quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Carta à humanidade brasileira: por um tempo de escuta, beleza e reconciliação, por Paulo Baía

revistaprosaversoearte.com 


 Escrevo estas palavras como quem escreve à sombra de uma árvore antiga, onde o tempo parece repousar e o silêncio abriga a escuta. Uma carta extensa, é verdade, mas necessária, como o são todas aquelas que buscam alcançar corações distantes sem a urgência dos alarmes. Dirijo-me ao Brasil inteiro, de norte a sul, de leste a oeste, dos grandes centros aos vilarejos que ainda respiram com o ritmo próprio das manhãs lentas. Dirijo-me a cada pessoa que, mesmo no cansaço, guarda dentro de si alguma centelha de esperança. A todas e todos, indistintamente: aos que creem e aos que duvidam, aos que se agitam e aos que contemplam, aos que se entrincheiraram e aos que ainda sonham com a travessia.

.Confesso, com serenidade, um cansaço profundo. Um cansaço que não é apenas do corpo nem da rotina, mas um cansaço de alma, de convivência, de palavras transformadas em espinhos. Não é o peso do tempo, nem a exaustão da luta cotidiana que me esgota, mas a rigidez que tomou conta do espaço entre as pessoas. O que nos fere, dia após dia, é essa polarização que se cristalizou como hábito de pensamento e conduta, essa lógica de trincheira que nos impede de ver a complexidade da vida e a beleza dos outros.

.Estamos vivendo em um Brasil onde o dissenso se tornou pretexto para o desprezo, onde a discordância virou injúria e o diálogo foi reduzido à performance de confronto. Tornamo-nos, sem perceber, habitantes de um tribunal permanente, onde ninguém escuta, todos julgam e quase ninguém perdoa. Mas não é possível viver assim. Não é digno. Não é humano.

.Há um tempo venho buscando outra linguagem. Uma linguagem que não abandone o rigor, mas que recuse a brutalidade. Tenho preferido o gesto do carinho à certeza da sentença, o sopro da beleza à violência da razão armada. Não se trata de abrir mão da crítica, mas de recusar o veneno que frequentemente a contamina. Quero escrever com elegância, sim, mas também com bondade. Quero fazer da palavra uma oferenda, não uma pedra.

E nessa tentativa me recordo com emoção do saudoso jornalista Márcio Moreira Alves. Ele, que durante tantos anos escreveu sobre o “Brasil que dá certo”, quando a maioria só sabia repetir o que dava errado, mesmo que o erro fosse inexistente, mesmo que fosse inventado, construído pela arrogância de um individualismo fóbico, que teme a pluralidade e se recusa a reconhecer qualquer qualidade em quem pensa ou age de maneira distinta. Márcio soube ver, como poucos, que há dignidade no cotidiano, há resistência nas margens, há sabedoria nas soluções populares que a elite ignora. Ele soube narrar o país como quem afaga suas cicatrizes.

.É nesta mesma chave que escrevo. Quero falar de um Brasil real, múltiplo, humano, onde a vida pulsa apesar de tudo. Um Brasil que se reconhece não apenas nos grandes gestos, mas sobretudo nos pequenos sinais: o bom dia da vizinha que estimula o entendimento, o sorriso partilhado no portão, o pão emprestado na emergência, a escuta oferecida sem cálculo. A vizinhança é ainda, talvez, o último território onde a simpatia resiste. E nas comunidades, nos bairros, nos becos e vielas onde o Estado pouco chega, a solidariedade se organiza como princípio, não como exceção.

.Quero também falar das igrejas, não apenas aquelas dos interiores calmos, mas também das que se erguem nas metrópoles inquietas, agitadas pelos trânsitos da pressa, pelos buzinares apressados e pela tensão dos horários. Ali, entre os ruídos da cidade, ainda há espaços de acolhimento e proteção. Ali se reza, se canta, se chora, se abraça. Ali se alimenta a esperança como quem renova o pão de cada dia. E ao lado das igrejas, os Terreiros: espaços sagrados de axé, de força ancestral, de cuidado com o corpo e com o espírito, onde o saber não vem dos livros, mas da vivência, da tradição, do canto que acende a alma.

E há também os botequins, as biroscas de esquina, onde se formam rodas de conversa que são, muitas vezes, as mais autênticas assembleias populares. Ali se discute o futebol e a política, a inflação e a vida amorosa, ali se fala sem microfone, mas com paixão. São lugares de fala sem palco. São espaços onde a democracia ainda respira, mesmo sem saber que tem esse nome.

.As rodas de samba, por sua vez, são orações em forma de batuque. São encontros que reafirmam nossa capacidade de sorrir apesar do peso. E os bailes de dança de salão que se espalham pelas tardes e pelos inícios de noite, centenas deles, são atos de resistência ao desencanto. Ali os corpos não apenas se movimentam: se reconhecem, se reencontram, se curam. São espaços de beleza compartilhada, de presença mútua, de encanto.

.E há ainda as músicas que, nas manhãs das ruas e dos ônibus, embalam os desejos de uma boa semana. São canções que carregam pedidos simples: paz, prosperidade, sossego. E isso já seria tanto. Porque no meio de um país atravessado por dores antigas, desejar ao outro uma boa semana é um gesto político, um gesto de humanidade.

