informações sobre ações culturais de base comunitária, cultura periférica, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
O modelo de educação predominante na maioria de nossas escolas aprisiona corpos e mentes, o contrário do caminho da arte, espaço-tempo de libertação, desde que não seja uma arte voltada apenas para gerar lucro, para o consumo, o que também predomina nestes tempo confusos. A redução dos conteúdos curriculares de arte a apenas uma hora semanal dão bem um indicativo dessa realidade e da intenção.
E falar em liberdade como prática artística e cultural, é falar no desenvolvimento de outras inteligências negligenciadas pela escola que aprisiona, além das duas primeiras que constam na lista abaixo, as que são mais reconhecidas como importante pelos sistemas de ensino atual com marcadores bem definidos para preparar mão de obra ajustada ao trabalho repetitivo, estafante, pouco criativo, em suma, o trabalho alienado e precário realizado por um trabalhador conformado e a ajustado ao trabalho sub-remunerado e sem condições dignas em na maioria dos casos.
•Linguística: Habilidade com palavras, seja na escrita ou na fala.
•Lógico-matemática: Capacidade de raciocínio lógico, cálculos e resolução de problemas.
•Musical: Habilidade com sons, ritmo, melodia e apreciação musical.
•Corporal-cinestésica: Uso do corpo para expressar ideias e sentimentos, como em dança ou esportes, e para manipular objetos com destreza.
•Espacial: Habilidade de perceber o mundo visual e espacial de forma precisa.
•Interpessoal: Capacidade de compreender e interagir bem com outras pessoas.
•Intrapessoal: Autoconsciência, entendimento das próprias emoções, motivações e habilidades.
•Naturalista: Habilidade de reconhecer, classificar e se relacionar com a natureza e o meio ambiente.
•Existencial (ou espiritual): Capacidade de refletir sobre questões profundas da existência, como o sentido da vida, a morte e o lugar do ser humano no universo.
As inteligência múltiplas apresentadas acima na definição de Howard Gardner colaboram para o desenvolvimento do nosso potencial existencial e criativo, assim uma educação com arte e intencionalmente voltada para afirmar a nossa liberdade inventiva também permite nos recriarmos, nos ressignificarmos, reexistirmos, nos tornando pessoas melhores colaborando para fazer o mundo a nossa imagem e semelhança, e isso não pode prescindir da educação pela arte, dentro e fora da escola.
A canção abaixo nos ajuda a lembrar sobre o que causa uma escola sem espaços e tempo suficientes para práticas artisticas e culturais de uma maneira mais ampliada e consistente, ou seja, as consequências que impactam a saúde mental e também fisica.
Fora o quanto agrava o problema da falta de práticas do exercício da cidadania, incluindo aqui a participação social, porque as práticas artistica-culturais é um exercicio de trabalho em equipe, de respeito pelo diferente, da prática da negociação, auto aceitação, do exercicio da argumentação, do acesso a informações sobre politica, direitos humanos e etc.
A pesquisa Juventudes: Um Desafio Pendente é uma iniciativa da Fundação Friedrich Ebert (FES) que reúne dados e análises sobre as posições políticas das juventudes em relação à democracia, suas formas de participação e sua percepção sobre as agendas políticas atuais. Realizada em 14 países da região, a pesquisa oferece um panorama inédito sobre como jovens de 15 a 35 anos veem a democracia, o papel do Estado, as desigualdades e o futuro.
No caso brasileiro, o estudo evidencia a complexidade e a diversidade das juventudes, marcadas por desigualdades históricas, mas também por esperança e desejo de transformação. Em meio à precarização do trabalho, ao avanço de discursos conservadores e à crise de confiança nas instituições, as juventudes brasileiras demonstram forte compromisso com a justiça social, a democracia e os direitos humanos.
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CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE?
Os mais jovens não conhecem a história da Scuderie Le Cocq, organização paramilitar criada no Rio de Janeiro que, no fim dos anos 1960, tornou-se o primeiro grupo de extermínio do Rio.
Os mais velhos associam seu nome à criação do Esquadrão da Morte.
A lista de fundadores da Scuderie estava cheia de policiais que nunca esconderam seu histórico de violência. Ela tinha estatuto e sede, e apoio público de jornalistas, empresários, advogados e até de juízes e desembargadores.
O slogan “bandido bom é bandido morto”, foi criado por seus membros. O símbolo do grupo era uma caveira com ossos cruzados e a siga EM (o símbolo do BOPE é uma caveira com duas pistolas cruzadas. A semelhança será mera coincidência?).
Naquela época, boa parte da sociedade aplaudia as execuções do grupo. Hoje, segundo dados de pesquisa do Instituto Datafolha, realizada após a operação policial nos Complexos da Penha e Alemão, a mais letal da história do Rio, 51% dos cariocas ainda concordam com o que prega a máxima do grupo.
Com o tempo, quase todos seus integrantes ou foram mortos ou acabaram presos por suborno, obstrução da Justiça, abuso de poder e envolvimento com bicheiros.
Na verdade, o que se vê na política de segurança do Rio, hoje, são as mesmas práticas que a velha Scuderie Le Cocq e seus “homens de ouro” praticavam: extermínio sumário, violência policial, chacinas, incursões letais nas favelas.
Não dá para apoiar esse tipo de ação. Para combater as facções criminosas que oprimem e se impõem na base do terror nas favelas do Rio, sejam traficantes ou milícias, é preciso usar um trabalho de inteligência e, ao mesmo tempo, ocupar o território com educação, esporte, cultura e saneamento.
Leva mais tempo do que um dia de morticínio. Mas a questão aqui é outra: civilização ou barbárie.
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Telhado na Cidade de Deus diz: "Aqui tem crianças, sonhos e famílias"
ONG chama atenção de autoridades para incursões com helicópteros
Considerada uma das regiões mais perigosas da capital fluminense - devido a confrontos nas favelas da área - o bairro da Cidade de Deus, no Rio, ganhou uma faixa dias antes da Operação Convenção, chamando a atenção de autoridades para preservar a vida das famílias durante incursões policiais com auxílio de helicópteros.
A faixa foi colocada no último dia 24, no telhado da organização não governamental (ONG) Nóiz, localizada no coração da Cidade de Deus, em área conhecida como Karatê-Rocinha 2. O alerta diz “Calma! Aqui tem sonhos, crianças e famílias”.
