terça-feira, 29 de janeiro de 2019

É tempo de ouvir a voz do Papa Francisco, dos cientistas e intelectuais comprometidos com a permanência da vida, dos misticos, poetas e artistas.


Brumadinho é o grande sinal que a igreja católica no Brasil, àquela parte que ainda não ouviu o chamado e que fica somente olhando para o alto, precisa se converter rapidamente e aceitar o convite do Papa Francisco, por meio da LAUDATO SI, de São Francisco de Assis e da nossa mãe terra. Isso vale também para as igrejas protestantes e/ou evangélicas, comprometidas com a salvação integral dos seres humanos e dos outros filhos da criação. Os adeptos de outras religiões, procurem em seus livros sagrados, na sua tradição, nos ensinamentos de seus mestres e avatares, a força necessária para barrar o movimento de destruição definitiva, que o capitalismo explorador e predatório está fazendo  contra a vida e contra o planeta. Destacamos especialmente a carta do cacique Seatlle escrita no séc XIX e inspirada pelo grande espirito.



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A Vale está em todos nós Brumadinho e a insustentabilidade do mundo em que vivemos. Por Daniel de Mattos Höfling

Posted on 31 de janeiro de 2019 por

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A tragédia de Brumadinho, assim como a de Mariana e tantas outras, foi um crime e não um desastre ambiental. Como parte considerável dos crimes, foi calculado. Este cálculo mina gradativamente o futuro da civilização humana. Consubstanciado no elevado número de mortos (84) e desaparecidos (276) Brumadinho transmite relativo ar de excepcionalidade, como um episódio macabro que marca determinado momento de nossas vidas. Entretanto, não o é. Pertence à normalidade cotidiana que, de tão presente, torna-se imperceptível.
O que move nossa sociedade é, antes de tudo, o cálculo monetário. O custo-benefício. Diariamente todos os seres humanos da terra se questionam: “Será que Vale o quanto custa? Será que Vale a pena gastar com isso? Quanto Vale isso? Vale investir nisso?” Todas essas perguntas, bem como suas respostas, são mensuradas por uma única variável: o dinheiro. Sobre esse atributo são tomadas a quase totalidade das decisões humanas numa sociedade capitalista. O dinheiro é o Valor máximo numa organização social fundamentada na sua suposta escassez. Reside aqui a quase totalidade dos nossos males.
Tanto no nível micro quanto macro, individual ou coletivo, privado ou público, avaliações relacionadas à saúde, à educação e ao meio ambiente são constantemente mensuradas pelo dinheiro. “Cortaremos gastos com saúde para atingirmos o equilíbrio fiscal”. “Invista no curso que mudará sua vida”. “Estude e se dê bem”. “Utilize o agrotóxico que duplicará sua produção e rentabilidade”. “Casou bem”. Todas essas frases colocam o dinheiro acima de qualquer coisa, tornando-o objetivo e base do relacionamento e da sociabilidade entre todos os indivíduos. Interagimos mediante o dinheiro. É o objetivo supremo das nossas ações. É a razão das nossas atitudes. É o Valor primeiro do nosso cotidiano. É o substrato da sociedade capitalista.
Os indivíduos nessa sociedade dormem e acordam pensando em como ganharão mais dinheiro. Bolam estratégias, falas, comportamentos e atitudes que os levem ao sucesso, ou seja, ganhar dinheiro. Apoiados na inocente ideia de meritocracia, realmente acreditam que o dinheiro é o prêmio justo e adequado àqueles mais esforçados. Realmente acreditam que o mundo é composto por perdedores e vencedores. Que uns têm pouco porque não merecem, outros têm muito porque mereceram. É assim que deve ser. Criamos nossos filhos para serem vencedores; investimos em colégios caros e cursos de inglês não na esperança de torná-los mais humanos e preocupados com o mundo ao seu redor mas sim porque terão mais ferramentas para se destacar no mercado de trabalho esmagando seus competidores e recebendo seu merecido prêmio em dinheiro. Forjamos amizades com o intuito de ampliar nossas redes de contato e facilitar nossos negócios. Praticamos relacionamentos interessados buscando incessantemente o dinheiro. O livro mais vendido no mundo desde os anos 1940 é: “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Cornegie. Nossa sociedade move-se por esses Valores. Acreditamos neles; a Vale também. Não é só um Valor da Vale; é nosso também.
Como o critério de mensuração é o monetário, todas as demais questões ficam em segundo plano. Ética, sustentabilidade e amor ao próximo são Valores ressaltados apenas quando melhoram a imagem e portanto conferem ganhos. Não são prioritários. O dinheiro é primaz; é o nosso principal Valor. O crime de Brumadinho está nisso assentado. A Vale calculou: “Gastarei menos na barragem. Caso o fiscal perceba, o suborno. Se estourar, pago a multa ou compro o juiz. O que economizarei na barragem compensa o gasto que terei num eventual rompimento. Vale a pena”. Infelizmente, foi “apenas” um cálculo monetário. Da mesma natureza que fazemos todos os dias, colocando o dinheiro no centro das nossas vidas e acima de tudo.
Tais cálculos monetários derivam da fixação pelo dinheiro e subsistem nas raízes dos principais problemas enfrentados pela humanidade, tornando sua civilização insustentável. Afinal o que é a desigualdade, a pobreza e o aquecimento global senão manifestações da primazia do dinheiro sobre qualquer outro Valor? Reclamamos diariamente da corrupção e da ganância mas não percebemos que tais “Valores” estão em nós impregnados. Enquanto o amor ao dinheiro for o que nos move todos os dias, não temos moral para criticar a Vale. Numa escala menor praticamos diariamente o modo Vale de agir. A Vale está em nós e isso torna o mundo impraticável.
Daniel de Mattos Höfling
Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp. Professor da Facamp
(texto de 29 de janeiro de 2019)

