domingo, 31 de março de 2024

sábado da aleluia e domingo de páscoa nas saborosas crônicas de Chico Alencar.

 

RESSUSCITA-NOS!

(breve reflexão sobre a Páscoa, para todas as pessoas de boa vontade)

Páscoa é um louvor à vida, que triunfa sobre a morte. 

Páscoa é a linda história do Nazareno, o Deus feito gente, que veio ao mundo e nada guardou para si. Tudo, em Jesus, era destinado aos outros. Quando a morte chegou, para tomar seus bens, sua propriedade, nada encontrou para tomar, tudo já havia sido dado. Assim, foi vencida.

Páscoa é ver a beleza da Criação ("E Deus viu que tudo quanto havia feito era muito bom" - Gênesis, 1, 31). É o louvor das criaturas do Pobrezinho de Assis.

Páscoa é o frescor da manhã de domingo, e Maria Madalena vendo a pedra das opressões removida, e o túmulo da nossa descrença vazio (João 20, 1-9).

"A promessa da ressurreição não está escrita por Deus só nas Escrituras, mas em cada folha, em cada flor da primavera"   

(Martin Luther King - 1928-1968).

Páscoa é, ao acordar, espreguiçar-se como se quiséssemos abraçar o mundo, especialmente os mais sofridos. Páscoa não tem idade: é o vigor da amorosidade. Páscoa é ser solar na luta por Justiça e Paz.

Páscoa é exultar com o verde do vegetal, a solidez do mineral, o pulsar do animal. É sentir-se parte da natureza, cuidá-la e cuidar-se.

Páscoa é ressuscitar, livrar-se do que nos mata aos poucos, essas tantas coisas de "não": egoísmo, falsidade, desconfiança, mesquinharia, indiferença, alienação.

Páscoa é teimar na esperança e, tomado/a pelo amor louco do Mestre, "fazer novas todas as coisas" (Apocalipse, 21, 5). É desafiar até a drástica ruptura da morte, é crer na Ressurreição da carne e na perenidade do Espírito.

Páscoa é animar os desencantados: "abre os olhos, mostra o riso/quero, careço, preciso/de ver você se alegrar". É crer no jubiloso Reencontro dos que moram na saudade: "E eu te direi que um dia/ as estradas voltarão/ voltarão trazendo todos/ para a festa do lugar" ("Um dia", Caetano Veloso).

Páscoa é rezar, orar, pedir que "a partir de hoje a família se transforme/ e o pai seja pelo menos o Universo/ e a mãe no mínimo a Terra" (Maiakovski, 1893-1930).

Páscoa é ser Páscoa: passagem, mudança, transformação profunda, em si e no mundo. É desejar, com todo sentimento e generosidade... FELIZ PÁSCOA!

"O túmulo vazio", Sieger Köder (1925-2015)

"Cristo aparece a Maria Madalena", Jesus Mafa

SÁBADO DE SILÊNCIO 

(preparação para a Vigília da alegria pascal)

O Sábado de Aleluia é de serena expectativa. Que seja uma pausa na correria e alarido do mundo atual.

Na liturgia cristã, Jesus "desceu à mansão dos mortos". Mas nós, junto com Ele e depois dele, continuamos carregando nossas cruzes.

Lembro, com reverência e saudade, dos próximos muito amados que já partiram "fora do combinado". Lembra dos seus?

Cai uma lágrima e quero que ela me irrigue. Para, enquanto aqui, praticar o que de bom eles me ensinaram: mãe e pai, amigos, amigas, presentes que a vida me deu, agora ausentes. Fazendo falta.

Qual Jesus no túmulo, corpo crucificado e sangrado, abafado por uma pedra... Nostalgia e lembranças tristonhas também nos constituem.

Rainer Maria Rilke (1875-1926) indagou: "quem assim nos fascinou, para que tivéssemos esse olhar de despedida em tudo o que fazemos?".

O Cristo morto é um toque para não esquecermos nossa transitoriedade e impermanência. Todo orgulho besta, toda arrogância cai por terra. 

Assim somos e seguimos, entre amores perdidos, ansiedades incontroladas, "objetividades" inócuas (às vezes iníquas), pré-ocupações estressantes e humores cinzentos.

Apequenados, esquecidos da benção que é existir! A morte vai entrando devagarinho na vida da gente. Reajamos, livremo-nos das correntes!

Nosso Deus é um Deus escondido. É nossa procura. É nosso desejo pulsante de afeto, solidariedade e felicidade. Nossa ânsia por justiça e igualdade. Nossa urgência de deixar no túmulo todo egoísmo e falsidade, e aquela ambição desmedida. De romper com tudo que nos amarra e acomoda.