A casa, grafitada em cores vibrantes, onde a ONG Nóiz funciona desde 2018, já foi alvo de tiros vindos de helicópteros, que destruíram uma caixa d’água, há quatro anos.
“A gente precisava chamar a atenção de alguma maneira para dizer que, embora saibamos que a comunidade toda tem famílias, tcrianças, aqui, em especial, a gente passa o dia inteiro em atividade. Sempre foi temeroso ser alvo de helicóptero. Então, decidimos colocar a faixa para chamar a atenção das autoridades”, disse, nesta sexta-feira (31), à Agência Brasil o presidente da ONG, André Melo.
Ele reforçou que a região já foi objeto de incursões sérias da polícia e a preocupação era que as equipes da ONG e as pessoas da comunidade assistidas não corressem risco de morte no local.
Atendimentos
Atualmente, estão cadastradas na ONG 250 crianças. Entre crianças, jovens e adultos que frequentam o local diariamente, são cerca de 120 pessoas. A organização funciona de segunda-feira a sábado, das 8h às 18h. Há atividades regulares que ocorrem no contra turno das crianças nas escolas. “A gente tem dança contemporânea, balé, teatro, jiu jitsu, reforço escolar, tem um projeto de apoio à alfabetização chamado Soletrar, tem uma lan house social disponível para acesso à internet. Isso é comunitário, qualquer pessoa pode usar”, citou Melo.
Além disso, a ONG Nóiz disponibiliza para a população local uma biblioteca que funciona desde a manhã até as 18h, apoio psicológico, além de terapeuta ocupacional para ajudar no tratamento de oito crianças autistas. “Isso tudo funciona durante a semana”.
Faixa em telhado na Cidade de Deus para evitar tiros de helicópteros no local. Foto: ONG Nóiz/Divulgação
Aos sábados, há a atividade chamada Sábado do Acolhimento, que atende entre 40 e 50 crianças que realizam atividades lúdicas no local. Outras ações no sábado incluem o pré-vestibular social, em que os jovens entram às 8h e saem à tarde, preparando-se para o ingresso na universidade, além do plantão da assistente social, que começa cedo e se encerra às 13h.
Cuidado
Questionado se a colocação de faixas semelhantes em outras comunidades ajudaria a diminuir tragédias, como a resultante da Operação Convenção, realizada pelo governo do estado na última terça-feira (28), André Melo ressaltou que é necessário que se tente fazer tudo o que for possível para chamar a atenção e para que as autoridades tenham mais cuidado.
“A gente não tem certeza se isso (faixa) é eficaz, porque não sabe o que passa pela cabeça das pessoas, principalmente de cima para baixo.” Ele acredita, porém, que tudo é válido para se tentar de alguma maneira diminuir um pouco a sensação de insegurança nas comunidades.
André Melo não é cria de favela, mas virou um empreendedor social. “Eu moro no asfalto, aprendi a viver aqui hoje. Larguei tudo na minha vida e estou na ONG todo dia, das 10h às 18h. Sou publicitário de formação. Então, se aprende com outro olhar a entender de fato o que é isso aqui e se cercar de possibilidades, de alternativas, para se proteger também”. Ele acredita que mesmo que se estendesse uma faixa branca nas favelas do Rio, apenas com a palavra escrita PAZ, já seria válido.
Demandas
A ONG Nóiz conta com voluntários que se dedicam ao projeto diariamente, “com o coração”, embora os professores sejam pagos. No total, trabalham no local 15 pessoas. “Todos estão dentro do mesmo propósito. O trabalho é realizado muito em função do que a comunidade demanda. Ações relativas à saúde mental têm sido acompanhadas de palestras de psiquiatras sobre o tema, há atendimento psicológico com as mães e as grávidas são acompanhadas até os seis meses de vida dos bebês, por exemplo. São estruturas que a gente vai montando para atender a comunidade.”
Na avaliação de André Melo, o Estado não cria referências para as crianças e jovens das comunidades, ou seja, não tem um olhar para elas. Ele sugeriu que os projetos de organizações não governamentais, que dão certo, deveriam ser mapeados e replicados pelo governo.
“A gente tem uma fila muito grande de espera de famílias que querem botar as crianças aqui e nota, perfeitamente, que existe um desespero por conta delas de colocar as crianças para terem referências aqui dentro.”
Melo lamentou que o Estado não enxergue a maneira de tentar transformar as crianças e jovens com um outro olhar. “É o que a gente tenta fazer aqui”.
Ele concluiu que, enquanto a sociedade olhar para as comunidades de forma apartada, como se morassem em outro mundo, nada vai dar certo.
Desembargador de SC manda carta à moradora do Complexo da Penha: ‘Estou andando ao seu lado’
Magistrado tomou posse em março e viralizou com discurso sobre ameaças do fascismo
04/11/2025 | 06h58
Desembargador de SC manda carta à moradora do Complexo da Penha: ‘Estou andando ao seu lado’
O desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), João Marcos Buch, conhecido durante seu período na Vara de Execuções Penais de Joinville por enviar cartas a detentos e seus parentes, redigiu um longo texto para uma mulher desconhecida no Rio de Janeiro. “Dona Nice” está a quilômetros de distância, mas enfrenta uma realidade que, na magistratura, ele tenta combater.
A senhora, abordada por uma emissora de televisão enquanto retornava para casa após a Operação que vitimou 121 pessoas no Rio de Janeiro, fez com que o magistrado se sentisse profundamente comovido. Ao longo da carta, ele cita ação conhecida como “ADPF das favelas”, que ele considera não ter sido “muito bem respeitada” pelas forças de segurança.
Buch explica, no texto, pontos que fazem parte da lei e que podem ter sido violados. Entre eles estão o uso proporcional da força, câmeras nas viaturas, elaboração de um plano de reocupação de territórios invadidos por organizações criminosas e a entrada da Polícia Federal nas investigações contra milícias e tráfico de drogas interestadual e internacional.
O magistrado, cujo discurso de posse como desembargador viralizou nas redes sociais no início do ano ao mencionar o termo “fascismo”, também escolhe o termo “chacina” para falar sobre a operação e suas consequências “extremamente letais sobre as comunidades marginalizadas”.
No texto, ele também questiona a “fórmula do confronto”, que considera “fadada ao fracasso”. “Por que é tão difícil que governos e autoridades entendam que somente políticas públicas inclusivas, articuladas à segurança pública, podem trazer benefícios reais para toda a sociedade?”.
