segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Lula e comitiva na África. Lula e comitiva na Ilha de Gorée

Título: `PERDÃO PELO QUE FIZEMOS¿
Autor: Francisco Leali
Fonte: O Globo, 15/04/2005, O País, p. 3
Lula a africanos: `A dor da escravidão é como a de cálculo renal. Não adianta dizer, tem de sentir¿
Após percorrer cinco países em cinco dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem sua viagem à África fazendo um histórico pedido de perdão aos negros. Imitando um gesto do Papa João Paulo II, Lula fez da visita à Ilha de Gorée ¿ lugar de onde partiam escravos para a América ¿ um ato simbólico e emocionado para reconhecer o sofrimento dos africanos no período de exploração escravagista.
Na Casa dos Escravos, um Lula de olhos marejados ouviu a secretária da Promoção de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, discursar emocionada. Convidado a falar, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, cantou. À capela, entoou os versos de ¿La lune de Gorée¿ (¿A lua de Gorée¿), sua e de Capinan, que fala da dor de quem descende dos que passaram pela ilha. No ato, acompanhado pelo presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, choraram Gil, Matilde, a ex-ministra Benedita da Silva e a maioria dos integrantes da comitiva presidencial.
¿ Não tenho responsabilidade pelo que ocorreu nos séculos XVIII, XVII e XVI, mas penso que é uma boa política dizer ao povo do Senegal e ao povo da África: perdão pelo que fizemos aqui aos negros ¿ disse Lula, o primeiro presidente brasileiro a fazer este gesto.
Em resposta, Wade disse que Lula está fazendo uma revolução pacífica, que é o primeiro presidente negro do Brasil e que pode considerar os africanos seus irmãos. E foi além:
¿ Considere este continente como seu. Considere-se um africano.
De manhã, Lula seguiu de lancha para Gorée, onde foi recebido por crianças e capoeiristas. Na Casa dos Escravos, percorreu um a um os ambientes. A sala de pesagem de negros, a das crianças, a solitária. No cubículo sem janelas, negros eram amontoados por tempo equivalente ao delito que cometiam. Quando visitou o lugar, o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela ficou sozinho por alguns instantes. Saiu chorando.
Lula ouviu o guia explicar que escravos com menos de 60 quilos ficavam na engorda. Virgens e jovens valiam um barril de rum e crianças, um espelho. O presidente ainda segurou uma bola de chumbo que era atada ao tornozelo dos escravos e experimentou um grilhão. Também foi ao local de embarque batizado de ¿porta sem retorno¿.
¿ É (a dor da escravidão) como a dor de cálculo renal. Não adianta dizer, tem que sentir. Só estando aqui é que se tem a dimensão do que essas pessoas sentiram nesses 300 anos ¿ disse Lula, ao deixar a casa, hoje transformada num museu.
`Onde come um, comem dois¿, diz
Antes de voltar ao Brasil, Lula ainda teve tempo de se encontrar com 150 brasileiros que vivem no Senegal. Tirou fotos, deu abraços, mas não quis falar sobre os problemas que enfrenta no Congresso.
¿ Do Brasil, falo no Brasil.
Lula voltou a explicar os motivos que o levaram a priorizar a África. Disse que, mesmo não podendo dar ajuda financeira, os países devem compartilhar o que têm de melhor:
¿ Minha mãe falava que, em casa que come um, comem dois e, em casa que comem dois, comem dez.
Lula afirmou que as dificuldades que o continente africano passa decorrem do passado de exploração.
¿ O continente africano não é pobre porque nasceu para ser pobre. Trezentos anos tirando gente com saúde, na flor da idade... Isso contribuiu de forma definitiva para que o continente leve mais tantos anos para se reencontrar.
O presidente ainda propôs maior união entre os países africanos e disse que é preciso buscar a paz e apreender a conviver com as diferenças.
¿ É possível conviver democraticamente na adversidade.