.É por isso que não quero mais escrever para ferir. Quero escrever para lembrar. Para lembrar que cada pessoa carrega dentro de si um mundo, uma história, uma experiência. Que ninguém é apenas sua opinião política, sua ideologia, seu voto. Que há algo de belo em cada existência. Que somos feitos de nuances, não de absolutos. Que mesmo os equívocos dos outros merecem ser compreendidos em sua trajetória, não apenas condenados em seu instante.

Estou consciente, sim, das feridas abertas neste país. Sei da desigualdade gritante, da injustiça institucionalizada, da violência que devora as periferias. Mas quero falar disso sem exaltar o ódio. Quero denunciar sem desumanizar. Quero nomear o sofrimento sem me deixar contaminar pela linguagem da vingança. Quero recordar, inclusive, que mesmo na política há gestos de dignidade. Há homens e mulheres que resistem, que constroem, que negociam não por fraqueza, mas por responsabilidade. Há servidores públicos que ainda acreditam no bem comum. Há lideranças que ainda se comovem com a dor dos seus representados.

.É possível, sim, falar da crise sem alimentar o ressentimento. É possível, sim, manter o rigor e a ética sem cair na armadilha da raiva como método. É possível, sim, escrever com firmeza e também com ternura.

.Este texto é uma escolha. Uma escolha que me custa, que exige de mim disciplina emocional, escuta, revisão. Porque a linguagem da brutalidade está sempre pronta. Ela nos seduz com sua rapidez, sua suposta eficiência, seu poder de humilhar. Mas ela não constrói. Apenas arrasa. E já fomos arrasados demais.

.Escrevo, portanto, para você que lê com atenção e generosidade. Que entende que escutar não é concordar. Que sabe que o dissenso faz parte da vida, mas que ele pode ser vivido com respeito, com civilidade, com alguma elegância. Escrevo para quem ainda deseja reconstruir o pacto da convivência. Para quem crê que não é possível salvar a democracia sem salvar também o laço social.

Este país ainda pulsa. Este país ainda resiste. Este país ainda pode se reinventar. Há tempo. Há caminhos. Há saídas. E há, em cada um de nós, uma possibilidade de reconduzir o olhar. Uma possibilidade de reacender o desejo de viver com beleza, com justiça, com afeto.

.Receba, você que chegou até aqui, esta carta como um gesto de aproximação. Uma declaração de respeito. Uma invocação por tempos mais brandos. Que ela te encontre em paz, ou que pelo menos te convide à paz. Que ela te recorde que ainda há música, ainda há dança, ainda há vizinhança, ainda há simpatia. Ainda há tempo. E se ainda há tempo, há tudo. Porque o humano resiste — e resiste melhor quando é tratado com carinho.

.Que possamos, enfim, voltar a nos reconhecer. Não apesar das diferenças, mas por meio delas. Com lucidez. Com firmeza. Com beleza. E sobretudo com dignidade.

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Paulo Baía – Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ

* Paulo Baía é sociólogo, cientista político e professor aposentado do Departamento de Sociologia da UFRJ. Suburbano de Marechal Hermes, é torcedor apaixonado do Flamengo e portelense de coração. Com formação em Ciências Sociais, mestrado em Ciência Política e doutorado em Ciências Sociais, construiu uma trajetória acadêmica marcada pelo estudo da violência urbana, do poder local, das exclusões sociais e das sociabilidades periféricas. Atuou como gestor público nos governos estadual e federal, e atualmente é pesquisador associado ao LAPPCOM e ao NECVU, ambos da UFRJ. É analista político e social, colunista do site Agenda do Poder e de diversos meios de comunicação, onde comenta a conjuntura brasileira com olhar crítico e comprometido com os direitos humanos, a democracia e os saberes populares. Leitor compulsivo e cronista do cotidiano, escreve com frequência sobre as experiências urbanas e humanas que marcam a vida nas cidades.


lua cheia 
(pedro viáfora)

a gente anda inseguro
construindo muros no chão
arquitetando no escuro nossa direção
viver de esperança cansa, eu sei
a nossa crença se abalou
mas frases de ódio não vão vingar
chega pra cá pra falar de amor

a gente tá no dia a dia 
e às vezes a alegria não tá
vivendo sem ter companhia ninguém vai chegar
o mundo anda reclamando demais
a fé na vida não firmou 
mas ondas do medo não vão soar
fúria e amargura não vão se impor
deixa a tristeza pra lá

vem cá, a lua tá cheia
vamos contar histórias
falar de coisa boa
vem cá olhar para as estrelas
vamos criar memórias
elogiar pessoas

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Roberto Redford por Walter Salles

 

7 papéis que consagraram Robert Redford no cinema

Giovanna Castro

16 de setembro de 2025
(atualizado 16/09/2025 às 15h52)
Ator morreu aos 89 anos. Ele foi pistoleiro, jornalista investigativo, Jay Gatsby e analista da CIA em seus filmes premiados


O ator e diretor americano Robert Redford morreu nesta terça-feira (16), aos 89 anos, em sua casa em Utah, nos Estados Unidos, de acordo com sua assessoria de imprensa. A causa da morte não foi divulgada. 

Redford apareceu em mais de 50 filmes de Hollywood ao longo de sua carreira, que teve início entre o final dos anos 1950 e o início da década de 1960 no teatro e em séries de televisão. Levou para casa uma estatueta do Oscar de Melhor Diretor por “Gente como a gente” (1980), em 1981, e também recebeu um Oscar honorário em 2002 pelo conjunto de sua carreira. 

