informações sobre ações culturais de base comunitária, cultura periférica, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
O encontro reuniu representantes de diversos pontos do estado, além do escritório do MinC em Sergipe, promovendo um espaço de escuta, integração e fortalecimento da rede Cultura Viva
A Secretaria Especial da Cultura (Secult), com apoio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap), realizou neste sábado, 11, no auditório do Centro de Criatividade, Reunião Geral dos Pontos de Cultura de Sergipe. O encontro reuniu representantes de diversos pontos do estado, além do escritório do Ministério da Cultura ( MinC) em Sergipe, promovendo um espaço de escuta, integração e fortalecimento da rede Cultura Viva.
Durante a reunião, os participantes puderam trocar experiências, esclarecer dúvidas sobre a execução dos planos de trabalho e alinhar os próximos passos para a realização do Fórum Estadual dos Pontos de Cultura, previsto para o próximo mês. A atividade também possibilitou que novos integrantes da rede se apresentassem, estreitando laços e reforçando o caráter colaborativo do programa.
Para o secretário-executivo da Secult, Irineu Fontes, o encontro representa mais um avanço no diálogo com a sociedade civil.
“A rede Cultura Viva tem um papel fundamental na construção das políticas culturais em Sergipe. Esses encontros fortalecem o trabalho coletivo, dão voz aos fazedores e criadores de cultura e ajudam a consolidar o Fórum como um espaço de decisão e participação popular”, destaca.
Isabela Bispo, do Ponto de Cultura Pescando Memórias, em Socorro, comemora a retomada dos debates. “Essa oportunidade faz com que a gente conheça mais a atuação da Secult, da Funcap, conhecer mais outros Pontos de Cultura e a gente avançar nas políticas culturais voltadas à cultura de base, que são os Pontos de Cultura”, afirma.
A Reunião Geral reforçou o compromisso do Governo de Sergipe com a valorização e continuidade das políticas culturais participativas, fortalecendo o protagonismo dos Pontos de Cultura como instrumentos de cidadania, identidade e transformação social em todo o estado.
Texto de Zezito de Oliveira , da comissão provisória estadual da Rede Sergipe de Pontos de Cultura. apresentado pelo autor no encontro acima
A Rede Sergipe de Pontos de Cultura foi formada a partir de 2012/2013, tendo como base os Pontos de Cultura selecionados em edital lançado no ano de 2011 pelo MINC em parceria com a SECULT-SE.
Nesse ano não havia a Lei Cultura Viva, criada em 2014 e a plataforma Cultura Viva criada em 2015, descontinuada em 2016, em razão do golpe midiático, judicial e parlamentar que retirou o mandato da presidente Dilma.
O grupo de Pontos de Cultura que tentaram criar a Rede Estadual faziam parte da segunda geração de Pontos de Cultura apoiados pelo Ministério da Cultura em associação com governos estaduais, diferente dos Pontos da primeira geração, selecionados no primeiro edital lançado diretamente em 2005 pelo Ministério da Cultura. Os Pontos de Cultura aprovados nesse primeiro edital não passaram de dez, nenhum destes participaram da rede criada aqui em Sergipe a partir do edital de 2011.
A partir do ano de 2023, com a posse do presidente Lula e lançamento de um edital emergencial do MINC para Pontos de Cultura tem inicio o terceiro ciclo ou terceira geração, seguida do lançamento de editas via PNAB.
Essa forma de organização da linha do tempo de organização da Rede Sergipe de Cultura é arbitrária, ou seja, é uma escolha da nossa parte, pode existir outras maneiras de fazer isso, as razões para a escolha que fiz requer tempo para explicação, deixemos para outro momento..
E agora? Neste ano da graça de 2025, a rede Sergipe de cultura começa a ser retomada, um pouco atrasada, inclusive por conta da descontinuidade sofrida com o golpe contra Dilma. Outros lugares conseguiram superar o golpe mais cedo, e retomaram as redes ou comissões estaduais logo em 2023.
Mas chegamos até aqui, as razões que colaboraram para isso foram as seguintes: E aqui vamos para o encerramento de nossa apresentação.
1-A convocação nacional para a TEIA 2026
2-No caso do engajamento da Ação Cultural nesse processo de retomada , a participação em maio deste ano, do primeiro encontro nacional da rede SACIX.
"A soberania digital, a regulação das plataformas digitais e o financiamento público do jornalismo foram os principais temas abordados no I Encontro Nacional da Rede Sacix, que reuniu, entre quarta (21) e sexta-feira (23), ativistas e organizações da cultura digital e mídias livres. Realizado no Centro Maria Antônia da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, o evento foi organizado pelo Pontão de Cultura Digital e Mídias Livres, em parceria com o Coletivo Digital e o Outras Palavras, no âmbito do projeto realizado com o apoio do Ministério da Cultura (MinC)."
3-O orçamento da Politica Nacional de Cultura Aldir Blanc disponibilizados para a Politica Nacional Cultura Viva. No primeiro caso com alto volume de recursos e no segundo com percentual mínimo obrigatório, diferente dos dois primeiros ciclos ou primeiras gerações, em que os recursos foram mais limitados.
4-A legislação pró cultura, em especial a Lei Cultura Viva de 2014, fruto das lutas e conquistas desde o inicio da implantação do Programa Cultura Viva e lançamento dos editais dos Pontos e Pontões de cultura a partir de 2005. Não podemos esquecer da famigerada lei 8.666/96, o terror de muitos agentes culturais que foram selecionados em editais regidos por esta. Daí decorre a LAB 1, a LPG, a LAB 2, a Lei do Fomento, as normativas e portarias do MINC, entre outros
5-A utilização dos meios e recursos da tecnologia digital e da internet, o que está mais avançado nos tempos atuais, e que sendo bem utilizado acelera os processo de governança, incluindo questões como prestação de contas, transparência, controle e participação social, além do papel imprescindível da formação.
6-Por último, esse aspecto da formação foi sempre necessário e agora mais ainda , por causa da maior quantidade de recursos e do maior número de grupos, coletivos e organizações que acessam a PNCV via PNAB
7-Dai a importância da formação qualificada e continuada para os agentes culturais de base comunitária, como é um dos objetivos das TEIAS..
Sexta-Feira, 03 de Outubro de 2025 às 09:45:00
Governo reúne Pontos de Cultura para discutir fortalecimento da Política Cultura Viva em Sergipe
A Secretaria Especial da Cultura (Secult) realizou reunião entre a equipe diretiva da pasta e representantes dos Pontos de Cultura de Sergipe, com o objetivo de debater estratégias de fortalecimento da rede no Estado. As discussões giraram em torno das diretrizes da Política Nacional de Cultura Viva, regulamentada pelo Edital Cultura Viva no âmbito da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura.
A reunião foi marcada pela reafirmação da importância dos Pontos de Cultura como política pública estruturante para a cultura brasileira, pela defesa da acessibilidade e pelo reconhecimento da retomada institucional da Secult, como um passo fundamental para a consolidação das ações culturais de base comunitária no Estado.
Para o secretário executivo Irineu Fontes, a política de Pontos de Cultura permanece como referência internacional. “Os Pontos de Cultura são hoje reconhecidos como uma das propostas mais inovadoras de política cultural, não apenas no Brasil, mas no mundo”, afirma.
O secretário executivo destaca ainda o papel da cultura na transformação social. “Estamos alinhados ao Governo Federal e ao Ministério da Cultura para garantir que a política chegue na ponta, ampliando o acesso aos direitos culturais”.
Representantes dos Pontos
Entre os representantes dos Pontos de Cultura, José de Oliveira Santos, conhecido como Zezito, do Ponto de Cultura Ação Cultural, enfatizou o papel histórico das iniciativas comunitárias. “Nos tempos passados, atuamos fortemente com juventude, escola, audiovisual e dança em áreas muito abandonadas pelo poder público”, recordou. Ele ressalta a força da retomada: “Agora sentimos uma expansão muito grande, com a Secult reestruturada e alinhada ao Governo Federal. Não é apenas cultura pela cultura, mas cultura com saúde, diversidade, meio ambiente e educação”.
Já Isabela Bispo, representante do Ponto de Cultura Pescando Memórias, sublinhou a dimensão identitária e social do trabalho nas comunidades: “Nosso ponto preserva a identidade cultural, com ações de audiovisual, danças tradicionais e cidadania. Os Pontos de Cultura fazem a cultura de base e movimentam a economia social. A resistência é o que mantém a cultura viva”.
Antônio Carlos da Silva, do Pontão de Cultura Cine da Salô por Arte, e Osmário Campos, do Pontão Luz de Sol, reforçaram a importância do fórum como espaço de visibilidade e de luta por acessibilidade: “É importante para a gente mostrar o nosso trabalho, desenvolvido em Nossa Senhora da Glória, especialmente com pessoas com transtorno mental”, comenta Antônio Carlos.
Durante o encontro, também foi ressaltada a necessidade de assegurar acessibilidade nas ações apoiadas pelos Pontos de Cultura, seguindo as diretrizes da Portaria MinC nº 206/2025, que prevê, entre outras medidas, intérpretes de Libras, audiodescrição e transporte adaptado. “ Precisamos discutir a acessibilidade em todos os ambientes, porque também temos direito de ir e vir”, explica Osmário.
Fórum Estadual dos Pontos de Cultura como desdobramento dos debates foram anunciados alguns encontros que serão realizados no próximos meses, como a mesa técnica no próximo dia 11 de outubro. Além disso, em novembro ocorre o Fórum Estadual dos Pontos de Cultura, que integra a preparação para o 5º Fórum Nacional dos Pontos de Cultura e para a 6ª Teia Nacional, no Espírito Santo. O Fórum estadual será espaço de articulação, formação e deliberação, fortalecendo a rede sergipana na construção da política pública de base comunitária.
Como foi a reunião da comissão estadual provisória da Rede Sergipe de Pontos de Cultura com a equipe técnica da SECULT-SE em 02 de Outubro de 2025?
Transcrição resumida com auxilio de IA da reunião com a comissão estadual provisória da Rede de Pontos de Cultura de Sergipe e equipe da SECULT sobre a gestão de políticas e recursos culturais no estado, com foco nas dificuldades, nas mudanças organizacionais e nas futuras iniciativas.