Ligiana e Ameth Male - La lune de Gorée

https://www.youtube.com/watch?v=H2rrozWUS3E
GILBERTO GIL LA LUNE DE GORÉE
https://www.youtube.com/watch?v=1Y1uY0H7pgk
Lune de Gorée
https://www.youtube.com/watch?v=Co_6WrxBL7k
Touche pas à mon pote
https://www.youtube.com/watch?v=SMZedQZ43E0

A Lua de Goreia
A Lua que se ergue
Na ilha de Goreia
É a mesma Lua
Que se ergue em todo o mundo

Mas a Lua de Goréia
Em uma cor profunda
Que não existe
Em outras partes do mundo
É a Lua dos escravos
É a Lua da dor

Mas a pele que há
No corpo de Goreia
É a mesma pele que cobre
Todos os homens do mundo

Mas a pele dos escravos
Em uma dor profunda
Que não existe não
Em outros homens do mundo
É a pele dos escravos
Uma bandeira de liberdade
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"Não toque em meu amigo"

O que significa isso?

Isto quer dizer, talvez

Que o Ser que habita nele

É o mesmo que habita em você

"Não toque em meu amigo"

O que significa isso?

Isso quer dizer que o Ser

Que fez Jean-Paul Sartre pensar

Fez jogar Yannik Noah

"Não toque em meu amigo"

Não devemos esquecer que a França

Já teve a chance

De se impor sobre a Terra

Pela guerra

Os tempos passados passaram

Agora vimos aqui

procurar os braços de uma mãe

boa mãe

Ele faz Charles Aznavour cantar

Ele faz Jean-Luc Goddard filmar

Ele faz bela Brigitte Bardot

Ele faz pequeno o maior francês

E faz maior o pequeno chinês

"Não toque em meu amigo"

Touche Pas à Mon Pote



segunda-feira, 18 de novembro de 2019

“Não é preciso ser impositivo: quando se confia nas escolas, elas respondem”


Educação como uma cadeia de produção na Espanha. Há semelhanças com o modelo que está em disputa  no Brasil? Respondo que sim, basta olhar a forma  como a BNCC e o Ensino Integral estão sendo implementados. Aqui não trata-se de ir contra a BNCC e nem contra o Ensino Integral, até porque constam no Plano Nacional da Educação,  resultado  de um debate democrático com os educadores e com a sociedade.  Aqui nos referimos à forma, a maneira, ao processo . Como afirma a manchete da matéria abaixo, publicada no jornal EL País. “Não é preciso ser impositivo: quando se confia nas escolas, elas respondem” Portugal se tornou referência mundial em melhoria na educação e pedagogias inovadoras. É a nova Finlândia. Afirma a abertura da reportagem. 

Para mim, isso é Paulo Freire na veia, porém a nação que tem Paulo Freire como patrono da educação, ainda discute a educação com uma veia autoritária, mesmo atenuando com pitadas da filosofia e da pedagogia freireana.

O bom dessa reportagem de EL País é, além de trazer a confirmação do que temos defendendo e fazendo desde um bom  tempo, fazer isso com exemplos bem sucedidos. Porque a prática é o melhor critério para aferir a verdade.

Portanto, fica mais uma vez o apelo para que pesquisemos mais,  produzamos estudos  e divulguemos os  resultados sobre   sistemas de ensino como  o da Finlândia e o de Portugal, este novidade para mim e revelado na reportagem abaixo, assim como experiências de sucesso na perspectiva de construção da escola pública democrática e de qualidade, desenvolvida por escolas, iniciativas não governamentais e governos municipais e estaduais, assim como as os oásis federais dos Colégios de Aplicação , Institutos Federais de Ensino, Colégio D. Pedro II (RJ). Assim como práticas de extensão das universidades públicas.

