sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O Natal não é uma história ocidental – é uma história palestina. Por Rev. Dr. Munther Isaac, pastor e teólogo palestino luterano.

O Natal é uma história de império, injustiça e da vulnerabilidade das pessoas comuns apanhadas no seu caminho.

Todo mês de dezembro, grande parte do mundo cristão entra em um ciclo familiar de celebrações: canções natalinas, luzes, árvores decoradas, frenesi consumista e a imagem acolhedora de uma noite nevada. Nos Estados Unidos e na Europa, o discurso público frequentemente fala em “valores cristãos ocidentais”, ou mesmo na vaga noção de “civilização judaico-cristã”. Essas expressões tornaram-se tão comuns que muitos presumem, quase automaticamente, que o cristianismo é inerentemente uma religião ocidental — uma expressão da cultura, história e identidade europeias.

Não é.

O cristianismo é, e sempre foi, uma religião do Oriente Médio/Ásia Ocidental. Sua geografia, cultura, visão de mundo e histórias de fundação estão enraizadas nesta terra — entre povos, línguas e estruturas sociais que se assemelham muito mais às da Palestina, Síria, Líbano, Iraque e Jordânia de hoje do que a qualquer coisa imaginada na Europa. Mesmo o judaísmo, invocado no termo “valores judaico-cristãos”, é em si um fenômeno genuinamente do Oriente Médio. O Ocidente recebeu o cristianismo — certamente não o criou.

E talvez nada revele a distância entre as origens do cristianismo e sua expressão ocidental contemporânea de forma mais nítida do que o Natal — a história do nascimento de um judeu palestino, um filho desta terra que nasceu muito antes do surgimento das fronteiras e identidades modernas.

O que o Ocidente achou do Natal

No Ocidente, o Natal é um mercado cultural. É comercializado, romantizado e envolto em camadas de sentimentalismo. A ostentação na troca de presentes ofusca qualquer preocupação com os mais pobres. A época tornou-se um espetáculo de abundância, nostalgia e consumismo — um feriado desprovido de sua essência teológica e moral.

Até mesmo os versos conhecidos da canção natalina Noite Silenciosa obscurecem a verdadeira natureza da história: Jesus não nasceu em meio à serenidade, mas sim à turbulência.

Ele nasceu sob ocupação militar, em uma família deslocada por um decreto imperial, em uma região que vivia sob a sombra da violência. A Sagrada Família foi forçada a fugir como refugiada porque os meninos de Belém, segundo a narrativa do Evangelho, foram massacrados por um tirano temível determinado a preservar seu reinado. Soa familiar?

Na verdade, o Natal é uma história de império, injustiça e da vulnerabilidade das pessoas comuns apanhadas no seu caminho.

Belém: Imaginação versus realidade

Para muitos no Ocidente, Belém – o local de nascimento de Jesus – é um lugar de imaginação, um cartão-postal da antiguidade, congelado no tempo. A "pequena cidade" é lembrada como uma vila pitoresca das escrituras, em vez de uma cidade viva e pulsante, com pessoas reais, com uma história e cultura próprias.

Belém hoje está cercada por muros e postos de controle construídos por um ocupante. Seus moradores vivem sob um sistema de apartheid e fragmentação. Muitos se sentem isolados, não apenas de Jerusalém – que o ocupante não permite que visitem – mas também do imaginário cristão global que venera o passado de Belém enquanto frequentemente ignora seu presente.

Esse sentimento também explica por que tantos no Ocidente, embora celebrem o Natal, se importam pouco com os cristãos de Belém. Pior ainda, muitos adotam teologias e posicionamentos políticos que apagam ou descartam completamente a nossa presença para apoiar Israel, o império de hoje.

Nesses contextos, a Belém antiga é venerada como uma ideia sagrada, mas a Belém moderna — com seus cristãos palestinos sofrendo e lutando para sobreviver — é uma realidade incômoda que precisa ser ignorada.

Essa desconexão é importante. Quando os cristãos ocidentais se esquecem de que Belém é real, eles se desconectam de suas raízes espirituais. E quando se esquecem de que Belém é real, também se esquecem de que a história do Natal é real.

Eles se esquecem de que tudo aconteceu entre um povo que vivia sob o domínio de um império, que enfrentava deslocamentos, que ansiava por justiça e que acreditava que Deus não estava distante, mas sim entre eles.