Leia a íntegra da carta, repassada à colunista:
Uma carta para dona Nice
Querida dona Nice,
escrevo-lhe com afeto e respeito.
Meu nome é João Marcos, moro em Santa Catarina e trabalho com a Justiça. Sou desembargador, nome dado a juízes que atuam em recursos nos tribunais.
Na última terça-feira, vi sua entrevista no jornal da TV. A senhora voltava para casa, com sacolas de supermercado nas mãos, e foi parada por uma repórter que queria saber sobre a chacina ocorrida mais cedo nos complexos da Penha e do Alemão, onde mais tarde se viria a constatar que 121 pessoas (pode ser além) haviam sido mortas, na mais sangrenta intervenção da segurança pública já ocorrida no Rio de Janeiro e no Brasil dos tempos atuais.
Sua entrevista me marcou profundamente. Moradora desde sempre da Penha, a senhora disse que já não tinha mais esperança, que, nessa altura da vida, tendo visto tanta tragédia, tantas operações policiais, tantas pessoas próximas assassinadas, não acreditava mais que um dia a vida melhoraria — tudo era tristeza. Em seguida, a senhora se despediu da repórter e retomou seu caminho para casa, cambaleante, cansada, segurando as sacolas.
Hoje já é domingo; faz cinco dias que eu penso na senhora, faz cinco dias que estou andando ao seu lado, faz cinco dias que tento carregar as suas sacolas até sua casa. Por isso, querida Dona Nice, com o coração inquieto, mesmo sem saber nada da sua vida, senão o fato de que a senhora perdeu a esperança, resolvi lhe escrever.
Eu sei que esta carta nunca chegará a seu destino, pois nunca a postarei. Impotente que sou para modificar um átomo de sua vida e para lhe oferecer uma centelha de esperança, escrevo-lhe porque não consigo fazer diferente, porque não sei mais se a esperança também me abandonou.
Assim como nas favelas de Florianópolis, já estive em favelas do Rio; já me encharquei da beleza e da bondade de pessoas que tão bem me acolheram. E já testemunhei muita dor e injustiça. Entretanto, o fato é que nada mais conheço, além de que a vida de quem mora nessas comunidades periféricas é carente de direitos e de oportunidades.
Sabe, Dona Nice, sempre tive o cuidado de não me arvorar em senhor das verdades, e me incomoda muito ver quem acha que sabe de tudo — cegado por redes sociais e algoritmos —, pessoas com quem é impossível argumentar com base em fatos e lógica. É desolador ouvir suas vozes celebrando a chacina, justificando o horror com acusações sem conhecimento de causa sobre crimes antes cometidos. De onde vem esse ódio? De que veneno se alimentam esses seres humanos? Onde está sua bondade, sua compaixão?
Fico a pensar o que essas manifestações causam na senhora, que tanto já testemunhou e viveu. Será que a senhora ainda chora, ainda se revolta com a opressão e a violência que sua comunidade sofre? Essa chacina, para mim, que vivo em um apartamento confortável, localizado em um bairro seguro, saneado, arborizado, com espaços de cultura e lazer, provocou espanto, lamento e indignação. Porém, quando a pessoa tem sua dignidade tão ferida e há tanto tempo, ela acaba perdendo a consciência de que aquela situação fere de morte seus direitos. Então, não sei o quanto isso tudo lhe afetou; só sei que a esperança lhe foi roubada.
Em meus estudos e em meu trabalho, aprendi algo sobre o fenômeno da violência urbana. Depois de algum tempo procurando entender nossa sociedade, tomei conhecimento de que a fórmula do “confronto” na segurança pública é fadada ao fracasso (a senhora sabe disso bem antes de mim). Essa fórmula ceifa vidas de todos os lados e não supera as dificuldades das comunidades vulnerabilizadas. Por que é tão difícil que governos e autoridades entendam que somente políticas públicas inclusivas — de habitação, saneamento, saúde, educação, empregabilidade, cultura e lazer — articuladas à segurança pública, podem trazer benefícios reais para toda a sociedade?
No país, nós temos o Supremo Tribunal Federal (STF). Pois bem, a mais alta corte da Justiça definiu, em uma ação proposta pelo Partido Socialista Brasileiro (ADPF n.º 635, conhecida como ADPF das Favelas), que o governo do Rio deve seguir diversas regras nas operações policiais, como o uso proporcional da força, câmeras nas viaturas, elaboração de um plano de reocupação de territórios invadidos por organizações criminosas, bem como a entrada da Polícia Federal nas investigações contra milícias e tráfico de drogas interestadual e internacional. Olha, Dona Nice, parece que o Supremo não foi muito bem respeitado. Creio, inclusive, que logo logo autoridades terão de prestar contas.
Aliás, até a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do seu Alto Comissariado dos Direitos Humanos, declarou que essa operação policial — que eu chamo de chacina — ampliou a tendência de consequências extremamente letais sobre as comunidades marginalizadas e enfatizou que as autoridades têm obrigação perante as leis internacionais de direitos humanos.
Mas o que isso importa, não é? A chacina já aconteceu, vidas foram ceifadas, até policiais morreram — e não consigo imaginar a dor das famílias que tiveram seus entes sequestrados de suas vidas para todo o sempre.
Ainda sinto que um dia a justiça alcançará a todos os cidadãos, que as instituições funcionarão conforme a Constituição e que a dignidade da pessoa humana será, em definitivo, fundamento da República.
Dona Nice, inspirado na leitura de um livro chamado Antes que as Palavras te Abandonem, de um grande amigo, Leonardo Tônus, em que um imigrante, à procura de um amigo refugiado afegão em Berlim, escreve-lhe cartas, eu lhe digo que, se pudesse, eu a abraçaria e afirmaria, com o coração aberto, que não importa mais o resultado da luta, mas a capacidade de entender o seu chamado.
Dona Nice, neste Brasil tão sangrento, de séculos de escravidão, racismo, patriarcado e colonialismo, não tenho o direito de lhe pedir que volte a ter esperança. Entretanto, ouso lhe pedir outra coisa: atenda nosso chamado, não desista de mim, não desista de nós, não desista da humanidade.
Querida Dona Nice, a senhora é a nossa esperança, volte,
João Marcos Buch
Desterro, 02/11/25 – finados
PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR
Dos 69 citados pelo MP na investigação que deu origem à megaoperação no Alemão/Penha, nenhum consta na lista dos mortos identificados até o momento. Estão presos? Fugiram?