Também foi responsável pelo Festival de Cinema de Sundance, que celebra produções audiovisuais independentes e novos talentos, e desde os anos 1970 foi uma voz do ativismo ambiental.

Sua carreira como ator ficou marcada por papéis diversificados. Ele foi o protagonista de filmes de faroeste, adaptações literárias e de histórias que exploraram o escândalo Watergate e seus efeitos nos Estados Unidos.

O ator deixa sua esposa, a artista alemã Sibylle Szaggars, duas filhas, Shauna Schlosser Redford e Amy Redford, e sete netos. Neste texto, o Nexo relembra sua carreira através de sete papéis marcantes.

Charlie “Bubber” Reeves em “A caçada humana” (1966)

Bubber Reeves é um homem do Texas que foi preso injustamente e cujo companheiro de cela o aconselha a escapar da prisão. Após a fuga, seu companheiro mata uma pessoa e foge, deixando Bubber sozinho.

73% é a aprovação do filme no site Rotten Tomatoes, que agrega críticas publicadas por veículos de imprensa

Os cidadãos de sua cidade natal, pequena e à beira da autodestruição, exigem que Reeves seja punido e, sem saber, o foragido embarca em um trem que está indo em direção a eles. Sua esperança é o xerife Calder (Marlon Brando), que nunca acreditou que Bubber era culpado.

Sundance Kid em “Dois homens e um destino” (1969)

Butch Cassidy (Paul Newman) e o pistoleiro Sundance Kid são dois ladrões. Um dia, quando assaltam um comboio, começam a ser perseguidos por um grupo de cowboys liderado por um xerife. A dupla eventualmente foge para a Bolívia em busca de um novo começo.

O filme de faroeste venceu nas categorias de Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original na cerimônia do Oscar de 1970, além de ter sido indicado em Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Som.

Os dois mantiveram uma amizade que durou até a morte de Newman, em 2008, e protagonizaram outros filmes ao longo dos anos.

Johnny Hooker em “O golpe de mestre” (1973)

Outro filme com a dupla Redford e Newman, “O golpe de mestre” tem como pano de fundo Chicago nos anos 1930. Dois vigaristas, Henry Gondorff (Paul Newman) e Johnny Hooker, se unem para executar um plano contra um chefe da máfia. 

7 foi a quantidade de estatuetas que o filme recebeu no Oscar de 1974, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, para George Roy Hill

93% é a aprovação do filme no site Rotten Tomatoes

Por sua atuação como Johnny Hooker, Redford foi indicado ao prêmio de Melhor Ator no Oscar, mas perdeu para o ator Jack Lemmon em “Sonhos do passado” (1973).

Hubbel Gardiner em “O nosso amor de ontem” (1973)

Na universidade, Katie Morosky (Barbra Streisand), uma ativista comunista, começa a se aproximar do popular Hubbell Gardiner, que também se revela um talentoso escritor. Os dois passam a viver uma grande paixão na vida adulta após se reencontrarem, mas a vida deles é cercada por divergências, tanto políticas como em relação à visão de mundo de ambos.

“O nosso amor de ontem” é um dos filmes em que Redford, que também foi considerado um dos galãs de Hollywood entre os anos 1970 e 1980, atua como par romântico. A crítica de cinema Pauline Kael escreveu na revista americana The New Yorker que “Redford nunca esteve tão glamouroso como quando o vemos através dos olhos de Barbra Streisand”.

O longa também recebeu indicações a diferentes premiações, principalmente para Barbra Streisand.

Jay Gatsby em “O grande Gatsby” (1974)

O jovem Nick Carraway (Sam Waterson) se muda para Long Island nos anos 1920 e logo conhece seu vizinho Jay Gatsby. Criador de festas invejáveis, Gatsby está apaixonado por Daisy Buchanan (Mia Farrow), esposa de Tom Buchanan (Bruce Dern).

Dirigido por Jack Clayton e com roteiro de Francis Ford Coppola, o longa é uma das adaptações de “O grande Gatsby”, livro escrito pelo americano F. Scott Fitzgerald.

O filme dividiu as opiniões de críticos. No artigo “Por que eles estão sendo tão maldosos com ‘O grande Gatsby’?”, o escritor Foster Hirsch enumera razões para as críticas, escrevendo, por exemplo, que “Gatsby é um dos maiores perdedores da literatura americana. Será que Redford, com sua beleza masculina padrão, corresponde a essa descrição?”.

Apesar disso, a adaptação alcançou US$ 26 milhões nas bilheterias, contra um orçamento de US$ 7 milhões.


Joseph Turner é um analista da CIA que retorna do almoço e descobre que todos os seus colegas do escritório foram assassinados. Ele foge e começa a tentar desvendar o caso.

O thriller dirigido por Sydney Pollack se alimentou do clima de paranóia e desilusão, principalmente diante do governo, após o escândalo de Watergate.

O crítico de cinema Kevin Maher escreveu no jornal britânico The Times  em 2021 que o filme “não só envelheceu bem, mas também se tornou positivamente profético, ou pelo menos assustadoramente ressonante”.


Em 1974, Redford comprou os direitos de adaptação do livro “Todos os homens do presidente”, lançado no mesmo ano por Bob Woodward e Carl Bernstein.