A reunião foi realizada na sede da SECULT-SE, localizada à Av. Murilo Dantas, 881 - Farolândia.
Avaliação da Reunião com a Secretaria de Cultura do Estado (Secult)
Relatório gerado com suporte de IA
A 7ª reunião de retomada da Rede Sergipe de Pontos de Cultura realizada em 9 de outubro, detalhou preparativos e a logística do Fórum dos Pontos de Cultura de São Cristóvão a ser realizado em 11 de Outubro, no período da tarde, no auditório da ADUFS, e tratou da avaliação da primeira reunião ampliada da comissão estadual provisória da Rede Sergipe de Pontos de Cultura com o secretário adjunto da SECULT, Neu Fontes, e equipe técnica, em 02 de Outubro.
•Aspectos Positivos:
oTratamento da Acessibilidade: A solução quanto a falha técnica no prédio da Funcap com relação a acessibilidade, foi contornada com rapidez e sem stress. (dificuldade de acesso de cadeirante ao local original da reunião) foi detectada. .
oLição Aprendida: A situação serviu como lição para o governo do estado considerar a presença de especialistas em acessibilidade em reformas e construções, e para o "pontão de acessibilidade" com outros órgãos do governo e da sociedade civil especializados inspecionar equipamentos culturais públicos.
•Aspectos Negativos:
oDiscussão Sobre Delegados: A intervenção de um representante da Comissão estadual dos Pontos de Cultura, questionando a quantidade de delegados (30 por estado), definidos no regimento elaborado pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura foi considerada "desnecessária" e um "deslize".
Argumento: Esse critério beneficia estados menores e a pauta não deveria ter sido levantada pelo grupo de Sergipe que se beneficia da regra.
Consequência: Criou divergência interna, gerou desgaste com o gestor público presente e revelou falta de "cultura democrática" ao falar em nome pessoal dento de um contexto coletivo.
oViagem dos Delegados para a TEIA Nacional:
Preocupação com viagens de ônibus para delegados mais velhos e/ou com problemas de saúde.
O secretário mencionou o alto custo de passagens aéreas para Vitória e o translado para a cidade de Aracuz.
Um precedente citado foi a "Conferência das Mulheres" conseguiu que todos os delegados viajassem de avião, mostrando a importância da coesão do grupo e pressão política.
Cansativo e desrespeitoso: Dois participantes da reunião expressam que não é mais aceitável viajar de ônibus e acampar, como no passado; espera-se o mínimo de dignidade para os trabalhadores da cultura.
oEfetividade da Reunião com a Secult:
Embora boa para reflexão crítica sobre a gestão da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), a reunião não forneceu respostas claras sobre a programação detalhada da TEIA e o orçamento da mesma.
Preocupação de que a programação da TEIA será apresentada como "fato consumado" na reunião de 11 de outubro, sem tempo para debate.
Percepção de que a gestão estadual, apesar de alguma abertura, está imersa no modus operandi das relações de poder da cultura politica tradicional, marcada por um viés "vertical" e "autoritário", e o grupo precisa manter a unidade e continuar pontuando suas demandas de forma sempre qualificada.
•Saldo Final Positivo (Reunião com Secult):
oConseguiu-se manter a programação do "Fórum" e da "Teia" conjunta (em novembro), como proposto pelo MINC e pela Comissão Nacional. dos Pontos de Cultura. Isso evitou a separação Fórum dos Pontos de Cultura em outubro, e Teia em novembro, proposto pela Secult, o que não estaria em conformidade com o regimento nacional que exige a presença de um representante da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) no dia dos fóruns estaduais.
As escolas de tempo integral cumprem, também, uma função secundária, mas decisiva. A de esvaziamento das ruas. Funcionam como dispositivos de captura dos corpos juvenis, sob o argumento civilizatório de que o perigo está lá fora.
Rick Afonso-Rocha no Le Monde Diplomatique (edição em português)
10 de outubro de 2025
Crédito: igorovsyannykov/Pixabay
Em Pernambuco, o modelo de escola em tempo integral tem sido amplamente promovido como solução para os problemas da educação pública. Não raro, somos interpelados pelo discurso oficial que coloca a experiência pernambucana como exemplo nacional. Nesse discurso, tratar-se-ia de uma estratégia de inclusão, elevação do rendimento escolar e formação cidadã. No entanto, o que se observa cotidianamente dentro dessas escolas revela uma realidade radicalmente distinta. Jornadas exaustivas, salas superlotadas, ausência de espaços de socialização, supressão da arte e da prática esportiva e um currículo rigidamente conteudista.
Esse cenário, longe de constituir um espaço de emancipação, de formação crítica, se configura como um dispositivo de captura das subjetividades juvenis, moldado para conter, vigiar e adoecer. Constitui, em verdade, uma máquina de produção de subjetividades quebradas.
Essas escolas operam como verdadeiras “protoprisões”, onde a lógica do tempo integral foi apropriada por uma racionalidade neoliberal e securitária. Talvez minha experiência entre realidades, tendo sido professor em uma escola prisional e, agora, em uma escola integral, me permita enxergar as regularidades que fazem dessas instituições espaços marcados por continuidades radicais. A contenção dos corpos, a vigilância constante, a padronização das condutas e a administração do tempo não são exceções, mas elementos estruturantes em ambas. Muda-se o discurso, muda-se a arquitetura (nem tão diferentes, na verdade), mas a lógica do controle permanece.
Não se trata de oferecer mais tempo para viver a escola de forma plena, mas de restringir os corpos ao espaço escolar como forma de gestão do risco social, sobretudo quando se trata de juventudes negras, pobres e periféricas. A promessa de cuidado se converte em disciplinamento; a pedagogia se transforma em vigilância. Nas entrelinhas, o fracasso escolar não é combatido, ele é administrado, perseguido e cristalizado como destino.
As escolas de tempo integral cumprem, também, uma função secundária, mas decisiva. A de esvaziamento das ruas. Funcionam como dispositivos de captura dos corpos juvenis, sob o argumento civilizatório de que o perigo está lá fora. No entanto, o que se opera é a domesticação subjetiva do espaço urbano. Ensina-se que a rua não deve ser vivida, que a cidade não é lugar de estar, de conviver, de experimentar o acaso. A cidade torna-se um território interditado, reservado ao capital, ao consumo e à produtividade. A presença desautorizada de corpos não consumidores ou não produtivos nas ruas é tratada como ameaça à ordem ou, mais precisamente, como risco de aglutinação potencialmente insubordinada.
Retirar os jovens das ruas é ensaiá-los para o enclausuramento, acostumá-los à contenção, fazê-los desejar o privado como única forma legítima de existência. É instaurar o medo como mediação entre o sujeito e o espaço. Medo da cidade, medo do outro, medo do comum. E assim, sob a justificativa do cuidado, fortalece-se a arquitetura do isolamento. Vivemos a era da “cidade de muros”, como nos alertou Teresa Caldeira.[1] Não apenas muros de concreto, mas barreiras afetivas, simbólicas e sociais que impedem a ocupação plena do urbano. O que se protege, afinal, é a lógica da mercadoria. “Na cidade de muros não há tolerância para com o outro ou pelo diferente. O espaço público expressa a nova intolerância. As convenções modernistas de projeto usadas pelos enclaves ajudam a assegurar que diferentes mundos sociais se encontrem o mínimo possível no espaço da cidade, ou seja, que pertençam a espaços diferentes.” (Caldeira, 2000, p. 313).
O espaço público é esquartejado, vigiado, higienizado, porque o encontro, sobretudo o encontro improdutivo, é sempre uma ameaça. A rua, quando não rende lucro, precisa ser esvaziada. E o que chamamos de segurança, nesse contexto, é apenas o outro nome do controle. A liberdade, por sua vez, é reconfigurada como risco, como desordem, como desvio.
O funcionamento dessas escolas também revela uma recusa mais profunda. A de que o urbano seja reconhecido como matéria viva, concreta e simbólica, no processo formativo dos sujeitos. Como problematiza Raquel de Padua Pereira,[2] em estudo sobre o teatro periférico paulistano, as práticas culturais criadas nas margens da cidade operam a partir da realidade material e subjetiva do espaço urbano, não apenas como cenário, mas como matéria-prima da criação. Ao participar da interdição do acesso pleno à cidade e ao reforçar a lógica de limitação do tempo urbano vivido em sua complexidade, a escola de tempo integral nega, portanto, essa potência do território. Rompe-se, assim, a possibilidade de que o cotidiano, os deslocamentos, os afetos, os becos e as paisagens sejam incorporados ao processo educativo como saber e experiência. O que se instala é uma pedagogia contra o urbano, uma pedagogia que fecha o tempo e o espaço. Uma antipedagogia do território.
Paradoxalmente, ou talvez nem tanto, o neoliberalismo que se vende como ideologia da liberdade ilimitada foi a racionalidade que mais investiu na multiplicação dos aprisionamentos. Contudo, aprisionamentos sofisticados, travestidos de escolha, vendidos como desejo. O medo converte a ausência de liberdade em mercadoria. Somos treinados para consumir proteção, contratar blindagem, sonhar com muros. Desejar o cárcere e pagar por ele.
A escola integral, nesse projeto, não é meramente um espaço de ensino. É uma engrenagem de controle da circulação urbana, um simulacro de acolhimento que prepara os sujeitos para uma vida conformada ao enclausuramento. Enclausuramento que passa ser não apenas projeto, mas também destino e desejo. A promessa de formação integral torna-se, na prática, um treinamento para a vida em jaulas afetivas, espaciais e subjetivas. E tudo isso nos é oferecido como cuidado, como progresso, como política pública. Um gesto cínico, mas profundamente eficaz de pedagogia do medo.
Ao contrário das promessas de salas amplas, bibliotecas vivas, áreas verdes e ambientes que estimulem a criação e a convivência, o que se encontra nas escolas de tempo integral são, geralmente, espaços marcados pelo sufocamento. Turmas lotadas, salas abafadas sem qualquer climatização, paredes que repetem conteúdos em excesso e pouquíssimo espaço para o corpo, para a pausa, para a invenção. O tempo é todo ocupado, mas raramente vivido.