Como ensinou Rubem Alves (1933-2014), "é preciso que a tristeza seja temperada com alegria.Tristeza, só, é muito perigoso. As pessoas começam a desejar morrer. Essa é a razão por que os deprimidos querem dormir o tempo todo. O dormir é uma morte reversível".

Essa é a razão pela qual curto tanto a Vigília Pascal: quero estar bem acordado para ver e sentir a passagem das trevas para a luz, da escravidão para a liberdade, do nada para o sentido, da tristeza para a alegria, da solidão para o amor. Da morte para a vida!

Desde já, feliz Páscoa, que quer dizer "passagem"!

Sliman Mansour (nascido em 1947, na Palestina): "Perseverance and Hope"

O olhar do artista vivendo e pintando a via sacra em Olinda. Um prenúncio de Páscoa mais colorida e vibrante.

 

Roberto Ploeg

Toda Sexta-feira Santa sigo, ritualisticamente, um roteiro.

De manhã escuto a ópera rock Jesus Christ Superstar de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice. Boa música dos anos '70. Um texto inusitado pois acompanha os três últimos dias de vida de Jesus de Nazaré sob a perspectiva de Judas Iscariotes. Uma excelente crítica à celebridade. Bem atual!

Segue um almoço em família diferente. Lembra em certos aspectos o Seder da Páscoa judaica. Toda a comida preparada com côco, o feijão, o peixe, o quibebe de jerimum que adoro, o bredo que só neste dia a gente come. Regado a vinho. Até nos botecos e bares do bairro o pessoal só bebe vinho nesse dia. Um dia de tristeza e luto pela paixão e morte de Jesus, no finalzinho da Quaresma, tempo de jejum, e haja bebida e comida. Parece-me que a gente bebe o morto, no caso Jesus de Nazaré, como se fosse um parente próximo. 

À tarde, mais para o final da tarde, sigo a  Via Sacra nas ruas de Olinda. É um festival de cores. 

As roupas coloridas das diversas irmandades seculares. O pálio roxo acima do Senhor Morto. As flores que cobrem seu corpo e que enfeitam os andares dos santos. Uma multidão acompanhando a procissão, irmanados, de certa maneira aflitos e, ao mesmo tempo, felizes de se encontrar em vida. 

É tempo de chupar pitomba entre uma e outra reza de Ave Maria. Até algodão doce é vendido. Acima dessa multidão vão os Santos João,  Madalena e Verônica,  santos de roca, com vestimentas e cabelos que balançam ao vento. Eles me lembram os bonecos gigantes do Carnaval. 

Uma sexta-feira da paixão assim me diz que a humanidade deve caminhar por aí, um acolhendo o outro, compartilhando a comida, solidários na resistência à opressão, festejando a Vida.

Feliz Páscoa!

Roberto van der Ploeg, nasceu em Valkenburg aan de Geul na Holanda em 1955. Em 1979 veio para o Brasil no contexto de um estudo de mestrado em Teologia Latino- americana. Desde 1982 reside no Nordeste brasileiro.

A mudança da teologia para a pintura não foi muito radical para Roberto Ploeg. Segundo ele, teologia e arte são de essência metafórica, porque as duas procuram apresentar de maneira pessoal, experiências universais em imagens literárias e visuais. Neste sentido, o teólogo é um artista da palavra. O caminho pessoal de Ploeg foi da palavra à imagem visual.

Ele fez sua formação artística através de vários cursos em instâncias culturais em Olinda e Recife (MAC, Oficina Guaianases, Escolinha da Arte, UFPE, IAC, Fundaj). Após anos de atividades como teólogo da libertação no Nordeste Brasileiro, ele opta em 1995 definitivamente pela arte.

Roberto Ploeg se considera um pintor figurativo. Sua técnica é tradicional: óleo sobre tela. Motivos e temas da sua caminhada pessoal desafiam sua criatividade. Sua arte é engajada sem querer ser ideológica ou transformadora. Ele quer simplesmente testemunhar e analisar seu próprio tempo. Sua preferência é a figura humana, para ele “a primeira paisagem”.

Sua última exposição individual, “Pretextos”, foi em 2014 aqui na Arte Plural Galeria, evidenciou o teólogo-pintor, quando mostrou narrativas bíblicas em surpreendentes imagens contemporâneas.

Para saber mais sobre Roberto Ploeg  AQUI

Celebrando a páscoa na comunidade bom pastor e lembrando igreja em saída.

 Celebrar a páscoa de 2024 com os irmãos e irmãs na  comunidade bom pastor, Aracaju,  é  como viver uma experiência renovada e atual  de igreja em saída como quer o Papa Francisco. 

