terça-feira, 11 de outubro de 2016

FALA GAROTO! O RAP COMO LUGAR DE ENCONTRO, DIÁLOGO, APRENDIZAGEM E DIVERSÃO.




O último encontro da oficina de Rap Identidade Cultural no Conjunto Jardim, periferia do município de Socorro (SE),  realizado no dia 01 de Outubro do corrente ano,  foi mais uma vez bastante positivo  e,  o que aconteceu nesse dia  merece ser relatado e compartilhado, principalmente por causa destes tempos de incertezas, traições/golpes  e de perspectivas sombrias para quem é pobre, preto e periférico. Tempos em que precisamos aprender  novos formatos de conversas  com  as pessoas, em especial  a juventude,  ou reaprendermos  algumas formas esquecidas ou em desuso. 


Nesse encontro  foi exibido slides e conversamos sobre Chico Mendes e a luta em favor da Amazônia. Prosseguimos refletindo sobre a juventude que temos e a que queremos, a partir da continuidade da produção de uma letra de rap, em seguida  discutimos questões de gênero, a partir do programa “ Melhor e Mais Justo”,    produzido pela TVT, emissora de televisão que nasceu de uma parceria do sindicato dos metalúrgicos do ABC-SP e do sindicato dos bancários de SP. O que  foi apresentado neste dia,  tratou do tema   “Minasdo Rap”. A TVT também  colabora com os nossos encontros de oficina, através da série de reportagens “Art e Arte”,  sobre os saraus nas periferias de SP.


 Para concluir, como de costume, ouvimos uma canção de rap, gravada por um compositor  cadeirante e  cujo tema principal de suas  composições,   são as dificuldades da vida dos   portadores de necessidades especiais.


Em termos de quantidade de participação   o numero médio fica em torno de 5 adolescentes e jovens, podendo em alguns casos chegar ao total de oito pessoas.  A faixa de escolaridade se situa entre o que estão no  6º ano e os que concluíram o ensino médio. Há quem  estude e trabalhe ao mesmo tempo, de carteira assinada ou fazendo  bico para colaborar com a renda  famíliar, às vezes trabalhando com o pai. Há quem somente só estude ou só trabalhe.


Um dado interessante é que a oficina atrai alguns alunos que não levam muito a sério o estudo nas aulas regulares,  e para reforçar a necessidade da participação deles na oficina e vice e versa, já dizemos  mais de  uma vez,  que muito daquilo que eles aprendem na oficina será importante para o estudo regular e para a vida de uma maneira em geral. Ate porque ,  tem acontecido discussões  importantes  sobre conceitos no campo da  História como o fato de servo ser o mesmo que escravo, por exemplo, e sobre questões ligadas ao mundo da gramática, como o uso de verbos e etc..


A pesquisa e a produção de slides é realizada pelo educador/oficineiro e MC David dos Santos, morador da comunidade e  principal articulador da  oficina, juntamente com seus companheiros Van Brown e Wilian Collectors. Todos os três são educadores/oficineiros.

A nossa participação na oficina acontece como assessor pedagógico, orientando o processo de planejamento pedagógico e em alguns momentos, mediando/facilitando a discussão de alguns temas e conteúdos.



A proposta de seleção de slides com o tema "lutadores e lutadores do povo", é fruto das discussões de avaliação do primeiro ciclo anual da oficina realizado em 2015. Essa escolha foi feita,  com base na necessidade em aprofundar um pouco mais  o conhecimento  sobre  alguns ícones das lutas dos povos oprimidos e  populações marginalizadas, como Mandela,  Martin Luther King, Malcom X, Bob Marley, Ghandi e etc., assim como trazer  outros nomes  menos conhecidos, como Carlos Mariguella,  apresentado a comunidade nacional dos amantesdo Rap pelos  Racionais MCs.  E dito e certo, Chico Mendes era desconhecido para  uns e quem o conhecia,  tinha pouquíssima  ou quase nenhuma informação sobre ele.