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 MINERADORAS LESAM A HUMANIDADE



Riquezas das Minas Gerais, seus minérios e tantas outras maravilhas, que tão generosamente nos foram dadas pelo Criador, transformaram-se em sua perdição. Minas vê, gravíssima e rapidamente, seus rios, lagos, afluentes, terras agricultáveis, comunidades e suas culturas sendo dizimadas. São cometidos crimes contra a vida humana, contra o meio ambiente e contra o direito de viver em comunidade e em família.
Na Encíclica Laudato si, o Papa Francisco nos alerta para a necessidade da urgente compreensão de que o Planeta agoniza e clama contra o mal que provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nele colocou.
O que foi legado ao homem para que prospere e tenha uma vida plena e a transmita às futuras gerações, a ação irrefreavelmente gananciosa e criminosa das mineradoras destrói em tão pouco tempo. Vemo-nos diante da débil regulação deste setor pelo Legislativo, eivado de pessoas financiadas por essas empresas e que são autorizadas pelo Executivo, imiscuído em múltiplos interesses nem sempre republicanos e precariamente fiscalizadas pelos órgãos que existem para isso. Soma-se a isso um Judiciário leniente, ensimesmado, caríssimo, insensível, pretensioso e divorciado do povo brasileiro. Foi assim em Mariana, pela Vale/Samarco, até hoje “na justiça”; é assim em Brumadinho, pela Vale. Não podemos deixar que assim continue.





