quarta-feira, 12 de junho de 2013

A influência de Fernando Pessoa na música e na cultura brasileiras

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Nádia Faggiani e Gilberto Costa - Repórteres do Radiojornalismo e da Agência Brasil 12.06.2013 - 11h56 | Atualizado em 12.06.2013 - 12h15


Fernando Pessoa (S.A. e Maria José de Lencastre / Wikimedia Commons)
Brasília e Lisboa - A intérprete brasileira Maria Bethânia mantém uma relação muito especial com Fernando Pessoa, tendo já confessado ser ele o poeta de sua vida. São diversos os poemas cantados e declamados desde a década de 70.
Em julho, a cantora vai participar de um debate em homenagem a Fernando Pessoa na edição 2013 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), ao lado da imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Cleonice Berardinelli. Aos 96 anos, conhecida apenas como Dona Cléo, ela é autora da primeira tese no Brasil sobre o poeta, e da segunda sobre o tema no mundo.
Ouça aúdio da Radioagência Nacional: AQUI


Dona Cléo afirma que Fernando Pessoa é um dos poetas mais conhecidos fora de Portugal e que nenhum outro autor português tem no Brasil a presença e a importância dele.“É um dos poetas mais conhecidos fora de Portugal porque ele tem uma poesia extremamente sedutora e isso o torna um poeta diferente de quase todos os outros. Ele expressa sofrimento, dor, alegria, esperança em cada um dos seus heterônimos. Há muito o que se falar de Fernando Pessoa. Alunos meus têm feito tese de doutorado sobre ele e o último até foi trabalhar em Portugal e lá mexeu em todo o espólio e descobriu uma infinidade de novos poemas de uma obra que é imensa, maior do que nos pensávamos”.
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O fato de os poemas tratarem de questões universais faz de Fernando Pessoa um poeta presente na música e na cultura brasileiras, como afirma o crítico brasileiro Frederico Barbosa.“Ele vai aparecer em composições muito importantes de Caetano Veloso, em declamações de grandes cantores como Maria Bethânia, o Jô Soares também fez um show muito interessante com as obras do poeta. Ou seja, a cultura popular brasileira de certa maneira se apropriou da poesia do Pessoa, o que é muito bom e interessante para a sua divulgação”, diz.
O professor de crítica literária da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Fernando Segolin, compartilha da mesma opinião.“Existe uma influência muito grande devido, sobretudo, a esse lado mais sensorial, mais afetivo, mais emotivo da sua poesia. Ele é um grande técnico, um hábil escritor e, ao mesmo tempo, alguém que tem alguma coisa para dizer. O fato de ele estar hoje na música popular brasileira, na voz de vários cantores, se deve também à dimensão extremamente popular do seu texto. Por meio dos seus poemas, ele trata dos problemas de qualquer homem, de qualquer tempo e qualquer lugar”.
O músico e intérprete gaúcho Fernando Büergel é fã do poeta há 20 anos e percorreu no mês passado 12 cidades brasileiras com o espetáculo Fernando em Pessoa, que mistura poemas do português com canções da Música Popular Brasileira.“As poesias de Fernando Pessoa são atemporais, então quando a gente mescla alguns textos com algumas canções, seja de Chico Buarque, Cazuza ou Vitor Ramil, fica uma simbiose tão boa e em espetáculo funciona tanto que realmente trás um entendimento melhor da poesia de Fernando Pessoa. A música ajuda, ela impulsiona, então eu acredito que seja por isso essa união”.
Na avaliação de especialistas, inicialmente Pessoa ganhou mais destaque no Brasil que em Portugal, onde ele nasceu, como conta o sobrinho do poeta, Luís Miguel Rosa Dias.“No Brasil, tomaram mais conhecimento sobre a obras de Fernando Pessoa do que aqui em Portugal. Atualmente já é obrigatório nas escolas. Mas nós, como país velho, demoramos mais tempo para nos adaptar às novas ideias. E o Brasil, um país mais novo, adapta-se mais facilmente às coisas que vão aparecendo. E os brasileiros cultivaram Pessoa mais depressa”.
A aproximação do poeta com o Brasil foi facilitada pela escrita em língua portuguesa, de quem Pessoa era um amante e um defensor. Como explica a acadêmica Cleonice Berardinelli. “Tem uma frase dele no Livro do Desassossego em que ele diz: “minha pátria é a língua portuguesa, então em todo lugar em que se fala a língua portuguesa ele se sente na sua pátria”.
“Minha pátria é a língua portuguesa.
Odeio, com o único ódio que sinto,
não quem escreve mal português,
não quem não sabe sintaxe,
mas a página mal escrita, como pessoa própria,
a sintaxe errada”
Assim como o crítico literário norte-americano Harold Bloom já destacou, Cleonice Beradinelli considera a obra de Fernando Pessoa um legado da língua portuguesa para o mundo, sendo ele o mais representativo poeta do século 20, ao lado de Pablo Neruda.

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