As bibliotecas, quando não são inexistentes, são frequentemente transformadas em depósitos de livros didáticos antigos, prateleiras empoeiradas que exibem acervos burocráticos, desinteressantes, divorciados da realidade e das urgências de quem ali estuda. Nos raros casos em que há bons títulos, falta quem cuide, quem provoque, quem mobilize. Falta gente, profissional qualificado e com tempo, para transformar aquele espaço em algo mais que uma sala de guarda. Porque biblioteca não é só coleção de livros. É lugar de travessia, de imaginação, de encontro com outras vozes. Mas o que se oferece, na maior parte das vezes, é silêncio estéril, paredes opacas e o mesmo projeto de domesticação que atravessa toda a escola.
Os projetos de leitura, arte, música ou esporte, quando existem, são frutos da insistência quase heroica de alguns professores e gestores que, à revelia da estrutura escolar, os sustentam em seus horários de descanso ou em brechas da rotina oficial. Isso porque o tempo institucional foi capturado por uma lógica produtivista, onde tudo gira em torno de aulas, provas, simulados e metas. O espaço para o sensível, para a criação, para o encontro, para aquilo que poderia, de fato, formar, é residual, tratado como supérfluo ou distração.
É nesse cenário que projetos alternativos, como clubes de leitura, oficinas de RPG, música ou escrita criativa, surgem quase sempre como práticas insurgentes, mantidas pela insistência de poucos. Esses projetos, muitas vezes desenvolvidos nos intervalos ou fora do horário oficial, revelam o desejo de romper com a lógica da escassez e da repetição. Não há espaço institucional para a imaginação política na escola.
Os professores de Pernambuco, submetidos a um dos piores salários do Nordeste, são empurrados para esse cenário por pura necessidade. A gratificação oferecida pelo modelo integral é pífia e sequer se incorpora à aposentadoria. Mas, ainda assim, diante da desvalorização salarial, é desejada. Trata-se de um trabalho a mais por um reconhecimento a menos. E, para completar a farsa, há ainda as metas, perversas e desumanizantes, que reduzem a educação a um negócio, a uma planilha de resultados, a uma mercadoria em disputa. Como prêmio de consolação, inventaram o BDE, o bônus de desempenho educacional. Uma espécie de medalha de papel para as escolas que, domesticadas pela lógica gerencial, conseguem bater os índices impostos pelas Gerências Regionais de Educação. O que se valoriza não é o processo, é o número. O que importa não é o estudante, é o gráfico.
Essa estrutura esgota emocionalmente estudantes e professores. O tempo integral deixa de ser tempo vivido para se tornar tempo encerrado, tempo fechado, em que os sujeitos não criam, mas obedecem. A depressão, a ansiedade, o desinteresse e o tédio são respostas cada vez mais comuns e, muitas vezes, medicalizadas ou culpabilizadas como falhas individuais. Aqui, torna-se útil recorrer à leitura de Mark Fisher,[3] para quem o sofrimento psíquico não é apenas um problema de ordem médica, mas o reflexo direto de um sistema que produz sofrimento como modo de gestão. A escola, nesse modelo, torna-se operadora do realismo capitalista, em que faz aparentar não haver saída, apenas adaptação.
Esse contraste se agrava quando se olha para a experiência histórica dos CIEPs idealizados por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Ali, a proposta de educação integral passava por outra lógica. Ainda capitalista, mas outra lógica. A de formação plena, com arte, esporte, lazer, alimentação e cidadania como eixos fundamentais. O modelo pernambucano, ao contrário, elimina aspectos formativos que não possam ser quantificados em provas ou índices. O tempo é capturado e convertido em unidade de rendimento, enquanto o corpo e a subjetividade dos estudantes são tratados como obstáculos a serem vencidos, domesticados ou eliminados por abandono e evasão.
A escola de tempo integral, em Pernambuco, tem se revelado, na prática, uma escola de tempo exaustivo. A ampliação da jornada não significa expansão do sentido da escola, mas apenas o prolongamento da lógica conteudista, da pressão, da cobrança incessante. São nove aulas seguidas, todos os dias, em salas superlotadas, abafadas, enclausuradas; sem janelas para o sensível, sem respiro para o simbólico. Práticas artísticas, culturais ou esportivas são quase inexistentes. O que se institui, então, é uma rotina desumanizante que esvazia o desejo, atrofia a imaginação e transforma o tempo escolar em castigo.
O entusiasmo com que certos burocratas da educação pernambucana defendem seu modelo de escola integral revela muito mais sobre o projeto de gestão que abraçaram do que sobre as reais condições vividas dentro das escolas. Apresentam uma narrativa eufórica sobre a implantação das EREMs (Escolas de Referência em Ensino Médio),[4] pautada por indicadores de desempenho e avaliações externas, sem qualquer problematização crítica dos efeitos subjetivos, pedagógicos ou sociopolíticos do projeto de aprofundamento da razão neoliberalista. Essa visão gerencialista da educação, que transforma o estudante em métrica e o professor em executor de metas, ignora as denúncias cotidianas de esgotamento, medicalização, adoecimento e vigilância.
Ao promover uma pedagogia empresarial travestida de inclusão, esse projeto não apenas neutraliza a escola como espaço de formação crítica, mas a reconfigura como aparelho técnico de gestão da pobreza. A celebração dessa política como “referência nacional” escamoteia o preço pago por quem habita esses espaços. O preço da ansiedade, da exaustão e da perda do sentido. Celebrar essa política como “revolução” é, no mínimo, um gesto de cinismo tecnocrático.
Não é raro ouvir estudantes comparando a escola a uma prisão. Às vezes, desejam que chova torrencialmente, que relampeie, que desabe o mundo lá fora, só para que as aulas sejam suspensas. E muitos de nós, professores, também exaustos, igualmente enclausurados nesse sistema, partilhamos o mesmo desejo de fuga. Às vezes, secretamente, torcemos pela catástrofe: o alagamento, a falta de luz, a enchente, o caos. Um desejo triste que revela uma tristeza ainda maior. O colapso íntimo da esperança pedagógica.
Porque esse cansaço não é apenas físico. É o esgotamento de uma ideia de educação que já não nos move, que já não nos comove. Uma escola que deveria ser espaço de vida, de invenção e de mundo, passa a ser o laboratório de uma pedagogia do desespero. E quando sonhamos com a chuva para que tudo pare, é porque por dentro já estamos alagados.
Essa intensificação da rotina escolar sob o manto do tempo integral converge com o que Foucault identificou como as tecnologias disciplinares do poder. O corpo é retido, vigiado e moldado por meio de uma organização do espaço e do tempo que visa à docilização e ao rendimento. Não há tempo para respirar, para experimentar o ócio criativo ou para estabelecer vínculos afetivos com os saberes. A gestão do tempo e do espaço torna-se um dispositivo de controle. O fracasso não é lido como sinal de um modelo falho, mas como prova de que o aluno não se esforçou o suficiente.
Essa lógica também estrutura as relações entre os sujeitos escolares. Professores e estudantes compartilham o esgotamento como forma de vida. O ambiente escolar torna-se saturado de cobranças e ausente de trocas. A ansiedade dos alunos é lida como indisciplina, a exaustão dos professores é tomada como incompetência. O sofrimento é individualizado. A dimensão estrutural da crise é apagada. Assim como na lógica neoliberal mais ampla, a escola de tempo integral transforma a falha em culpa e a resistência em patologia.
O tempo integral, moldado por essa lógica de produtividade e vigilância, se aproxima da administração da pobreza. Ao invés de criar condições para o florescimento da vida, ele se volta para a contenção dos sujeitos. A escola vira uma forma de habitar o fracasso. O que se oferece aos estudantes não é um futuro ampliado, mas uma antecipação da precariedade. Em vez de romper com as lógicas punitivistas que atravessam as periferias, a escola passa a reproduzi-las em sua arquitetura, em seu currículo e em seus silêncios.
Essa aproximação entre escola e prisão não é apenas uma metáfora. Ela se concretiza nos modos de circulação dos corpos, na rigidez dos horários, na escassez de espaços de autonomia e na vigilância permanente. Os estudantes são mantidos em sala durante horas, com pouca ou nenhuma mobilidade. As pausas são mínimas e muitas vezes controladas por orientadores que operam como agentes disciplinares. Bibliotecas, quadras e áreas externas, quando existem, são inacessíveis ou monitoradas a ponto de desestimularem qualquer permanência. Há ali um desejo de contenção, não de circulação.
Na prisão, a escola é apresentada como oportunidade de ressocialização. Na escola de tempo integral, o discurso é de formação para a cidadania. Em ambos os casos, a lógica de fundo é a mesma. Não se trata de ampliar o mundo do sujeito, mas de regular sua conduta. A cidadania, quando aparece, vem esvaziada de conteúdo político, reduzida a um ideal de comportamento e autocontrole. Não há incentivo à crítica, à invenção, à criação de mundos possíveis. O que se promove é o encaixe forçado do sujeito em uma realidade que o violenta.
O discurso de sucesso que cerca essas escolas esconde os mecanismos que silenciam os efeitos colaterais do modelo. Os índices de aprovação são usados como vitrine, enquanto os casos de adoecimento emocional, desinteresse profundo, apatia e abandono simbólico são varridos para debaixo do tapete. Não se fala sobre os corpos que desistem em silêncio, sobre os que adoecem em voz baixa, sobre os que resistem apenas pelo vínculo com um ou outro professor. O fracasso não é visível nas estatísticas, mas está inscrito nas paredes, nos olhares cansados, nos corredores esvaziados de afeto.
A transformação da escola em espaço de sofrimento não é um erro de gestão, mas um sintoma de um projeto político mais amplo. O neoliberalismo não se contenta em dominar os corpos economicamente. Ele precisa administrar também os afetos, os desejos, os ritmos e os sonhos. A ansiedade escolar, longe de ser um efeito colateral, torna-se uma tecnologia de governo. Quanto mais ansioso o estudante, mais dependente de aprovação externa. Quanto mais esvaziado de si, mais maleável para o mercado. A pedagogia da ansiedade serve à lógica da produtividade infinita, mesmo quando já não há mais desejo de produzir.