Não houve um acidente nessas Minas Gerais. Houve um crime ambiental e um homicídio coletivo. Uma matança de pessoas, animais e do meio ambiente. Quase mataram também a esperança, a fé, a dignidade e o amor das pessoas que sobraram, agora terrível e indescritivelmente sofridas, mas em processo curativo, em reconstrução, soerguimento, revitalização e retomada de posse de sua brava dignidade. Como não há uma empresa mineradora em abstrato, as pessoas que nela atuam e têm responsabilidade sobre esta tragédia devem ser rigorosamente punidas, para que, juntamente com a mineradora, não caiam em desgraça também os que exercem os poderes acima citados e já tão pouco acreditados. Conscientemente, as mineradoras optam, por serem mais baratos, por modelos de exploração de minério de ferro e de outros metais mais danosos ao meio ambiente e à vida humana. O lucro exorbitante, quase ilimitado, com pouco retorno à sociedade por meio do poder público, é o único critério e preside, inconsequentemente, as decisões em relação aos modelos de exploração dos recursos naturais.
Por causa dessa sede insaciável e enlouquecida por riquezas cada vez maiores, “que a traça e a ferrugem destroem e os ladrões roubam” (Mt 6,19), concentradas sempre mais nas mãos de pouquíssimas pessoas, empresas mantêm trabalhadores na pobreza a vida inteira e expostos à morte. A mineração em nosso País se tornou eticamente insustentável, calamitosa e de altíssimo risco para a vida humana e toda a vida existente em suas áreas de atuação.
A dimensão cruel e potência danosa da reincidência desses crimes nos apontam que apenas o fato de não se tratarem de um contexto de conflito armado é que os distingue de que sejam entendidos como crimes de lesa-humanidade. As práticas de seus infratores, afinal, se mostram sistemáticas, resultam da clareza dos riscos e danos de suas ações em covardes atos desumanos e contra a população civil.
Por isso mesmo, urge que as pessoas, organizações e instituições que valorizam a vida humana, que querem defender a natureza dessa progressiva e suicida destruição, se insurjam contra esse modelo de negócio que enriquece tão poucos, destruindo a vida de tantos. Do modo que se realiza, esta economia mata, repito o Papa Francisco, o maior líder humanitário do mundo atual.
É inadmissível a persistência desse modelo econômico de enriquecimento pela destruição. É impossível continuarmos aceitando que a natureza, obra-prima de Deus, seja sistematicamente destruída. E que milhares de trabalhadores, idosos e crianças, mulheres e jovens, prevalentemente os mais pobres e humildes, sejam diariamente expostos ao risco de morrer em função de uma ganância deplorável.
Precisamos, talvez como nunca antes, como nos convoca o Papa Francisco, cujo nome tem inspiração em São Francisco de Assis, “exemplo por excelência pelo cuidado com o que é frágil e a ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade” (Laudato si), de um debate que una a todos, porque o desafio ambiental diz respeito e tem impacto sobre todos nós.

Carta do Cacique Seattle


No ano de 1854, o presidente dos Estados Unidos fez a uma tribo indígena a proposta de comprar grande parte das suas terras, oferecendo, em contrapartida, a concessão de uma outra “reserva”.
O texto da resposta do Chefe Seattle, distribuído pela ONU (Programa para o Meio Ambiente), tem sido considerado através dos tempos, um dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do meio ambiente.
É aqui inserido na íntegra, pois acreditamos que, apesar de ter sido escrita há mais de 100 anos, é cada vez mais atual.

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O NOSSO IMENSO AMOR PELA NATUREZA
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo.
A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família.
Portanto quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar a sua oferta de comprar a nossa terra. Mas isso não será fácil. Essa terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar e ensinar seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também.
E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue o seu caminho.
Deixa para traz os túmulos de seus antepassados e não se incomoda.
Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é selvagem e não compreenda.
Não há um lugar nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto.
Mas talvez porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, a noite.
Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira.
Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro.
Se lhe vendermos nossa terra vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa saborear o vento adoçado das flores dos prados. Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, peço uma condição: o homem branco deve tratar os animais dessa terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos apenas para permanecermos vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com seus irmãos.
Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas, como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recaíra sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo que o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos, e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso deus é o mesmo Deus. Vocês devem pensar que o possuem, como desejam possuir nossa terra, mas não é possível.
Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador.
Os brancos também passarão, talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas e, uma noite, serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força de Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnada do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde esta a águia? Desapareceu.
E este é o final da vida e o início da sobrevivência.

Leia também:

Mariana e Brumadinho: Chamem os mitos, os misticos, os poetas e os artistas.




segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Para Minas, para todos nós


John Donne foi um grande poeta inglês que morreu em 1631. Em um dos seus poemas, Donne escreveu:
“Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.



Eu nasci no celeiro da arte
No berço mineiro
Sou do campo, da serra
Onde impera o minério de ferro
Eu carrego comigo no sangue um dom verdadeiro
De cantar melodias de Minas
No Brasil inteiro
Sou das Minas de ouro
Das montanhas Gerais
Eu sou filha dos montes
E das estradas reais
Meu caminho primeiro
Vem brotar dessa fonte
Sou do seio de Minas
Nesse estado um diamante



Milton Nascimento: não foi desastre, foi crime.