Woodward e Bernstein, interpretado no filme por Dustin Hoffman, foram os dois jornalistas do jornal The Washington Post responsáveis por descobrir o escândalo de Watergate. A descoberta de uma rede de espionagem e lavagem de dinheiro acaba por levar à renúncia do então presidente Richard Nixon.

O filme foi um sucesso de crítica, vencendo quatro Oscars, e tornou-se uma espécie de “Bíblia” para aqueles que querem se aventurar no jornalismo, afirmou ao Nexo Eugênio Bucci, jornalista e professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em 2022.


Não é PEC da Blindagem, é PEC da BANDIDAGEM!



Entre o mármore, cortinas e carpetes, a Câmara dos Deputados do Brasil é palco de mais uma indecência teatral: a PEC da Blindagem, popularmente conhecida como PEC da Bandidagem

Indigna como farsa, previsível como tragédia. Por 353 votos favoráveis a 134 contrários os deputados aprovaram uma proposta de emenda à Constituição, não para defender e promover a Nação, o Estado ou o Povo, mas para o oposto disso. Uma emenda que ressuscita de porões e gavetas antigas da impunidade, retocada e afinada, pronta para assegurar aos parlamentares e presidentes de partidos políticos a imunidade para o cometimento de crimes. 

Dizem que é para resguardar prerrogativas parlamentares. Mentira! 

Crimes é o que pretendem acobertar. A partir dessa PEC, deputados, senadores e presidentes de partidos políticos só poderão ser processados criminalmente após autorização prévia do Congresso. Sem a autorização deles mesmos, tranca-se o processo até a prescrição, garantida via sucessivas reeleições. E pior, esse trancamento da ação penal será decidido em votação secreta, sem que os pares mostrem a cara aos eleitores. 

Fosse para a defesa justa da prerrogativa parlamentar, como o direito à palavra, atuação ou defesa de ideias, poderiam votar de peito aberto. Mas como faltam ideias e atuações honradas, escolhem a penumbra. Exatamente porque conhecem as indecências que precisam esconder do eleitorado. Emendas secretas, desvio de verbas, chantagem, venda de voto, abuso de poder político e econômico e toda sorte de crimes, até matar. Se há alguns anos estivesse em vigor essa PEC, aquela pastora que assassinou o marido também pastor, não teria sofrido processo, nem a prisão. 

A indecência é tanta que criaram Foro Privilegiado Ampliado para os presidentes dos Partidos Políticos, mesmo que sem mandato parlamentar. Uma sugestão seria designar essa cláusula por “Valdemar”, aquele do Mensalão, que agora preside o partido do Bolsonaro. Também impedem prisão em flagrante, que dependerá igualmente de aprovação prévia dos pares em autodefesa. Ë impunidade até para quem dirige embriagado, e que, por conta do alcoolismo no volante pode atropelar e matar cidadãos. A PEC igualmente limita a atuação judicial em processos e fiscalizações, como no caso de desvios de verba pública.

Entre os 353 votos favoráveis à PEC da Bandidagem há um claro padrão: a extrema direita bolsonarista votou em peso, como no PL e Republicanos (o partido do governador de São Paulo) com 100% dos votos favoráveis. Também no chamado Centrão, com União Brasil e Progressistas, com a amplíssima maioria dos votos favoráveis, assim como no MDB (que já foi um partido respeitável), PSD (25 votos favoráveis e 17 contrários), PSDB (6 a 6, para fazer jus à alcunha de partido do muro do outrora grande partido). Até no campo à esquerda houve defecções (12 no PT, 8 no PSB, 6 no PDT, 2 no PV). Apenas o PSOL, REDE e PCdoB votaram unanimemente contrários à PEC. Importante esse registro para lembrança na hora do voto em 2026. 

A indecência dessa PEC é tão grande que à despeito da indignação nacional eles não recuam; ao contrário, até refizeram votação perdida na cláusula do voto secreto, que obteve votos insuficientes na madrugada e em manobra ilegal foi reintroduzido na hora do almoço para ser aprovado em pequena margem. É uma tentativa de impunidade institucionalizada que vai escancarar as portas do Congresso Nacional para o crime organizado. Afinal, a partir de agora, com um mandato ou um partido na mão, os Chefões do Crime irão conquistar liberdade absoluta.

Povo brasileiro, perceba o absurdo!

Mafiosos, milicianos, facções violentas, corruptos de todo tipo, estarão a salvo quando conseguirem assento do parlamento, aprovando leis conforme seus interesses, desviando verbas, lavando dinheiro do narcotráfico e outros crimes, protegendo operadores. Se não impedirmos essa PEC, a partir de 2026 o Brasil viverá sob um NarcoParlamento. Daí, melhor entregar a chave para o bandido, porque o país não terá mais defesa.

A PEC da Blindagem não é apenas uma peça legal, ela é espelho. Espelho distorcido de um país que vê a si mesmo em meio a tantos absurdos, sob uma história de privilégios, desmandos e injustiças, que agora se agravarão a prevalecer a PEC da Bandidagem. 

Vamos impedir essa indecência!

Ao menos banindo da vida pública todos aqueles que votaram por ela. No caso dos partidos políticos que votaram em peso ou unanimemente, como o partido do Bolsonaro, negar o voto a quem quer que se candidate por essas legendas infames.