Essas pesquisas e estudos precisam ser divulgados e traduzidos ou simplificados para o grande público, considerando a falta de hábito de leitura da nossa gente, e por isso vale memes, vídeos curtos, reportagens e etc.   Vale os sindicatos apresentar esses estudos e pesquisas, porque devemos criticar e mostrar que uma escola pública democrática e de qualidade já é realidade e está mostrando resultado melhores do que escolas autoritárias ou parcialmente democráticas. Zezito de Oliveira



P. O diretor do PISA, Andrea Schleicher, diz que os professores da Espanha "trabalham como em uma cadeia de produção". O modelo português é o oposto.
R. Dentro do currículo nacional permitimos que as escolas trabalhem 25% do programa com sua própria estratégia. Elas geralmente mesclam disciplinas — história e geografia, ou matemática e física —, trabalham experimentalmente ou criam projetos anuais. Estive em uma classe em que os professores de biologia, química e filosofia estavam atuando em rodízio com pequenos grupos para abordar de forma integral a questão das drogas e do doping. Não é preciso ser impositivo. As escolas veem que se confia nelas e respondem muito bem.
P. Autonomia com controle.
R. Especialistas da universidade e inspetores visitam a escola por uma semana e emitem um relatório. Não se faz uma classificação, é apenas uma espécie de auditoria para ajudar no projeto pedagógico.
“As escolas tinham descuidado da arte e da psicomotricidade. Agora é avaliada”
P. Portugal apresenta um grande fosso entre as classes sociais nos resultados acadêmicos.
R. Sim, há diferenças muito notáveis e devemos trabalhar nisso. Portugal vem de uma ditadura em que a educação não era uma questão central. Muitos adultos ainda têm grandes deficiências de qualificação e precisam ser treinados.
P. Por que gastam tanto na pré-escola?
R. Por ter feito doutorado em neuroquímica, sei que a etapa dos três aos seis anos é crucial para o conhecimento e acesso a valores coletivos, à cidadania e ao ensino inclusivo. Uma criança não discrimina por padrão, nós adultos trabalhamos para que isso aconteça. E a pré-escola é um instrumento de equidade: se a criança está em casa pode ser que seu ambiente não estimule a aprendizagem e os valores que ela aprenderia na escola.
“Agora, as provas nacionais também avaliam as expressões artísticas e psicomotoras, que haviam sido negligenciadas nas escolas para focar em português e matemática, as matérias examinadas externamente. Muitas crianças não sabiam dar cambalhota.

Leia mais: 

“Não é preciso ser impositivo: quando se confia nas escolas, elas respondem”


O encontro dos educadores com o Papa Francisco no próximo ano,  pode oferecer uma ótima oportunidade para colocar o exemplo de Portugal e da Finlândia como exemplo, assim também como experiências bem sucedidas na América Latina e outros continentes, incluindo  bons exemplos dos povos originários.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

EDUCAÇÃO POPULAR: DOS MARXISMOS AO NEO PENTECOSTALISMO.


Sede da CUT Aracaju EndereçoR. Porto da Folha, 1039 - Cirurgia, Aracaju - SE, 49055-365. Próximo ao posto Aperipê 1
Telefone(79) 3214-4912




Nos últimos dois anos tenho ficado atente a publicações sobre a direita, extrema-direita ou fascismos no Brasil e América Latina... Foi como sair de um “sono dogmático” ou sair da “bolha”. Talvez a coisa seja mais grave do que imagino... filmes, documentários, documentos, livros, sites, canais, etc... tenho andado por esta zona perigosa, mas necessária... segue alguns títulos que tenho lido e me feito pensar... Nesta terça a partir das 18:30h. no auditório da CUT-SE (Rua Porto da Folha – Aracaju), estamos iniciando um seminário que pretendo aprofundar um pouco esses temas... RV


Para uma melhor compreensão da política cultura no Brasil nos anos 60, o ensaio de Roberto Schwarz "Cultura e política: 1964-1969" é de fundamental importância. Leitura básica no seminário sobre a memoria da educação popular no Brasil... Iniciamos amanhã, terça, 26/11, as 18:30h. no auditório da CUT-SE... RV

Livro importante e que marcou época como a experiência em Natal-RN os inicio dos anos 60 e que ele evoca como experiência vivida e interrompida pelo golpe militar de 1964... No seminário que iniciamos na terça sobre Educação Popular e memória...Citarei esse livro e essa experiência vinculada ao projeto de Paulo Freire de educação... começa as 18:30h. no auditório da CUT-SE. RV