É nesse cenário que a escola de tempo integral se consolida como um dispositivo de antecipação do mundo do trabalho precário. A jornada estendida, a repetição mecânica, a ausência de tempo livre e a fragmentação da experiência criam sujeitos conformados com a exaustão. Aprendem desde cedo que estar cansado é normal, que viver sob pressão é inevitável, que sentir prazer no aprender é privilégio. A escola naturaliza a vida como esforço sem recompensa. Ensina a suportar o insuportável.
O que se perde nesse processo não é apenas a alegria de aprender, mas também a potência de imaginar. Sem imaginação, não há política. Sem criação, não há ruptura. A escola que apaga a arte, o riso, o jogo e a convivência está formando corpos disponíveis para a obediência, não para a transformação.
Em Pernambuco, o tempo integral foi apropriado como ferramenta de contenção dos filhos da classe trabalhadora, sobretudo os jovens negros e periféricos. A promessa de um projeto emancipador foi sequestrada por uma racionalidade técnica que transforma o tempo em rendimento e o estudante em dado.
Por isso, é preciso recuperar o sentido radical da palavra educação. Educar não é domesticar, nem vigiar, nem punir com nove aulas diárias. Educar, do ponto de vista dos interesses da classe trabalhadora, é criar condições para que o sujeito se reconheça no mundo e se transforme com ele. Essa dimensão só é possível quando o tempo é vivido com intensidade, quando o corpo encontra respiro, quando a palavra circula sem medo e quando a escola deixa de ser um espaço de confinamento para se tornar um território de invenção coletiva.
Recusar esse modelo não é recusar a ideia do tempo integral como possibilidade de outra escola. É recusar a perversão que hoje se apresenta como cuidado, mas que opera como castigo; que se anuncia como formação, mas vigia; que promete oportunidade, mas adoece. O que está em jogo é a defesa de um tempo do saber que possa ser vivido e não apenas suportado. Um tempo de criação, de desejo, de mundo e de corpo.
Os CIEPs de Brizola e Darcy Ribeiro, embora longe de qualquer horizonte revolucionário, apontavam para uma escola que reconhecia o direito ao tempo, ao alimento, à arte, à dignidade. Não eram apenas projetos pedagógicos, eram tentativas de afirmar uma outra racionalidade de Estado. Sim, ainda dentro da lógica dos aparelhos ideológicos, ainda ferramentas do Capital, mas, ao menos, sinalizavam para uma inflexão no modo como o Estado se relaciona com os corpos populares. Reivindicar hoje esse horizonte não é idealizar o passado. É reconhecer o abismo presente.
A experiência dos CIEPs, apesar de interrompida por forças conservadoras e neoliberais, permanece como horizonte possível. Havia ali a compreensão de que tempo integral significa vida integral. Alimentação, arte, esporte, saúde, afetos e cultura faziam parte do projeto. Era uma escola que não tinha medo do corpo do povo. Pois era um projeto de tensionamento e de disputa que reconhecia os limites da escola capitalista e que, por isso mesmo, transava com suas contradições.
Em Pernambuco, ainda é possível reinventar essa perspectiva, mas isso exige romper com a lógica da produtividade e da eficiência técnica que rege as atuais políticas educacionais. Esse rompimento pressupõe, antes de tudo, a existência de um sindicato vivo, combativo e independente, cuja atuação não se limite às campanhas salariais, mas que enfrente, de forma incisiva, os projetos hegemônicos e os interesses dos donos do poder. Pressupõe um sindicato capaz de criar e potencializar condições de mobilização da comunidade em torno dessa luta.
Enquanto isso não acontece, as escolas seguem adoecendo em silêncio. Os estudantes se tornam números, os professores resistem como podem, e o tempo se transforma em algo que precisa ser suportado. Mas nem tudo está perdido. Cada projeto de clube, cada roda de leitura, cada aula em que o mundo se abre, ainda que por um instante, são fissuras na engrenagem. São essas fissuras que mantêm viva a possibilidade de uma outra educação.
Enquanto a revolução não vem, e ela não virá por dentro da escola, o que resta é disputar o que ainda pode ser vivido. Porque se nada for feito, seremos apenas cobaias de um laboratório de exaustão e controle, onde a pedagogia da exploração se aperfeiçoa dia após dia. E se for para sonhar baixo, que seja com uma escola menos desumana. Ainda que provisória. Ainda que longe da liberdade que desejamos.
Porque não há, neste momento histórico, um projeto político suficientemente forte para assustar a burguesia. Não há medo de classe. E onde não há medo, há ousadia da exploração em sua forma mais brutal. Diante disso, até mesmo lutar por aquilo que não é revolucionário se torna urgente. É luta por migalhas, sim, mas migalhas que podem, por ora, proteger vidas. Quando o monstro mostra os dentes sem disfarces, cada conquista se transforma em trincheira. Só não podemos nos perder na luta legalista e na atmosfera de cidadania e de afirmação da instituição escolar como símbolo de transformação.
Quanto ao horizonte projetivo possível, é preciso reconhecer que a escola ainda é um campo de/em disputa. E essa disputa passa, em grande parte, pela atuação dos professores, não como heróis solitários ou mártires românticos, mas como trabalhadores precarizados, exauridos, forçados a atuar sob as condições mais adversas, e que, justamente por isso, tornam-se linha de frente na defesa do que ainda pode ser arrancado do esfacelamento. Em meio a salários indignos, metas sufocantes e políticas de controle, muitos seguem tensionando o que está dado, abrindo brechas, criando frestas. Não por vocação, mas por consciência. Porque sabem que a escola, mesmo capturada, constitui terreno de contradição.
Transformar um corredor em espaço de escuta, desviar uma aula para o debate que importa, desobedecer silenciosamente a lógica do controle, esses não são gestos de esperança ingênua, mas formas de resistência cotidiana. Onde há conflito, há política. E onde há política, há possibilidade. A escola é, hoje, ao mesmo tempo, aparato de controle e espaço de sobrevivência ideológica. Por isso, falar das escolas como “protoprisões” não é negá-las, é denunciá-las para reivindicá-las desde a contradição.
É afirmar que a juventude da classe trabalhadora não pode continuar sendo educada para o cansaço, para o silêncio, para o adestramento. É insistir que o tempo vivido na escola pode e deve ser tempo de mundo, de linguagem, de embate. Que a escola pública, mesmo sitiada, ainda é um campo de luta. E que nossa tarefa, enquanto ela existir, é tensionar seus muros por dentro, até que eles cedam.Parte inferior do formulário
Rick Afonso-Rocha é doutor em Letras: Linguagens e Representações (UESC), professor da rede pública de educação do Estado de Pernambuco. Advogado, anarquista e pesquisador independente.
[1] CALDEIRA, Teresa. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34, 2000.
[2] PEREIRA, Raquel de Padua. Produção cultural periférica e urbanização: uma abordagem a partir das representações artísticas teatrais da periferia de São Paulo (SP). Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, [S. l.], v. 27, n. 1, 2025. DOI: 10.22296/2317-1529.rbeur.202525. Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/7702. Acesso em: 8 jul. 2025.
[4] DUTRA, Paulo Fernando de Vasconcelos. Marcos históricos da educação integral no Brasil analisados a partir da experiência de Pernambuco 2004-2021. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.
A reunião detalhou preparativos e a logística do Fórum dos Pontos de Cultura de São Cristóvão a ser realizado em 11 de Outubro, no período da tarde, no auditório da ADUFS, e tratou da avaliação da primeira reunião ampliada da comissão estadual provisória da Rede Sergipe de Pontos de Cultura com o secretário adjunto da SECULT, Neu Fontes, e equipe técnica, em 02 de Outubro.
Relatório gerado com suporte de IA
________________________________________
1. Planejamento do Evento em São Cristóvão (Período da Tarde)
•Lanche/Coffee Break:
oConsiderado essencial para um evento de 3-4 horas.
oSugestão de "cota" (contribuição compartilhada dos quatro Pontos de Cultura organizadores ) para viabilizar.
oIdeias de lanches: frutas, pão com queijo, salgadinhos.
oContato para salgadinhos: Uma fornecedora de Socorro faz "cento de salgado" (100 salgados) por menos de R$100, incluindo entrega.
oLogística: Avaliar a compra e entrega, considerando o compromisso matinal com outra reunião sobre Pontos de Cultura apoiados pela SECULT.
oResponsáveis: Isabela e Danilo devem fazer uma lista de consumo e custos.
•Participantes:
oEstimativa de 20 a 30 pessoas.
oA importância de convites pessoais para participação no Fórum de São Cristóvão, além da divulgação em grupos do whatsapp..
oConfirmações atuais da Ação Cultural: Maíra e mais dois integrantes que confirmaram presença, havendo dois indecisos que aguardam confirmar. A expectativa é cada Ponto organizador trazer 3-4 pessoas.
Verificação de confirmação dos Pontos "Ilê Axé Alaroke” e "Liga de Capoeira".
oInscrição: Uso de formulário (Google Forms) para pré-inscrições e fichas impressas (cerca de 10) para quem se inscrever na hora. O Google Forms gera uma lista para conferência.
oAbertura: O evento não se restringe a "pontos de cultura", sendo aberto a outras agentes culturais que atuam em comunidades, assim como pesquisadores e técnicos interessados em ação comunitária/cultural.
•Logística e Equipamentos:
oLocal: Auditório da Adufs (Campus UFS - São Cristóvão).
oLevar projetor, computador, extensão e cabos de áudio próprios. A cargo de Zezito. O local dispõe de uma potente caixa de som e microfone.
oChegada: A equipe organizadora deverá chegar cedo.
oReunião prévia: Sugere-se que o grupo que for para São Cristóvão saia junto do evento da Funcap pela manhã, antes do final, a fim de organizar a chegada em tempo para o fórum de pontos de cultura de São Cristóvão.
________________________________________
2. Reunião dos Pontos de Cultura apoiados pela Funcap
Horário: Zezito de Oliveira pretende sair da reunião na FUNCAP às 11h, no máximo 11h30, para se preparar para o evento da tarde em São Cristóvão.
oEspera que a programação da FUNCAP seja pontual , com previsão de inicio às 9h .