O vídeo “Minas do Rap” foi escolhido para prosseguir a discussão sobre a participação das mulheres no Rap, espaço de presença majoritária formado  por homens. Assim como na primeira discussão,  tivemos o retorno de uma  questão que merece  a  presença de algumas meninas e mulheres para que possa ser mais e melhor  discutida. “Afinal, qual a necessidade das mulheres utilizarem o Rap para falar dos seus problemas “particulares” com os homens, já que faz mais sentido o Rap se preocupar com as questões gerais da opressão que se abate sobre todos os pobres, pretos e periféricos, independente da condição de ser homem ou mulher?


Sobre a presença de algumas meninas e mulheres, isso aconteceu mais no inicio do projeto, no ano de 2015, inclusive com a presença de uma educadora/oficineira, a qual infelizmente precisou se afastar por motivos particulares, agravado pelo fato de morar em um outro bairro distante. Com o tempo, o número diminuiu e este ano só contamos com a presença de meninas  apenas em dois momentos. 


A oficina de rap  também  conta com a apresentação de slides ou vídeos sobre a história das linguagens/elementos do hip-hop (rap, dança urbana, grafite e DJ), assim como  sobre nomes de pessoas de destaque  ligadas a este universo, como é o caso de Nelson Triunfo, um dos mais conhecidos dançarinos (bboy ou bman) brasileiros e sobre os Racionais MCs. Neste particular merece destaque, uma série produzida pela TV Gazeta intitulada História do Rap. 


Em cada encontro de oficina também apresentamos um clip ou áudio  de uma canção de rap, acompanhado da leitura e interpretação da letra da composição, isso é muito legal porque alguns nomes como Gog, Rapadura e Criolo, por exemplo,  muitas vezes  não são tão presentes na seleção musical cotidiana  de alguns manos ligados ao projeto. Dessa maneira,  se torna um bom momento para a  diversidade do  rap nacional  poder se expressar.  


Em termos de produção musical,  temos uma canção  produzida como resultado  da oficina 2015 e já gravada. Um dos autores intérprete, César Levines,  segue atualmente carreira independente com algumas produções próprias, com uma pegada mais ligada ao funk e ao tema dos relacionamentos do afeto e da amizade.  Para o ano de 2016, também está prevista a gravação de uma ou duas canções coletivas e canções individuais de Paulo Junior, o qual  começou a compor este ano,  integrando a turma 2016 da oficina de rap.


Além de encontros semanais como o que foi  descrito acima, é realizado uma vez por mês o Cineclube Realidade, cujos filmes escolhidos tem como temática  preferencial,   a realidade  da vida da  maioria do público que produz e que gosta da cultura hip-hop. Os filmes colaboram para fortalecer o quinto elemento do hip-hop, a informação. 

 Zezito de Oliveira  - educador e produtor cultural de iniciativas culturais de base comunitária.

 

sábado, 8 de outubro de 2016

A nova politica em ação. Ou a verdadeira nova politica quando se apresenta.

novas ideias

Coletivo anarquista responderá por mandato de vereador em Alto Paraíso de Goiás


Grupo de cinco pessoas se elege para ocupar uma das nove cadeiras da Câmara Municipal. Mandato será feito com trabalho voluntário e salário de vereador, destinado a benefícios para a comunidade.

por Helder Lima, da RBA publicado 06/10/2016 18:19


arquivo facebook

mandato coletivo.jpg
Mandato coletivo: Yuji (2º a partir da dir) será o representante formal do mandato a ser compartilhado