Os chefões do CV na região - "Doca", "Gardenal", "BMW", "Bafo" e "Grandão" - não foram presos. Segundo a Polícia Civil, "Grandão" possuía um telefone exclusivo para se comunicar com PMs. Será que os “grandões” tiveram informações privilegiadas para escapar?
Essas operações espetaculares só atingem o "andar de baixo"? E os "barões" do narconegócio, ficam intocáveis nas coberturas e mansões? Cortaram a cabeça de Iago, 20 anos (barbárie), mas os cabeças, que não são favelados, nunca são achados? E o curso do dinheiro, ninguém segue?
Por que nada se fala de uma "ocupação social" nas áreas objeto da ação mais violenta da história do país? Não estão preocupados com o dia seguinte, com a população trabalhadora?
O 28 de outubro de 2025 foi "planejado" de olho no 4 de outubro de 2026, dia das eleições nacionais?
A extrema direita, que andava sem rumo, vai se aglutinar, "triunfante", em torno da pauta do populismo penal? "Quanto mais mata, mais resolve"?
Classificar traficantes como "terroristas" - como se não houvesse tipificação suficiente de seus graves crimes - não visa dar base à intervenção norte-americana por aqui, como Trump já faz em mares próximos e Flávio Bolsonaro sugeriu, na Baía de Guanabara?
Por que não votam a Pec da Segurança Pública? Vão apoiar o PL do combate às facções?
O jornalista Bernardo Mello Franco, em seu artigo "O marketing da matança" (O Globo, 31/10/25), relembra: "Em 2018, o Rio elegeu Wilson Witzel, que prometia abater bandidos à base de 'tiro na cabecinha'. Ele não libertou as favelas da tirania do tráfico e foi cassado em meio a um escândalo de corrupção. Mês passado a polícia prendeu o deputado THJoias, acusado de contrabandear armas e lavar dinheiro para o CV. Ele era aliado do atual governador, que chegou ao poder como vice de Witzel".
A "firmeza" do governo estadual é a de uma estaca no brejo do cinismo, da incoerência, da falta de preocupação séria com a segurança da população.
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Presidente Lula sobe o tom contra o massacre de Cláudio Castro no Complexo do Alemão | 04.11.25
Leonel Brizola sobre criminalidade e violência contra população periférica | 1989
Quando o Estado elege a pobreza como inimigo e a execução como política, a Constituição Cidadã é reduzida a um mero epitáfio para os que morrem em sua suposta proteção
“Peço que olhe por ela” (Gilberto Gil e Milton Nascimento).
“Identificar um falso inimigo é sempre útil para atenuar a ansiedade provocada pela complexidade fenomênica e desviar do caminho certo os esforços para remediar os males.” ((ZAFFARONE, Eugênio Raul. Direito Penal-I).
O presente texto se propõe a demonstrar a ilegalidade no argumento do governador Cláudio Castro que, ao ser questionado a respeito da megaoperação vitimizadora de, até o momento, cento e vinte e um cidadãos, justifica-a com o seguinte argumento: eram todos suspeitos, a operação foi um sucesso.
Esse argumento não contraria apenas a ética que permeia uma sociedade pretensamente civilizada, mas vai de encontro a institutos presentes em nossa Constituição Federal, pactos de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário e leis infraconstitucionais, tal e como o Código Penal e de Processo Penal.
Veja, caro leitor, não é uma questão de opinião, de forma de ver o mundo, não se trata de escolha individual e, sim, de escolha civilizatória de nação. O que ocorreu foi ilegal, inconstitucional! Veja-se que no Preâmbulo da Carta Cidadã de 1988, o Poder Constituinte Originário deixou claro o que o Brasil desejava naquela imediata pós-ditadura: que a sociedade brasileira perseguisse os caminhos do Estado democrático de direito, ressaltando a solução pacífica dos conflitos. É visível que não conseguimos!
Mas, essas normas servem como norte no processo de civilização coletivo e individual. “Como a raiva é filha do medo e mãe da covardia” (Chico Buarque), em metrópoles que estão cada vez mais violentas, há um ímpeto selvagem em ansiar por exterminar, ou aplaudir o extermínio daqueles que são considerados inimigos do povo.
Reconhecer isso não é aval para liberação desse tipo de conduta ou fala. Ao contrário, é obrigação de que, enquanto sociedade e individualmente haja o exercício do pensamento racional para sufocar os impulsos bestiais. A Constituição de 1988 reflete exatamente isso: a escolha de uma sociedade recém-saída de uma ditadura civil-militar, por distanciar-se da truculência que leva a porões irrespiráveis, sufocantes e infectos. Naquele momento a sociedade fez a escolha por um Estado que prefere o cérebro ao fígado como conselheiro.
O que percebemos na cidade de São Sebastião foi o Estado agindo no extremo oposto à decisão do constituinte, voltando a força letal contra o titular da Constituição: o povo
Mas vamos à fala do governador que, para justificar massacre, trocou a palavra vítima por suspeito.
Primeiramente é necessário esclarecer o que é ser suspeito à lente do Código de Processo Penal: é aquele que sequer foi investigado. Não há provas, indícios. Literalmente, recai sobre ele somente suspeita!
Mas ainda que se considerem todas as vítimas os mais ignóbeis dos criminosos, mesmo assim, de acordo com o Código de Processo Penal, instituído em plena ditadura do Estado Novo (1941), há um conjunto de procedimentos a serem percorridos. Primeiramente seriam investigadas. Havendo indícios de autoria e materialidade, processadas dentro do devido processo legal e, uma vez provado o crime, condenadas às penas previstas no Código Penal e na Constituição. Esta, por sua vez, em seu art. 5º traz a proibição de penas cruéis, desumanas, tortura, e pena de morte.
Aliás, é preciso frisar que a proibição desses tipos de pena representa o processo de civilização da sociedade, uma evolução. Agora, mesmo nos Estados onde há a possibilidade da pena de morte, esta pode ser considerada menos bárbara do que o ocorrido no Rio de Janeiro, pois a pena capital exige processo, defesa, prova, julgamento. O que o Rio de Janeiro vivenciou demostrou algo que retroage até mesmo à pena de morte, cuja proibição já é uma conquista consolidada em diversos Estados.
E aos que defendem a implantação da pena de morte no Brasil, é importante lembrar que há o princípio da vedação ao retrocesso impedindo a mitigação de direitos fundamentais por legislação infraconstitucional e até mesmo por emenda constitucional. Portanto, não! Não há a possiblidade de implantarmos a pena de morte até mesmo porque se trata de cláusula pétrea constitucional, isto é, imodificável, na inteligência do art. 60, § 4, inciso IV.