•Almoço e Deslocamento:
oSugere-se que o grupo almoce junto após a saída da reunião da FUNCAP e se dirija para a UFS em São Cristóvão.
•Programação do evento da manhã organizado pela FUNCAP.
REUNIÃO GERAL DOS PONTOS DE CULTURA
A Reunião Geral dos Pontos de Cultura acontecerá no dia 11 de outubro (sábado), das 9h às 12h, no auditório do Centro de Criatividade (Rua Dom Bosco, 119-149 - Getúlio Vargas, Aracaju). O encontro reunirá os Pontos de Cultura já existentes no estado, os novos pontos contemplados nos editais da FUNCAP e representantes técnicos da SECULT e da FUNCAP. O objetivo é apresentar as diretrizes institucionais e discutir os próximos passos para o Fórum e a TEIA Estadual dos Pontos de Cultura.
Temas da pauta:
• Apresentação da equipe da SECULT/FUNCAP;
• Certificação dos Pontos de Cultura;
• Acompanhamento e contribuições da SECULT/FUNCAP aos projetos contemplados nos editais de Pontos e Pontões de Cultura;
• Definição de data, local e duração da TEIA Estadual dos Pontos de Cultura;
• Proposta de programação da SECULT/FUNCAP para a TEIA;
• Processo de retomada da Rede Sergipana de Pontos de Cultura rumo à TEIA 2026;
• Apresentação dos Pontos de Cultura apoiados nos editais da PNAB/FUNCAP;
• Data, local, duração e condições do Fórum e da TEIA estadual de Cultura de Sergipe.
________________________________________
3. Avaliação da Reunião Anterior com a Secretaria de Cultura do Estado (Secult)
•Aspectos Positivos:
oTratamento da Acessibilidade: A solução quanto a falha técnica no prédio da Funcap com relação a acessibilidade, foi contornada com rapidez e sem stress. (dificuldade de acesso de cadeirante ao local original da reunião) foi detectada. .
oLição Aprendida: A situação serviu como lição para o governo do estado considerar a presença de especialistas em acessibilidade em reformas e construções, e para o "pontão de acessibilidade" com outros órgãos do governo e da sociedade civil especializados inspecionar equipamentos culturais públicos.
•Aspectos Negativos:
oDiscussão Sobre Delegados: A intervenção de um representante da Comissão estadual dos Pontos de Cultura, questionando a quantidade de delegados (30 por estado), definidos no regimento elaborado pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura foi considerada "desnecessária" e um "deslize".
Argumento: Esse critério beneficia estados menores e a pauta não deveria ter sido levantada pelo grupo de Sergipe que se beneficia da regra.
Consequência: Criou divergência interna, gerou desgaste com o gestor público presente e revelou falta de "cultura democrática" ao falar em nome pessoal dento de um contexto coletivo.
oViagem dos Delegados para a TEIA Nacional:
Preocupação com viagens de ônibus para delegados mais velhos e/ou com problemas de saúde.
O secretário mencionou o alto custo de passagens aéreas para Vitória e o translado para a cidade de Aracuz.
Um precedente citado foi a "Conferência das Mulheres" conseguiu que todos os delegados viajassem de avião, mostrando a importância da coesão do grupo e pressão política.
Cansativo e desrespeitoso: Dois participantes da reunião expressam que não é mais aceitável viajar de ônibus e acampar, como no passado; espera-se o mínimo de dignidade para os trabalhadores da cultura.
oEfetividade da Reunião com a Secult:
Embora boa para reflexão crítica sobre a gestão da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), a reunião não forneceu respostas claras sobre a programação detalhada da TEIA e o orçamento da mesma.
Preocupação de que a programação da TEIA será apresentada como "fato consumado" na reunião de 11 de outubro, sem tempo para debate.
Percepção de que a gestão estadual, apesar de alguma abertura, está imersa no modus operandi das relações de poder da cultura politica tradicional, marcada por um viés "vertical" e "autoritário", e o grupo precisa manter a unidade e continuar pontuando suas demandas de forma sempre qualificada.
•Saldo Final Positivo (Reunião com Secult):
oConseguiu-se manter a programação do "Fórum" e da "Teia" conjunta (em novembro), como proposto pelo MINC e pela Comissão Nacional. dos Pontos de Cultura. Isso evitou a separação Fórum dos Pontos de Cultura em outubro, e Teia em novembro, proposto pela Secult, o que não estaria em conformidade com o regimento nacional que exige a presença de um representante da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) no dia dos fóruns estaduais.
________________________________________
4. Próximos Passos e Encerramento
•As questões logísticas práticas para o evento de São Cristóvão serão encaminhadas pelo grupo via whatsapp.
•Confirmação da sequência das apresentações por tema no evento da Funcap do sábado de manhã ( com inicio às 9h no centro de atividades).
•Encerramento da reunião, com agradecimentos aos presentes.
Muito obrigado pela bela e oportuna exortação Dilexi te sobre o cuidado com os pobres. Sua exortação ganha especial sentido no mundo atual, no qual, o Capitalismo perdeu todas as suas máscaras de sistema minimamente humanitário. Multidões de migrantes e continentes inteiros como a África se tornaram descartáveis.
Marcelo Barros -
🙏🏻 | Monge beneditino📝 | Escritor 🏳️ | Assessor de movimentos populares e no diálogo entre as religiões 📖 | Biblista
Essa exortação é também urgente em uma Igreja na qual muitos grupos considerados católicos e a maioria da hierarquia e do clero se divide entre posições de direita e de extrema-direita, uns e outros aprisionados em uma visão de Igreja clerical, autorreferente e saudosa dos velhos tempos de Cristandade. Quem sabe, bispos e padres que não se preocuparam em ler as encíclicas do Papa Francisco, aceitem ler e levar a sério as suas exortações.
A exortação também fará bem a outras Igrejas irmãs. Aqui no Brasil, nesses dias, uma Igreja evangélica conhecida pediu ao Banco Central para abrir um banco. E continua considerada Igreja cristã.
A sua exortação é um bom resumo do que uma boa enciclopédia poderia trazer sobre a ajuda aos pobres nos textos bíblicos, nos documentos da Patrologia e de toda a tradição de vida religiosa na Igreja.
Uma das bases da argumentação é a palavra de Jesus: “pobres, sempre tereis entre vós” (Mt 26, 11). Na ceia de Betânia (casa dos pobres), Jesus cita o capítulo 15 do Deuteronômio que legisla sobre o ano sabático, a anistia das dívidas e a libertação dos escravos, para que não haja mais pobres na sociedade. No entanto, como a sociedade sempre encontra formas de manter as desigualdades injustas, é preciso ajudar os pobres, porque entre vós (e isso é uma acusação), sempre haverá gente empobrecida” (Dt 15, 11).
Aliás, o vocabulário bíblico tem três termos hebraicos para designar o pobre. Na maioria dos textos, anaw ou anawin se traduz melhor por empobrecido do que por pobre. Os livros sapienciais falam dos anawin de Jahwé. É a categoria social e política do povo oprimido. O termo ebion tem o sentido de carente, enquanto dal designa a pessoa estruturalmente necessitada de cuidados especiais.
Essa exortação papal me fez recordar da palavra do querido e saudoso Dom Helder Camara, que, uma vez, o Papa Francisco citou: “Quando eu ajudo os pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que são pobres, dizem que sou comunista”. Do tempo de Dom Helder para cá, o mundo piorou tanto que, quem sabe, mesmo essa exortação que trata mais do cuidado com os pobres e apenas alude às causas estruturais da pobreza, possa ser acusada de comunista.
Muito obrigado, Papa Leão, pela menção honrosa aos movimentos populares e ao seu manifesto desejo de que a Igreja se coloque na solidariedade concreta e na luta pacífica para vencer as causas estruturais da pobreza.
Por falar nisso, a sua carta traz uma longa lista de coisas boas que, em toda a história, a Igreja Católica fez para os pobres. Recordou a proposta evangélica e franciscana de uma Igreja dos pobres e para os pobres. No entanto, todos nós sabemos que, embora todos esses textos sejam verdadeiros e importantes, no que diz respeito à prática concreta, a hierarquia eclesiástica nem sempre agiu de acordo com esses princípios. Durante a história, os representantes da Igreja se uniram aos impérios colonizadores e legitimaram a violência da conquista, da escravidão e, portanto, da origem da pobreza estrutural da maioria de nossos povos. O Papa João Paulo II pediu perdão pelos pecados de alguns filhos da Igreja, mas todos nós sabemos que aqueles eclesiásticos agiram como representantes da Igreja e endossados por documentos oficiais, que até os tempos do Papa Leão XIII, condenavam todos os movimentos sociais, sindicatos e quaisquer organizações de trabalhadores.
Infelizmente, essa indiferença social e política com a manifestação do reinado divino no mundo continua ainda no DNA de muitos eclesiásticos e espero que a sua exortação provoque verdadeira conversão estrutural e comunitária. A mim, me interpela não apenas a ajudar os pobres e ser solidário, mas a denunciar as causas estruturais da pobreza e a lutar contra as estruturas que, diariamente, a produzem e a multiplicam.
A Exortação Apostólica Dilexi te do Santo Padre Leão XIV, que assume e acrescenta reflexões ao projeto do seu amado predecessor, Papa Francisco, trata do amor para com os pobres, sublinhando que este amor está intrinsecamente ligado ao amor de Cristo e é essencial para a missão e santificação da Igreja.
PRINCIPAIS CONCEITOS E IDEIAS CENTRAIS
1. Declaração de Amor de Cristo: A Exortação baseia-se na passagem bíblica «EU TE AMEI» (Ap 3, 9), dirigida a uma comunidade cristã com pouca força. Jesus se identifica «com os últimos da sociedade» e o contato com os que não têm poder é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história (Revelação).
2. Opção Preferencial de Deus e da Igreja pelos Pobres: Trata-se de um conceito teológico que sublinha a ação de Deus que, por compaixão, se dirige à fraqueza humana e tem particularmente a peito aqueles que são discriminados e oprimidos. Esta opção está implícita na fé cristológica e impele a Igreja a uma posição decidida e radical em favor dos mais fracos.