Uma comunidade coordenada e mantida por leigos, celebrando  a páscoa com um grupo de pessoas que praticam de diversas maneiras a amizade social, tema da campanha da fraternidade de 2024, incluindo a partilha do pão material, assim como a partilha do pão espiritual, por meio de uma liturgia encarnada na vida cotidiana e em nossa cultura,  com o olhar e o coração direcionado para o Cristo Ressuscitado, àquele que se faz carne e sangue para saciar todos os que tem fome, os diversos tipos de fome.

Sobre a comunidade bom pastor leia neste blog

39 anos da Comunidade Bom Pastor em Aracaju na busca da sociedade do Bem Viver.






Acima, versos da canção de comunhão na celebração da comunidade bom pastor...


Abaixo, outra canção do querido irmão Zé Vicente cantada no final da celebração.


No livro AMABA:Circulo de Cultura trago um relato sobre essa igreja em saída que conheci na minha fase de adolescência e parte da juventude,  quanto morei na Baixada Fluminense (RJ) durante o período em que um bispo nascido em Sergipe, Dom Adriano Hipólito esteve por lá, deixando fortes marcas na vida de quem viveu de meados dos anos sessenta até meados dos anos noventa  naquela região. No meu caso, cheguei em 1969 e parti em 1982.

É bem verdade que não eram todas as paróquias  que avançavam na proporção desejada por  Dom Adriano , mas nenhuma ficou  imune a ação pastoral do saudoso bispo que deixou grandes marcas na história da igreja nos chamados anos de chumbo. A Igreja  Matriz de São João de Meriti onde morava e frequentava, por exemplo, tinha suas limitações, pelo menos na área central,  sede da paróquia, por se constituir em uma espécie de catedral, e ser o local frequentado por um grande número de famílias mais abastadas da cidade e de classe média, porém as comunidades localizadas em áreas mais distantes podiam avançar mais. Eram estas que visitei algumas vezes e que mais gostava.

Como sergipano praticamente desconhecido em nossa estado, um filho ilustre como Dom Adriano deveria merecer maior atenção de nossos pesquisadores e documentaristas.  Adriano Mandarino Hypólito na Wikipédia.  

E para não esquecer, além da comunidade bom pastor,  há padres na Arquidiocese de Aracaju,  pero no mucho, ou não muitos, mas existem,  que buscam caminhar em sintonia com o sonho da igreja em saída e sinodal de Francisco. Um destes na missa de páscoa na Paróquia São Pedro Pescador. "Final da missa pascal, esperança: no Bairro da resistência - Industrial - antes da benção final nos ajoelhamos e pedimos silêncio. BRAÇO erguido e Ditadura NUNCA MAIS. Rezamos pelo Frei Tito e recordei meu Pai que dizia, estamos lascados. Eu garoto de 4 anos 😰😰 já sentia no colo dele o grito de um homem sofrido."

E igreja em saída e igreja sinodal, o que o Papa Francisco quer dizer com isso? No primeiro caso: 

"“Sair em direção dos afastados, dos excluídos (...) sair em direção às periferias humanas ” (EG46). Uma Igreja fechada em seus muros e dogmas, na visão do papa, não corresponde às critérios do Evangelho. É preferível , para Francisco, “uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG49).

A Igreja em “saída” , desejada pelo Papa Francisco, significa uma Igreja que, desprovida de poder, ostentação e discriminação, acolha a sua fidelidade e vá ao encontro daqueles que fazem a amarga experiência da exclusão e do abandono. O Papa também nos relembra que a Igreja somos nós ; assim, “somos chamados a esta nova saída missionária” (EG20)."  https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/o-que-significa-igreja-em-saida-proposta-pelo-papa-francisco

Já no segundo caso: "Ser Igreja sinodal é o esforço coletivo e a busca contínua de aprendermos a “caminhar juntos”, como irmãos e irmãs. É um jeito de ser Igreja no qual cada pessoa é importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão. Já não se trata de estar uns acima dos outros, mas de nos colocarmos unidos para, juntos, fazermos a experiência de fé diante dos desafios internos e externos que se apresentam em nosso dia a dia."  https://www.vidapastoral.com.br/edicao/por-uma-igreja-sinodal-reflexao-pastoral/

Zezito de Oliveira




Abaixo, alguns dos trechos do livro AMABA: O esquecido circulo de cultura da Aracaju dos anos 1980 em que faço referência as questões tratadas acima. 








Quem quiser adquirir o livro pode entrar em contato por meio do telefone/zap 79 9 8802-0711



sexta-feira, 29 de março de 2024

Semana Santa, há algo a celebrar? Artigo de Michael P. Moore

 


  • Trata-se de rememorar e comemorar a vida e a morte de Alguém importante para que confronte, ilumine, sustente e sacuda nossas próprias vidas e mortes. Caso contrário, será mais uma vez assistir a espetáculos litúrgicos de gosto estético duvidoso e de menor impacto ético.