Lucas Arcanjo
Sacré-Coeur de Marie, é uma escola de freiras francesas em Belo Horizonte - MG., que na época em que essa música foi feita, era só para mulheres, que usavam aqueles uniformes de saia plissada, blusa branca com gravatinha , meia três-quartos e sapato boneca, bem tradicional e boina também.Daí que os rapazes da época, esperavam as moças sairem depois das aulas para vê-las, e quem sabe, iniciar um namoro. A rua Ramalhete fica perto dessa escola Os bailes costumavam ser no Minas Tênis Clube, também tradicional de Belo Horizonte. A escola, a rua e o clube existem até hoje e são muito bem frequentados.


Uma resposta poética à tragédia de Mariana. Um espetáculo produzido pela Rede Minas que une música e reflexões sobre a atividade mineradora. As gravações foram realizadas na cidade de Congonhas, tendo como cenário de fundo o patrimônio cultural, material e imaterial, mas também as maiores mineradoras no Brasil em seu entorno. Em Paixão e Fé, especial produzido pela Rede Minas, o músico e compositor Túlio Mourão e a cantora Titane apresentam um repertório que retrata a violência da ação das grandes instituições em contraponto com a fragilidade e vulnerabilidade das regiões e minorias exploradas. O especial conta com depoimentos da poeta Adélia Prado, do jornalista João Paulo Cunha, da militante Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) Raiara Pires, do diretor de meio ambiente e saúde da União das Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon) Sandoval de Souza, e do diretor do Museu de Congonhas Sérgio Rodrigo Reis. A direção do especial Paixão e Fé foi feita pela diretora de teatro Papoula Bicalho. A Rede Minas promoveu a parceria entre os artistas, o Museu de Congonhas e a Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo (Fumcult). O projeto também contou com a colaboração fundamental da população da cidade mineira, tanto nas gravações das músicas como na produção do tapete de serragem, feito por artistas locais, e que retrata sua vegetação e fauna ameaçadas pela atividade das mineradoras.



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Brasil em estado de transe. Quais as saídas?

Um dos maiores dramas do Brasil em termos de polaridade,  e que o momento atual está deixando bem exposto, bem escancarado,  é a forte dose de autoritarismo, exclusão e elitismo  em disputa com uma fraca disposição em basearmos as nossas relações em conceitos como democracia, participação e  inclusão.

Da nossa parte, compreendo o importante papel que a educação, a comunicação e a cultura tem no enfrentamento a isso. Porém,  com pouco  resultado de curto prazo, mas crescente a médio e a longo prazo, desde que feito com criatividade, ousadia, determinação,  e de forma permanente e constante.

Porém,  a nossa experiência, particularmente no Bairro América, Aracaju, a partir da pesquisa  e dos estudos que estão sendo  realizados para a produção de um livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte (1986 à 1996) , revela o quão instigante e  desafiador,  é realizar ações no campo da arte-educação popular e  das ações culturais de base comunitária,  e ao  mesmo tempo descobrir  o quanto de autoritarismo, elitismo e exclusão   nos acompanha e estão dentro de nós. Mesmo dentro daqueles (as) que fazem o bom combate contra isso, com maior grau em uns, e em outros em menor grau.

O resultado disso, é que essas experiência educativas e culturais que se propõem a transformar a realidade de opressão, terminam por avançar  até um certo ponto, mas sucumbem  depois, por não conseguir superar os  choques dos desejos.  Como por exemplo, o de controlar, de mandar, de ser o centro das atenções de um lado, e  do outro lado, o de saber ouvir, dialogar  e decidir mediante consenso, assim como  o respeito e reconhecimento pelos conhecimentos e talentos dos outros.  Assim a disputa no plano micro, fortalece o plano  macro.  As derrotas e vitórias embaixo nos enfraquecem ou nos fortalecem  em cima.

