quinta-feira, 31 de maio de 2018

Scholas Ocurrentes: projeto político pedagógico de Francisco que atualiza as CEBs




Um novo jeito de os jovens serem  “Igreja em Saída” no meio dos pobres. Scholas Ocurrentes, o projeto do Papa Francisco que atualiza a experiência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
__________________
Leia abaixo, artigo-testemunho de Eduardo Brasileiro, membro da IPDM (Igreja Povo de Deus em Movimento), educador social do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, e participante do 3º Encontro Internacional de Jovens animado pelo Papa Francisco e organizado pela Fundação de Direito Pontifício Scholas Ocurrentes entre 6 e 11 de maio em Roma: 

Desde 1990, Francisco, ainda Cardeal de Buenos Aires, iniciou um projeto chamados ‘Scholas de Ciudadania’ onde desenvolveu uma experiência comunitária de engajamento popular nas causas comuns. Naquela época realizou encontros ecumênicos, oficinas para jovens, ações comunitárias, convivências compartilhadas.

Quando eleito Papa, criou uma fundação de direito pontifício chamada “Scholas Ocurrentes” (escolas dos encontros), onde ampliava o projeto de Buenos Aires, numa dimensão global de formação cidadã para jovens com engajamento em suas comunidades.


Entre os dias 6 e 11 de maio, uma delegação de três pessoas participou em nome da IPDM (Igreja – Povo de Deus – em Movimento) do 3º Encontro Internacional de Jovens promovido por Scholas com o tema “A linguagem do coração” onde se desenvolvia por meio do pensamento, da arte e do jogo a troca de processos de transformação política. Fomos Thaynah Gutierrez, Luis Carlos Mendonça e eu pela IPDM, com apoio do Instituto Casa Comum. Veja abaixo um vídeo curtinho que dizemos lá em Roma:




Essa proposta defronta-se com o momento político global: milhares de pessoas feridas pelo medo, motor da indiferença e da incredulidade em relação a qualquer alternativa comunitária de combate a um mundo militarizado. Somos cozinhados em banho-maria pelos meios midiáticos que são promotores deste mundo doente sob um discurso de “justiça”, “mérito” e “competição”. É uma realidade cruel de distopia, onde o medo é gerido numa guerra civil contínua, que precisa ser superada.

Francisco traz-nos o enlace da utopia: a “linguagem do coração”. Esta que, pelo afeto, reúne; pela necessidade de cada um, organiza; e, em busca do bem comum, luta.

A experiência de reunir jovens de dezenas de países foi justamente para que pudéssemos perceber essas alternativas através da partilha de expressões positivas dos povos em suas comunidades. No centro da metodologia esteve o encontro cultural de diversos países, a partir do pensamento da arte e do jogo.  É a base do projeto de uma Igreja franciscana, que gesta a dimensão comunitária-política, que exige a criatividade para superação de entraves e de construção por meio de jogos/brincadeiras que concretizem fortalecimento de laços.

A experiência do diálogo entre as culturas, a convivência mística dos sonhos de cada um dos indivíduos culminou com a celebração final de todos os jovens com Francisco. O tema foi “A beleza salvará o mundo”, inspirado no russo Fiodor Dostoiévski. Saímos nutridos e nutridas pelo o desejo de criar estruturas comuns de gestão do poder na produção do encanto, da beleza!

Francisco entende que é urgente que as juventudes retomem o caminho histórico de organização popular: “vocês precisam estar com um pé na raiz e outro lá fora”, ele nos disse.  E, para animar-nos finalizou dizendo: “não tenham medo de sonhar acordado, arrisquem!”.

Foi assim que nosso papa encerrou o Encontro Internacional de Jovens, entregando-nos a missão de sermos articuladores de suas comunidades entendendo um projeto global, gestando utopias possíveis! Vimo-nos como mensageiros e mensageiras da Boa Nova, capazes de atualizar a experiência essencial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), fundantes da Igreja na América Latina e nas quebradas do mundo no século 20.