São Paulo – A próxima legislatura na Câmara Municipal de Alto Paraíso de Goiás será marcada por uma experiência de mandato coletivo que, a depender de bons resultados, poderá inspirar mudanças na política, do atual modelo de democracia representativa para outro de caráter participativo. No pequeno município com 10 mil habitantes, localizado na área da Chapada dos Veadeiros, nordeste do estado, a 412 quilômetros de Goiânia, um grupo de cinco pessoas será corresponsável por uma das nove cadeiras do parlamento, na perspectiva de proporcionar à população maior proximidade com a prática política.
“Para a justiça eleitoral é um candidato normal, representado por mim. Mas temos um contrato entre nós, garantindo todo o processo de tomada de decisão, porque cada voto a ser proferido no plenário, cada projeto a ser apresentado será sempre deliberado pelo grupo”, afirma o advogado paulista e assessor jurídico da câmara João Yuji, que vive desde 2010 na cidade e agora tem o desafio do novo mandato ao lado de Ivan Anjo Diniz, que vai cuidar de turismo e meio ambiente; Laryssa Galantini, também voltada ao meio ambiente; Sat Nam, educação, agroecologia e assentamentos; e Luis Paulo para turismo e comércio.

Segundo Yuji, o compromisso do grupo é desenvolver um trabalho voluntário em benefício da cidade, razão pela qual o salário de vereador, de cerca de R$ 5 mil, será todo destinado a projetos em benefício da população. Isso foi possível, segundo ele, porque cada participante do grupo tem disponibilidade de tempo para o trabalho voluntário e também sua própria atividade profissional para garantir a sobrevivência.

“Todos os cinco estarão no plenário, para acompanhar as sessões”, afirma Yuji. Em regra, as decisões serão tomadas em reuniões prévias, mas está previsto no regulamento do coletivo que se ocorrer, por exemplo, de o presidente da Câmara apresentar uma pauta surpresa, a decisão será convencional, mas como uma exceção, “porque em regra o que buscamos é definir por consenso em reuniões prévias”, afirma em entrevista à RBA.

Yuji conta que a primeira vez que teve contato com mandato coletivo foi em 2014, quando participou da Rede, em São Paulo, partido que lançou o nome de Marina Silva para as eleições presidenciais de 2014. “Lá havia alguns candidatos que lançaram a ideia, só que eram projetos diferentes do formato do mandato coletivo aqui em Alto Paraíso”, afirma. “A maioria eram conselhos de mandato, que é mais um resguardo do candidato do que propriamente a coletivização do mandato”, diz.

Depois que houve uma dissidência da Rede, que criou outro partido, o Raiz, Yuji e seu grupo fundaram o 'Movimento Ecofederalista', inspirado na filosofia política do anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), que basicamente prega a descentralização do poder. “Nós temos uma inspiração anarquista. No final da vida, Proudhon, em vez de usar a palavra anarquismo, falava já em federalismo, que é um termo mais diplomático, mas na prática é a mesma coisa, é a descentralização do poder”, afirma. 

“Tirar o poder que está concentrado no Congresso Nacional e trazer para as câmaras municipais”, diz Yuji sobre o objetivo que move a iniciativa do projeto do mandato coletivo. “E fazer um trabalho junto com os outros vereadores, seja de que linha for, de fortalecimento das câmaras municipais”, defende ainda.

Segundo o vereador eleito para o mandato coletivo, as principais demandas por serviços públicos na cidade estão relacionadas às áreas de saúde e meio ambiente, que vão necessitar de articulação com a prefeitura no próximo mandato para serem atendidas. Yuji diz que o atendimento à saúde é bastante precário na cidade, e que na área ambiental há um lixão a céu aberto que aguarda providências, ainda que a cidade esteja em área de preservação e tenha potencial turístico por conta de seus recursos naturais.

Um dos projetos do coletivo, no entanto, será tocado de forma independente da prefeitura, com os recursos do salário de vereador, que serão destinados à cidade. Trata-se de um serviço para oferecer conexão de internet aberta à população. “Queremos trazer um provedor em sistema de autogestão”, afirma, destacando que o coletivo nesta primeira semana após as eleições já está empenhado em criar um serviço que seja permanente. “E fazer uma coisa autônoma à prefeitura, essa é a lógica anarquista, é resolver a situação pela autogestão, e o povo assumindo a responsabilidade pelo que hoje é ocupado pela prefeitura”, afirma.

Conheça a página do mandato coletivo no Facebook.