O momento é agora. Não é blindagem apenas, é BANDIDAGEM!

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Nota do editor:

A Câmara dos Deputados fazendo retomar com força o que foi descrito pelo poeta Gregório de Matos acerca da Bahia seiscentista

    Triste Bahia

    Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
    Estás e estou do nosso antigo estado!
    Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
    Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

    A ti trocou-te a máquina mercante,
    Que em tua larga barra tem entrado,
    A mim foi-me trocando, e tem trocado,
    Tanto negócio e tanto negociante.

    Deste em dar tanto açúcar excelente
    Pelas drogas inúteis, que abelhuda
    Simples aceitas do sagaz Brichote.

    Oh se quisera Deus que de repente
    Um dia amanheceras tão sisuda
    Que fora de algodão o teu capote!

                                                           Gregório de Mattos

    Do livro "História concisa da Literatura Brasileira", de Alfredo Bosi, Editora Cultrix, 1994, SP.

    Para compreender o poema dentro do contexto em que foi escrito.. aqui

    Caetano Veloso no contexto da ditadura musicou uma parte do  poema entremeado com outras citações. aqui

leia também:

PEC DA BANDIDAGEM: COMO O BRASIL CHEGOU A ESSE PONTO DE TER PARLAMENTARES VOTANDO EM LICENÇA PARA PODEREM ROUBAR, MATAR...E OS ELEITORES COM ISSO?



PEC DA BANDIDAGEM: COMO O BRASIL CHEGOU A ESSE PONTO DE TER PARLAMENTARES VOTANDO EM LICENÇA PARA PODEREM ROUBAR, MATAR...E OS ELEITORES COM ISSO?

 

PEC da BANDIDAGEM. PL e Republicanos são os campeões!!! (não houve um único voto contrário).

A lembrar o Partido Republicano é controlado pela Igreja Universal. (Leia mais AQUI )

Do outro lado, PSOL, REDE e PCdoB foram os únicos com 100% da bancada votando contra essa indecência.

E você, como votará em 2026?

Celio Turino

Apenas nos partidos PSOL, REDE, PcdoB e Novo  100% dos parlamentares votaram Contra!

CÂMARA DOS DEPUTADOS ACABA DE APROVAR A PEC da BLINDAGEM, também conhecida como PEC da BANDIDAGEM (a partir de agora qualquer investigação contra parlamentar sequer pode ter início antes de aprovação dos mesmos). Vai ser uma festa! Todo chefião do crime vai para o parlamento e adquire imunidade eterna, podendo matar, roubar, fazer o que quiser. Que indecência! Perderam todo pudor.

A direita votou em peso! PL, Bolsonaristas, União Brasil, Republicanos, PSD (nesse caso foram 25 votos a favor e 17 contra, ainda assim, minoria, mas no quadro atual, vale ressaltar, por nao ser maioria quase unânime, como nos demais), MDB et caterva. Toda Direita brasileira votou em ordem unida junto com o Centrão.

Mas também 12 deputados do PT e a maioria dos deputados do PSB e PDT. Infelizmente é necessário registrar.

Um bom critério de voto para os eleitores que se dizem honestos (muitos eleitores se dizem honestos e contra a corrupção, mas na hora do voto só escolhem corruptos) seria não reeleger NENHUM dos deputados da PEC da BANDIDAGEM, bem como não votar nos partidos que em sua maioria votaram nessa indecência! 

Mas, honestamente, duvido muito que isso venha a acontecer, a maioria dos eleitores continuará votando na bandidagem, agora com imunidade até para serem investigados. Assim é.


Lula rejeita PEC da Blindagem e aponta manobra de dirigente do União Brasil

Lula rejeita PEC da Blindagem e aponta manobra de dirigente do União Brasil

Presidente se diz contrário à ampliação do foro privilegiado e vê interesses pessoais na proposta

17 de setembro de 2025, 04:05 h

247 – O presidente Lula demonstrou forte resistência à PEC da Blindagem, projeto que cria mecanismos de proteção a parlamentares investigados e amplia o foro privilegiado para presidentes de partidos políticos no Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi divulgada pela coluna de Igor Gadelha, no portal Metrópoles.

Apesar de o Palácio do Planalto adotar a postura oficial de que a proposta não faz parte da agenda do governo, Lula transmitiu pessoalmente ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sua posição contrária. O encontro ocorreu em almoço na segunda-feira (15/9). Mesmo com o sinal claro de rejeição, Motta levou o texto para votação em plenário já no dia seguinte, 16/9.

Críticas à influência de cacique partidário

Em diálogos reservados com assessores, Lula avaliou que há influência direta de Antônio Rueda, presidente do União Brasil, na PEC. Rueda, que hoje não tem foro no STF, poderia ser um dos maiores beneficiados pela mudança. O parecer do relator, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), prevê que “presidentes nacionais de partidos políticos com representação no Congresso” passem a ser processados e julgados pela Suprema Corte.

Atualmente, a Constituição assegura foro especial apenas a presidente e vice-presidente da República, membros do Congresso Nacional, ministros de Estado e ao procurador-geral da República.

Procurado pelo Metrópoles para comentar as críticas, Rueda não respondeu até o fechamento da reportagem. O espaço segue aberto para manifestações do dirigente do União Brasil.