Dentre os documentos encontrados no trabalho de pesquisa que estou realizando, trago esse abaixo , sem titulo e sem data precisa,   para desenvolver melhor a  argumentação do que proponho acima.  O texto abaixo foi escrito  e distribuído  em cópias xerox para companheiros (as) dirigentes e educadores  (as) envolvidos com as atividades da AMABA/ Projeto Reculturarte possivelmente no ano de 1994, envolvidos em um  conflito onde se  misturavam  questões de ordem pessoal,  com questões de ordem  ideológica.

Vamos ao documento: 
  
Em 1988,  participei de um seminário da ANAMPOS (articulação nacional do movimento popular e sindical)  em vitória (ES), e  que contou com a participação de delegações de 20 estados reunindo militantes do movimento popular.

O objetivo era fazer uma avaliação de como estava o movimento popular em termos de organização, infraestrutura, relação com o governo, igreja e partidos etc... fora estas questões mais gerais, um tema que não suscitou maior interesse da plenária na hora de formação dos grupos, mas que produziu um dos melhores textos, foi “A dimensão afetiva do militante “,  onde participei juntamente com três mulheres da discussão, ficando a cargo da companheira Luiza  Fernandes de São Paulo elaborar a síntese final em forma de tese. Algum tempo depois,  o texto foi publicado no boletim da ANAMPOS que era distribuído a nível nacional, possibilitando desta forma  ser lido por um número maior  de pessoas.

Recentemente folheando o arquivo da AMABA encontrei-o,  e ao lê-lo  confesso que fiquei muito feliz pois o texto coloca algumas questões que tem muito a ver com a nossa situação interna atual, por este motivo trago-o resumido para servir de introdução a analise dos motivos que nos levaram a essa situação. Por ultimo,  é importante frisar que estas não são e nem serão as ultimas palavras a respeito do assunto.

(...) As análises, os relatos feitos, as experiências vividas tem revelado em sua maioria, que reproduzimos a estrutura vertical da sociedade burguesa. A hierarquização, o desrespeito pelo iniciante que passa a ser usado como massa de manobra, como voto na convenção  e para panfletagem, vive uma situação semelhante ao operário na fabrica que não tem direito a nenhuma instância de decisão. Ele também não sabe sobre como, porque e quando fazer.(...)

 (...) Raramente discutimos porque uma pessoa entra em um movimento. Será que isto só acontece quando ela já tem uma consciência politica pronta. Se for isso, como fazer um trabalho educativo. E a idéia de processo. E a idéia de transformação enquanto um processo contínuo e dialético. (...)

(...) Até que ponto , o como e porque iniciei no movimento não está relacionado com a minha estória de vida. (...) 

(...)Se sou machista com minha mulher, se espanco meus filhos, se escondo que tenho família, nada disso interessa ao movimento. Estas são questões de foro intimo. Mas será isso mesmo? Será que mesmo não querendo não levamos para o movimento tudo o que somos . (...)

(...) Até que ponto,  não fazemos do movimento um lugar de valorização, de busca de status. Ou não conhecemos muitos que entraram em um processo de deterioração por causa da falta de diálogo, da desconfiança entre companheiros, de situações ambivalentes, de desentendimentos entre os companheiros, de palavras não ditas. (...)

(...) Usamos nossas experiências passadas como guia numa situação nova. E como adultos,  racionalizamos de acordo com normas e valores acumulados durante toda a nossa vida. E como adultos  temos dois caminhos: podemos cristalizar uma posição, ou estamos sempre abertos para reelaboração, que é diferente de não ter posição. " (...)
Zezito de Oliveira


Levar isso em conta é fundamental, para quando  os partidos de esquerda ou de centro esquerda (PT, PSOL, PDT, PC do B, PSB), assim como movimentos sociais (UNE, UBES, CUT CONAN, CMP, MST, MTST) decidirem fazer auto critica.

Por outro lado, canções como essa abaixo no fará um  bem danado, isso para não mergulharmos na falta de esperança, no niilismo, na depressão. Os ateus considerem o uso da expressão “Tomara, meu Deus tomara como força de expressão.   Mesmo assim, a canção não perde o sentido. Independente de se ter fé ou não, o trabalho, a ação,  é o fundamental. E com a esperança e a utopia no centro.  