Na próxima terça (26/11) as 18:30h. na CUT-SE (Rua Porto da Folha - Aracaju), iniciamos um curso sobre a história e a memória da educação popular no Brasil... Em 04 etapas e sempre as terças a noite... Vamos nas "origens" do termo e das suas influências... Conhecer as "Ligas camponesas" pelas palavras de um de seus "intelectuais orgânicos" é importante. Raridade essa edição primeira dos "cadernos do povo brasileiro"... Tema na terça!  RV



Estou aqui preparando o conteúdo do seminário sobre a memória da educação popular partir dos anos 60 no Brasil, e me deparo com essa coletânea fundamental de peças de Oduvaldo Viana Filho e do CPC-UNE... Um projeto dos mais importantes da política cultural dos comunistas entre 1961-1964... Iniciamos nesta terça, 26/11, as 18:30h. na CUT-SE (Rua Porto da Folha). RV


Impossível retomar a memória da educação popular no Brasil e não passar pelo projeto educacional do MST... No seminário que inicia na terça as 18:30h. na CUT-SE, destacaremos alguns elementos das reflexões e práticas educacionais do Movimento Sem Terra... O livro do Luiz Bezerra Neto é um trabalho de pesquisa dos bons sobre as práticas e a produção teórica do MST em termos educacionais... Ajuda!!!  RV











MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR (MCP). NOTA-CONVITE

Na próxima terça dia 26/11 teremos um seminário em 04 etapas sobre "Educação Popular" e sua memória na CUT-SE a partir das 18:30h. Um dos temas será o MCP do Recife.
Movimento de alfabetização de adultos e de educação de base constituído em maio de 1960 em Recife por estudantes universitários, artistas e intelectuais, em ação conjunta com a prefeitura, à época ocupada por Miguel Arrais. Foi extinto pelo movimento político-militar de 31 de março de 1964.
O MCP tinha por objetivo formar uma consciência política e social nas massas trabalhadoras no intuito de prepará-las para uma efetiva participação na vida do país.

Entre setembro de 1961 e fevereiro de 1964, o movimento realizou uma experiência através do rádio, transmitindo programas de alfabetização e de educação de base com recepção organizada em escolas experimentais. Paralelamente, procurou diversificar suas atividades, criando “parques” e “praças de cultura”. Os primeiros destinavam-se a melhorar as condições do lazer popular, estimulando a prática de esportes, e a apreciação crítica de filmes, peças teatrais e música. As praças de cultura consistiam em centros de recreação e de educação cuja finalidade era despertar a comunidade de cada bairro para seus problemas. Os centros, recreativos passíveis de serem transformados em praças eram chamados de “núcleos de cultura”.
Em seus quase quatro anos de existência, o MCP teve uma atuação importante na área da educação. Um de seus primeiros colaboradores, o professor Paulo Freire, formulou um método próprio de alfabetização de adultos, que a partir de 1962 passou a ser regularmente aplicado em Pernambuco. Além do MCP, o Movimento de Educação de Base (MEB), programa nacional de educação instituído em 1961, adotou o método Paulo Freire, difundindo-o em todo o país.
Devido ao alto custo de suas atividades e à conseqüente necessidade de apoio oficial, o MCP restringiu-se de início a Recife. Apenas a Prefeitura de Natal pôs em prática um programa semelhante, instituindo em 1961 a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”. A partir de 1963, nos estados do Amazonas e da Guanabara desenvolveram-se também movimentos de cultura popular.
O espírito que animou todos esses movimentos era bastante próximo das propostas dos centros populares de cultura (CPCs), organizados a partir de 1962 junto às entidades estudantis...