 Eleições 2016

Bancada Ativista: os candidatos das pautas progressistas


Grupo reúne militantes dos movimentos feminista, negro e LGBT em oito candidaturas a vereador de São Paulo pelo PSOL e pela Rede
por Débora Melo publicado 20/09/2016 04h26, última modificação 03/10/2016 12h55


Julia Leite/CartaCapital
Ativistas
Todd Tomorrow, Marina Helou, Pedro Markun e Marcio Black conversam com eleitores na Av. Paulista
Entre os 55 vereadores de São Paulo, apenas cinco são mulheres e nenhum dos parlamentares é assumidamente homossexual. Essa realidade, que se repete em todo o Brasil, não deve sofrer grandes alterações em 2016, visto que o sistema eleitoral continua o mesmo e o conservadorismo avança no País. Ainda assim, algumas pessoas decidiram lutar contra a maré e entrar na disputa por uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo adotando bandeiras progressistas.

A iniciativa começou a ser discutida em março, sob o nome de “comitê cívico independente”. Mais de 30 pessoas, entre jornalistas, advogados, produtores culturais e outros profissionais, se propuseram a dar suporte a alguns candidatos que defendem os direitos humanos e incentivam a participação da sociedade civil na política. 

Há ativistas dos movimentos negro, feminista e LGBT e defensores de princípios de sustentabilidade e transparência nas atividades do poder público. Daí nasceu a Bancada Ativista, grupo que reúne oito candidatos a vereador pelo PSOL e pela Rede. 

Além de defenderem princípios semelhantes e serem militantes, os candidatos têm em comum o fato de nunca terem ocupado um cargo eletivo. A ideia é aumentar a diversidade no espaço institucional, mas sem perder a independência diante dos financiadores de campanha. Por isso, a Bancada Ativista definiu práticas em nome de uma nova forma de disputa política, e uma das diretrizes é que nenhuma doação específica ultrapasse 50% do valor total de doações ao final do processo eleitoral.

Disputa ideológica
Feminista e defensora da legalização das drogas, a advogada Isa Penna, de 25 anos, candidata pelo PSOL, afirma que a atual conjuntura política exige representantes combativos. “Precisamos eleger pessoas que estejam na política para, de fato, defender interesses coletivos, e que façam uma luta diária de enfrentamento à bancada da bala, à bancada da especulação imobiliária, à bancada fundamentalista”, afirma.
Isa-Penna
A candidata Isa Penna (Foto: Reprodução/Facebook)
Para ela, o "debate ideológico" é essencial na disputa política. “Isso fortalece a esquerda. Acho que foi a ausência dessa disputa, tanto em âmbito federal quanto em âmbito municipal, que nos fez chegar ao retrocesso de consciência que permitiu que o golpe fosse consumado”, avalia.

Militante do movimento negro e de cursinhos populares, o professor da rede pública Douglas Belchior (PSOL), de 37 anos, concorda. “Na atual conjuntura, a nossa candidatura também pretende fazer frente à direita, que está mais fortalecida. A expectativa é que nós tenhamos uma Câmara Municipal mais conservadora do que a atual, então neste momento é muito importante eleger candidaturas de esquerda, de movimentos populares”, afirma Belchior, que é blogueiro de CartaCapital.

O local de disputa é o Legislativo 
A Bancada Ativista ecoa as críticas ao sistema político brasileiro, mas seus representantes defendem que a resposta à crise de representação deve ser mais participação, e não menos. Feminista com um histórico de militância no movimento estudantil, a funcionária pública Sâmia Bomfim (PSOL), de 27 anos, afirma que a crise do sistema exige a entrada de “pessoas comuns” no poder.

“O grande número de políticos profissionais que a gente tem levou a sociedade à condição atual, de falência completa do sistema eleitoral e de uma imensa falta de representatividade, onde mandatos são utilizados para interesses particulares ou de empresas, enquanto os serviços públicos são sucateados e há perda de direitos”, diz.
Adriana-Douglas
Os professores Adriana Vasconcellos e Douglas Belchior, militantes do movimento negro (Foto: Reprodução/Facebook)
Militante do movimento negro e professora da rede municipal, a candidata Adriana Vasconcellos (PSOL), de 43 anos, afirma que a crescente ameaça aos direitos conquistados lhe incentivaram a entrar na política.