Como diz Mário Quintana em “Das utopias”, “Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querê-las... / Que tristes os caminhos, se não fora / A mágica presença das estrelas!”


P.S.: - Associação dos moradores e amigos do bairro américa (AMABA) e Reeducação, Cultura e Arte. (Reculturarte)
 Tomara meu Deus, tomara
Que tudo que nos separa
Não frutifique, não valha
Tomara, meu Deus

Tomara meu Deus, tomara
Que tudo que nos amarra
Só seja amor, malha rara
Tomara, meu Deus

Tomara meu Deus, tomara
E o nosso amor se declara
Muito maior, e não pára em nós

Se as águas da Guanabara
Escorrem na minha cara
Uma nação solidária não pára em nós

Tomara meu Deus, tomara
Uma nação solidária
Sem preconceitos, tomara
Uma nação como nós.”




domingo, 27 de janeiro de 2019

Louvar o milagre de viver, o milagre das coisas e dos gestos simples. Espiritiualidade do cotidiano.



Casa de Morar

Cacaso e Cláudio Nucci





Me dá licença de cantar
Também de agradecer
Coragem pra querer
Um verso pra louvar
Louvar a gente do lugar
Louvar quem vai nascer
Quem vai permanecer
Também quem vai passar
E louva Deus que vou louvar
O dia matinal
A fruta no pomar
A roupa no varal
Louvar a chuva de criar
A água de beber
O tempo de viver
A casa de morar
Bem-vinda minha senhora
Bendita Nossa Senhora
·




Por Mauro Lopes
O Paz e Bem deste sábado (26) acontece hoje sob o impacto da tragédia de Brumadinho, mais um crime da Vale contra o povo brasileiro -as pessoas, os animais, as plantas, contra tudo o que vive e respira no Brasil. Os ricos, seus representantes e mídias celebram a privatização e a apropriação das riquezas por eles como uma virtude, enquanto demonizam tudo o que é estatal. No entanto, só depois que a Vale do Rio Doce foi privatizada e se tornou Vale é que os crimes foram cometidos. No altar do deus-dinheiro, tudo é sacrificado: pessoas, animais, plantas, o ar, tudo.
O encontro de hoje é de luto por mais essa tragédia numa sucessão de tragédias desde o golpe de 2014-16. Mas é também busca da mística que celebra a vida comum, o cotidiano, o dia-a-dia.
Nosso guia é Frei Betto. Em um artigo, “Efeitos da mística”, lança mão de um texto do hinduísmo como bússola a nos indicar o caminho. Em outro, “Profissão de fé”, questiona cada um e cada uma de nós sobre onde está Deus. Pois está no arroto.
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, aos 74 anos, é um dos principais líderes espirituais do Brasil Escritor prolífico, dois de seus livros são conhecidos mundialmente, “Batismo de Sangue” e “Fidel e a Religião”. Ficou preso duas vezes na ditadura, a segunda por quatro anos (1969-73). Conheceu Lula em São Bernardo em 1980 e tornaram-se grandes amigos. É uma referência na Teologia da Libertação e, hoje, nosso mestre na mistica do cotidiano.






"Rua Ramalhete" - Tavito no Estúdio Showlivre 2016




 


Outras sugestões podem ser anotadas nos comentários..

sábado, 26 de janeiro de 2019

JMJ, ¿Woodstock católico o fiesta de la fe?