E essas conquistas, vedação às penas cruéis, à tortura, à pena de morte e o direito de ser julgado dentro do devido processo legal encontram seus fundamentos na dignidade da pessoa humana, que, mais do que princípio, é valor constitucional. É importante ressaltar a historicidade liberal desses direitos, não só advindos das revoluções burguesas, como encontram seu marco jurídico no chamado constitucionalismo liberal. São os direitos de primeira geração.
Todavia, em se tratando de justiça penal, todos esses direitos individuais e mesmo os direitos voltados à justiça social, podem ser considerados meras alegorias jurídicas se não enfrentarem algo que Raul Eugênio Zaffarone denomina seletividade penal, cujo termo já traz em si seu conceito, mas, em resumo, pode ser definido como a criminalização da população vulnerável. É, em curtos termos, a certeza de que esse massacre jamais ocorreria no Leblon.
Inclusive, o óbito dos policiais nessa operação também demonstra que há um único alvo: a pobreza! Nesse sentido explica Raul Eugênio Zaffarone: “Se considerarmos que os criminalizados, os vitimizados e os policializados (ou seja, todos aqueles que sofrem as consequências desta suposta guerra) são selecionados nos estratos sociais inferiores, cabe reconhecer que o exercício do poder estimula e reproduz antagonismos entre as pessoas desses estratos mais frágeis, induzidas, a rigor, a uma autodestruição” (Zaffarone, Direito Penal-I, p. 58).
E o combate à seletividade penal ultrapassa as esferas jurídica e adentra, por óbvio, em escolhas de cunho político e econômico, que o presente texto irá se eximir em aprofundar. Nas palavras de Frei Beto no texto, “Uma história da esperança”, que introduz a obra História Social dos Direitos Humanos, há uma contradição e distância entre o que idealizamos, teorizamos sobre direitos humanos e a hediondez da miséria, exclusão social que atinge a maioria do planeta.
É visível o elastecer dessa longevidade a cada escolha política por representantes de uma ideologia que não esconde a tranquilidade em afirmar nas entrelinhas que, se for pobre, prescinde o inquérito, o processo, a prova, a pena; pode matar!
Como último ponto, não se pode ignorar que a barbárie ocorrida no dia 28 de outubro de 2025 encontra vozes elogiosas dentro da sociedade civil, tal e como tantos outros crimes cometidos pelo Estado ao longo de nossa história. Pois, infelizmente, “existe um povo que a bandeira empresta para cobrir tanta infâmia e covardia!… Meu Deus, Meus Deus, mas que bandeira é essa?”, perguntaria Castro Alves.
Que horror![1]
*Carlos Marina Frederico é doutor em Direito Penal pela PUC-SP.
Nota
[1] Esse artigo traduz o posicionamento não apenas de seu autor, como também da equipe de advogados criminalistas da Assistência Judiciária Gratuita 22 de Agosto: Antônio Carlos Malheiros.
LULA FAZ DECLARAÇÃO POLÊMICA SOBRE OPERAÇÃO NO RIO DE JANEIRO | PLANTÃO
“EU NÃO SOU TRAFICANTE” FORAM AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE ADOLESCENTE DE 16 ANOS | PLANTÃO
Houve um tempo em que o Rio de Janeiro era qualificado de “Cidade Maravilhosa”. Hoje, o apelido soa como ironia amarga diante das chamas que consumiram quase cem ônibus, das ruas sitiadas e do medo que paralisou milhões de pessoas. O Comando Vermelho disseminou o terror, e o Estado respondeu com o mesmo idioma da barbárie: balas, cerco e corpos espalhados. Ao fim, cento e vinte e uma vidas se perderam, entre elas, quatro policiais mortos. Nenhum dos mortos consta na denúncia do Ministério Público do Rio que motivou a operação.
Até a noite de sexta, 109 corpos haviam sido identificados. A maioria pertencia a foragidos e integrantes do CV vindos de outros estados: 78 tinham passagens por tráfico, roubo e assassinato; 43 tinham mandados de prisão; 39 eram de outros estados. Trinta mortos identificados não tinham sequer passagem pela polícia. Todos, culpados ou não, foram tragados pelo mesmo vendaval de violência que reduz a cidade a zona de guerra. A Gaza dos trópicos!
Essas mortes não começaram no dia da chacina. Começaram há décadas, quando o abandono foi oficializado como política pública. Começaram quando se privatizou o direito à paz e se terceirizou a segurança às facções. Começaram quando o Estado trocou o cuidado pela guerra, a escola pela prisão, o diálogo pelo fuzil.
O narcotráfico não brota do nada. Nasce onde o Estado nunca plantou esperança. Cresce na ausência de políticas públicas, floresce entre muros rachados e becos sem saneamento, alimenta-se da desigualdade e da humilhação. As facções são o espelho deformado do capitalismo brasileiro: hierárquico, violento, sedento de lucro e controle. O traficante é o empresário da ruína, e o consumidor dos bairros ricos seu investidor invisível.
Não há o que celebrar. Uma operação que termina com 121 mortos não é vitória, é derrota civilizatória. O Estado não pode combater o crime reproduzindo sua lógica. A cada incursão policial em que a favela é tratada como campo inimigo, a distância entre o poder público e o povo aumenta. Não se constrói paz sobre o chão ensanguentado da periferia.
O narcotráfico é, sim, um flagelo. E cresce onde o Estado nunca chegou com segurança aos moradores e políticas públicas. As 1.900 favelas cariocas sofrem a insuficiência de escolas, saneamento, transporte, cultura, atividades esportivas, emprego e perspectiva de vida. As facções ocupam o vazio deixado por décadas de omissão governamental. São o espelho perverso de um sistema que exclui, humilha e depois criminaliza os excluídos. O traficante, muitas vezes, é o produto final de uma política que trocou direitos por fuzis e políticas sociais por operações midiáticas.
A violência virou rotina, e a brutalidade se institucionalizou. O governo fala em “ação de segurança”, mas que segurança há em metralhar comunidades inteiras? A segurança pública, no Rio, virou gestão de cadáveres. A cada chacina, repete-se o mesmo roteiro: promessas de “investigação rigorosa”, notas frias de gabinete e o silêncio que cobre a cidade quando as câmeras da mídia vão embora.