O que o Natal significa para Belém

Então, como é o Natal quando contado da perspectiva das pessoas que ainda vivem onde tudo começou — os cristãos palestinos? Que significado ele tem para uma pequena comunidade que preservou sua fé por dois milênios?

Em sua essência, o Natal é a história da solidariedade de Deus.

É a história de um Deus que não governa de longe, mas está presente entre as pessoas e toma o partido dos marginalizados. A encarnação — a crença de que Deus se fez carne — não é uma abstração metafísica. É uma afirmação radical sobre onde Deus escolhe habitar: na vulnerabilidade, na pobreza, entre os oprimidos, entre aqueles que não têm poder algum, exceto o poder da esperança.

Na história de Belém, Deus não se identifica com os imperadores, mas com aqueles que sofrem sob o império — suas vítimas. Deus não vem como um guerreiro, mas como um bebê. Deus está presente não em um palácio, mas em uma manjedoura. Esta é a solidariedade divina em sua forma mais marcante: Deus se une à parte mais vulnerável da humanidade.

O Natal, portanto, é a proclamação de um Deus que confronta a lógica do império.

Para os palestinos de hoje, isso não é mera teologia — é experiência vivida. Quando lemos a história do Natal, reconhecemos o nosso próprio mundo: o censo que obrigou Maria e José a viajar assemelha-se às autorizações, aos postos de controle e aos controles burocráticos que moldam o nosso dia a dia. A fuga da Sagrada Família ressoa com os milhões de refugiados que fugiram das guerras em toda a nossa região. A violência de Herodes ecoa na violência que vemos à nossa volta.

O Natal é uma história palestina por excelência.

Uma mensagem para o mundo

Belém celebra o Natal pela primeira vez após dois anos sem festividades públicas. Foi doloroso, mas necessário, cancelar nossas comemorações; não tínhamos outra escolha.

Um genocídio estava em curso em Gaza, e como pessoas que ainda vivem na terra natal do Natal, não podíamos fingir que não. Não podíamos celebrar o nascimento de Jesus enquanto crianças da sua idade eram retiradas mortas dos escombros.

Celebrar esta época não significa que a guerra, o genocídio ou as estruturas do apartheid tenham terminado. Pessoas ainda estão sendo mortas. Ainda estamos sitiados.

Em vez disso, nossa celebração é um ato de resiliência — uma declaração de que ainda estamos aqui, de que Belém continua sendo a capital do Natal e de que a história que esta cidade conta deve continuar.

Numa época em que o discurso político ocidental instrumentaliza cada vez mais o cristianismo como marcador de identidade cultural — muitas vezes excluindo as próprias pessoas entre as quais o cristianismo nasceu — é vital retornar às raízes dessa história.

Neste Natal, o nosso convite à igreja global — e aos cristãos ocidentais em particular — é para que nos lembremos de onde a história começou. Para que nos lembremos de que Belém não é um mito, mas um lugar onde ainda vivem pessoas. Se o mundo cristão quiser honrar o significado do Natal, deve voltar o seu olhar para Belém — não a Belém imaginária, mas a Belém real, uma cidade cujo povo ainda hoje clama por justiça, dignidade e paz.

Lembrar de Belém é lembrar que Deus está ao lado dos oprimidos — e que os seguidores de Jesus são chamados a fazer o mesmo.

Reverendo Dr. Munther Isaac é um pastor e teólogo palestino. Ele pastoreia a Igreja Evangélica Luterana Hope em Ramallah e é diretor do Instituto de Belém para a Paz e a Justiça.


Al Jazeera, 24 de dezembro de 2025

Papo Reto com Neri Silvestre (6)- Pós-Natal para os agentes comunitários de cultura

O Brasil é gigante, continental, e possui uma diversidade cultural igualmente gigantesca. Nossa cultura alcança todas as manifestações, enraizadas em saberes ancestrais, a cultura afro tupi, com tecnologias sociais próprias, cosmo visões e múltiplos modos de vivência.

Nosso problema não são as manifestações culturais são os apoios. O que nos atravessa é uma democracia incompleta: a falta de orçamento, a ausência de políticas estruturantes, a escassez de diálogo e os muitos preconceitos ainda inseridos na cultura.