El Papa Francisco, ayer con jóvenes en la JMJ de Panamá
No se trata de presentar a los jóvenes una Iglesia "divertida", para seducirlos y que vuelvan al redil eclesial. Porque las doctrinas cambian, pero la radicalidad del seguimiento de Jesús sigue siendo siempre la misma
(José M. Vidal, enviado especial a Panamá).- De pequeña fiesta creyente a gran encuentro planetario. La Jornada Mundial de la Juventud, que comenzó en 1986 en Roma, ha ido creciendo como un gigante, para convertirse en una especie de "Woodstock católico", para unos, y en "multitudinaria fiesta de la fe", para otros. Siempre en vilo, entre lo humano y lo divino, entre Dios y la 'rave party', entre la espectacularización de la fe y el encuentro íntimo con Cristo.
Un riesgo del que advertía, hace ya unos años, el cardenal hondureño, Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga: "La JMJ no es un Woodstock católico sin droga sin alcohol, como algunos dicen, sino un testimonio del Espíritu Santo".
Por eso el Papa, en su primer multitudinario encuentro con los jóvenes, ayer en la Cinta Costera de la ciudad de Panamá, quiso dejar bien claro que su objetivo para recuperar a los jóvenes (tan alejados de una institución que, a pesar de las JMJ, no supo retenerlos) no es una Iglesia "cool", capaz de atraer a los millennials sólo con cantos, música y fuegos de artificio.
Porque, para Francisco, una cosa es "armar lío", conquistar la calle para Dios y sembrar esperanza y compromiso evangélico en el corazón audaz de los jóvenes, y otra convertir a la Iglesia en una macro organizadora de eventos multitudinarios, con los que ni los Juegos Olímpicos pueden competir.
El objetivo no es seducir a los jóvenes rebajando la esencia del Evangelio de Jesús. No se trata de presentarles una Iglesia "divertida" o "más decorativa", para seducirlos y que vuelvan al redil eclesial. Porque las doctrinas cambian y tienen que adecuarse a los tiempos (algo que también están esperando los jóvenes), pero la radicalidad del seguimiento de Jesús sigue siendo siempre la misma.
Y es que el acto de creer no consiste en someter la mente y la voluntad a lo que dicen los curas, ni siquiera los obispos y los Papas. La fe no es la verdad que predica, interpreta y enseña la jerarquía (que también). Una fe auténtica y seductora para la juventud del siglo XXI pasa por liberar al Evangelio de ser un mero instrumento litúrgico, para convertirlo, como dice el teólogo José María Castillo (en su nuevo libro 'El Evangelio marginado', publicado por Desclée), en "un proyecto de vida que nos marca cómo hay que vivir el seguimiento de Jesús".
Porque, como ya postulaba el célebre teólogo alemán D. Bonhoeffer, "un cristianismo sin seguimiento es un cristianismo sin Jesús el Cristo; una mera idea, un mito".
Con esta propuesta evangélica es con la que el Papa invitó, una vez más, a los jóvenes a agarrarse a Cristo y a los obispos de todo el mundo (al hablar a los que están aquí presentes) a salir de su burbuja, pisar la realidad, acercarse a los chavales, compartir sus vidas y ofrecerles una nueva esperanza.
"Róbenselos a la calle antes de que sea la cultura de muerte la que, vendiéndoles humo y mágicas soluciones se apodere y aproveche de su imaginación", les instó Francisco. Para que, prelados y jóvenes, de nuevo juntos, puedan bailar "la rumba" de la vida, basada en la cultura del encuentro y en seguir las huellas del Nazareno.
Ésa es también la receta que ofrece o la tendencia que marca la JMJ. Una iglesia envejecida, sobre todo en la secularizada Europa, se propuso, de la mano del Papa Wojtyla, recuperar a la juventud para la causa de Cristo. Ése ha sido siempre el principal objetivo. Y para conseguirlo se mezcló, con esa sabiduría que sólo tiene una institución bimilenaria como la católica, la fiesta y la oración, lo sacro y lo profano. Una combinación atinada de tradición (misa vía crucis, confesión, hora santa, vigilias de oración) con todos los recursos del espectáculo moderno: conciertos, obras de teatro, escenificaciones y hasta flashmob.
Los jóvenes, siempre ansiosos por viajar y conocer mundo, se encuentran con compañeros de otras latitudes, razas y culturas y, unidos, comparten el regalo de la fe, que es lo que más los une por encima de cualquier otra diferencia. Y, al hacerlo, se robustecen y afianzan en su ser creyente. Y sienten el orgullo de la fe compartida.
En Panamá, Francisco y su primavera les sigue cautivando y enviando a las "periferias existenciales", para dar testimonio sencillo y cercano de un Dios de la esperanza y de una Iglesia samaritana y misericordiosa, siempre atenta a los más pobres. De Panamá al cielo.




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domingo, 14 de julho de 2013


Estilo Woodstock Presente na JMJ