“Um total de 150 mil jovens negros ingressaram em universidades públicas [desde a criação da Lei de Cotas, em 2012]. É um número ainda pequeno, mas muito significativo da história do País. Agora, com esse golpe, os direitos que nós conquistamos com muita luta estão ameaçados. Então a gente precisa estar lá dentro”, diz Vasconcellos.

Pedro Markun, candidato pela Rede Sustentabilidade, também defende mais participação política. Programador e hackativista de 30 anos, ele afirma que a atual conjuntura o incentivou a sair da “posição cômoda” de militante. Markun manifesta, entretanto, preocupação quanto ao sistema partidário e se diz um “candidato independente” de sua sigla. “Estou disposto a construir uma candidatura independente com a Rede, mas saber que eu posso sair do partido caso a gente chegue a um ponto em que não há conciliação me dá tranquilidade.”

Em grande medida, a motivação dos integrantes da Bancada Ativista é a constatação de que algumas mudanças só ocorrerão quando seus defensores tiverem representação política. É o caso da questão racial. “Precisamos disputar o espaço parlamentar para fazer a luta política e defender os movimentos ligados à luta antirracista, à desmilitarização [da Polícia Militar]”, diz Douglas Belchior.

Marcio Black, cientista político e produtor cultural de 37 anos, também ativista do movimento negro, afirma que o direito à cidade passa necessariamente pela questão racial. Para ele, que é candidato pela Rede, as conquistas das minorias estão sob ataque e é preciso fazer frente à sub-representação da população negra nos espaços de poder. 

“Por mais que eu venha da periferia de Osasco, hoje eu sou um homem negro de classe média. E, na maior parte das vezes, sou o único negro circulando por esses espaços", diz. "Cheguei aqui e senti o quanto esta é uma cidade racista, o quanto ela não está preparada para receber negros e negras. Olha à sua volta. Estamos na Avenida Paulista, em horário de pico, e quase não há negros por aqui.”
Ativistas
Candidatos da Bancada Ativista marcaram 'flertaço' para apresentar propostas (Foto: Reprodução/Facebook)
Ativista LGBT, o internacionalista Todd Tomorrow (PSOL), de 35 anos, considera importante a eleição do que chama de “mandatos de resistência". “Eu sou gay, e minha principal pauta é direitos humanos. Temos esse viés de enfrentamento à bancada evangélica, inclusive para denunciar quando a pauta LGBT for usada”, diz. 

Tomorrow lembra que em 2015 a Câmara paulistana aprovou o Plano Municipal de Educação sem a menção à palavra “gênero”, e o projeto foi sancionado sem vetos pelo prefeito Fernando Haddad (PT). “Pessoas e mandatos que se colocavam como progressistas nos traíram”, diz.

Mudança de práticas 
Os candidatos ativistas também propõem modificar as práticas atuais dos vereadores. Formada em administração pública, a candidata Marina Helou (Rede), de 29 anos, tem como bandeiras a promoção de iniciativas sustentáveis e a inclusão de pessoas com deficiência.

Ela também quer resgatar a conexão entre Legislativo e sociedade civil e defende a justificativa de votos. "Estou me comprometendo a justificar o voto. Parece simples, mas é importante que os eleitores saibam em que seu representante está votando e por quê."

Adepto do “ativismo radical pela transparência”, Pedro Markun afirma que sua principal bandeira é exercer na prática aquilo que recomenda aos parlamentares. “Eu recomendo, por exemplo, não fazer votação simbólica, que tira o compromisso do representante com a sua posição política”, diz. Ele lembra o episódio no qual a Câmara concedeu uma “Salva de Prata” às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), em setembro de 2013. Na ocasião, o vereador Toninho Vespoli (PSOL) pediu votação nominal e abriu uma crise na Casa, visto que o acordo inicial previa votação simbólica.