  • O Mistério último de tudo o que chamamos Deus, na carne de Jesus Cristo, experimentou e fez seus, de alguma forma, todos esses "entres" nos quais a biografia de Jesus foi escrita e, hoje, tenciona a nossa(s). E por isso nos entende e sustenta.

O artigo é de Michael P. Moore, doutor em teologia e professor da Universidade Católica de Córdoba, Argentina, publicado por Religión Digital, 25-03-2024.

Eis o artigo.

Resumindo, eu poderia dizer que há cerca de 50 anos participo das celebrações da Semana Santa. Com mais ou menos consciência, piedade, monotonia, obrigação, fervor, convicção. Depende. De muitas coisas. Porque tanto experimentar quanto expressar a vida de fé — se não está morta —, muda em "matéria e forma". Gosto de dizer que a fé se conjuga no gerúndio: vamos acreditando... e desacreditando. Mas, assim como no último Natal, nestes dias fui surpreendido, insolente e insistente, pela pergunta: o que significa, hoje, este tempo litúrgico para mim? O que vou celebrar? AQUI



LAVARMO-NOS OS PÉS, REPARTIR O PÃO & QUEM SEGUE CRUCIFICANDO JESUS? Chico Alencar nas reflexões sobre a semana santa.

 (breve reflexão para abrir os dias finais da Semana Santa)

Jesus e os seus - estamos todos e todas convidados! - reúnem-se para a ceia. A sala abriga, a refeição congrega. Os inimigos estão à espreita, mas ali, naquele momento mágico, reina a Paz.

A mesa sustenta, aconchega, prepara para o que virá depois (há o veneno da traição). A mesa alimenta, fortalece para a tormenta.

Jesus surpreende: lava, um a um, os pés dos amigo/as. Pedro reage, considera o gesto de humildade uma humilhação. O Mestre ensina: "se não o fizer, não terás parte comigo" (João 13, 1-15). Todos devem servir, re-partir.

Partilha, fraternura, amor entre iguais - como somos todos, apesar das estruturas sociais que reproduzem desigualdade.

Depois, a repartição do pão e do vinho, na contramão da egoísta acumulação. Eucaristia. 

O que se ingere nos constitui, vira carne e sangue e alma. Eternamente. Deus é pão, é vinho: o amor compartilhado ganha corpo, vivifica para sempre.

Comunhão: comum-união dos comuns, dos iguais. Toda refeição serena é comunhão.

Na Missa dos Quilombos (de Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra), Milton Nascimento e Fernando Brant cantam:

"Todo o amor será comunhão/ a alegria do pão e vinho/ você bem pode me dar a mão/ você bem pode me dar carinho (...)

O homem tem de ser comunhão/ a vida tem de ser comunhão/ o mundo tem de ser comunhão/ a alegria de vinho e o pão/ o pão e o vinho enfim repartidos".

Assim seja!

Hanna-Cheriyan Varghese (1938-2009)

(breve reflexão sobre a Paixão de Cristo)

"Jesus estará em agonia até o fim dos tempos" (Blaise Pascal, 1623 -1662)

A Via Sacra de Jesus tem enorme repercussão, em quase todo o mundo, porque o sofrimento é inerente à condição humana. Dores são inevitáveis.  

Mas agonia e aflição, por si mesmas, não são redentoras e não nos amadurecem: é preciso buscar suas razões e meios de superação e/ou aceitação. Como a ciência médica faz com as enfermidades, sem remediar nossa finitude, nossa impermanência.

Hoje é um dia de reflexão profunda sobre o que leva o ser humano ao ódio, à tortura, à destruição do outro. Como aconteceu com o Nazareno - o filho do Deus vivo, para os cristãos.

"Tornei-me o opróbrio do inimigo, o desprezo e zombaria dos vizinhos e objeto de pavor para os amigos; fogem de mim os que me veem pela rua. Os corações me esqueceram como um morto e tornei-me como um vaso despedaçado" (Salmo 30). 

Jesus foi torturado e morto pelo poder político do Império Romano e pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém.

Jesus continua sendo crucificado pelos sistemas que geram injustiça, miséria e fome. Pela economia consumista e da ganância que exaure o planeta. Pela cultura autoritária que sufoca a democracia. Pelos imperialismos expansionistas que produzem guerras mortais como as de Gaza, da Ucrânia e de outras partes do mundo.

Também crucifica Cristo nossa indiferença, nosso apego medíocre ao que é perecível, nossa insensibilidade às tragédias (evitáveis) que atingem tantos semelhantes e aos genocídios, nosso alheamento frente à "gangsterização" da política, nossa "religiosidade" de ocasião, que só aparece na hora da aflição e só trata da salvação individual.