3. A Pobreza como Clamor e Fenômeno Multifacetado: A condição dos pobres representa um grito que interpela a vida, as sociedades e a Igreja. A pobreza não é uma condição única, mas manifesta-se em múltiplas formas, incluindo falta de bens materiais, marginalização social, pobreza moral, espiritual e cultural, e ausência de direitos ou liberdade.
4. Inseparabilidade do Amor a Deus e ao Próximo: O amor ao próximo (especialmente ao pobre) é a prova tangível da autenticidade do amor a Deus. Não se pode amar a Deus sem estender o amor aos pobres. Qualquer ação de amor pelo próximo é um reflexo da caridade divina.
5. Denúncia das Estruturas de Pecado: A pobreza é frequentemente causada por estruturas sociais e estruturais e ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. O pecado social manifesta-se como uma "mentalidade dominante que considera normal ou racional o que não passa de egoísmo e indiferença", definida como alienação social.
6. Os Pobres como Sujeitos e Evangelizadores: Os pobres não são meros objetos de beneficência, mas sujeitos capazes de criar cultura própria, mestres silenciosos e uma fonte de sabedoria, ensinando a simplicidade e humildade. A Igreja precisa de se deixar evangelizar por eles.
“CAPÍTULOS E/OU SEÇÕES” MAIS RELEVANTES
Os capítulos e seções da Exortação organizam o tema da seguinte forma:
● CAPÍTULO II – DEUS ESCOLHE OS POBRES: Este capítulo estabelece o alicerce teológico da opção pelos pobres, detalhando a pobreza radical de Jesus, que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza, e que é o Messias dos pobres e para os pobres.
● A Misericórdia Para Com Os Pobres Na Bíblia: Destaca a centralidade da caridade como mandamento inseparável do amor a Deus, e apresenta a parábola do juízo final (Mt 25, 31-46) como a regra de comportamento pela qual seremos julgados.
● CAPÍTULO III – UMA IGREJA PARA OS POBRES: Oferece um vasto panorama histórico do compromisso eclesial, desde o serviço (diakonía) dos primeiros diáconos e os Padres da Igreja (como São João Crisóstomo, que via os pobres como os verdadeiros tesouros da Igreja), até às Ordens Mendicantes (São Francisco), e as obras de educação e cuidado dos migrantes e enfermos.
● CAPÍTULO IV – UMA HISTÓRIA QUE CONTINUA: Foca-se no Magistério moderno e contemporâneo (Doutrina Social da Igreja). É crucial a citação do Concílio Vaticano II, que afirmou que o mistério de Cristo na Igreja é o mistério de Cristo presente nos pobres. Esta seção aborda a necessidade de lutar contra as estruturas de injustiça e enfatiza os pobres como sujeitos.
● NOVAMENTE O BOM SAMARITANO: Utiliza esta parábola para desafiar a indiferença moderna, questionando com quem nos identificamos, e exorta a “Vai e faz tu também o mesmo”.
● O CUIDADO COM OS ENFERMOS e A IGREJA E A INSTRUÇÃO DOS POBRES: Estas secções sublinham que a compaixão cristã se traduz em ações concretas de promoção humana integral, dignificando o ser humano através do cuidado da saúde e da educação.
PERSONAGENS, TEORIAS E/OU MÉTODOS APLICÁVEIS
Personagens (Pessoas de Destaque)
A Exortação enfatiza a vida de santos e líderes que encarnaram o amor aos pobres:
● Leão XIV: Autor, que assume a herança do projeto.
● Papa Francisco: Predecessor, que iniciou o projeto Dilexi te e cuja Encíclica Dilexit nos aprofundou o amor do Coração de Jesus.
● Jesus Cristo: A figura central, que se fez pobre e é a revelação do privilegium pauperum.
● São Francisco de Assis: Ícone da primavera espiritual. Escolheu imitar Cristo pobre, vendo nos pobres irmãos e imagens vivas do Senhor.
● São João Crisóstomo: Pregador ardoroso da justiça social que alertava que não dar aos pobres é roubá-los.
● São Lourenço: Diácono mártir que apresentou os pobres como "os tesouros da Igreja".
● Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres: Ícones modernos da caridade nos mais indigentes, que viam o serviço como fruto da oração e do amor total a Cristo.
● São José de Calasanz e São João Batista de La Salle: Fundadores de congregações para a educação popular e gratuita dos jovens mais pobres.
● São Oscar Romero: Arcebispo e mártir que centrou a sua opção pastoral no drama dos seus fiéis pobres.
TEORIAS E/OU MÉTODOS APLICÁVEIS
● Doutrina Social da Igreja (DSI): Um tesouro de ensinamentos que se desenvolveu a partir dos desafios modernos, começando com a Rerum novarum (Leão XIII). A DSI estabelece a destinação universal dos bens da terra e a função social da propriedade.
● Obras de Misericórdia: Recomendadas como um sinal da autenticidade do culto e para nos abrir à transformação que o Espírito pode realizar.
● Partilha e Misericórdia (Modelo do Bom Samaritano): O método prático para combater a indiferença, que implica parar, olhar, tocar e partilhar.
● A Caridade Intelectual: Conceito enfatizado pelo Beato António Rosmini, segundo o qual o conhecimento e a formação são dimensões indispensáveis para o desenvolvimento integral da pessoa.
● Método Preventivo (São João Bosco): Baseado nos princípios de razão, religião e amabilidade, aplicado na educação de jovens.
LIÇÕES OU INSIGHTS PRÁTICOS
Os pontos mais significativos que podem ser aplicados ou refletidos são:
Lição/Insight Prático
Significado e Aplicação
A Pobreza como "Questão Familiar"
O cristão não deve ver os pobres apenas como um problema social ou objeto de um departamento eclesial, mas como parte do seu povo, da sua "carne". Isso exige dedicar-lhes tempo, escuta e atenção amável.
Combate às Ideologias Mundanas
É essencial rejeitar preconceitos ideológicos, como a falsa visão de meritocracia, e denunciar a cultura que descarta os outros com indiferença. O bem-estar pode tornar-nos cegos.
A Necessidade de um Duplo Compromisso
O compromisso com os pobres deve ser duplo: estrutural (lutar pela erradicação das causas sociais e estruturais da pobreza) e pessoal/prático (gestos concretos de amor e caridade). Planos de assistência são respostas provisórias; a falta de equidade é a raiz dos males sociais.
A Esmola como Encontro e Toque
Embora não substitua a luta pela justiça, a esmola continua a ser um momento necessário de contato, encontro e identificação com a condição do outro. É um gesto que purifica o coração e permite tocar a carne sofredora dos pobres.
Prioridade do Cuidado Espiritual
A pior discriminação que os pobres sofrem é a falta de cuidado espiritual. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se primariamente numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária.
Libertação em Todas as Formas de Cativeiro
A missão da Igreja é proclamar a libertação, atuando contra as escravidões modernas (tráfico, trabalho forçado). A liberdade de Cristo manifesta-se como amor que cuida e liberta de todas as amarras.
A Igreja deve ser "em saída"
A comunidade que se limita a subsistir tranquila, sem se ocupar criativamente com a dignidade dos pobres, corre o risco de dissolução e de ser submersa pelo mundanismo espiritual.
Reconhecer o Pobre como Mestre
Devemos receber a "misteriosa sabedoria" que Deus quer comunicar através dos pobres. Eles revelam a precariedade da vida aparentemente segura e convidam a simplificar a nossa própria vida.
O amor pelos pobres é um elemento essencial da história de Deus conosco e irrompe do próprio coração da Igreja como um apelo contínuo ao coração dos cristãos. Quando a Igreja se ajoelha diante dum leproso, criança desnutrida ou moribundo anónimo, ela realiza a sua vocação mais profunda: amar o Senhor onde Ele está mais desfigurado.
--------------------------------------
Abaixo, acréscimos do editor da postagem para linkar/somar com a mensagem do Papa Leão XIV
Pelo menos a manchete é honesta! Para tentar impedir a reeleição de Lula, a oposição coloca a faca no pescoço do povo e o dinheiro no bolso dos bilionários, das bets e bancos.
Diante da baixa qualidade e por não atender as reais necessidades pedagógicas, professoras e professores do Centro de Excelência Professor João Costa, em Aracaju, elaboraram documento, uma declaração em formato de abaixo assinado, que foi entregue ao diretor da instituição de ensino, no qual a se recusam a aceitar os tablets oferecidos pelo Governo do Estado como forma de auxílio tecnológico.
No documento as professoras e professores levantaram quatro pontos que justificam e que dão fundamentação a recusa. São:
1. Baixa qualidade técnica dos equipamentos – os tablets apresentam capacidade de processamento limitada, baixo desempenho de memória e armazenamento insuficiente, o que compromete a execução de softwares educacionais, aplicativos de gestão de aulas e ferramentas interativas essenciais ao processo de ensino-aprendizagem.
2. Incompatibilidade com as demandas pedagógicas – os dispositivos não suportam o uso de plataformas digitais frequentemente utilizadas pelos professores, tais como videoconferências, programas de simulação e recursos multimídia necessários às práticas pedagógicas modernas.
3. Fragilidade estrutural e durabilidade reduzida – constatou-se que o material é frágil e pouco resistente ao uso contínuo em sala de aula, tornando-se inadequado para o ambiente escolar.
4. Desalinhamento com as necessidades dos professores – os docentes demandam ferramentas tecnológicas robustas, como notebooks de alta capacidade, que permitam:
– Preparação e edição de aulas com softwares de maior processamento;
– Preparação de materiais, atividades e provas que exige organização, acesso a diferentes recursos e constante atualização;
– Armazenamento e compartilhamento de materiais pedagógicos em diversos formatos;
– Utilização de recursos multimídia (áudio, vídeo e realidade aumentada) de forma eficiente;
– Acesso rápido e estável a plataformas de videoconferência e ensino remoto.
Auxílio tecnológico
Entre as pautas de luta do magistério da Rede Estadual está a retomada do auxílio internet e do auxílio tecnológico pelo Governo do Estado.