"A votação foi adiada por semanas, e quando o projeto finalmente foi votado, as galerias estavam cheias de gente: gente contra e gente a favor”, conta. “A ‘Salva de Prata’ foi aprovada, e tudo bem. Eu votaria contra, acho que ‘Salva de Prata’ é uma idiotice, e ‘Salva de Prata’ para a Rota é pior ainda. Mas quando eu vi aquelas galerias cheias... É claro que o resultado da votação me importa, mas me importa muito mais que tenhamos de fato um debate público, com pessoas prestando atenção a esse debate. Só assim a gente reaviva a potência da democracia”, diz.

Ainda que os candidatos ativistas demonstrem confiança, sabem que estão lutando contra uma maré conservadora. E que o projeto precisa ser continuado para ter sucesso. “Uma andorinha não faz verão", diz Todd Tomorrow. "Então, por exemplo, se eu for eleito, de nada vai adiantar se eu não tiver mais pessoas comigo. Porque a gente sabe que as nossas pautas e os nossos direitos são rifados constantemente”, diz.
Bancada
Marina Helou, em primeiro plano, seguida por Pedro Markun, Marcio Black e Sâmia Bomfim (Foto: Julia Leite)
 
OS NÚMEROS DA BANCADA ATIVISTA
- 73.355 votos somando as 8 candidaturas, o que significa mais do que 1 em cada 100 votos nas eleições de SP
- 1 candidata eleita, Sâmia Bomfim, e belíssimas campanhas também desenvolvidas por Adriana Vasconcellos, Douglas Belchior, Isa Penna, Marcio Black, Marina Medeiros Helou, Pedro Markun e Todd Tomorrow
- 64,6% dos votos que recebemos foram para mulheres, e 35,4% para homens - mostrando a força delas, que também se manifestou no quadro geral das eleições com o número de vereadoras saltando 5 para 11 (e precisamos de muito mais, tendo em vista que são 55 cadeiras!)
- 113 dias de campanha campanha pública (e mais 72 dias de preparativos antes disso)
- Mais de 50 pessoas envolvidas ativamente na construção (sem contar as equipes das canditaturas)
- Milhares de pessoas que contribuíram para as reflexões que ajudamos a puxar em eventos, atividades e redes sociais, além de centenas de milhares (talvez milhões?) de pessoas impactadas nas redes ou por notícias sobre a Bancada Ativista publicadas na mídia
Novamente, MUITO OBRIGADX a todo mundo que participa de alguma forma dessa história. E também tivemos muitos aprendizados que não são traduzíveis em números - alguns já compartilhados por aqui, outros que estamos pensando em formas de estruturar.
Seguimos!

A bancada ativista no facebook.

O site da bancada ativista  


E se a cidade fosse nossa?

Essa é a pergunta que nos une em movimento na luta por uma cidade de direitos, em que a promoção da cidadania seja o princípio de todas as políticas públicas, e as pessoas possam decidir sobre os assuntos que impactam em suas vidas, como Saúde, Moradia, Educação, Transporte e Segurança. Queremos um Rio de direitos, mais humano, em que a vida esteja acima do lucro.

É deste sentimento que o PSOL Carioca lança o movimento “Se a Cidade Fosse Nossa”, aberto a todas e todos que desejam se organizar em torno deste ideal. Nosso objetivo é criar uma estratégia de mobilização popular para superar o atual modelo de cidade, baseado na falta de transparência pública, na desigualdade social, na destruição ambiental, no patrimonialismo, no racismo, no machismo, na homofobia e no fundamentalismo religioso.

Nossa proposta é construir uma rede de ações, ampla e transversal às políticas setoriais, para promover a justiça socioambiental, a participação popular e defender as liberdades daqueles que são oprimidos em função de sua classe, gênero, raça, sexualidade, religião, idade, cultura e corpo. Trata-se de um trabalho em aberto e em permanente produção.

Vamos organizar um ciclo de seminários temáticos e encontros de bairro que, aliado a uma plataforma virtual, nos permita elaborar um projeto alternativo junto com você. Acreditamos, assim, que outra cidade é possível!