Diz papa Francisco: "Jesus abandonado pede-nos que tenhamos olhos e coração para os abandonados. Para nós, discípulos do Abandonado, ninguém pode ser marginalizado, largado a si mesmo; porque as pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo, recordam-nos o seu amor louco e o seu abandono, que nos salvam de toda solidão  e desolação".

Recomendo que acompanhem a Via Sacra de Roma, com meditações e orações escritas pelo próprio Francisco (Vatican News). E aqui de forma escrita.

Só assumindo, no nosso cotidiano, a cruz,  encontraremos o caminho da Luz.

Siegfried Köder, Alemanha (1925-2015)

Escritor e professor de História 🎓 Mestre em Educação 😍 Deputado federal pelo PSOL


Redenção é Amor. Pe. Anderson Gomes

 


Lembro de umas meditações que fiz com um amigo provocador, ele estudioso da antropologia teológica. E na sua reflexão, a figura do inimigo ou do demônio alertava ele: é também aquela mal resolvida dentro de nós, é nossa humanidade transgressora e desamada.

 Há homens que gostam de falar do "demônio" que eles são e aqui está o perigo do discurso religioso misturado com falsos conceitos. Inclusive sobre o homem. Lê a nossa história a partir da morte instiga o homem a matar 'quem' lhe matou mesmo que na idealização falsa que ele tem de si ou que imprimiram nele. 

E só o amor pode nos curar de nós e das prisões ideológicas e culturais que temos. A ideia que está em voga mundo afora é: eliminação da espécie que não tem a minha estatura, a minha cor, a minha orientação sexual, o meu modo de compreender a vida, a minha religião, enfim. Com isso devemos aprender a conviver, pacificar quem somos no Amor. Respeitar o caminho de cada pessoa que é único e indissociável na sua origem em si. E pe. António, continuava, quando Jesus é levado para o deserto e ali é pelas feras tentado, indica que no 'psiquismo' humano (sua totalidade que é vista na desintegração, humanamente falando) há uma eterna busca ou de vida ou de morte. 

Cuidado com quem está ao seu redor. Ele pode ser o "demônio" que você enxerga fora numa linguagem de fuga no religioso ou na falsa ideia de poder que esse mundo configurou. E quando você não se trabalha, não se aceita, não se ama, não integra o céu e o "inferno" que há dentro de si é capaz de se tornar um 'demo' e isso não tem nada haver com questões da nossa estrutura existencial ou religiosa. 

Essas dimensões precisam apenas ser encaradas e trabalhadas com garimpagem daquilo que somos e não. Na vida humana tudo é possível. Jesus nos mostrou qual caminho seguir,  o desafio é nossa consciência se abrir ao Maior projeto de vida que podemos ter: se conquistar, se apaixonar por si,  se libertar do desejo de possuir bens e pessoas, querer convencer as pessoas é uma grande bobagem. Não sou fatalista e nem desejo ser guru. A experiência tem me sinalizado que o que vemos por aí é fruto da ideia de homem perfeito que nos ensinaram. Isso é mortal. Redenção é Amor. 





Padre Anderson Gomes é pároco na Paróquia São Pedro Pescador - Bairro Industrial - Aracaju.

Mix Canções de Taizé




quinta-feira, 28 de março de 2024

JESUS E A TORTURA. UMA REFLEXÃO: Romero Venâncio:

"O projeto da tortura implica numa negação total - totalitária - da pessoa, enquanto ser encarnado." - Hélio Pellegrino

Nesta Semana Santa aproveitei a temporalidade litúrgica para meditar a partir do livro "Brasil, nunca mais!" publicado em 1985 e o texto bíblico da Paixão de Cristo. Encontramos no anexo II do livro um texto ainda de grande atualidade no Brasil como esse em que vivemos. Trata-se de: "A tortura , o que é,  como evolui na história". A reflexão do texto tem como objetivo atingir o aparelho repressivo de tortura montado pela ditadura militar pós-64. Sabemos que um conjunto de bispos liderados por Dom Helder Câmara e Dom Paulo Evaristo Arns, denunciaram pelo mundo a tortura praticada no Brasil pelos militares em seus porões. 

