizado? Nada!
Pelo menos é o que sugere a Pesquisa CNT de Opinião, realizada em parceria com o Instituto MDA, de 15 a 18 de janeiro de 2020, mostrando os índices de popularidade do governo e pessoal do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte, a aprovação do desempenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro registrou um salto significativo, de 41% para 48%; sua rejeição, por sua vez, caiu de 54% para 47%.
E isso num período que ocorreu o fato político mais significativo: a soltura do ex-presidente Lula, no início de novembro.





Também houve uma melhora expressiva na avaliação do governo: O percentual dos que acham o governo ótimo, passou de 8,0% para 9,5%; e os que acham o governo péssimo caíram de 27% para 21%. Somando as notas ótimo e bom, o governo registrou aprovação positiva de 34,5%, contra aprovação negativa (ruim e péssimo) de 31%. Na pesquisa anterior, de agosto, a aprovação positiva somava 29%, contra 39% de negativa.

Mais importante do que isso é a percepção e a confiança da população em relação à grande mídia. Mais da metade confia nos três grandes canais de mídia: Globo, SBT, Record.

A opinião pública não existe

Os resultados dessa pesquisa foram recebidos pelos blogs e sites progressistas, em sua maioria, entre o lacônico e a indiferença – entre a notícia sem análise ou simplesmente virando as costas e não falando nada sobre o assunto. 
Uma dessas exceções foi “O Cafezinho”, do jornalista Miguel do Rosário, que não só deu a notícia como também analisou os números que, segundo ele, representam um desafio para as estratégias de comunicação da esquerda – clique aqui
É claro que este Cinegnose partilha da tese do sociólogo Pierre Bourdieu: a opinião pública não existe! – nas pesquisas sempre a chamada “opinião” se confunde com “percepção” ou “sensação”. Ainda mais no contexto atual da pós-verdade: um grande arco que vai do menosprezo por fatos objetivos até a ignorância racional e o efeito “Dunnig-Kruger” – indivíduos acreditam saber mais do que especialistas por estarem abastecidos por clichês, sofismas e frases prontas transmitidas pela grande mídia e redes sociais.
Portanto, toda “pesquisa de opinião” deve ser recebida com um pé bem atrás. Porém, se ficarmos no campo das percepções e sensações os números da pesquisa MDA são importantes, principalmente porque a chamada Guerra Híbrida busca exatamente esse resultado – não se trata mais de propaganda política no sentido clássico (como inculcação político-ideológica ou doutrinária), mas de gerar atmosferas, sensações e dissuasão não mais numa opinião pública. Mas agora, num contínuo midiático atmosférico.


A dupla agenda

Nesse momento o contínuo midiático está ocupado por uma dupla agenda: de um lado, a guerra cultural que a grande mídia trava contra Bolsonaro (de ilações sobre as conexões do presidente com milícias e o assassinato de Marielle às pautas identitárias, étnicas, gênero e meio ambiente que ocupam o jornalismo corporativo); e do outro o clima de “agora vai” do crescimento econômico – das histórias motivacionais de desempregados numa enorme fila que acham emprego à maquiagem do desemprego através de contos igualmente motivacionais sobre empreendedores, que na verdade não passam de autônomos ou precarizados.
Essa é a agenda tautista (Tautologia + autismo midiático) que cria um fechamento operacional que isola o sistema midiático da realidade. O problema é que a esquerda é apenas reativa a esse contínuo midiático: vive, respira e reage à pauta definida pelas polêmicas criadas pela grande mídia e repercutida nas redes sociais.
A esquerda tautista é capturada por essa guerra já perdida por antecipação: a chamada “guerra cultural”, locus privilegiado da extrema-direita porque tira o foco da missão para qual ela chegou ao poder – cumprir à risca a agenda econômica neoliberal.
Bolsonaro apoia o feminicida goleiro Bruno? Roberto Alvim fez um vídeo nazi-fascista? Bolsonaro humilha Moro? Bolsonaro quer devastar a Amazônia? Um ministro tem sobre a sua mesa um livro enaltecendo o torturador Brilhante Ustra? A ministra quer abstinência sexual no Carnaval? A esquerda vive esse debate em looping, tautológico, reagindo com o fígado. O Ministro da Educação xinga Paulo Freire?
Vive por procuração o mesmo tautismo midiático. 


Guerra híbrida, guerra criptografada

O significa tudo isso para a maioria silenciosa? O que significa essa pauta para o brasileiro comum que corre, pedala ou dirige contra o tempo com uma mochila do Uber Eats nas costas? O que representam as denúncias de feminicídio, misoginia, racismo, intolerância para uma desempregada que vive na informalidade vendendo brigadeiros e café numa térmica num ponto de ônibus? Ou então para aquele estudante universitário que luta para pagar a mensalidade vendendo doces veganos para os colegas nos intervalos? 
A resposta a essas perguntas está expressa nos números da pesquisa CNT-MDA. 
A chamada “guerra ciptografada” é uma mutação da guerra híbrida após o impeachment de 2016. A linha de passes combinada entre Governo e jornalismo corporativo cria dissonâncias, ataques, provocações propositais, sempre no âmbito das batalhas “culturais” – finge conflitos e produz conflitos artificiais.
Por exemplo: Bolsonaro cortou verba publicitária da Globo? Ora, a Globo já há algum tempo é rentista – basta ver seu intervalo publicitário ocupado por bancos, empresas de crédito pessoal e corretoras de investimentos, valores e títulos. 
Denunciar Bolsonaro e sua trupe familiar e de ministros de fascistas e ditadores nada quer dizer para as massas. Para o cidadão comum imerso nos problemas cotidianos não passa de “politicagem”, um bate-boca particular entre a esquerda e seu malvado favorito.
O problema mais profundo é que essa guerra criptografada é confortável para a esquerda porque realiza seu pressuposto: o kantismo (relativa ao filósofo Emmanuel Kant) – a crença na boa vontade e no senso de obrigação moral em relação aos direitos universais.