Os dias que passamos no encontro serviram de alerta. É hora de as pastorais juvenis, movimentos católicos e de outras confissões e dos leigos e leigas reconhecerem a fragilidade de suas organizações diante da barbárie que amedronta o povo oprimido, mantendo-o paralisado, sem protagonismo.
A ousadia de Francisco inspira nossas futuras ações políticas, produzindo nas comunidades ambientes onde se sonhem revolucionariamente outras sociedades possíveis. Caminho do Reino de Deus.
fonte:  https://outraspalavras.net/maurolopes/2018/05/30/scholas-ocurrentes-projeto-politico-pedagogico-de-francisco-que-atualiza-as-cebs/#more-3274

 A proposta dos Pontos de Cultura e as Produtoras Culturais Colaborativas dialogam com a proposta da Scholas Ocurrentes do Papa Francisco.

Morre em Aracaju o arcebispo emérito Dom Luciano José Cabral Duarte. Uma vida que precisa ser contada e recontada.

 
Foto: site da CNBB

Dom Luciano José Cabral Duarte, foi um dos expoentes mais importantes e inteligentes do clero conservador, inclusive no período em que a CNBB esteve  mais permeada pela influência do Concilio Vaticano II e das Conferências Episcopais de Medelin e Puebla. 

O que fez com que fosse uma das vozes preferidas dos setores retrógrados e autoritários das elites brasileiras para atacá-la. Nas décadas de 1970 e 1980, teve uma coluna cativa no Jornal do Brasil, junto com Dom Eugênio Salles, arcebispo do Rio de Janeiro, espaço utilizado constantemente para atacar a “infiltração comunista” na Igreja. 

É um personagem que precisa ser mais pesquisado pela academia. Já há quem faça isso, em um sentido de defesa do personagem. O que não é ruim, o mal é permanecerem silenciadas, as diferentes vozes que sofreram os efeitos do seu governo pastoral. 

Com a sua morte, ocorrida no dia de ontem (29/05/2018), fica mais fácil a emergência destas vozes e sussurros. Quem se atreve? Afinal,
"A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer." como afirmou  o historiador Peter Burke

"Dom Luciano desarticulou as Escolas Radiofônicas do MEB, perseguiu clérigos progressistas que se levantavam contra o regime, lutou até os 45 do segundo tempo para que a UFS tivesse uma estrutura fundacional com possibilidade de  cobrança de mensalidades, perseguiu estudantes, concedia palestras no 28º Batalhão de Caçadores sobre as "ameaças comunistas" no Brasil..."
 

Jornalista Henrique Maynart.

 "Que o Senhor Jesus Cristo tenha compaixão e misericórdia de Dom Luciano Cabral Duarte e lhe lhe conceda o perdão pelas traições feitas ao Dom Távora, pela perseguição sem tréguas ao Bispo Profeta Dom José Brandão de Castro, pelos 11 padres franceses por ele denunciados e presos pelo exército, pelas professoras do MEB que foram presas e pelos jovens perseguidos pela ditadura."

Sociólogo Hildebrando Maia 

 "Conheci Dom Luciano pelos artigos no Jornal do Brasil, pois morei no Rio de Janeiro nas décadas de 1970 e 1980. Ao chegar em Aracaju, nos meados de 1980, quando avistei a sua figura imponente e de postura arrogante, percebi que pessoa e texto eram o mesmo."

Professor de História Zezito de Oliveira


Outros links de produção acadêmica sobre a trajetória de Dom Luciano José Cabral Duarte, como esse abaixo, podem ser acrescentados  nos comentários.

“O Bispo da Terra” e as agruras dos camponeses de Dom Luciano: escrita biográfica e reinvenção de si

Magno Francisco de Jesus Santos

Resumo


Dom Luciano José Cabral Duarte, nascido em Aracaju, em 1925, tornou-se um dos mais proeminentes membros do clero brasileiro da segunda metade do século XX, com uma ampla participação em instituições educacionais e na gestão das políticas públicas voltadas para a educação. Em decorrência de sua articulação com os governos da ditadura civil-militar e posicionamento adverso a movimentos católicos como o da Teologia da Libertação, levou a constituir uma representação de religioso conservador. Neste artigo, discutiremos a trajetória polissêmica do sacerdote a partir de seu envolvimento com os camponeses da região da Cotinguiba nas ações de reforma agrária e problematizamos as ações de elaboração biográfica na cristalização de sua imagem de sujeito conservador e distante das causas sociais.

Leia também: 

 Os bispos católicos e a ditadura militar brasileira: a visão da espionagem (1971-1980)", de Paulo César Gomes Bezerra, historiador do Departamento de Documentação e Pesquisa (DDP-FAN). 