Todo cristão, sabendo ou não, é seguidor de um prisioneiro político que foi torturado até a morte. Tortura essa com requintes de crueldade, não esqueçamos. Isso tudo registrado em detalhe nos Evangelhos:

"Puseram-lhe uma coroa de espinhos que haviam trançado... Batiam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele... Depois de zombarem dele, tiraram-lhe a púrpura, vestiram-no com as vestes dele e conduziram-no para fora para crucificá-lo." (Mc. 14: 16-20)

Da tortura física à psicológica, vemos aqui. Sabendo que "Jesus foi humano em tudo..." como diz o próprio texto bíblico. Não foi uma encenação como pensam alguns religiosos. Foi real. Ou não fazia sentido algum descrever em detalhes. Sabemos que a repetição de anos e anos da "Paixão de Cristo" nas igrejas, cinemas e teatros, fez com que a dimensão martirial da tortura fosse perdendo seu impacto inicial e sua brutalidade. Mas o fundo da narrativa não se perdeu como "lágrimas na chuva". O fato é que Jesus foi torturado e conduzido a morte sob tortura. 

Para nós deveria ter um significado radical: ser contra a tortura é dever de todo ser humano que se diz cristão. Não tem meio termo: seguir Jesus é ser contra toda forma de tortura. Mas tem um dado importante para se entender a tortura perpetrada contra Jesus. Ela foi consequência da opção do projeto histórico do carpinteiro de Nazaré. A tortura romana que foi praticada e exposta publicamente em Jesus vem como uma reação violenta à práxis de Cristo. A práxis histórica de Jesus de Nazaré era insuportável para os poderes na palestina do Século I.

Da Inquisição (movimento político-religioso que ocorreu entre os séculos XII ao XVIII na Europa e nas Américas, cujo objetivo era buscar o arrependimento daqueles considerados hereges pela Igreja e condenar as teorias contrárias aos dogmas do cristianismo) às ditaduras espalhadas pelo mundo; a Igreja cristã apoiou quase tudo. Não se deve esconder isso. Assumir e fazer autocrítica é o melhor que os cristãos podem fazer diante do apoio no passado e no presente que suas igrejas emprestaram aos regimes que praticavam torturas.

Também é importante destacar a luta das várias igrejas cristãs contra a tortura. Nas denúncias e auxílio à implementação de grupos de direitos humanos que enfrentavam a situação da tortura. 

No caso brasileiro no período pós-1964, onde foi implementado de forma autoritária um golpe militar, o catolicismo romano exerceu um papel de destaque na defesa de pessoas torturadas, na criação de comissões de direitos humanos e nas denúncias públicas da prática de tortura dentro e fora do Brasil .

Um projeto dos mais significativos na luta contra a ditadura brasileira e na organização da memória de tempos nefastos em que a tortura foi prática constante e profissionalizada, foi o "Brasil, nunca mais". 

O "Projeto Brasil: Nunca Mais" foi desenvolvido por Dom Paulo Evaristo Arns, pelo Rabino Henry Sobel, pelo Pastor presbiteriano Jaime Wright e equipe que, clandestinamente, atuou entre os anos 1979 e 1985 durante o período final da ditadura militar no Brasil na organização e catalogação de documentos relativos a tortura e assassinatos do regime ditatorial.  Como livro foi publicado no ano de 1985 e gerou uma importante documentação sobre a história do Brasil contemporâneo e a terrível experiência da ditadura para o país. Esse sistema perseguiu, exilou, assassinou, torturou, fez desaparecer corpos, concentrou renda, criou uma escalada inflacionária enorme e empobreceu ainda os mais pobres.

Concluímos nossa meditação afirmando o seguinte: Jesus foi preso,  torturado e violentamente assassinado. Todo ser humano que vive a brutalidade da tortura, participa consciente ou inconscientemente da "Paixão de Cristo". É uma situação de fé, mas é acima de tudo uma condição antropológica. A tortura é por natureza uma ofensa ao Cristianismo vivido verdadeiramente como seguimento a Jesus. Cristão que apoia tortura se coloca fora da comunhão eclesial. 

Semana Santa, há algo a celebrar? Artigo de Michael P. Moore . AQUI


A Comunicação de Esquerda que dá certo..



 

Essas são as notícias que Romeu Zema e o partido NOVO tentam esconder de você. Zema ataca famílias do MST enquanto construtora da família é ré por invasão, Zema aumentou o próprio salário em mais de 300% enquanto se negou a pagar o piso salarial pros professores do Estado, Zema ignora as denúncias de corrupção e desmonte realizadas pelo NOVO na CEMIG . Roteiro: eu mesma Edição: eu mesma Equipe de filmagem: eu e @hvicoso Um agradecimento especial ao @luizrochabh pela imagem de drone e a Mirela da @teiadecriadores pelo espaço e pelos gráficos 💚 Laura Sabino no Instagram

 Adorei!! É por aí mesmo, Zezito, é ir no caminho da ironia, dizer uma coisa que é ruim pro povo, mas usando de inflexões contrárias! Já vimos que nesse tempo de pós- verdade, fazer o movimento contrário, ou seja, informando sobre as benfeitorias, já não tá funcionando mais como antes. É só nos basearmos nas últimas pesquisas sobre Lula. Isso é técnica, é método, e não tenho dúvida de que funcione. Usei essa técnica quando fazia campanha pra Dilma, e dava certo. As pessoas ficam sem graça quando ouvem aquilo que elas apoiam sem perceber, porém indo como flechas em sua direção, tendo elas como alvo. 