O “nazista” Roberto Alvim: inside job?

A esquerda cai no alçapão da guerra cultural porque as provocações calam fundo e escandalizam – atingem os valores kantianos universais da dignidade, cidadania e liberdade. 
Um vídeo tão canastrão quanto o de Roberto Alvim (emulando Goebbles através da roupa, corte de cabelo, fisionomia e gestual, disposição cenográfica – bandeira, foto e a cruz – e ainda com trilha musical de Wagner ao fundo... bem, Alvim foi diretor de teatro) arranca indignação da esquerda e linhas de postagens e minutos com vídeos de denúncias indignadas.
Tão canastrão, overacting e estereotipado que até parece planejado – um esquete tão hilário quanto aqueles do programa de TV “Monty Python Flying Circus” da trupe inglesa de humor. Teria sido um “inside job” para manter a esquerda ocupada nesse loop interminável?
Para a maioria silenciosa, tudo não passa de politicagem e por isso se apega “no pensamento positivo, a alguma esperança de que as coisas vão melhorar”, como aponta o jornalista Miguel do Rosário. E acrescenta:
Ironia mais cruel é testemunhar o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro inaugurar uma estratégia de comunicação que, com todos os seus imensos defeitos (autoritarismo, falta de educação, etc.), ao menos se esforça para manter uma comunicação direta com o público. Se a então presidenta Dilma tivesse se disposto a fazer 10% do que Bolsonaro faz em termos de comunicação, talvez não tivesse visto seu capital político ruir tão dramaticamente, e poderia ter evitado o impeachment.

O que fazer?

A esquerda ainda não percebeu os sintomas de uma espécie de “refeudalização da esfera pública”, muito próximo daquilo que Habermas (“Mudança Estrutural da Esfera Pública”) e Umberto Eco (“A Nova Idade Média”) antecipavam como movimento histórico regressivo: absorvidas pelos seus problemas cotidianos e amedrontadas, as pessoas escondem-se nas suas vidas privadas, alheias ao que se passa lá fora – na Idade Média, o poder político da Igreja e as Cruzadas. Hoje, escondem-se alheias às ameaças aos direitos e a vida cada vez mais difícil.
O que fazer? Sair dessa bolha tautista da guerra cultural com um discurso propositivo. O incipiente apagão do serviço público (represamento dos benefícios do INSS e os graves problemas dos gabaritos do Enem) que promete se agravar ao longo do ano é o desgaste anunciado do governo junto às questões cotidianas dos brasileiros. 
É um tema que a esquerda até aqui não explorou, enquanto está hipnotizada por coisas como a canastrice do ministro da cultura demitido.
As pitonisas e oráculos midiáticos da pauta econômica falam diariamente que a economia “pegou tração” e que a recuperação é “lenta”, mas “constante” e que até o final de 2020 tudo melhorará.
Então é o caso de cobrar, propositivamente, as melhorias – mostrar para os brasileiros se alguma coisa está mudando no seu cotidiano.
Mais do que falar em “frentes amplas” contra o fascismo e a escalada do autoritarismo (“fascistas não passarão!”), coisa abstratamente incompreensível para a maioria silenciosa imersa nos problemas do dia-a-dia, é necessário mergulhar na economia cotidiana – de forma didática, pedagógica.
Como abordamos em postagem anterior, na verdade há, por assim dizer, uma “sabedoria” nessas maiorias silenciosas – clique aqui
Por exemplo, desde que Lula foi condenado e preso, acreditava-se em lutas monumentais, resistências em trincheiras. Esperava-se um país paralisado e mobilizado, tornando a nação ingovernável para os usurpadores. Mas tudo o que viu foi silêncio das ruas, das favelas e periferias.
E que sabedoria há nesse silêncio? Até aqui, absorvida pelas guerras culturais impulsionadas pelas bravatas, provocações e escatologias de Bolsonaro e seus indefectíveis ministros, a esquerda não teve até aqui a menor intenção de conquistar corações e mentes dessa maioria silenciosa.
Em nenhum momento teve a iniciativa de explicar didática e pedagogicamente para o brasileiro comum das ruas no que as reformas e privatizações prejudicam e prejudicarão ainda mais o seu dia-a-dia no presente e no futuro.
 Seja através de formas físicas como folders, cartilhas ou a construção de sites, newsletters ou quaisquer formas de mídias alternativas à superficialidade das redes sociais. Aproveitar a estrutura partidária ou a máquina sindical para produzir veículos de comunicação que não falem somente para os convertidos.
A sabedoria dessa apatia das maiorias silenciosas reflete a própria desistência da esquerda pela conquista dos corações e mentes das massas – a busca de formas didáticas e pedagógicas que ajude a explicar nexos e relações de causa e efeito para o brasileiro que afunda a cara no aplicativo achando que um dia sua força de trabalho magicamente vai se transformar em capital. 

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