Agora é Natal. O Papai Noel não veio, as luzes se apagaram, e muitos vivem a distopia do consumo.

Em 2024, foram lançados os Comitês de Cultura e a política dos Agentes Territoriais de cultura.

Milhares de agentes concorreram às vagas; na segunda leva, novamente, muitos candidatos e candidatas.

Isso revela a precariedade de quem vive da cultura na base, historicamente abandonada, o olhar tem que ser generoso. O próprio processo é complexo, pois ainda operamos com pequenos ensaios de democracia.

O agente comunitário de cultura já deveria estar previsto nos municípios. Seu papel central seria conectar as políticas culturais a outras políticas públicas e à população, para que, de fato, elas cheguem onde devem chegar: no povo,  e também nos territórios.

Isso implica a criação de um laço fundamental, que passa pela formação conjunta dos agentes e dos Conselhos de Política Cultural, que não dão conta sozinhos. Falta uma formação centrada no desenvolvimento das políticas culturais, assim como ocorre no SUS e deveria acontecer no SNC, que, por sua vez, ainda caminham de forma capenga, quase protocolar e sem força de lei que é essa estrutura.

Neri Silva Silvestre: Produtor cultural, articulador e gestor cultural, idealizador do Sarau na Quebrada, poeta e agitador cultural. Sempre foi um sujeito inquieto. Quando jovem lança com o grêmio escolar, o Jornal Macunaíma, daí não parou mais. Esteve à frente como coordenador do 1° Ponto de Cultura de Santo André (SP) de 2010/2013. Produziu inúmeros eventos que vão da música à literatura.

Pesquisa abaixo realizada com  IA deepseek por Zezito de Oliveira, editor do blog da cultura.

O que são os comitês de cultura, qual o papel dos agentes territoriais de cultura, quais os desafios ou lacunas que precisam ser preenchidas para que esses comitês e agentes territoriais de cultura possam cumprir seus objetivos?

Comitês de Cultura e Agentes Territoriais de Cultura: Conceitos, Papéis e Desafios

Os Comitês de Cultura e os Agentes Territoriais de Cultura são instrumentos estratégicos de gestão cultural pública, especialmente no contexto brasileiro, vinculados a políticas como o Sistema Nacional de Cultura (SNC) e os Planos Municipais e Estaduais de Cultura. Eles visam à democratização, descentralização e participação social nas políticas culturais.

1. O que são os Comitês de Cultura?

São instâncias de participação social que reúnem representantes do governo e da sociedade civil (artistas, produtores, gestores culturais, líderes comunitários) para:

Discutir, propor e acompanhar políticas públicas culturais.

Garantir a transparência e o controle social sobre a execução dessas políticas.

Articular demandas locais e regionais com as diretrizes nacionais.

Apoiar a implementação de Planos de Cultura.

Podem existir em âmbito municipal, estadual ou federal, e também em territórios específicos (como bairros ou regiões administrativas).

2. Qual o papel dos Agentes Territoriais de Cultura?

São profissionais ou lideranças atuantes em territórios específicos (comunidades, bairros, zonas rurais, periferias) com a função de:

Mapear a diversidade cultural local (grupos, festas, saberes, equipamentos).

Mediar o diálogo entre a comunidade e o poder público.

Fomentar redes culturais e estimular a organização comunitária.

Facilitar o acesso a editais, capacitações e recursos.

Apoiar a elaboração de diagnósticos e planos culturais participativos.

Atuar como ponte para a implementação de políticas públicas no território.

Em muitos casos, são vinculados a programas como Pontos de Cultura ou secretarias municipais/estaduais de cultura.

3. Desafios e Lacunas a Serem Preenchidos

Para que cumpram seus objetivos, são necessárias superações em várias dimensões:

A. Estruturais e Financeiros:

Falta de recursos contínuos: Muitos comitês e agentes dependem de verbas instáveis ou projetos pontuais, sem sustentabilidade.

Carência de infraestrutura: Falta de espaços, equipamentos e suporte técnico para reuniões, formação e comunicação.

Precariedade na remuneração dos agentes: Muitos atuam de forma voluntária ou com bolsas insuficientes, desvalorizando a função.

B. Institucionais e de Gestão:

Fragilidade na institucionalização: Comitês muitas vezes não têm poder deliberativo real, sendo apenas consultivos, sem efetiva influência nas decisões.