OSMAR FÁVERO E O MEB. NOTINHA EM FORMA DE CONVITE


Teremos um seminário que terá na próxima terça (26/11) a noite na CUT-SE a partir das 18:30h. (acontecerá em 04 etapas) sobre "Educação popular" e a questão da memória. O nome de Osmar Fávero é de fundamental importância. Sua experiência e seus livros serão citados e trabalhados... Ele fez parte dessa geração de jovens vindos da Ação Católica, principalmente de seus ramos estudantil e universitário e que vai colaborar na criação e liderar vários desses movimentos, em alguns casos lado a lado com os marxistas. A criação do MEB (Movimento de Educação de Base) expressa o deslocamento da Igreja católica institucional em direção às classes populares. No entanto, a proposta e as práticas iniciais do MEB, oriundas de experiências anteriores realizadas em estreita colaboração com o Estado, são bastante tradicionais. Mas, após dois anos de experiência, por exigência da própria prática e por influência daquela geração, redefiniu seus objetivos e reviu sua metodologia, em função de uma nova opção ideológica, sintetizada na conscientização e nas ideias iniciais de Paulo Freire. Em decorrência, deu nova dimensão à educação base, nucleou o trabalho com as experiências radiofônicas singulares e, apesar da crise provocada pelo golpe militar de 1964, ampliou o contato direto com as bases, na perspectiva de uma verdadeira pedagogia da participação popular... É preciso lembrar!!!




 



domingo, 10 de novembro de 2019

Já é FASC 2019 São Cristóvão, Aracaju e outras cidades. Acorda pra ver!!


Acesse o site para conferir:
https://fasc.saocristovao.se.gov.br/  ou 

https://infonet.com.br/noticias/cultura/confira-a-programacao-completa-do-fasc-2019/

Onde estiver escrito carnaval pode-se ler FASC


Lambada da Delícia
Gerônimo

Já é carnaval cidade, acorda pra ver
Já é carnaval cidade, acorda pra ver

A chuva passou cidade, e o sol vem aê
A chuva passou cidade, e o sol vem aê

Brincar de menina, fazendo menino
É mar de verão, é lua de dia
Oh cidade louca

Quero viver, quero viver
É na delícia, é na delícia
Quero gozar, quero gozar
É na delícia, é na delícia

Meu amor, quero viver
Quero viver na delícia
E te fazer gozar, quero viver
Quero viver na delícia
E me fazer gozar, quero viver
Quero viver na delícia
E gozar com você

Já é carnaval cidade, acorda pra ver
Já é carnaval cidade, acorda pra ver

A chuva passou cidade, e o sol vem aê
A chuva passou cidade, e o sol vem aê

Brincar de menina, fazendo menino
É mar de verão, é lua de dia
Oh cidade louca

É na delícia, quero gozar com você
É na delícia, é carnaval dia de acordar pra ver
É na delícia, é na deli é na deli é na delícia
É na delícia, é mar de verão oh cidade louca
É na delícia é na deli é na deli é na delícia
É na delícia é na deli é na deli é na delícia






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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