Em audiência com o SINTESE, em março deste ano, o governador, Fábio Mitidieri, apresentou a proposta de fazer a entrega para as professoras e professor da Rede Estadual, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seed), de tablets como forma de atender a pauta do auxílio tecnológico. Foi colocado que os tablets seriam do mesmo modelo dos que foram entregues aos estudantes.
A proposta foi recusada em assembleia pela categoria. As professoras e professores fizeram diversas críticas sobre a baixa qualidade dos tablets que foram entregues aos estudantes.
“O argumento das professoras e professores do João Costa é real, é fundamentado, eles de fato, por verem uso dos estudantes, sabem da má qualidade dos equipamentos. A memória e o funcionamento dos tablets são muito ruins. Inclusive, isso já tem gerando uma reação negativa dos próprios estudantes em relação à qualidade do equipamento. Ao insistir na entrega desses tablets, o Governo do Estado, além de desconsiderar a autonomia docente, oferece um equipamento tecnicamente limitado para nossas demandas profissionais. O SINTESE apoio e parabeniza a ação das professoras e professores do João Costa”, coloca o presidente do SINTESE. professor Roberto Silva.
A categoria defende que o auxílio tecnológico deve ser assegurado em dinheiro, no valor de R$ 8 mil, os quais as professoras e professores farão prestação de contas junto a Seed.
POR QUE O CONCEITO DE CULTURA DIGITAL É IMPORTANTE PARA A EDUCAÇÁO DO SÉCULO XXI.
Com suporta da IA deepseek
Cultura digital nas escolas não significa apenas usar computadores e tablets em sala de aula. Vai muito além da simples presença de tecnologia. Significa transformar a maneira como a comunidade escolar (alunos, professores, gestores e famílias) pensa, aprende, se comunica e produz conhecimento em um mundo cada vez mais mediado pelas tecnologias digitais.
É a integração profunda dos princípios, ferramentas e competências da era digital no DNA da escola.
Os Pilares da Cultura Digital nas Escolas
Podemos entender esse conceito através de alguns pilares essenciais:
1. Letramento Digital e Competências para o Século XXI:
Não é só saber usar um software, mas desenvolver habilidades como:
Pensamento Crítico: Avaliar a confiabilidade de informações encontradas online, identificar fake news e entender os algoritmos por trás das redes sociais.
Criatividade e Autoria: Usar ferramentas digitais para criar (vídeos, podcasts, blogs, programação, arte digital) e não apenas consumir conteúdo.
Colaboração: Trabalhar em projetos conjuntos usando ferramentas online, preferencialmente utilizado software livre , mesmo à distância.
Comunicação: Saber se expressar de forma clara e adequada em diferentes ambientes digitais (e-mails, fóruns, videoconferências).
2. Mudança no Papel do Professor e do Aluno:
O professor deixa de ser o detentor único do conhecimento e se torna um mediador, curador e facilitador. Ele guia os alunos na navegação pelo vasto oceano de informações digitais.
O aluno deixa de ser um receptor passivo e se torna um agente ativo, um produtor de conhecimento, que pesquisa, questiona e cria.
3. Integração Curricular Significativa:
A tecnologia não é uma disciplina separada (como "aula de informática"). Ela é uma ferramenta integrada a todas as matérias.
Em História: Usar mapas interativos e visitas virtuais a museus.
Em Geografia: Analisar dados geolocalizados e imagens de satélite.
Em Língua Portuguesa: Produzir um blog literário ou um canal de notícias no YouTube.
Em Ciências: Simular experimentos em laboratórios virtuais.
4. Desenvolvimento da Cidadania Digital:
Ensinar os alunos a usarem a tecnologia de forma ética, segura e responsável. Isso inclui:
Segurança Online: Proteger dados pessoais, criar senhas fortes, entender configurações de privacidade.
Netiqueta: Ter um comportamento respeitoso nas interações online.
Combate ao Cyberbullying: Saber identificar e agir contra a violência digital.
Consciência sobre a Pegada Digital: Entender que nossas ações online deixam rastros permanentes.
5. Acesso e Inclusão Digital:
Garantir que todos os alunos tenham acesso às ferramentas e à conectividade necessárias, combatendo a exclusão digital, que é uma nova forma de desigualdade social.
O que NÃO é Cultura Digital nas Escolas:
Substituir o quadro negro por uma lousa digital para fazer a mesma aula expositiva de sempre.
Usar tablets apenas para diário eletrônico e jogos educativos sem um propósito pedagógico claro.
Proibir o uso de celulares sem discutir seu potencial como ferramenta de pesquisa e criação.
Ter um laboratório de informática trancado e sem integração com o currículo.
Benefícios de Implementar a Cultura Digital:
Aumento do Engajamento: As aulas se tornam mais dinâmicas e próximas da realidade dos alunos.
Aprendizado Personalizado: Permite que cada aluno aprenda no seu próprio ritmo e de acordo com seus interesses.
Desenvolvimento de Habilidades para o Futuro: Prepara os estudantes para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade, que demandam essas competências digitais.
Melhoria da Colaboração: Facilita o trabalho em equipe e a comunicação entre alunos, professores e famílias.
Conclusão
Cultura digital nas escolas é, portanto, uma mudança de mentalidade. É sobre preparar os alunos não apenas para usar ferramentas tecnológicas, mas para serem críticos, criativos e cidadãos responsáveis em um ambiente digital. É entender que a tecnologia não é um fim em si mesma, mas um meio poderoso para promover uma educação mais significativa, inclusiva e alinhada com os desafios e oportunidades do nosso tempo.
Num poema político, a história interrompida de um Brasil-vanguarda. Software livre, jovens hackers, pontos de cultura. Um dos semeadores desta época reconstitui a efervescência das redes – hoje “fio partido” que precisa ser reconstruído.
O poema-memorial abaixo, foi um dos pontos altos do encontro da Rede Sacix, realizado em São Paulo nos dias 21, 22 e 23 de maio no Centro Maria Antônia (USP), permeado por diversos tipos de conhecimentos e interação, um encontro com ciência, beleza, ética, pensamento critico e afeto.
Uma combinação difícil de fazer em tempos de avanço do tecnofeudalismo, mas que precisamos buscar com insistência.
A lembrar "na mídia da novidade média" e, "na moda da nova idade média" conforme antecipou Cazuza em Medieval, canção lançada em 1986.
E para concluir animando, vamos de Paulo Freire e de Chico César, aqui na interpretação da Sandy "E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria".
[Relatório do 1º Encontro Nacional da Rede SACIX – São Paulo] Por Iasmin Feitosa - Agente Jovem Cultura Viva - Ação Cultural/ Pontão de Cultura Digital e Mídia Livre e Aluna egressa do ensino médio no Carlos Firpo, pertencente a rede pública estadual.
Período: 21 a 23 de maio de 2025
Dia 21/05 – Abertura e Reflexões Iniciais
O evento teve início com a Mesa de Abertura, composta por:
• João Pontes
• Mestre Wetenberg
• Jader Gama
• Eleilson Leite
• Beá Tibiriçá
• Bel Galvão
O debate girou em torno do tema Soberania Digital, partindo da provocação:
> “A quem pertence a Soberania Digital?”
Também foram discutidos temas como Comunicação Comunitária e Mídias Periféricas, trazendo relatos de vida e experiências pessoais de dois convidados, que enriqueceram a reflexão. O encerramento do dia foi marcado pela apresentação de poesias potentes e inspiradoras, conectando cultura e tecnologia.
Dia 22/05 – Mídias Livres e Tecnologias para Autonomia
O segundo dia iniciou com a Mesa 2 – Mídias Livres e o Resgate da Internet como Espaço Livre e Democrático, com participação de:
• Leandro Saraiva
• Laurindo Leal
• Samira de Castro
• Antônio Martins
• Mediação: Wilken Sanches
Oficinas Participadas:
1. O Uso do Software Livre na Vida Cotidiana
Conceitos básicos:
Software: Programa ou aplicação que roda em computadores ou dispositivos.
Hardware: Componentes físicos dos dispositivos (máquinas, computadores, celulares, etc.).
GT de Comunicação – Ações e iniciativas:
• Comunicação articuladora
• Semana de Software Livre (evento)
• Eventos diversos sobre Software Livre
• Site do Movimento Software Livre
• Plataforma soberania.digital e a campanha Internet Legal
2. Software Livre e o Fediverso
O que é Software Livre?
São programas que garantem as seguintes 4 liberdades:
1. Usar o programa como quiser
2. Estudar e adaptar o programa
3. Compartilhar cópias
4. Modificar e distribuir suas versões adaptadas
Impacto social:
• Garante inclusão, colaboração e desenvolvimento sustentável.
• É uma ferramenta de transformação social, técnica e política.
Iniciativas destacadas:
Sertão Digital: Movimento que promove transformação tecnológica e social no interior do Nordeste, buscando tornar o Sertão um polo de inovação e tecnologia
Sobre a Internet:
Uma rede de computadores interconectados, que trocam informações através de cabos e servidores
Plataformas e Programas:
• Brasil Participativo
• Movimento Software Livre
Fediverso – O que é?
Um ecossistema de plataformas descentralizadas de redes sociais e serviços na web, construído com Software Livre.
Permite criação de perfis em servidores diferentes (instâncias) que se comunicam entre si.
Garante interação, privacidade e autonomia dos usuários.
Tecnologias e Protocolos:
Baseado no protocolo ActivityPub , adotado por várias plataformas desde 2018
• Webfinger: protocolo de identificação usado no Fediverso
Principais plataformas:
• Mastodon (microblog)
• Friendica (rede social)
• Pixelfed (compartilhamento de imagens, alternativa ao Instagram)
• PeerTube (hospedagem de vídeos, alternativa ao YouTube)
Fediverso como Política Pública:
Exemplo: FediGov – (fedigov.org.br)
Por que migrar?
• Soberania Digital
Proteção de dados
• Responsabilidade sobre o uso de dinheiro público
Encontro descontraído no Coletivo Digital, próximo ao Beco do Batman, com música ao vivo e trocas riquíssimas entre os participantes.
Dia 23/05 – Encerramento e Propostas
O último dia contou com a Mesa 3, abordando os temas:
• Soberania Digital
• Regulamentação de Plataformas
• Cultura Viva
O debate reforçou a importância da adoção de Software Livre, estimulando a descontinuidade no uso de ferramentas proprietárias.