Descontinuidade política: Mudanças de gestão governamental podem esvaziar ou extinguir essas instâncias.

Sobrecarga e rotatividade dos agentes: Agentes territoriais frequentemente acumulam funções e têm alta rotatividade, perdendo-se o vínculo com o território.

C. Capacitação e Comunicação:

Falta de formação específica: Para agentes e membros de comitês em gestão cultural, legislação, captação de recursos e mediação de conflitos.

Dificuldade de comunicação com a sociedade: Pouca divulgação sobre o papel dessas instâncias, limitando a participação popular.

Linguagem técnica excessiva: Afasta a participação de grupos culturais tradicionais e populares.

D. Participação e Representatividade:

Risco de captura por grupos específicos: Comitês podem ser dominados por elites culturais ou políticos locais, perdendo a diversidade.

Dificuldade de inclusão de setores marginalizados: Povos indígenas, comunidades tradicionais, jovens periféricos nem sempre são representados.

Desarticulação entre comitês e agentes: Falta de integração entre a instância deliberativa (comitê) e a ação territorial (agente).

E. Territoriais e Sociais:

Desigualdade regional: Municípios pequenos ou pobres têm menos condições de manter essas estruturas.

Conflitos territoriais e violência: Em algumas regiões, a atuação de agentes culturais é limitada por questões de segurança.

Diversidade cultural não plenamente contemplada: Políticas ainda podem ser homogeneizantes, sem reconhecer particularidades locais.

4. Caminhos para Superação:

Garantia de financiamento estável via fundos de cultura e orçamento público.

Marco legal que institucionalize comitês e agentes, com atribuições claras.

Formação continuada e criação de carreiras públicas para agentes culturais.

Transparência e comunicação acessível sobre decisões e recursos.

Fortalecimento de redes entre comitês, agentes e movimentos sociais.

Avaliação participativa constante dos resultados das políticas.

Conclusão

Comitês de Cultura e Agentes Territoriais são fundamentais para uma política cultural democrática e enraizada, mas precisam ser fortalecidos como política de Estado (e não de governo), com recursos, formação e poder real de decisão. A efetividade depende da articulação entre participação social, gestão pública e sustentabilidade financeira, sempre respeitando a diversidade cultural brasileira.

Quais as relações  de complementariedade que os comitês de cultura e os agentes territoriais de cultura podem  fazer com os Pontos de Cultura e com os agentes jovens cultura viva?

Essa articulação é justamente o cerne do conceito de rede viva e orgânica no Sistema Nacional de Cultura, especialmente no âmbito do Programa Cultura Viva. Vamos explorar as relações de complementariedade:

Mapa Conceitual da Relação:


AGENTES TERRITORIAIS (ATC) <-> PONTOS DE CULTURA <-> COMITÊS DE CULTURA

        ↑                               ↑                      ↑

        └───────── AGENTES JOVENS ──────┘                      │

                      (AJC)                                    │

                                                               ↓

                                               (Mediação e Representatividade)

1. Relação com os PONTOS DE CULTURA

Os Pontos de Cultura são organizações da sociedade civil (coletivos, grupos, associações) reconhecidas e fomentadas pelo poder público por sua atuação cultural de base. São a célula viva do sistema.

Complementariedade com os COMITÊS DE CULTURA:

Representação e Voz: Os Pontos de Cultura, através de seus representantes, compõem os Comitês. Eles levam as demandas, experiências e olhares do território real para a instância deliberativa.

Base de Dados Viva: Os Pontos são a fonte primária de informação para os diagnósticos culturais que os Comitês precisam fazer. Eles mapeiam a cultura que de fato acontece.

Execução de Políticas: Os Comitês ajudam a definir diretrizes de editais e programas; os Pontos são os potenciais executores no território, dando concretude às políticas.

Controle Social: Os Pontos, organizados em rede, podem fiscalizar se as decisões dos Comitês estão de fato sendo implementadas e beneficiando a base.

Complementariedade com os AGENTES TERRITORIAIS (ATC):

Conexão Direta: O ATC é, idealmente, o elo de ligação institucional entre o Ponto de Cultura e a Secretaria de Cultura. Ele visita, escuta, identifica necessidades e facilita o acesso a informações.