quinta-feira, 29 de novembro de 2018


Recorte de memórias do Festival de Arte de São Cristóvão 2018

cartaz do 35º FASC 2018
 Lembranças do FASC
O Festival de Artes de São Cristóvão – FASC começou em 1972, quando eu era ainda uma criança. Naquela mesma época meus irmãos mais velhos começaram a ingressar na UFS e a andar com colegas universitários. Foi por meio desses grupos que eu passei a ouvir as primeiras conversas sobre o FASC.
Entre os comentários que eu escutava atento, dois assuntos, especialmente, despertavam o meu interesse pelo badalado evento cultural: as narrativas sobre a ousadia e a liberdade de expressão e comportamento experimentada pela juventude durante o festival e a intensa e diversificada programação artística.
Depois de alguns anos apenas ouvindo e imaginando coisas, lá pelo início da década de 1980, finalmente, fiz minha estreia no FASC. E que começo! O grupo de teatro Cenário de Espetáculos – que eu integrava tocando flauta doce – e mais alguns artistas, alugaram uma pequena casa em uma das entradas da cidade.
O Cenário não tinha conseguido entrar na programação oficial, mas, resolveu ir por conta própria, puxar um cortejo e apresentar encenações pelas ruas da cidade. Luiz Carlos Dussantus, Vitória e Dinha Barreto, Itamar Freitas, Elíude Silva… Eram alguns dos integrantes do grupo, presentes naquela aventura.
Uma noite, fomos para a bica. Foi a primeira vez que eu vi o sol nascer. Já com o dia claro, resolvi vir a Aracaju dar notícias – celular não existia. Entrei no coletivo e apaguei. O ônibus passou na porta da minha casa, na Rua de Laranjeiras, onde eu deveria ter descido, mas, só fui acordado no ponto final, na rodoviária velha.
Nas edições seguintes continuei indo para curtir, sem estar necessariamente integrando alguma atividade artística. Certa vez eu estava na companhia de uma galera bem descolada – como se dizia na época – e rolou um show da dupla Sá e Guarabyra. Nos entrosamos com os músicos e voltamos para Aracaju de carona com eles.
Em São Cristóvão assisti espetáculos artísticos que só foram apresentados em Sergipe graças ao FASC, pois, não tinham apelo comercial suficiente para virem por outro meio, embora tivessem grande relevância estética. Desses o que de modo mais vivo continua na minha memória é o show “Suspeito”, de Arrigo Barnabé.
Em outra edição a produção do FASC promoveu o “Rock in Bica”. Subi ao palco acompanhando Rivando Gois que fazia um excelente Raul Seixas cover. Eu era um péssimo guitarrista, fui chamado emergencialmente, devo ter errado em quase todas as músicas, mesmo assim, o show foi vibrante do começo ao fim.
Depois passei uma temporada fora de Sergipe. De longe, soube que o FASC fora interrompido. Para minha alegria e sorte, de novo na terrinha, vejo o evento reativado. Com isso, voltei a frequentar o nosso maior festival de artes. Em 2017, batuquei meu tamborim pelas ruas e becos da histórica cidade com o Burundanga.
Também em 2017, talvez pelo peso da idade, me incomodou ter ido ao FASC e, ao final das noitadas, ter que voltar para Aracaju. Agora em 2018 superei o incômodo: aluguei uma casinha em São Cristóvão e pude desfrutar o prazer de me jogar pela cidade histórica sabendo que um colchão me esperava na Ladeira da Alegria.
Nada dura para sempre, mas, torço para que o FASC tenha longa vida pela frente. Por um simples motivo: tem sido, ao longo do tempo, um dos poucos ou o único grande evento realizado em Sergipe, essencialmente voltado para a difusão das artes. Ao contrário das muitas festas de mera reprodução da cultura de massa.
Vale registrar, além dos grandes shows musicais, que alcançam maior visibilidade, nesta 35ª edição do FASC houve: Salão de Literatura, mostra de filmes, Salão de Artes Visuais, um palco para artes cênicas, cortejos de grupos populares, concertos musicais, feiras, exposições variadas... Não seria possível acompanhar tudo.
Do que participei, faço alguns destaques: o cortejo da Chegança de Santa Cruz de Itabaiana, exposições na Casa do Iphan e na Casa do Folclore, a mostra de curtas universitários, shows de Dami Doria, Samba de Coco da Ilha Grande, Joésia Ramos, Sergival, Céu, Pífano de Pife, Patrícia Polayne e Chico César.
Órgãos fiscalizadores do uso de recursos públicos têm apertado prefeituras que torram muito dinheiro em festas que dão ênfase a atrações da indústria do entretenimento, usando orçamento da cultura. O FASC tem sido diferente, pois, investe em arte – um artigo necessário e pouco difundido e apoiado. Viva o FASC!
Antônio Passos
Publicado no Jornal do Dia, em 22/11/2018.
Fotos: Alexandra Dumas (no 35º FASC).


FASC: A participação da comunidade é fundamental

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018


O Festival de Arte de São Cristóvão (FASC) como uma das melhores noticias de 2018 para os sergipanos



Memória cultural e socioeconômica do FASC


Por Narcizo Machado (*) 

São Cristóvão é um misto de bucolismo e pouco desenvolvimento econômico. Recentemente viveu instabilidade política, vários prefeitos afastados. Foi tema nacional com um escândalo de desvio de recursos merenda escolar, através de fraudes em licitação. Da atual administração, não me cabe no foco dessa matéria analisar seu perfil de qualidade e de atuação política, apenas registrar o ponto positivo e de referência de ter resgatado o festival de Artes de São Cristóvão (FASC) desde 2017, pelo segundo ano consecutivo, a quarta cidade mais antiga do Brasil respirou ares de liberdade, de criatividade e de um espírito aberto ao encontro de gerações, cores e tribos. Afinal, “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, como disse Vinícius de Moares.