Estudiosos do tema são unânimes em admitir que não se destrói facção com fuzil, e sim com políticas públicas. A guerra às drogas fracassa porque não é um combate às drogas, é guerra aos pobres. A cada morte, a favela se torna ainda mais vulnerável, o tráfico se reorganiza, e o ciclo recomeça. O verdadeiro inimigo não é o jovem armado, mas a ausência de Estado que o empurrou para isso.
O Rio, sitiado e queimado, assiste ao colapso de suas maiores riquezas, como o turismo, a beleza da paisagem, o bom humor do carioca. Nenhuma cidade sobrevive quando a morte se torna rotina e a injustiça persiste. Beleza somente não põe mesa, e o cartão-postal desbota diante da dor.
Mas há quem resista. Mães que enterram filhos e ainda erguem faixas nas praças. Cidadãos que filmam, denunciam, documentam. Gente que, entre o medo e o luto, ainda acredita na vida. São esses os guardiões do Rio que resta, o Rio que não se rende.
Os 121 mortos não são apenas números. São o espelho de um país que perdeu o rumo, confunde justiça com vingança, e segurança com extermínio. O Brasil precisa escolher: continuar contabilizando corpos tombados pela violência urbana ou finalmente governar para a vida de todos.
Só haverá paz quando o Estado for presença de direitos, não de morte. Só haverá futuro quando a favela deixar de ser território inimigo. Só haverá Rio de Janeiro de novo quando a cidade se lembrar de que é feita de gente, e gente não é descartável.
Por quem choram as mães dos jovens assassinados? Choram ao ver sonhos desfeitos pela letalidade policial e pelo equívoco de se buscar na criminalidade a escalada para uma vida melhor. Choram sobretudo por um país que perdeu o senso de justiça.
O axioma “bandido bom é bandido morto” significa barbárie travestida de justiça. Ele nega o Estado de Direito, despreza a dignidade humana e substitui a lei e os direitos por vingança. Ao defender o assassinato em vez de reabilitação e combate às causas do tráfico de drogas e de armas, esse pensamento fortalece a violência que diz combater e fragiliza a própria sociedade civilizada.
Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org
RIO EM CORES DE CINEMA
(Chico Queiroga)
“O Rio de Janeiro continua lindo”
A praia de Ipanema, a pele da morena,
Como é bom se ver, como é bom viver,
Como é bom sonhar.
O Rio de Janeiro continua indo
Esconde a violência e mostra um paraíso.
Como é bom viver, como é bom se ver,
Como é bom sonhar.
Mas vejo bandoleiros de carroças atômicas
Índios caras-pálidas
Vejo gaviões em batalhões lançando suas garras.
E o que se passa na cabeça do Cristo Redentor?
Eu vejo o Rio de Janeiro vendo O Salvador
Em cores de cinema.
O Rio de Janeiro continua rindo
Portela na avenida, confetes e serpentinas,
Como é bom se ver, como é bom viver,
Como é bom sonhar.
Ainda o Rio de Janeiro em prosa e poesia
Esconde todo o choro mostrando a alegria
Como é bom viver, como é bom se ver,
Como é bom sonhar.
Mas vejo o carnaval na edição “O Dia”
Adeus toda a folia pra tantos foliões
E nos olhos de Deus, mais longe a harmonia.
E o que se passa na cabeça do Cristo Redentor?
Vendo o Rio de Janeiro O nosso Salvador,
Em cores de cinema.
SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO, por Chico Alencar. (no Instagram)
Rio, cidade tão castigada e tão bela. A música Sebastian, de Gil e Milton, é um retrato da cidade que ambos escolheram para viver. Essas palavras musicadas não saem da minha cabeça após os acontecimentos dos últimos dias…
Três palavras chaves foram repetidas em forma de críticas ou sugestão e as três já estavam em parte contempladas no processo de retomada/reconstrução da Rede Sergipe de Pontos de Cultura , porém a terceira carece de mais tempo para ser amadurecida e explicitada , como estamos fazendo agora, até porque esteve e ainda está em disputa, e conseguir um acordo para avançarmos rumo a uma visão mais democrática e inclusiva se faz necessário porque método é palavra síntese, já que contém as duas primeiras, comunicação e sistematização. Essas três foram as palavras destacadas no encontro citado.
Ao explicitar ou destacar a terceira palavra, método ou metodologia, quero deixar claro que a compreensão da importância de um acordo com relação ao método, cuja participação e transparência tem sido uma das marcas fundantes deste modelo aplicado , definirá a minha continuidade no papel de um dos protagonistas da retomada/reconstrução da Rede Sergipe de Pontos de Cultura
Na impossibilidade de um acordo, não nos importamos em assumir papel de ator coadjuvante ou secundário no processo, o que aliás foi o nosso propósito inicial, até porque como confidenciei a alguns companheiros mais próximos, estranhei bastante o fato de outros agentes cultura viva em nosso estado não terem tomado a iniciativa de retomada/reconstrução da Rede Sergipe, até porque dispunham de melhor estrutura como Ponto ou Pontão de Cultura, se comparado a Ação Cultural.
Como o método está norteando nossas ações? Primeiro, estamos baseados principalmente nas premissas de participação, transparência e de formação cultural, como pode ser constatado na sequência abaixo:
1)Convite público a agentes cultura viva integrantes de Pontos de Cultura certificados para integrar um grupo no whatsapp, ou em processo porque foram aprovados em editais da Lei Aldir Blanc (via estado ou municipios de Sergipe).
2)Estes convites foram encaminhados de forma individual e postados em grupos do whatsapp do campo da cultura, como Comitê Paulo Gustavo, Fórum do Audiovisual, Literatura e Sociedade, entre outros.
3)No dia do encontro da Secult com os Pontos de Cultura em 11 de Outubro, este grupo duplicou o número de participantes, em razão do alargamento dos critérios , e hoje temos agentes territoriais de cultura, um técnico da Secult, representantes de grupos culturais e afins interessados em se tornar Ponto de Cultura e etc.
4)No grupo desde o inicio as reuniões semanais são sempre marcadas por meio de enquete onde os integrantes podem colocar dia e horário de sua preferência. A pauta das reuniões surge da necessidade manifestada nas conversas internas e em função do calendário e/ou instruções divulgadas pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural (MINC).
5)As reuniões são gravadas, transcrita com Inteligência Artificial e os relatórios são publicados no blog da Cultura.