Lula e Rueda já acumulam atritos. Em reunião ministerial realizada em agosto, o presidente comentou a auxiliares que “nem ele gosta de Rueda, nem Rueda gosta dele”, em referência ao líder partidário.

O que prevê a PEC da Blindagem

A proposta estabelece que deputados federais e senadores não possam ser presos, exceto em flagrante de crime inafiançável, e que só possam responder a processos criminais com autorização prévia de suas respectivas Casas Legislativas. Essa autorização dependeria de votação secreta, por maioria absoluta, no prazo de 90 dias após ordem do STF.

Na prática, isso significaria que, na Câmara, ao menos 257 dos 513 deputados precisariam aprovar um processo. No Senado, seriam necessários 41 dos 81 senadores.

https://www.brasil247.com/poder/lula-rejeita-pec-da-blindagem-e-aponta-manobra-de-dirigente-do-uniao-brasil



Veja os deputados que votaram na PEC da Impunidade

Veja quem são, estado por estado, os deputados que decidiram blindar o Congresso ao aprovar a PEC que beneficia parlamentares criminosos




 Na noite de ontem, 16, a Câmara dos Deputados aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), liderada pela extrema direita bolsonarista e pelo centrão, que blinda políticos, especialmente deputados e senadores, de investigações e processos criminais.

O projeto recebeu 353 votos favoráveis e 134 contrários. A matéria é considerada tão absurda que passou a ser chamada de PEC da Impunidade, ou da Blindagem e até mesmo PEC da Bandidagem.

De Sergipe, três deputados federais votaram a favor do projeto: Rodrigo Valadares (União), Gustinho Ribeiro (Republicanos) e Thiago de Joaldo (PP). Já a Delegada Katarina e Fábio Reis, ambos do PSD, e o petista João Daniel disseram não à impunidade. Não votaram Ícaro de Valmir, do PL, e Yandra Moura (União), ambos de atestado médico.

“Votamos não na PEC da Bandidagem! Infelizmente o centrão e o bolsonarismo aprovaram esse texto. Na prática, querem que deputados e senadores que cometeram crimes como roubo ou assassinato só possam ser investigados pela Justiça caso seus colegas permitam. É um tapa na cara do Brasil!”, disse a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

Leia mais AQUI 




INTERCEPT DENUNCIA A MÁQUINA DA IGREJA UNIVERSAL PARA IMPEDIR A VITÓRIA DA ESQUERDA EM 26 | PLANTÃO

 

O site The Intercept Brasil descobriu como funciona a máquina política da Universal para impedir a vitória da esquerda em 2026. Uma reportagem exclusiva de Gilberto Nascimento, especialista no assunto. Vamos entender com Pedro Zambarda no Meteoro?


‘É para a guerra’

Descobrimos como funciona a máquina política da Universal para impedir a vitória da esquerda em 2026.

“Vocês estão preparados ou não estão? É para a guerra. Vocês estão indo para a maior guerra da história de vocês”. Foi assim que Alessandro Paschoal, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, se referiu à situação política do Brasil em um curso preparatório para auxiliares de pastor, no final de março. 

O Intercept Brasil teve acesso a documentos e vídeos que mostram que a maior igreja neopentecostal do país, que diz ter mais de 7 milhões de fiéis, já começou a mobilizar sua base para garantir mandatos aos seus candidatos nas eleições de 2026. 

Os documentos trazem um raro registro de como funciona a máquina de votos da Universal, que começa a operar muito antes do período eleitoral, à margem de qualquer regulação, em uma estratégia que inclui relatórios sobre títulos de eleitores de fiéis, mensagens em grupos de WhatsApp em esquema de pirâmide, visitas domiciliares e muito pânico moral. 

O uso da estrutura da igreja – como seus bilhões de reais e meios de comunicação – para fins eleitorais pode configurar abuso de poder econômico, explicou ao Intercept o advogado Fernando Neisser, professor de Direito Eleitoral da Fundação Getulio Vargas, FGV. 

“Ideias políticas, em tese, não violam nenhuma lei. Um líder religioso que vá a eventos de campanha, suba no palanque de um candidato e diga que os fiéis de tal religião devem votar assim ou assado não viola a legislação”, diz Neisser. “Mas usar uma rede de pastores que recebem salário da igreja com uma missão de fazer campanha política pode configurar abuso de poder econômico”, pontua o advogado. 

O conglomerado do bilionário Edir Macedo, o grande líder da Universal, visa aumentar seu poder político para impor pautas conservadoras e tentar impedir a vitória do PT. A igreja tem hoje um braço político que inclui, além de seus fiéis e religiosos, o partido Republicanos – que tem, entre seus expoentes, o governador de São Paulo e pré-candidato à presidência, Tarcísio de Freitas.

A articulação é organizada pelo Arimateia, grupo de formação política da Universal. O Intercept teve acesso a um dos documentos da coordenação do grupo, que tem um resumo das orientações políticas a serem repassadas a pastores e obreiros de todo o país. 

O processo é complexo, organizado e envolve a estrutura de formação do grupo Arimateia e a capilaridade da igreja, que opera de cima para baixo encaminhando orientações que misturam o discurso religioso com o político aos pastores, obreiros – os ajudantes – e os fiéis. 


Mensagem em que a coordenação repassa a cobrança sobre títulos eleitorais. Foto: reprodução.