Defendemos o fortalecimento da democracia em todos os espaços públicos, através da consolidação e ampliação de mecanismos de acesso à informação, de consulta popular e de controle social nos processos de tomada de decisão. Mais do que uma reforma institucional, almejamos a transformação do poder e da forma de exercê-lo.

Queremos ouvir as vozes das ruas e construir um novo modelo de governo com e para as pessoas. Para isso, não há dúvidas, o poder público não pode se comportar como um balcão de negócios, subordinando as políticas públicas aos interesses das grandes corporações. Ao contrário, deve funcionar como um instrumento de promoção do interesse público. Da arte ao lazer, da saúde à educação, da segurança à mobilidade, do esporte ao carnaval, nossa meta é trabalhar por uma cultura de direitos que nos permita superar o atual modo de produção, consumo e descarte e construir um novo futuro para o Rio de Janeiro.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O desafio da construção coletiva de projetos na Escola.

Zezito de Oliveira - educador e produtor cultural de iniciativas de base comunitária.


Ontem 6 de outubro, após uma  reunião  com um certo nível de tensionamento,  causado por uma questão ligada aos trâmites do  rito de encaminhamento para a escolha do novo representante  dos professores no  conselho escolar, participei de uma outra reunião pedagógica, cujo objetivo foi iniciar a discussão do projeto da semana da consciência negra .

Quase ao final  da reunião  disse a colega que organiza ou sistematiza as diretrizes e as  ações do projeto,  que aquela é o tipo de reunião pedagógica que eu gosto de participar. E,  reuniões “felizes” como tal, às vezes é muito raro, parafraseando uma música do Jota Quest.

Esta segunda reunião também foi marcada por alguma tensão, o que às vezes é salutar e necessário desde que vá se dissipando para não obstruir o trabalho  criativo e as relações interpessoais.  A tensão se deu por conta da escolha do método de discussão acerca dos fundamentos do projeto. O que defendo está baseado  nos princípios paulofreiriano e por isso requer a  escolha problematizada  dos marcos fundantes ou dos termos conceituais, os quais  embasarão ou fundamentarão os argumentos lógicos  do projeto. Detalhe: Para facilitar uma participação mais ampla em termos de público e de uma maneira mais objetiva neste momento inicial,  podemos discutir os marcos a partir de problemas , utilizando para isso a técnica conhecida como  árvore de problemas

Como uma das contribuições que trouxemos da prática com educação popular,  e que foi relativamente utilizada na reunião acima citada, podemos citar a técnica da tempestade de idéias.  A qual lança um tema e uma pergunta para que as pessoas falem sem censura. Esta técnica implica no principio de que sendo o projeto coletivo e horizontal, todos tem direito a colocar suas idéias sem  discussão inicial e  depois com argumentos contra e favor, algumas propostas sugeridas ficam e  outras  saem.

Como o tema do projeto é “Consciência Negra” sugeri que os marcos conceituais fossem definidos,  pois é  com base nestes que um projeto coletivo precisa ser pensado. O marco conceitual funciona  como colunas ou alicerces de fundação. Havendo um bom acordo neste momento, toda a construção argumentativa pode ser  realizada contemplando  a média dos desejos , necessidades e vontades de cada individuo. Os marcos conceituais escolhidos inicialmente foram etnocentrismo, racismo, auto estima das pessoas negras e território. No decorrer das discussões,  o primeiro e o último  marco  foram  retirados , embora permaneçam inclusos ou incluídos nos dois marcos restantes, o racismo e auto estima da pessoa negra.

No decorrer da discussão também percebeu-se ser necessário discutir os marcos metodológicos. Como por exemplo: Fazer atividades com competição, ao estilo gincana ou fazer atividades que não tenham a competição  como um dos componentes principais? A questão da  folclorização do tema consciência negra, destacando apenas questões ligadas ao aspecto cultural, estético ou lúdico ou considerar  outros aspectos também relevantes  e importantes, como a questão dos pensadores e cientistas afro-descendentes.  A questão da redução da quantidade de tema e/ou objetos,  para não favorecer a dispersão ou a desconecção, fazendo  recortes temporal e espacial, ou seja,  focar em um determinado  ou poucos períodos de tempo e em um ou poucos territórios.  Outro marco metodológico discutido esta ligado a despersonalização do projeto, o que significa,  projeto não dever ser  nominado, mesmo que culturalmente seja dificil a mudança deste hábito, o que quer dizer, não pode ser o projeto do professor Fulano ou do professor Beltrano, tanto por razões éticas, como por razões  pedagógicas, lamentavelmente isso acontece com frequência. 