Capilaridade: Enquanto um ATC cobre uma região (bairro, conjunto de bairros), os Pontos são núcleos específicos dentro dela. O ATC conecta os Pontos entre si e com outros atores.

Suporte e Facilitação: O ATC ajuda o Ponto a navegar pela burocracia (prestação de contas, processos administrativos) e a se articular em rede.

Alerta e Proteção: O ATC, por estar no território, pode identificar crises ou ameaças aos Pontos (violência, falta de recursos, conflitos) e acionar o sistema de proteção via Comitê ou Secretaria.

2. Relação com os AGENTES JOVENS DA CULTURA VIVA (AJC)

Os Agentes Jovens são uma política específica dentro do Cultura Viva que visa formar e inserir jovens, especialmente de periferias e grupos sub-representados, na gestão cultural pública e comunitária. Eles são, em essência, Agentes Territoriais em formação e com um recorte geracional específico.

Complementariedade com os AGENTES TERRITORIAIS (ATC):

Formação de Sucessores: Os AJCs são o viveiro de futuros ATCs. A experiência prática no território sob a mentoria de um ATC experiente é formativa.

Atualização e Conexão Geracional: O AJC traz para o ATC a linguagem, os saberes, as redes e as urgências da juventude atual, mantendo o trabalho do agente conectado com a base.

Divisão de Trabalho: Enquanto o ATC tem uma visão mais macro e política do território, o AJC pode se focar em ações específicas de mobilização juvenil, comunicação digital e atividades pontuais, ampliando o alcance da ação territorial.

Olhar Duplo: O ATC (que pode ser mais velho e experiente) e o AJC (jovem e imerso na cultura de seu tempo) oferecem um olhar complementar sobre o mesmo território.

Complementariedade com os COMITÊS DE CULTURA:

Representação Juvenil Garantida: A presença de AJCs ou de representantes indicados por eles nos Comitês garante que a voz da juventude seja ouvida nas deliberações.

Proposição de Políticas para Juventude: Os AJCs trazem para os Comitês pautas específicas (ex.: editais para cultura digital, ocupação de espaços ociosos, enfrentamento ao extermínio da juventude negra por meio da cultura).

Ponte com a Base: O AJC traduz as decisões dos Comitês para a linguagem jovem e mobiliza sua rede para participação, combatendo o distanciamento entre a instância formal e a rua.

Renovação dos Comitês: A participação de AJCs evita o envelhecimento e a cristalização dos Comitês, trazendo novos ares e perspectivas.

Complementariedade com os PONTOS DE CULTURA:

Fortalecimento Interno: Muitos AJCs são oriundos ou atuam em Pontos de Cultura. Eles levam formação em gestão e políticas públicas para dentro desses Pontos, fortalecendo sua sustentabilidade.

Novas Lideranças: O programa AJC identifica e forma novas lideranças juvenis que podem assumir a gestão futura dos Pontos de Cultura.

Dinamização: Os AJCs costumam trazer energia e novas linguagens (audiovisual, música, grafite, cultura digital) para os Pontos, ajudando a renovar suas programações e métodos.

Síntese da Teia de Complementariedade:

Do Micro ao Macro, e vice-versa:

Ponto de Cultura (micro): Onde a prática cultural acontece.

Agente Territorial/Jovem (mediação): Quem circula, conecta e fortalece os Pontos.

Comitê (macro): Onde as demandas dos Pontos, filtradas pelos Agentes, se transformam em políticas públicas.

Ciclo Virtuoso de Informação e Ação:

O Agente (ATC ou AJC) coleta demandas dos Pontos e da comunidade.

Leva essas demandas ao Comitê, onde são debatidas e transformadas em diretrizes.

As políticas aprovadas no Comitê retornam, via Agentes, na forma de editais, recursos e programas, sendo executadas pelos Pontos.

Os Agentes Jovens garantem que esse ciclo não perca a vitalidade e a conexão com as novas gerações.

Lógica de Rede, não de Pirâmide: Não é uma hierarquia, mas um ecossistema. Um Ponto de Cultura forte pode alimentar o Comitê. Um Comitê eficaz pode criar mais oportunidades para Agentes Jovens. Um Agente Territorial conectado pode criar uma rede robusta de Pontos.