Em um informe, a coordenação do grupo Arimateia chega a solicitar que pastores enviem relatórios sobre títulos de eleitor de fiéis novos ou regularizados.

A participação de cada uma das igrejas e dos fiéis nos programas apresentados pela Universal é contabilizada e cobrada pela coordenação, mostram prints de mensagens. Em uma reunião do Arimatéia no início de agosto, os pastores e obreiros foram avisados que deveriam lembrar os fiéis da igreja a regularizarem sua situação eleitoral. 

Se o objetivo da igreja for apenas incentivar e orientar o eleitor onde e como votar, ou montar uma planilha com dados eleitorais da região, a prática não é ilegal, explicou o advogado Fernando Neisser, da FGV. “Mas se for para controlar, de alguma forma, saber se votaram, cobrar se votaram, aí é coação eleitoral. É um crime”, afirma.

“A justiça eleitoral costuma ver com maus olhos isso, porque sabe que muitas vezes envolve esquemas ilegais de compra de votos. Quem compra voto, muitas vezes quer listagem de título, para procurar na urna se teve o voto no candidato tal, ainda que não vá saber quem foi que deu o voto”, complementa o advogado. 

Procurada, a Igreja Universal não respondeu aos questionamentos do Intercept.

Tarifaço virou ‘guerra espiritual’ 
O bilionário Edir Macedo, fundador da Universal, tem hoje sob os seus domínios um verdadeiro império: além da igreja, que segundo o IBGE tem 1,8 milhão de fiéis, é dono também da TV Record, o banco Digimais e mais de 120 outras empresas. E tem também o partido Republicanos, que conta com 44 deputados federais, quatro senadores e 433 prefeitos. 

Agora, para ampliar seu poder político, a igreja tem intensificado as ações do grupo Arimateia para garantir a eleição dos candidatos que apoia – e uma das formas de fazer isso é enviando links com vídeos e entrevistas em podcasts com mensagens políticas.

Quem aparece nas mensagens é o coordenador nacional do Arimateia, bispo Alessandro Paschoal, responsável por preparar os fiéis da igreja para atuar na política. Ele tem experiência: além do grupo, também trabalha como chefe de gabinete do deputado estadual por São Paulo Gilmaci Santos, do Republicanos, também pastor da Universal. 

Pelo cargo de assessor, Paschoal recebeu, em julho, salário bruto de R$ 34,7 mil da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Nas mensagens enviadas aos fiéis, Paschoal mistura religião e política em um tom dramático, como se derrotar a esquerda fosse uma obrigação espiritual. Em um vídeo publicado em agosto, por exemplo, Paschoal chama a atenção dos “cristãos conservadores” para a possibilidade do tarifaço de Donald Trump, presidente dos EUA, dar a vitória para a esquerda no Brasil. 

Ele compara a situação ao Canadá e México, onde, segundo o bispo, as eleições estavam “praticamente ganhas” pelos conservadores, mas a esquerda usou o tarifaço para “dar um up” na campanha e acabou vitoriosa. 

“Há um mês atrás, estávamos tão seguros e tão próximos de ter uma virada em 2026, e que seria tão importante para o Brasil”, lamentou o bispo, convocando os fiéis a “tomar muito cuidado e orar muito”. “Nós estamos, além de uma guerra tarifária, além de uma guerra política aqui no Brasil, de lados, estamos vivendo uma guerra espiritual”, conclamou. 

Vídeos como esse, e as demais orientações políticas da Universal, são encaminhados por Paschoal aos coordenadores regionais nos estados e depois repassadas aos pastores, até chegar aos ajudantes e fiéis, conforme detalhou ao Intercept um pastor da igreja, mantido no anonimato por ainda estar na ativa e temer represálias. 

Segundo esse pastor, já estão em produção programas e entrevistas com líderes da Universal falando sobre política e, também, com candidatos a deputados estadual e federal apoiados pela igreja em todos os estados do país. Cada templo da Universal, então, se encarrega de distribuir aos fiéis links dessas entrevistas com os candidatos de sua região, de acordo com o religioso.

Nas orientações a pastores de Goiás, por exemplo, a coordenação local do grupo Arimateia informou que seriam feitas entrevistas com os religiosos Wellington Cardoso, pastor e membro da coordenação regional no estado e pré-candidato a deputado estadual, e Ricardo Quirino, pastor e atualmente deputado estadual pelo Republicanos, pré-candidato à Câmara Federal

Pastores e obreiros da igreja no estado foram orientados ainda a copiar e imprimir o código QR de redes sociais dos pastores Cardoso e Quirino para repassar aos fiéis e pedir que eles passassem a seguir os dois religiosos.

Com a estrutura de produção de conteúdo montada, os pastores são obrigados a dar retorno para a coordenação do grupo Arimateia sobre o número de fiéis que acompanham cada programa de entrevista de líderes da igreja com discursos e mensagens políticas. 

Templos maiores ficam com a obrigação de garantir a participação de 700 fiéis em cada programa, com o envio de perguntas e comentários. Já as igrejas menores devem garantir 300 fiéis cada uma. Na Universal, é comum que pastores sejam cobrados a cumprirem metas – e os que não cumprem podem ser punidos e enviados para igrejas menores. 

Não fica claro, nas mensagens, se há algum outro incentivo para mobilizar os grupos.