"O livro "Os bispos católicos e a ditadura militar brasileira: a visão da espionagem", baseado na tese de mestrado na UFRJ do historiador Paulo César Gomes Bezerra, que mostra como a repressão vigiava os bispos católicos que faziam oposição ao regime.

O livro mostra o apoio da Igreja aos militares em 1964. Afinal, em tempos de Guerra Fria, eles tinham um inimigo comum: o comunismo ateu. "Em maio de 1964", diz o historiador, "um manifesto assinado por 26 bispos da CNBB em linhas gerais agradecia aos militares por ‘salvarem’ o país do perigo iminente do comunismo".

Aliás, no dia do golpe, Dom Paulo Evaristo Arns, que terminou sendo um dos heróis da resistência contra a ditadura, deslocou-se de Petrópolis, RJ, onde morava, para abençoar a chegada das tropas golpistas do general Mourão Filho.

As relações dos militares com a Igreja azedaram depois do AI-5, de 1968, com o endurecimento do regime. "Ainda assim", diz Paulo César, "em maio de 1970 um texto da CNBB, em que a Igreja denunciava torturas nos porões do regime, também criticava ações de violência que podiam ser atribuídas à esquerda".

Quatro meses depois, em setembro de 1970, Igreja e Estado trocaram de mal para valer com a detenção por quatro horas de dom Aloísio Lorscheider, secretário-geral da CNBB.

— Por um instante, a hierarquia da Igreja uniu-se contra o Estado. Até o Papa Paulo VI deu apoio ao bispo — lembra o historiador.

Mesmo depois do, digamos, rompimento, ainda havia bispos que, isoladamente, davam apoio aos milicos.

O SNI registrou, em setembro de 1980, que o então arcebispo de Aracaju, dom Luciano Cabral Duarte, denunciou ao núncio apostólico, dom Carmine Rocco, a participação de Dom Hélder em ato, em Sergipe, no qual "teria pregado a união de estudantes e camponeses para a derrubada da ditadura".

República Comunista do Nordeste

Aliás, Dom Hélder chegou a ser acusado pelo SNI de ajudar a "eclodir um movimento separatista que teria como ponto de partida a região Norte-Nordeste".

Ah bom!"



 Abaixo uma dissertação de mestrado sobre a opção pastoral da diocese de Propriá, a qual fez o contraponto ao  modelo adotado por Dom Luciano José Cabral Duarte em Aracaju, após a morte do seu antecessor, Dom José Vicente Távora, seguidor da mesma opção adotada posteriormente em Propriá por Dom José Brandão de Castro,  tendo este sofrido por isso, inclusive da parte do arcebispo de Aracaju.

 CONFRONTO DA FÉ ANTE O ESCÂNDALO DA POBREZA: A EMERGÊNCIA DA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES NA DIOCESE DE PROPRIÁ/SE - (1968-1979)




Foto: Site Espaço Livre

terça-feira, 29 de maio de 2018

Porque a escola brasileira, em sua maioria, não deu certo? O que explica alguns fundamentos de uma das piores crise da república.

Quando alunos
Quando alunos e professores comemoram suspensão de aulas nas escolas, é bom parar e pensar: Que escola é essa?

O nosso fracasso como escola, começou quando o movimento da escola nova foi estigmatizado e quando Paulo Freire ficou reduzido a frases de efeito.

O nosso fracasso como país começou na escola. Quando começamos a pedir intervenção policial por lá.

Para começar a encontrar respostas.



sábado, 20 de fevereiro de 2016


  terça-feira, 27 de setembro de 2016

Qual ensino médio querem os jovens? Com participação democrática, atividades práticas e tecnologia.

 domingo, 29 de outubro de 2017


Cine Realidade e ciclo de exibição "O cinema como janela para olhar a escola que queremos"




e professores comemoram s

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Play List. As canções que os novos artistas da MPB criaram para nos surpreender. Amplie a lista nos comentários.



Emissoras de rádio que tocam as canções dessa play list.
E outras.... (pode colocar nos comentários)
Boas e belas surpresas há também,  de outras criações no campo das outras linguagens artísticas,  política, criação intelectual e comportamental.
 Leia também:

terça-feira, 22 de maio de 2018


Como a culpa é de quem ouve rádio? E o Brasil largado as traças?






















































Ouça também:

sábado, 2 de junho de 2018


As canções da luta e da resistência de quem quer um Brasil onde caibam todxs.