Tânia Maria - cantriz

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VÍDEO – Adnet zomba de Bolsonaro na embaixada da Hungria: “Preciso de asilo”

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/video-adnet-zomba-de-bolsonaro-na-embaixada-da-hungria-preciso-de-asilo/

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Quando o meio e a forma  colaboram para fazer a mensagem chegar bem mais longe. É disso que se trata quando a comunicação de esquerda é criticada, e não apenas da esquerda presente na institucionalidade. A comunicação do PT na campanha presidencial de 1989 é semelhante ao mostrado acima. A campanha de Boulos a prefeito de São Paulo em 2020 também nos mostra boas alternativas neste campo. O acervo do Centro de Pesquisa e Documentação Vergueiro (CPV) atualmente sob a guarda do Arquivo Edgar Leuenroth/Unicamp, apresenta muito material de comunicação produzido por organizações e movimentos populares entre 1970 e 1990

Para saber sobre o CPV, clique aqui aqui 

Zezito de Oliveira

Leia mais: 

Sucesso na web, campanha de Boulos hackeou sistema com memes e bom humor... https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/12/07/meme-e-zoeira-o-que-fez-a-campanha-de-boulos-bombar-nas-redes-sociais.htm?cmpid=copiaecola

Pela lente do amor: O ativismo voluntário nas campanhas de Guilherme Boulos em 2020 e 2022

Esse trabalho busca identificar e compreender as motivações de indivíduos que atuaram de maneira voluntária nas campanhas de Guilherme Boulos em 2020 e 2022, e como trabalharam nessas ocasiões, a partir do aplicativo WhatsApp. Esse modelo de campanha eleitoral introduz táticas e estratégias inovadoras, com a participação dos eleitores. Para buscar pistas para essas respostas, a dissertação realizou estudo de caso que utilizou: pesquisa bibliográfica e documental, coleta de dados no acervo on-line do jornal Folha de S.Paulo, observações diretas de grupos de WhatsApp e entrevistas semiestruturadas com vinte e um participantes das campanhas de Guilherme Boulos em 2020 e 2022. Foram obtidos dados de 17 ativistas voluntários e quatro coordenadores contratados pelo partido do candidato, o PSOL. Observou-se que os apoiadores voluntários são altamente qualificados e menos jovens do que se poderia esperar. Uma grande parcela é formada por profissionais da área da comunicação. Embora 52,9% dos ativistas tenham declarado filiação ao PSOL, em alguns casos os ingressos aconteceram após as eleições de 2020, sugerindo que a campanha favoreceu essa filiação, outra parte dos ativistas (47,8%) não milita em partido político, justificando que prefere manter a liberdade para escolher seus candidatos. A maioria disse que não milita no movimento, MTST, ao qual Boulos é vinculado. O anonimato é uma característica observada nesse tipo de ativista político, bem como a alta dedicação deles às campanhas, pelo total de horas de militância e produção dos conteúdos para as redes sociais do chamado Gabinete do Amor: em média de 4 a 12 horas por dia. Verifica-se, assim, que esses indivíduos possuam várias características do chamado cidadão marqueteiro, indivíduos que as campanhas que utilizam fortemente recursos digitais procuram mobilizar. Aspectos como a visibilidade midiática de Boulos, o ativismo político dos apoiadores e o contexto da pandemia de Covid-19 são algumas das razões que os motivaram a participar em 2020 e 2022. Os resultados também indicam as percepções sobre os aprendizados facultados, até aqui, por esse modelo de campanha digital, ajudando a explorar um campo contemporâneo de relevo na comunicação política, relacionado à análise das estratégias de campanha eleitoral a partir da fala dos próprios atores.

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27164/tde-22032024-121950/pt-br.php

O PT precisa voltar as fontes  também na comunicação, mas isso não virá se não vier com a politica e com a pedagogia.


1989 propaganda eleitoral de Lula para presidente com  Marco Nanini e Cristina Pereira

https://www.tiktok.com/@antigopt/video/7089222474147138822

propaganda política do lula na campanha de 1989 - ziraldo


1989: A estrela pop como cabo eleitoral

https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/download/6355/4659/15525

"EU SÓ QUERO SABER DO QUE PODE DAR CERTO. NÃO TENHO TEMPO A PERDER"


O governo ainda não aprendeu, apresenta projeto polêmico e controverso sem vir acompanhado de uma forte política de comunicação nas redes digitais. Agora corre atrás do prejuízo. Ei Paulo Pimenta ver se te emenda.