Desafio Central para esta Complementariedade: A efetiva integração entre essas instâncias. Muitas vezes, elas funcionam em paralelo, desconectadas. O grande salto da política cultural ocorre quando essa teia é intencionalmente articulada, com fluxos de comunicação e apoio bem estabelecidos, formando um verdadeiro sistema orgânico e vivo de cultura.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025 

A incompreensão do SNC e a armadilha dos interesses segmentados - Por Daniel Samam com comentário de Neri Silvestre (debatedor). 


Sistema Nacional de Cultura foi concebido para ser uma engrenagem complexa de gestão e promoção de políticas culturais de forma integrada, descentralizada e participativa.

domingo, 7 de dezembro de 2025


quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Fórum de Participação Social da Presidência da República e o contraste com resultado de pesquisa publicada hoje, 25/12/2025 - Datafolha: 35% dos brasileiros se identificam com a direita e 22% com a esquerda.

 O texto abaixo foi produzido para entrega aos companheiros (as) que participaram da reunião presencial do Fórum Sergipe de Participação Social realizada na último terça-feira, 23/12,  no espaço cultural  do sindicato dos bancários.  Foram impressos cerca de 25 cópias, tendo sido entregues o total de 20. Alguns dos participantes da reunião não tiveram acesso ao texto impresso, porque o número, salvo engano chegou a quase 40 participantes. 

Uma das lideranças presentes comentou de forma sintética e objetiva sobre questões presentes na análise de conjuntura já citada, mas  trazendo abordagem mais  referenciada  no contexto político local.

Segundo esta, a falta de atuação conjunta e estruturada das quatro principais lideranças de esquerda de Sergipe — todas ligadas ao PT e ocupando cargos relevantes no governo e no congresso  federal — para fortalecer técnica e economicamente as organizações de base representadas pelas bandeiras estendidas no chão. Mas ao contrário em outra direção,  a prioridade das quatro lideranças do PT de Sergipe em destaque no governo federal,  foi a interlocução principal e destinação de atenção em matéria de articulação e de recursos do governo federal para prefeituras e governo do estado.

Essa falha, prosseguiu, enfraquece a presença da esquerda nos territórios, obrigando-a a disputar espaço em condições desiguais com as igrejas evangélicas, por exemplo, que atuam de forma organizada e com apoio financeiro, porém  fortalecendo em sua maioria lideranças politicas da direita e da extrema-direita

Encerrando a argumentação alertou que a atuação mais eficaz da direita, inclusive com recursos, ameaça a reeleição do presidente Lula e o crescimento das bancadas de centro-esquerda e esquerda no Congresso.


A intenção do texto abaixo,  em negrito,  foi realizar uma análise introdutória da conjuntura atual em linguagem acessível, mas chamando a atenção para importância e necessidade  da educação popular e da ação cultural. Até porque o pressuposto de uma das razões de estarmos nessa situação foi o abandono dessa premissa.  A iniciativa de escrevermos e realizarmos a distribuição do texto é  por  ser pouco comum análise de conjuntura  no contexto mais recente dos espaço de articulação e mesmo de formação no contexto de  muitos  movimentos sociais contemporâneos e esta quando realizada,  deixa em segundo plano a dimensão cultural e educativa.   

UM OLHAR SOBRE A CONJUNTURA DE UM EDUCADOR POPULAR E AGENTE CULTURAL SEXAGENÁRIO. De Zezito de Oliveira para os companheiros do Fórum de Participação Social da SG-PR. Em Aracaju no dia 23/12/2025.


Resumo:  

"O texto analisa os desafios políticos e culturais para a reeleição de Lula frente a uma ofensiva coordenada da direita, apoiada por interesses econômicos, midiáticos e pelo imperialismo estadunidense. A extrema-direita domina o debate público com pautas comportamentais e desinformação, desviando o foco de questões econômicas e sociais essenciais. Apesar da provável vitória de Lula, devido aos seus resultados positivos, há o risco de um Congresso ainda mais hostil, o que poderia inviabilizar a governabilidade. O autor defende que, para sustentar uma vitória duradoura e impedir o retorno da extrema-direita, é essencial retomar o trabalho de base, a educação popular e a ação cultural, combinando melhorias materiais com o avanço da consciência política das pessoas."     