 

domingo, 27 de maio de 2018

Para entender a esfinge Brasil e não ser devorado. Golpe Branco e Guerra Hibrida.




http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/559664-golpes-brancos-a-nova-tendencia-na-regiao

Golpes brancos, a nova tendência na região



03 Setembro 2016
A sequência, à medida que avança, vai crescendo em sua maquiagem e sua sofisticação. Começa em Honduras com um golpe rudimentar, no princípio quase de manual, mas com uma paródia de legalidade. Segue com um julgamento político expresso no Paraguai sem provas contra o presidente e violando seu direito de defesa e culmina no Brasil com um processo tão legal quanto ilegítimo e carente de fundamentos jurídicos.

A reportagem é de Santiago O’Donnell e publicada por Página/12, 01-09-2016. A tradução é de André Langer.

O golpe parlamentar que terminou com o governo da Dilma Rousseff é o elo mais recente de uma série de golpes brancos que começou com a derrocada do presidente de Honduras, Mel Zelaya, em 2009, e seguiu com o do Paraguai, Fernando Lugo, em 2014.

A sequência, à medida que avança, vai crescendo em sua maquiagem e sua sofisticação. Começa em Honduras com um golpe rudimentar, no princípio quase de manual, mas com uma paródia de legalidade. Segue com um julgamento político expresso no Paraguai sem provas contra o presidente e violando seu direito de defesa e culmina no Brasil com um processo tão legal quanto ilegítimo e carente de fundamentos jurídicos.

A sequência, além disso, começa na periferia da região, onde os Estados Unidos continuam sendo a força hegemônica, e chega ao próprio coração da América do Sul e principal potência regional, que é o Brasil, passando como escala intermediária por um país sul-americano e sócio do Mercosul, como o Paraguai, parte do grupo de países sul-americanos que formaram um bloco relativamente autônomo na década passada e começou a aplicar mecanismos próprios para resolver seus conflitos.

No começo da década passada, as novas instituições regionais, como o Mercosul e especialmente a Unasul, serviram para evitar a interrupção de regimes democráticos no Equador e na Bolívia e conflitos bilaterais como Colômbia-Venezuela, Colômbia-Equador ou Bolívia-Chile, desacordos todos eles que em tempos de guerra fria teriam tido os Estados Unidos como protagonista principal e eventual árbitro.

Mas, a distração de Washington com as guerras no Oriente Médio e o surgimento da China como principal sócio comercial, junto com a coincidência de um grupo de governantes carismáticos de similar sinal político, comprometidos com a integração regional, conseguiu romper a hegemonia do Consenso de Washington em nível sul-americano.

Ao passo que no México, na América Central e no Caribe, apesar de pontes estendidas através de organismos que excluem os Estados Unidos e o Canadá, como a Celac, por seu nível de integração com a potência do norte, tanto em nível de tratados de livre comércio como em temas de migração e de remessas, a dependência segue sendo quase absoluta, o que impede sua participação em outros projetos de integração. Este limite se viu com o golpe de Honduras.

Zelaya foi tirado de pijama da sua cama por uma patota do comandante do Estado Maior, Romeo Vázquez. Levaram-no a uma base militar estadunidense, fizeram-no subir em outro avião e o tiraram do país. Na manhã seguinte, em uma sessão expressa, assumiu um fantoche civil do comandante, o presidente do Congresso, Roberto Micheletti, e os militares decretaram o estado de sítio e uma série de medidas de controle social de cunho autoritário. Segundo cabogramas do Departamento de Estado estadunidense revelados pelo Wikileaks, os Estados Unidos não apoiaram o golpe e até tentaram dissuadir os seus autores, embora Zelaya não fosse do seu agrado. De fato, os Estados Unidos acompanharam o resto dos países da OEA em sua condenação no dia seguinte aos acontecimentos.