Governo quer ampliar comunicação sobre o PL dos Aplicativos
O objetivo é garantir aos motoristas de aplicativos um pacote de direitos trabalhistas e previdenciários, sem que haja interferência na autonomia

Comunicação do governo Lula tem duas novas apostas para quebrar a polarização política
"Bote fé no Brasil" e "Isso é bom para todo mundo" serão os novos slogans do governo federal

Pobre de direita! Quem ainda não entendeu o que é guerra cultural ainda não sabe como lidar com isso..

 

E este que escreve,  começou a fazer esse enfrentamento ainda que sem a consciência e urgência que tem hoje, já nos anos oitenta do século XX. 









quarta-feira, 27 de março de 2024

Conselho Estadual de Cultura de Sergipe recebe demandas ligado as academias de letras e outros coletivo literários.

 

 Na terça-feira, dia 26, às 15 horas, na sala do CEC - Conselho Estadual de Cultura haverá uma sessão especial da Câmara de Letras e Artes com representantes de entidades e grupos literários. Gostaríamos de ter um representante de cada grupo existente em Sergipe. Cada um terá cerca de 8 minutos para fazer o resumo de atuação da sua entidade ou grupo e apresentar uma lista de reivindicações. O objetivo é estreitar as relações do CEC com a comunidade artística de cada segmento e dar conhecimento à  Funcap das demandas. 

Com imensa gratidão, compartilho o privilégio de ter representado várias academias e dentre elas a ALCS, AMS, ALES e a AFLAS , e o Café Poetico Sergipano, em uma reunião vital com o Conselho Estadual de Cultura. Em um ambiente de colaboração e compromisso mútuo, apresentamos uma lista contendo 10 reivindicações essenciais para apoiar os escritores iniciantes, cujas vozes muitas vezes ecoam sem os recursos necessários para prosperar.  

Fomos calorosamente acolhidos pelos conselheiros, Antônio Cruz, Rogério Alves, Carlos Magno e Neu Fontes, cujo entusiasmo e interesse em nossas propostas inspiram confiança em um futuro mais vibrante para a literatura em nosso Estado. Acredito firmemente que, ao fortalecer os alicerces que sustentam nossos talentosos escritores emergentes, estamos construindo uma plataforma para o florescimento criativo e intelectual de nossa comunidade.  Reitero meu compromisso inabalável em estar à disposição para contribuir com o avanço da literatura em Sergipe. Que possamos continuar unidos em nosso esforço para nutrir e promover a riqueza cultural e artística que abunda em nossa região.

Juntos, somos os guardiões do legado literário de Sergipe, e é com grande esperança e determinação que avançamos, rumo a um futuro onde cada voz seja ouvida e cada história seja celebrada.

Com gratidão e otimismo, 

Cris Souza.



Ao Conselho Estadual de Cultura de Sergipe

Aracaju, 26 de março de 2024

10 reivindicações que podem ajudar os escritores sergipanos e aqueles que estão começando e não podem pagar pela publicação de seus livros:

1. Criação de editais de fomento à produção literária, com linhas específicas para escritores iniciantes e emergentes.

2. Implementação de programas de bolsas e incentivos financeiros para escritores que desejam publicar suas obras, mas não têm recursos para isso.

3. Estabelecimento de parcerias com editoras e gráficas para oferecer descontos ou condições especiais de publicação para escritores locais.

4. Realização de oficinas e workshops gratuitos sobre autopublicação e marketing literário, para capacitar os escritores a promoverem suas obras.

5. Criação de espaços de divulgação e venda de livros de autores locais em bibliotecas, livrarias e eventos culturais.

6. Disponibilização de recursos para a realização de lançamentos de livros e eventos literários, proporcionando visibilidade aos escritores.

7. Oferta de cursos e capacitações na área editorial, para que os escritores possam aprender sobre o processo de produção e comercialização de livros.

8. Criação de um programa de mentoria, onde escritores mais experientes possam orientar e apoiar aqueles que estão começando na carreira literária.

9. Estabelecimento de parcerias com o sistema educacional para incorporar livros de autores locais nos currículos escolares, promovendo o conhecimento e valorização da produção literária sergipana desde cedo.

10. Estabelecimento de políticas de compra de livros de autores locais para acervos de escolas, universidades e bibliotecas públicas, garantindo a circulação e valorização das obras regionais.

Att,

Tânia Cristina dos Santos Souza

Academia Literocultural de Sergipe

Academia Municipalista de Sergipe

Academia de Letras Estudantil de Sergipe

Academia Feminina de Letras e Artes de Sergipe

Café Poético Sergipano