Na Plenária de Encerramento, foram apresentadas e discutidas diversas propostas para fortalecimento da rede e dos territórios, encerrando o evento com um almoço coletivo no Armazém do Campo.
Num poema político, a história interrompida de um Brasil-vanguarda. Software livre, jovens hackers, pontos de cultura. Um dos semeadores desta época reconstitui a efervescência das redes – hoje “fio partido” que precisa ser reconstruído.
Convidaram-me para encontro promovido pelo Pontão de Cultura Sacix com o pedido uma análise sobre a experiência brasileira com a Cultura Digital, particularmente sob o programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura, no período entre 2004 e 2010, momento em que o Brasil foi referência e vanguarda mundial no tema.
Nesse meu tempo da vida, de volta às minhas raízes caipiras, olhando para um bosque a partir de meu quintal, no lugar de uma palestra, prefiro oferecer a análise em forma de poema.
Cultura Digital: O que foi, o que será
Foi real.
Foi vanguarda.
O Brasil ensinou ao mundo
que cultura não se enquadra,
não se engarrafa,
não se vende na prateleira dos monopólios.
Cultura Digital
autonomia tecnológica
trabalho colaborativo
generosidade intelectual.
Software Livre,
código aberto
como um rio sem dique
que arrebenta as margens
com conhecimentos que se completam,
afluentes do rio maior;
cada qual com seu saber e modo de ser,
gente que nunca se viu pessoalmente,
mas que sabiam estarem na afluência
para um rio grande como o Amazonas,
digital, imenso, real.
Inteligência vital
o fluxo do saber
que não é artificial,
é pulsante, coletivo.
Ação Cultura Digital da Cultura Viva e os Pontos de Cultura,
cada comunidade, cada Ponto,
com seu estúdio multimídia
em tecnologias livres.
Autonomia para se ver e ser visto
do jeito que se quer,
do jeito que se é.
Autonomia para gravar músicas,
fazer filmes, compor sinfonias,
contar e recontar histórias,
não mais pelos outros,
mas por si,
na voz de cada Ponto de Cultura,
cada comunidade, cada povo.
Povo livre,
dono do seu destino,
processando dados
controlando programas
interpretando processos lógicos
navegando em barco digital.
Sim, aconteceu!
Feito pelas mãos do povo.
Eu vi!
Muitos de vocês viram;
ou melhor, fizeram.
Sim, aconteceu!
O barco Xemelê
em referência ao código XML,
abrasileiramento em ritmo e nome lúdico.
Conversê,
rede social para os Pontos de Cultura,
essa rede foi feita,
juntava as funcionalidades do youtube e facebook
quando esses engatinhavam.
Foi em 2006,
o futuro era nosso.
Não foi,
mas poderia ter sido nosso.
Tantos jovens hackers,
engenheiros da computação
desenvolvedores
ativistas da cultura digital
trabalhando em união.
Pode haver maior poema que esse?!?!
Tantos navegando rios
cruzando estradas
espalhando sementes digitais.
Tantos conhecimentos ofertados
entre igarapés,
nas rotas dos Mocambos,
junto aos Ikepeng, Ashaninka,
o Vídeo nas Aldeias,
nas favelas, periferias,
nos becos e praças,
nas cidades pequenas e grandes…
Gilberto Gil ministro da Cultura
e um bando de tropicalistas e comunistas,
hackers, artistas, ambientalistas…
À frente da Cultura Digital,
um velho hippie, Cláudio Prado.
Sucata tecnológica transformada
em computadores potentes,
o futuro começava
nas mãos da gente,
do povo, dos de abaixo.
Circuitos reciclados,
antenas de Wi-Fi feitas
com lata de leite em pó,
conexão por internet via satélite
(programa G-sac, do Ministério das Comunicações),
chegando nos quilombos,
no Xingu e assentamentos rurais.
Tempo de metarreciclagem digital,
colaboração, partilha
e generosidade intelectual
Sim, aconteceu!
Oitenta e duas
Oficinas de Conhecimentos Livres
realizadas em 6 anos, de 2004 a 2010,
por todo canto, com milhares de ativistas,
mestras e mestres da cultura popular,
jovens dos Pontos de Cultura do Brasil profundo.
Onde?
Nas favelas, aldeias, vilas rurais, metrópoles…
Para quem, com quem?
Jovens das periferias, indígenas, quilombolas, camponeses…
Milhares de sonhares em criação comum,
Creative Commons e suas licenças livres.
Sim, aconteceu!
Cada Ponto de Cultura com suas
tecnologias, memórias e miragens;
conhecimento compartilhado
transformado em arte e potência.
Haverá sonho maior que esse?!?!
Aconteceu.
Foi real,
poesia máxima da Cultura Viva,
o mundo olhou para o Brasil com admiração;
não o mundo das ganâncias,
dos egoísmos e individualismo,
o mundo da cultura livre
pelo bem comum.
O mundo admirou,
estudou, colaborou,
aprendeu e perguntou:
Como foi possível?
Como poderiam os mestiços, os cafuzos,
os periféricos, os invisíveis, a gente dos rincões do Brasil,
de Pontos de Cultura que nunca antes haviam sido percebidos,
criarem o futuro antes do tempo?
Nos antecipamos até ao “deserto de notícias”,
compreendemos a comunicação
como direito humano básico,
não como mercadoria;
surgiram os Pontos de Mídia Livre.
Poesia em papel de embrulhar pão,
carbono zero nas notícias,
financiamento público para revistas,
sites, rádios, TV, podcasts (e nem havia podcast).
Se deu vez e voz ao midialivrismo
e à comunicação comunitária
como nunca antes e nunca mais se viu,
nem no Brasil, nem em lugar algum,
mas aqui aconteceu, mesmo que em tempo curto.
Sim, aconteceu!
Imaginem se tudo isso tivesse tido continuidade?
Ano a ano, melhorando cada vez mais,
com mais apoio.
Imaginem…
Mas o tempo virou poeira,
veio 2011 e, no silêncio traiçoeiro dos gabinetes,
retração, retrocesso (que começou no primeiro dia).
desmonte, assédio e perseguição.
O que era rede virou fio partido,
o que era livre foi trancado
em códigos proprietários
sob o mando das Big Techs.
Como foi possível desmontar invenção tão bonita?
Desprezo àquilo que o povo inventa.
Os que cortavam os cabos do futuro
não percebiam que,
ao sufocar a Cultura Viva e a ação da Cultura Digital,
estariam estrangulando a própria garganta.
Calaram a voz do povo,
a única voz que poderia ter defendido
o governo que cairia poucos anos depois.
Golpe seco, sobrou o grito
– ah, o grito -,
esse ecoou do outro lado
onde o medo plantou ódio
a ignorância virou intolerância,
e a treva alargou os dentes.
Sem cultura digital autônoma,
sem alegria e invenção,
sem ousadia, sem encontro,
cresceu o monstro.
Monstros erguem medos,
agora com nome de Fake News,
eufemismo para mentiras, ódios e cizânias,
censura e manipulações algorítmicas.
Atropelados em turbilhão,
talvez sequer tenham entendido
que ao perseguir a Cultura Digital
estavam a colocar o Golpe adentro.
De certa forma o Golpe sempre esteve dentro,
disfarçado de burocracia sem alma,
rendida, hedonista (como Max Weber descreveu).
Retrocesso travestido de técnica que é atraso
parado no tempo que corre ao contrário.
É assim na cabeça de todo vassalo,
colonizado, voluntariamente servil,
sempre enredado em seus grilhões;
o Golpe sempre está dentro.
Tesoura fria a cortar cabos e sonhos
sempre há em governos,
do lado que for,
impedir avanços é da lógica do Estado,
se moldar e dizer que não pode mudar.
O Estado tem lado,
não aceita emancipar,
porque, se emancipa,
perde o poder de controlar.
Avanços, só por frestas e arestas
que logo são fechadas
quando os que mandam
percebem que avançando assim
perderão o poder de mandar.
Enfim…
Não vale a pena gastar verso
com quem prefere se amoldar
a lutar pela emancipação.
Enfim…
O que um dia se sonhou Cultura Livre
foi sendo substituído pela trama dos algoritmos.
O que poderia ter sido nosso
foi dominado pelos impérios invisíveis.
Enfim…
Hoje, até a comunicação das Forças Armadas
passa por satélites de multibilionário
com saudações nazistas.
Isso sim é perder soberania, se render.
Enfim…
Quanto retrocesso!
Poderia ter sido diferente,
mas a hora correu ao contrário
e as Big Techs tomaram o domínio do tempo.
O Brasil esqueceu que foi vanguarda
e, na amnésia do tempo,
abriu caminho para a treva,
retrocedeu.
Pode haver maior tragédia que essa?!?!
Mas nada está morto
enquanto houver quem lembre,
nada se perde
quando o povo decide recomeçar.
A Cultura Digital
segue na rota dos Baobás,
a Cultura Viva
segue pulsando nos Pontos de Cultura que resistem.
O Brasil ensinou o mundo uma vez,
ensinará de novo,
o que foi, será,
o que cortaram, renascerá.
Onde há raiz
há retorno da vida
que pode surgir
do redemoinho do Saci;
ou melhor, Sacix.
Que redemoinho será esse?
Um furacão de graça,
que rola, roda, sem parar, sem fim,
com um pé só,
riso e vento unidos,
turbilhão de vida e arte,
tecnologia em cultura livre,
dança com alegria e sabedoria,
passado, presente e futuro,
tradição e inovação;
Revolução.
Agora é fazer de novo,
Sacix é um belo nome para uma Rede a desafiar o X.
Novos estúdios,
datacenters distribuídos,
com tecnologia nossa,
colaborativa, generosa.
Metarreciclagem outra vez!
Inteligência em Teia,
vital ao invés de artificial,
inventando aquilo que nem se sabe…
Enfim, libertação!
Outras Palavras é feito por muitas mãos. Se você valoriza nossa produção, contribua com um PIX para outrosquinhentos@outraspalavras.net e fortaleça o jornalismo crítico.