Mas, poucas horas depois, os Estados Unidos, na contramão da América Latina, começaram a apoiar a transição do governo golpista para rápidas eleições, aproveitando que Zelaya estava no final do seu mandato. Enquanto isso, arrebatados por seus êxitos na América do Sul, Brasil e Argentina apostaram fortemente na volta de Zelaya, com Cristina Kirchner acompanhando o presidente legítimo em uma fracassada tentativa de retorno e Lula dando-lhe asilo na embaixada brasileira de Tegucigalpa, uma vez que o regresso não pôde se concretizar. Com seu apoio à transição do governo golpista, os Estados Unidos marcaram um limite à expansão do bloqueio sul-americano sem romper suas políticas de Estado de não invadir mais depois do desembarque dos Marines no Panamá, em 1989, e de não apoiar mais golpes, ao menos abertamente, desde a fracassada tentativa de golpe contra Chávez em 2002.

Assim, chegamos ao segundo golpe branco contra um governo progressista por parte de uma elite financeira e política mal-acostumada a perpetuar-se no poder do jeito que for. Desta vez, tocou ao ex-bispo Fernando Lugo, outro personagem que não era do agrado dos Estados Unidos, entre outras coisas, Wikileaks dixit, porque substituiu uma unidade antiterrorista estadunidense dedicada a treinar tropas de elite paraguaias, por assessores militares da Argentina e do Brasil. Além disso, não era um político tradicional nem era particularmente versátil na hora de negociar. Sem apoios no Congresso, abandonado por seus sócios do Partido Liberal, traído por seu vice Federico Franco, ficou à mercê do general Alfredo Stroessner e seu Partido Colorado. A oportunidade veio após a comoção social provocada pelo chamado massacre de Curuguaty, no qual morreram 11 camponeses e seis policiais em uma fazenda de soja no leste do país.

Embora a violência já viesse de longe e talvez ninguém tivesse feito mais para mediar o conflito entre camponeses e fazendeiros do que o próprio Lugo, o Congresso decidiu destituí-lo por sua “responsabilidade política” no conflito. O julgamento durou menos de 48 horas e Lugo teve menos de duas horas para se defender. Por falta de provas reais, foi destituído por 215 dos 225 congressistas paraguaios depois que a Suprema Corte rejeitara um pedido de adiar o processo. A destituição foi condenada pela maioria dos países da Unasul, mas, ao contrário do golpe branco hondurenho, uma moção de censura na OEA teve apenas oito votos a favor e 28 contra. A Unasul mandou uma delegação de chanceleres que, ao término da sua missão, emitiu um documento crítico, os países bolivarianos da ALBA não reconheceram o governo de fato de Franco e o Mercosul suspendeu a participação do Paraguai até as eleições, nove meses depois do golpe, que levaram ao governo do colorado Horacio Cartes.

Agora veio o golpe contra a Dilma. Desta vez, foram respeitados os tempos e rituais marcados pela formalidade, em um processo parlamentar que foi supervisionado in situ pelo presidente da Suprema Corte. Mas, novamente, trata-se de uma interrupção do regime democrático para impor um governo de fato de uma elite nostálgica de poder, através de mecanismos constitucionais previstos para sancionar ações criminosas mesmo que a presidenta não seja acusada de ter cometido crime algum, aproveitando o mau humor social por uma prolongada recessão e um persistente escândalo de corrupção que envolve muitos dos principais empresários e dirigentes políticos do país, mas não a própria Dilma.

Seguindo com a progressão de condenação total no caso hondurenho e condenação parcial no caso paraguaio, desta vez as vozes de protesto em nível regional são mais a exceção do que a regra, atento à virada para a direita que a América do Sul está dando. Diferentemente do que aconteceu em Honduras, mas em sintonia com o que aconteceu no Paraguai, no caso brasileiro Washington se manteve cauto e distante, como que aceitando a nova realidade geopolítica de sua perda de hegemonia. No entanto, atenta aos múltiplos interesses que ainda possui na região, assim como sua aliança tradicional com os fatores de poder que ficaram do lado dos golpistas ou operaram diretamente para erodir as forças democráticas especulando com a possibilidade de recapturar lucros extraordinários, a administração de Barack Obama não demorou para reconhecer a legalidade dos governos surgidos destes processos. Não é o mesmo que invadir um país, mas não deixa de ser uma intervenção negativa.