Mensagem detalha as metas, de que variam de acordo com o tamanho das igrejas. Foto: reprodução.
Grupos de WhatsApp e visitas ‘de oração’ em casa

A Universal também está montando uma estrutura de grupos – presenciais e virtuais –, mostram os documentos obtidos pelo Intercept. Com o projeto “Me dê a mão”, os obreiros ajudantes de pastor, a mais baixa escala religiosa, são incentivados a criar grupos no WhatsApp com até 12 membros da igreja. 

É como um esquema de pirâmide: cada um desses integrantes, depois, deve criar um novo grupo com mais 12 pessoas para enviar, inicialmente, orações, mensagens de fé e conforto espiritual, conforme relata Davi Vieira, que foi pastor da Universal entre 2003 e 2008 e atualmente mantém um canal crítico nas redes sociais sobre a igreja.  

Os fiéis são orientados a convidar familiares, vizinhos e conhecidos, explica Vieira, que é sobrinho de dois bispos da Universal. Na sequência, ele afirma, são repassadas também informações, comentários políticos e áudios e vídeos vindos da coordenação do grupo Arimateia.

É aí que, próximo das eleições, o grupo se transforma, segundo Vieira. Com a confiança obtida junto a novos membros e simpatizantes, os obreiros e fiéis da igreja perguntam se as pessoas aceitam receber materiais de “uma pessoa que eu gosto e me ajuda muito”, afirma o ex-pastor. Essas pessoas que “ajudam muito” o obreiro são, segundo ele, os candidatos apoiados pela Universal.

Já no projeto “Núcleo no Lar”, de acordo com Vieira, a igreja leva obreiros de casa em casa para grupos de oração. Familiares, vizinhos e conhecidos dos fiéis são convidados. 

“Usa-se o pretexto de levar orações, mas, lá nas residências, depois que vão aparecendo novos adeptos e todos já estão integrados, os obreiros, então, deixam os nomes e números dos candidatos apoiados pela igreja”, afirma o ex-pastor.   

Universal ainda não escolheu quem apoiará para a presidência
Embora a igreja já tenha candidatos ao legislativo, os nomes de candidatos a presidente e governadores a serem apoiados ainda não estão definidos. Em agosto, no programa True Podcast, o bispo Alessandro Paschoal disse que “o candidato ‘nem nem’ [referência a Lula e Bolsonaro, que não devem ser apoiados] ainda não existe”. 

Mas, segundo os recados enviados aos fiéis pelo bispo Paschoal em seus programas e também por outros políticos do Republicanos, o candidato a presidente escolhido será um atual governador. 

Tarcísio de Freitas, de São Paulo, que também é do Republicanos, é quem aparece com mais chances; depois vêm Ratinho Junior, do PSD do Paraná, e Ronaldo Caiado, do União Brasil de Goiás. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo, é visto como um nome com poucas chances eleitorais, segundo o assessor do Republicanos Guto Ferreira avaliou no podcast.

A Universal costuma deixar a decisão para a última hora e tende a apoiar, quase sempre, apenas candidatos que têm chances reais de vitória. 

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Às vezes, pode dar uma guinada, como fez em 2018 ao abandonar no meio do caminho o seu então candidato Geraldo Alckmin, atual vice de Lula – ex-PSDB e hoje no PSB –, e embarcar na canoa de Jair Bolsonaro, então no PSL, às vésperas do primeiro turno, quando ele já demonstrava ser o favorito. 

No passado, a Universal apoiou os governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, entre 2003 e 2014; depois, o de Michel Temer, do MDB, que assumiu após o impeachment de Dilma. Em seguida, aderiu a Bolsonaro. 

Agora, apesar de o Republicanos ter um ministério no governo petista – o ministro Sílvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos –, e cargos no governo federal, a Universal, ao menos até o momento, não deve caminhar ao lado do PT. A igreja e os membros do partido alegam que a indicação de Costa Filho teria sido pessoal de Lula. 

A Universal também já dava indícios de ter abandonado o aliado Bolsonaro desde o início de agosto, bem antes de começar o julgamento do ex-presidente da República, por meio da manifestação de seus líderes, optando por um novo nome no campo da direita. 

No curso destinado a obreiros da igreja, Paschoal disse não se sentir feliz ao ver “um cara sair de dentro do presídio e assumir a presidência do Brasil”, referindo-se a Lula. E criticou também seguidores de Jair Bolsonaro responsabilizando-os pelo quebra-quebra e a tentativa de golpe no 8 de Janeiro, em Brasília, e dizendo que “a Bíblia não ensina ninguém a invadir lugar público”.

Em ao menos duas oportunidades, o bispo insinuou que o irmão de Lula, o metalúrgico e ex-sindicalista Frei Chico, estaria envolvido no esquema de descontos ilegais de segurados do INSS. Bolsonaro foi criticado ainda pela maneira como conduziu a pandemia do coronavírus no Brasil e por ações que teriam beneficiado seus filhos na vida política.  

2026 já começou, e as elites querem o caos.

A responsabilização dos golpistas aqui no Brasil foi elogiada no mundo todo como exemplo de defesa à Democracia.

Enquanto isso, a grande mídia bancada pelos mesmos financiadores do golpe tenta espalhar o caos e vender a pauta da anistia, juntamente com Tarcísio, Nikolas Ferreira, Hugo Motta e os engravatados da Faria Lima.