Em outro momento podemos abordar com mais detalhes as consequências negativas da folclorização, da fragmentação e da personalização em projetos escolares, bem como acerca das estratégias necessárias para a superação disso.

Por ora, posso dizer que participei de dois projetos este ano na  escola,  os saraus multiculturais, arte contra a ditadura e Gonzaga vida e obra, cujo aprendizagem e grau de qualidade estética dos produtos apresentados alcançaram um nível de qualidade surpreendente,  a despeito das questões de disputa de egos que precisam ser  melhor trabalhada no campo da educação socioemocional e de outros limites e desafios  que podem ser superados. 

Já no caso  do projeto do dia da consciência negra,   penso que o processo começou bem, e poderá ser melhor no próximo ano,  caso insistamos em utilizar os princípios e as técnicas de construção coletiva e colaborativa de projeto, inclusive de forma mais  abrangente,  incluindo alunos  funcionários e até pais, porque não?  

Mas para isso,  algumas questões precisam ser motivos de reflexão, isso considerando as escolas públicas de uma maneira em geral.   Será que temos a coragem e a firmeza necessária para avançar a democracia em ação e em  atitudes, mais do que em palavras? Falo isso no lugar de professor. Será que a crise da educação e do ensino médio em particular não parte de uma tradição pedagógica e de gestão que se preocupa muito mais em convencer e/ou induzir os outros (as),   do que propriamente ouvir primeiro os anseios e as expectativas de todos (as) para depois traçar as diretrizes dos programas e dos  projetos? Como criar uma escola detradição democrática com um grau de solidez/coesão necessária, que possa fazer valer os ideais deautonomia e de criatividade que constam na LDB e em outros  tipos de legislação?

 E pegando emprestado a poesia de Marcos Valle, prossigo perguntando,  será  que poderemos mesmo  fazer com que o futuro comece ?  Que os nossos sonhos se tornem realidade? Que a festa seja de todos (as)? Ou será que estamos contentes  com essa realidade? Mesmo ouvindo as criticas e as resistências dos alunos (as)? Será que iremos continuar acreditando que o professor individualmente é o responsável pelos fracassos ?  Os sucessos que obtemos como os dois projetos citados,  saraus multiculturais, arte contra a ditadura e Gonzaga vida e obra, além de outros, são suficientes, já que estes momentos são realizado de forma pontual e como escape ou fuga  momêntanea do modelo superado da tradicional aula expositiva e/ou fechada em disciplinas?
E como realizar aulas mais dinâmicas, interativas e criativas sem laboratórios, sem auditório e/ou sala multiuso para artes, sem espaços para práticas de esportes, recreação e lazer? 
Com o tanto de questões para responder como essas, será que faz sentido debater o projeto escola sem partido, dentro dos limites rasteiros e equivocados de quem propôs

Como diz a letra da canção:
Um Novo Tempo
Hoje é um novo dia
De um novo tempo que começou
Nesses novos dias, as alegrias
Serão de todos, é só querer
Todos os nossos sonhos serão verdade
O futuro já começou
Hoje a festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier
A festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier...

  A experiência da Escola Amorim Lima-SP foi citada "an passant"  durante a reunião. Aqui segue um vídeo para apresentar a Amorim Lima.
 
 
Assim como a experiência do projeto Âncora em Cotia-SP.
 
Outra experiência que merece ser conhecida:
 


Leia também:

terça-feira, 27 de setembro de 2016


Qual ensino médio querem os jovens? Com participação democrática, atividades práticas e tecnologia.