 O FASC começou em 1972 criado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). A instituição registra em seu portal como tudo começou, afirmando que o festival foi criado em plena ditadura militar, mas que desde sua gênese foi um espaço de liberdade. “Embora fosse uma resposta da recém-instalada Universidade Federal de Sergipe (UFS) à convocação do Governo Federal para que as universidades comemorassem o Sesquicentenário da Independência do Brasil”, diz o texto. O inesperado aconteceu e os resultados não se limitaram aos objetivos originais. A UFS foi buscar inspiração no modelo dos festivais de arte que explodiam em todo Brasil.



Foto do samba de coco de Ilha Grande
Foto: Alexandra Dumas

Em São Cristóvão assisti espetáculos artísticos que só foram apresentados em Sergipe graças ao FASC, pois, não tinham apelo comercial suficiente para virem por outro meio, embora tivessem grande relevância estética”, afirma o militante da cultura, Antônio Passos. Foi essa memória afetiva e histórica que fez o atual prefeito resgatar o festival, mas para além disso, colocar São Cristóvão no cenário econômico do turismo cultural e de eventos trará aos poucos dividendos financeiros para a primeira capital dos sergipanos.

O que considero fundamental ressaltar, apesar de todas as dificuldades inerentes a um evento de grande porte, é o fato de que existe uma dimensão socioeconômica a ser considerada no tocante ao FASC. Algo que vai muito além de todos os benefícios subjetivos ligados à valorização da nossa cultura, à preservação das nossas tradições, ao resgate da nossa identidade. Ou seja, há um legado que é concreto, que é objetivo: o festival movimentou diretamente a vida de muitas pessoas, garantindo-lhes um ganho econômico efetivo, obtido com dignidade”, disse o prefeito em texto publicado em suas redes sociais após evento.

Na cidade o comércio foi preparado com treinamento e avaliação de estrutura e mercadorias, para que não faltasse a oferta dos mais procurados. E a reclamação de que em São Cristóvão não tem pousada. Problema sanado. As pessoas foram incentivadas a ganhar dinheiro alugando suas casas e a prefeitura em parceria com Sebrae treinou pessoas para implantarem hostels. Hostel é o nome moderno que se dá para o conceito de albergue, um espaço onde se locam camas e onde a característica marcante é a socialização. Em São Cristóvão existe um em funcionamento.

  apresentação nas ruas da Chegança de Itabaiana. 
Foto: Alexandra Dumas


E os grupos culturais locais foram incluídos? Sim, os grupos foram reverenciados em vários espaços e momentos. Em São Cristóvão são tradicionais o reisado, a Chegança, a Caceteira, a Langa, São Gonçalo, o Barcamateiros e o Samba de Coco. Houve apresentação de diversos grupos da cidade e de municípios vizinhos. “É uma chance de valorização de nossa cultura, de nossas raízes e de reverenciar quem a anos se dedica por manter viva essas expressões, essa tradições. Fazer um festival e não permitir a apresentação desses grupos seria como fazer um festival de artes sem arte”, analisou artista Cristina Barreto, que fez exposição de quadros no festival e adorou a apresentação dos grupos folclóricos.

O FASC tem um desafio que não é fácil de se cumprir. Se tonar mais que uma festa turística e política que tem efeitos nas diversas dimensões da sociedade. Ele precisa passar a ser um produto do povo de São Cristóvão de sua cultura, espaço de seu protagonismo dos são-cristovenses, para nunca mais deixar de ser realizado, para isso alguns problemas precisam ser superados. “A população espera da prefeitura, que por sua vez espera do governo federal. O festival nasceu nos tempos da ditadura e realizado por uma instituição que não dialoga muito bem com a sociedade. Naquele tempo, por causa dessa razão e hoje por conta de uma tradição elitista e excludente. Me refiro aqui a UFS e sua parceria  com a prefeitura de São Cristóvão no ciclo atual. A despeito do discurso e até da vontade, porém não conseguem transformar completamente as palavras em gestos ou atitudes. Outro problema é ter ficado dependente de uma grande soma de recursos para a sua realização e ter ficado concentrado em poucos dias”, refletiu o professor de história José de Oliveira.