Assim estão as coisas depois do golpe branco no Brasil. À espera de outros elos nesta nova cadeia de intervenções antidemocráticas, a menos que o jovem bloco regional sul-americano crie mecanismos que lhe permitam preservar o que fica em pé e regenerar o falta em termos de cultura democrática, tanto nos países ameaçados por esta nova tendência, como naqueles que já optaram por saídas autoritárias para suas crises de governabilidade.






Bye Bye Brasil ou Yes Brazil.


Ontem eu vi um Brasil nas telas de cinema. Mesmo que os filmes fossem sobre acontecimentos reais que tiveram vez na Espanha e na Dinamarca.

O primeiro, 23-F, O filme, retrata a quartelada promovida por um setor das forças armadas, viúvas do ditador Francisco Franco, contra o governo civil instalado pouco tempo após a morte do ditador, governo instalado com o retorno da monarquia sob a liderança do rei Juan Carlos. O desfecho foi favorável a democracia e ao assistir o filme e seus personagens golpistas grotescos e caricaturais, não tive como não deixar de lembrar dos muitos adeptos do pedido de intervenção militar no Brasil, tipos a moda antiga que ainda entregarão flores para os soldados, caso isso aconteça. 

Já o filme “O atirador” , é mais contemporâneo e retrata o conflito de interesse público cidadão, com os interesses capitalistas privados, associados aos interesses do estado dinamarquês e ao estado americano. O pivô disso tudo. A exploração de jazidas de petróleo descobertas na Groenlândia, com os impactos ambientais decorrentes disso, em termos de aquecimento global, pois trata-se de jazidas embaixo do gelo e em região bem próxima do polo norte. Isso realizado sob a chancela de um governo formado por uma aliança de sociais democratas com ambientalistas.

Impossível não lembrar dos nossos impasses, nas questões governo do PT e hidrelétrica de Belo Monte e da aliança Marina Silva, Rede Sustentabilidade e Banco Itaú.

ZdO
 
14ª FESTIVAL DE CINEMA EUROPEU
  
“DEMOCRACIA EM CENA”
​A democracia, cujo significado se desenvolveu durante milhares de anos, é o tema escolhido para a 14ª Mostra de Cinema Europeu. O evento coloca em foco este regime politico contemporâneo adotado por grande parte dos países ocidentais e traz obras que abordam memórias relevantes para a Europa.  

Dezessete países participam do evento apresentando filmes documentais e ficcionais que retratam o tema das mais variadas formas. Durante os meses de maio até início de julho, a mostra percorrerá 11 capitais brasileiras, incluindo Salvador, Curitiba e Belém.
A seleção apresenta títulos premiados em diversos festivais internacionais, como o filme espanhol 23F, que conta a tentativa fracassada de golpe de Estado, encabeçado por militares em 1981. O golpe começou com a apreensão do Congresso dos Deputados e terminou com a libertação dos parlamentares. A obra sob direção de Chema de la Penã foi indicada para o prêmio Goya em 2011 e escolhida pela curadoria para abrir oficialmente a mostra em todas as cidades.

O filme alemão Se não nós, quem? ganhou prêmios em festivais populares no país, incluindo uma indicação para o Urso de Ouro no 61º festival de Berlim. O drama dirigido por Andres Veiel traz a história de um casal, Bernward Vesper e Gudrun Ensslin, os dois filhos de pais com papéis importantes no governo Hitler, que se unem para abrir uma editora e darem continuidade a um trabalho iniciado pelo pai de Bernward, um famoso escritor nazista.

Em plena ascensão do fascismo em Portugal, Manoel Teixeira Gomes, escritor de literatura erótica e na época presidente, abandona Lisboa para viver em exilio no norte da África. O drama Zeus dirigido por Paulo Filipe Monteiro, conta a história real do sétimo presidente português e as razões que o fizeram abandonar o cargo após 26 meses de sua posse. A obra ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cinema de Bombaim (2016), na Índia.
Esses são apenas alguns exemplos, mas a seleção de filmes narra muitos outros aspectos e propõe velhas e novas discussões sobre o tema. Conhecer o passado e pensar sobre ele, permite uma maior compreensão do presente e  ajuda a refletir sobre as possibilidades de futuro. Em tempos de crises políticas tão significativas no mundo é importante relembrar, observar e debater tal assunto.
Tayná Haudiquet - Curadora


Programação em Aracaju - Entrada R$3.00

SINOPSES