6)Mais recentemente, para dar mais consequência prática ao que foi discutido/estudado/analisado e em razão da aproximação do dia de realização da Teia Estadual, neste caso em dezembro foi proposto e aprovado, não sem resistência, a criação de um Grupo de Trabalho Operacional, tendo em vista estarmos em um novo ciclo de pré produção do evento Teia, embora de certa maneira, podemos dizer que até agora estivemos na fase de pré produção 1, fase de nivelamento/alinhamento sobre Cultura Viva, Pontos de Cultura, Teia, Fóruns de Pontos de Cultura e etc., já nesse fase de pré produção 2, entramos na fase mais estrutural, logística, orçamentária.
7)A lembrar, o critério de escolha dos participantes para o Grupo de Trabalho Operacional foi o de participação qualificada nas reunião on-line e na reunião presencial da SECUL|T com os Pontos de Cultura, participação qualificada aqui quer dizer, contribuição com questionamentos e sugestões pertinentes e colaboração em ações práticas. A ideia inicial foi criar um grupo mais enxuto para facilitar a dinâmica das reuniões e o fluxo de trabalho, mas o grupo foi ampliado, inicialmente contava com seis integrantes, atualmente está com nove e deverá ser ampliado para dez componentes. Conforme foi explicado para justificar os nomes convidados, não é um grupo de ouvintes, é um grupo para quem quer e pode colocar a "mão na massa", desde que cumpra os pré requisitos definidos para entrada no grupo geral inicialmente , Pontos de Cultura certificados ou aprovado em editais da Lei Aldir Blanc.
8)Na última conversa via whatsapp, foi proposto a formação de dois subgrupos, depois quatro e finalmente três, porém sem uma manifestação dos componentes do subgrupo até o momento, dessa maneira, é esse o acordo que falta para definir como pretendo continuar participando desse processo de preparação da Teia Estadual, se como um dos atores protagonistas ou como um dos atores coadjuvantes .
9)O subgrupo 1 irá trabalhar com a organização do cadastro dos Pontos de Cultura junto à SECULT, FUNCAJU e outras secretarias ou fundações que abriram editais para Pontos de Cultura. Nesse caso entre outras atribuições que podem inicialmente serem definidas pelo próprio subgrupo. Será um grupo mais para cadastro, para a organização de um cadastro geral estadual, para ver quem está apto a participar como delegado e etc. A ser formado por quatro componentes do GT Operacional .
10 - O subgrupo 2 irá trabalhar com a organização dos temas das mesas e oficinas, cuidará da organização do regimento interno estadual,, tomando como base o regimento nacional, coordenará o processo de escolha dos delegados para o Fórum Nacional dos Pontos de Cultura. A ser formado por quatro componentes do GT Operacional.
11 - O subgrupo 3 grupo irá trabalhar com produção em termos de programação artística cultural . A ser formado por dois componentes do GT Operacional com experiência em produção cultural.
12 Pronto, ao fim e a cabo, apresento uma espécie de plano de trabalho construído durante o processo, portanto um plano de trabalho em movimento que possa nos guiar nesse processo até dezembro e após. Aqui pensando e propondo uma saída para ajudar a virar essa página da politica cultural sergipana que abordamos no segundo textão, o que traz como mote o ditado popular “Em terra de cego quem tem um olho é rei”.
Meus irmãos e minhas irmãs, estamos celebrando a 29a Romaria da Pastoral Afro-Brasileira, que tem como Tema: " Mãe Negra Aparecida, a Esperança que Não Decepciona". E hoje , com toda a Igreja, celebramos a Solenidade de Todos os Santos. Somos convidados a olhar para esta realidade e dizer: ' Que luzes desta liturgia da Festa de Todos os Santos são lançadas sobre a realidade da Pastoral Afro-Brasileira? Primeiro elemento que gostaríamos de lembrar: Papa Francisco, em seu documento sobre a santidade no mundo atual ,nos convida a reconhecer não somente os santos já reconhecidos pela Igreja e já estão na glória dos altares, mas aquilo que ele chama " os santos de pé de porta" - aqueles que vivem perto de nós e são reflexo da presença de Deus. Quantos irmãos e irmãs são sinais em diversas culturas, inclusive na cultura afro? A primeira leitura de hoje ,do livro do Apocalipse, nos ajuda a compreender o que é santidade. João tem uma visão de uma multidão em vestes brancas. E pergunta: quem são estes? São aqueles que vieram da grande tribulação. Significa que a santidade é para todos! E hoje somos convidados a reconhecer como na história do povo negro, na sua resistência, o Espírito de Deus se manifestou. E se o Senhor não estivesse ao nosso lado, nós não estaríamos aqui neste momento. E o marco da experiência pascal do Antigo Testamento é a libertação do Egito. A páscoa de Jesus é a libertação de todas as pessoas e da pessoa em totalidade, como também de toda forma de escravidão. Por isso santidade é lutar contra toda forma de escravidão, porque foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Então crescer na consciência negra é também crescer na santidade. A segunda leitura também nos ajuda a responder o que é santo. O apóstolo João diz: " Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu, de sermos chamados filhos de Deus, e nós o somos. Nós, que somos descendentes da cultura afro, sabemos das feridas que trazemos de longa história e, por isso, precisamos curar essas feridas. Porque quando as feridas estão abertas , não estão assumidas, não estão redimidas, podemos ferir por onde fomos feridos. Por outro lado, quando as feridas são assumidas e redimidas em Cristo, elas se tornam um dom para a humanidade. Cuidado para não cairmos na síndrome de Chica da Silva - de escrava, tornar-se senhora. " Vós todos sois irmãos" - nos lembra o Senhor. Esse é o princípio para superar todo o preconceito, toda a marginalização. Diante dos trágicos acontecimentos no Rio de Janeiro esta semana, que atingiu a população pobre, tanto nos que morreram, quanto naqueles que padeceram naquele momento , e no Brasil a história dos pobres se confunde com a história dos negros; o princípio se torna mais imperativo: somos todos irmãos. Um poeta inglês no século XVII diz: " A morte de cada homem me diminui, porque eu faço parte do gênero humano". Se esse poeta pôde dizer isso, nós como cristãos temos que reafirmar que a morte de qualquer ser humano nos diminui porque somos irmãos no Senhor. A fraternidade é inegociável! Papa Francisco, no Documento Amoris Laetitia, ao falar dos conflitos dentro de uma família,cita uma passagem bonita do líder negro pacifista Martin Luther King que diz: ' Alguém deve ter bastante fé e moralidade para quebrar e injetar dentro da própria estrutura do próprio universo o elemento forte do amor". Diante de uma realidade onde, aparentemente, a morte está vencendo, somos convidados a dizer: " O amor para nós é inegociável! Não podemos ficar apáticos diante da realidade, mas não podemos responder o mal com o mal, a violência com a violência, o ódio com o ódio. É preciso uma não violência ativa! Como foi vivido por tantos irmãos, como Gandhi, Martin Luther King, Dom Helder Câmara. No Evangelho hoje temos as bem aventuranças.Papa Francisco, no documento sobre a santidade no mundo atual, nos apresentou as bem aventuranças como caminho de santidade e deu ênfase justamente à última que é conclusiva. Ele diz: " Alegrai-vos e exultai-vos, diz Jesus, a quantos são perseguidos e humilhados por causa d'Ele". O Senhor pede tudo e em troca oferece a vida verdadeira , a felicidade para a qual fomos criados. Ele quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa. Viver o imperativo do Evangelho vai nos levar a incompreensões, à perseguição, mas nós não podemos negociar o Evangelho! O amor é inegociável porque Deus é amor! No Dia de São Francisco, Papa Leão nos presenteou com um documento muito bonito sobre o amor aos pobres e disse que o amor aos pobres não significa tê-lo como objeto de caridade, mas é a própria revelação . Nós reconhecemos no pobre o rosto de Cristo Senhor. São Paulo VI já tinha dito na década de 60: " O pobre é representante de Cristo". Digo eu: o negro é representante de Cristo. A representação de Cristo no pobre é universal. Todo pobre, por sua condição de pobreza, reflete o próprio Cristo. É preciso ter esta consciência para enfrentarmos o dia a dia e vencermos o ódio com amor, a injustiça com a paz. Maria , negra Aparecida, e a esperança que não decepciona: Ela aponta para aquele que é a razão de nossa esperança. E é bonito quando vemos a primeira manifestação de Nossa Senhora, em nosso continente latino-americano, foi no México, 1531. Maria se manifesta com o rosto do povo sofrido , marginalizado e pobre. Nossa Senhora de Guadalupe tem os traços indígenas. Não seria diferente aqui no Brasil: em 1717, Nossa Senhora se manifesta com o rosto da população mais sofrida, em plena escravidão. Aquela que é toda de Deus se identifica com aquela parcela mais sofrida do povo de Deus, porque Deus se identifica com os pobres. Nossa Senhora constantemente diz para nós que somos seus servos: " fazei o que ele vos disser" ; e fala para seu filho e também para nós: "Eles não têm mais vinho". Maria nos provoca a olhar para a realidade do povo negro no nosso país, ela sempre nos aponta para Jesus, razão de nossa esperança. Portanto , nesse Santuário da Mãe Aparecida, uma casa de portas abertas em que todos se sentem acolhidos, por ser Casa da Mãe, porque casa de Deus, termino fazendo minhas as palavras de Dom Helder Câmara na oração que ele compôs para a Missa dos Quilombos, referindo-se a Maria de uma forma tão carinhosa chamando-a de Mariama. Assim como a ama era aquela que alimentava os filhos dos senhores, Maria é aquela que nos alimenta com seu filho, razão de nossa esperança:
" Mariama, Nossa Senhora, Mãe de Cristo e Mãe dos homens!
( E assim o bispo prossegue toda a oração de Dom Helder).
Dom Antonio Carlos Cruz , 01/11/2025, Santuário Nacional de Aparecida.
Coro Edipaul - Olha que eu vim lá de longe (Entrada 1988)
O arcebispo emérito de Olinda e Recife e Servo de Deus, dom Helder Camara (1909-1999), um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), passou a integrar o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A Lei Nº 15.242, que oficializa o nome do “Dom da Paz” na publicação, foi sancionada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin, e publicada na edição de quarta-feira (29), do Diário Oficial da União.
O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (também conhecido como Livro de Aço) está localizado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Na obra são registrados os nomes de personalidades históricas que tiveram atuação destacada na defesa e na construção do país.
Leia a matéria completa em nosso site: cnbb.org.br
Oração a Mariana por Dom Helder Câmara
CANÇÃO PARA ZUMBI
Documentário produzido em 1995 por ocasião dos 300 anos da morte de ZUMBI DOS PALMARES.
De banzo e de esperança: contranarrativa teológica afrodiaspórica nas músicas do álbum Missa dos Quilombos
Em 1982, o cantor e compositor Milton Nascimento lançou o álbum intitulado “Missa dos Quilombos”, homônimo ao evento litúrgico ocorrido há poucos meses, em Recife, para o qual o repertório do disco foi especialmente criado. A sua temática se assenta na articulação entre um rito católico e um símbolo da organização política e social negra contra a colonização e o racismo, também remetendo a uma memória da escravidão. Nesse sentido, as músicas sugerem a existência de uma identidade negra atravessada pela religiosidade cristã e ao mesmo tempo comprometida politicamente com a luta antirracista. Partindo do pressuposto de que a obra em pauta não só reproduza, mas contribua proativamente com o imaginário social e religioso da comunidade negra cristã e antirracista, tomo como objetivo geral analisar o álbum “Missa dos Quilombos”, buscando identificar os discursos comunicados pela via musical que potencialmente produzem uma contranarrativa teológica afrodiaspórica resultante das articulações entre luta antirracista e mensagens cristãs. Para realizar a análise, primordialmente recorro ao sociólogo britânico Paul Gilroy e a sua elaboração teórica sobre o Atlântico Negro, tendo em vista a formação intercultural e transnacional da experiência social e cultural afrodiaspórica. No primeiro momento, busquei situar o disco “Missa dos Quilombos” no circuito do Atlântico Negro, conectando a obra a sujeitos e narrativas similares de variados contextos históricos, sobretudo no período pós-abolição. Em seguida, investiguei o processo de constituição do álbum em pauta, analisando a sua importância e os seus aspectos culturais e políticos afrodiaspóricos, tendo em vista a relação do seu repertório musical com o contexto social do período imediatamente anterior e a sua circulação nos anos posteriores na sociedade brasileira e no circuito transnacional. Por último, analisei as músicas da “Missa dos Quilombos”, destacando a produção de uma contranarrativa teológica afrodiaspórica, antirracista e anticolonial, antecipatória de alguns dos elementos e pressupostos da reflexão teológica negra brasileira.