Em 2018 foi realizada a 35ª edição, se não tivesse sido interrompido estaria na sua 46ª, e porque teve essa parada? Porque não se tornou raiz e não teve de seu povo o protagonismo. Se o FASC vencer a barreira da memória do povo, terá vida longa e continuaremos a saudar sua memória histórica e socioeconômica.

Ana Carolina Westrup

A Dimensão Cultural do FASC

Em dezembro de 72, sob a batuta do regime militar, nascia o Festival de Arte de São Cristovão, o nosso conhecido FASC. Uma arquitetura que já se iniciou no flerte com os movimentos culturais de vanguarda, sabotando o projeto ditatorial que na verdade buscava criar uma coesão/identidade nacional, a partir de eventos organizados pelas Universidades Federais em comemoração ao Sesquicentenário da Independência do Brasil.
Na sua 35ª edição, tão importante quanto a sua dimensão histórica, o FASC traz uma grande interrogação para o que se costumeiramente se constituiu como políticas culturais nas municipalidades sergipanas, em que a busca pelo retorno eleitoral define como entrada, prato principal e a sobremesa o entretenimento, quase sempre baseado naquilo que o “público quer”.
Muitas vezes, reféns dos conhecidos detentores do cardápio exclusivo de artistas do mainstream, os gestores municipais repetem a sistemática limitação histórica quando o assunto é cultura, ou melhor, políticas culturais: festas grandiosas, caríssimas e com pouco ou quase nenhum retorno identitário ou de acesso a bens culturais fora do que o mercado cultural disponibiliza a peso de ouro.
A 35ª edição do Fasc mostrou que a dimensão cultural deve ser encarada de forma muito mais ampla, uma dimensão que o economista Celso Furtado, ainda na década de 70, já revelava: "o desenvolvimento seria menos o resultado da acumulação material do que um processo de invenção de valores, comportamentos, estilos de vida, em suma, de criatividade"¹.
O desenvolvimento de uma sociedade precisa se alimentar da criatividade do povo, como princípio da cidadania e da emancipação. Para isso, o acesso aos bens culturais que pouco estão aos olhos nus da maioria da população brasileira, nos mais diferentes estilos e segmentos, é fundamental, não pelo provável gosto refinado ou cult, mas pela necessidade de gerar um ciclo de reflexão, de pertencimento e de apropriação de conhecimento.
Claro que esse olhar multidimensional para cultura é extremamente arriscado para qualquer gestor que está sob o julgo de uma parcela da sociedade que espera o mais do mesmo, fruto exatamente desse ciclo vicioso que já foi indicado no texto, mas o homem público e mulher pública que quer deixar marcas para além da cédula eleitoral precisa encarar esse dilema de forma acolhedora à população que ainda é refratária a espaços como esses, mas também potencializando experiências exitosas.
Ao andar nas ruas da cidade-mãe convivi com essas duas realidades, obviamente. De Julico da The Baggios afirmando a importância das outras edições do FASC na sua formação cidadã e artística, como também de uma senhora que apesar de não gostar dos estilos musicais, artísticos e da invasão do “povo de fora”, estava feliz com o retorno financeiro da sua banquinha de bobó de camarão.
De denominador comum entre essas duas personagens estava, exatamente, a atuação da Prefeitura. The Baggios foi uma das bandas mais aclamadas do festival, fazendo parte do horário nobre da segunda noite de apresentação do FASC, e a senhora do bobó, entre tantos outros moradores, foram cadastrados para fazer parte de uma feirinha localizada de forma estratégica no meio do evento, com a proposta de aquecer a economia local.
Que nessa dialética e coragem, São Cristovão continue como um prisma de diversidade cultural e um farol que nos clareia para caminhos possíveis.

1 –FURTADO, Celso. 1978. Criatividade e dependência na civilização industrial.
19 de novembro de 2018