Não é novidade para quem acompanha a escalada da campanha imperialista dos EUA na atual quadra histórica sob a direção do governo de Donald Trump, que o PT e as forças aliadas enfrentarão um aparato de poder econômico e de comunicação muito poderoso para impedir a reeleição do presidente Lula.

O que já vem acontecendo desde sempre com maior ou menor intensidade, como no caso mais recente da operação lava jato, resultado como sabido, da aliança de um setor do judiciário, dos grandes donos da mídia e da maioria no congresso constituída com a força de multidões manipuladas com base nos manuais de guerra psicológica da CIA, atualmente também conhecida como guerra híbrida.

O que isso significa, falar em cultura e comunicação neste caso, é falar de duas questões imbricadas, fora uma terceira que subjaz em meio a isso, a questão da soberania da nação, ou de cidadania, se quisermos reduzir, mas de não menos importância, a aspectos dos direitos civis, sociais e culturais dos brasileiros enquanto pessoas.

E não é novidade para muitos que acompanham a história contemporânea do Brasil, em especial desde a década de 1960, o quanto o imperialismo estadunidense no campo econômico se fez acompanhar de um investimento robusto em matéria de cultura e de comunicação, investimento aqui onde se misturam propósitos ideológicos e propósitos comerciais.

Pois bem, isso tem aspectos bastantes evidentes em nosso cotidiano, dentre inúmeros exemplos, podemos citar por parte da rede de comunicadores ou “influencers” de extrema direita, o sequestro do debate público por meio da primazia de questões relacionadas à pauta de costumes ou pauta comportamental, em detrimento de questões essenciais no campo da economia e das relações sociais, entre outros aspectos, como é o caso da pauta 6X1 e a redução da jornada de trabalho.

Sem contar a construção de factoides construídos com base no preconceito e na desinformação de diversos tipos e natureza, e com isso também sequestrando a pauta do debate público, como é o caso mais recente do comercial das sandálias havaianas.

Diante do exposto acima, o que estamos vendo nas pesquisas e que se repetirá na urna? Mesmo com todos os avanços obtidos no campo econômico e social, muitos trabalhadores votarão em candidatos com posicionamento político - ideológico totalmente ou relativamente contrários aos programas sociais, as políticas afirmativas, as políticas de valorização do salário mínimo e em defesa de condições dignas de trabalho e etc.

E agora, o que nos resta  fazer? Em termos de resultado eleitoral é esperado a vitória eleitoral do presidente Lula, isso por conta dos resultados positivos no campo da economia e na área social, aqui incluindo as áreas da educação e da cultura, mesmo com as críticas que fazemos, no caso da primeira especialmente, assim como em decorrência da capacidade acima da média do nosso presidente em matéria de estratégia política e de comunicação, mas se mesmo assim , o presidente Lula não conseguir ser  derrotado pela aliança transnacional  da direita com a extrema direita, a eleição de um congresso ainda pior do que esse, poderia tornar a governabilidade algo inviável  em termos mais civilizatórios, dessa maneira o parlamento brasileiro contra o governo Lula 4.0, fará o  equivalente a pressão naval ou  pirataria do governo dos EUA contra o governo  da Venezuela conforme as últimas notícias publicadas na imprensa,  o que de certa maneira já vem acontecendo por meio do sequestro de parte do orçamento público por meio das emendas parlamentares.

E quanto a nós, não temos muito tempo, e nossas armas apresentam limitações, mas de outro modo não fomos capazes de conseguir utilizar o potencial das armas que temos, isso na minha opinião por termos abandonado no decorrer destes anos o processo de formação com base nos princípios e na metodologia da educação popular.

E o que podemos fazer, nesse pouco tempo que resta para o encerramento do terceiro mandato do presidente Lula, muitos dirão que será preciso mais ação com relação ao contato com as pessoas, com relação a ampliação do número de adeptos do projeto político em que acreditamos, mas por outro lado é verdade que precisaremos garantir que um governo Lula 4.0 e o grupo de parlamentares eleitos ou reeleitos do nosso campo sejam melhores,  no sentido de podermos sustentar a afirmação recorrente do presidente Lula de que o Brasil nunca mais elegerá um candidato de extrema direita, e a garantia disso passa por um trabalho de base no cotidiano e permanente com educação popular e ação cultural, que considere, além das vitórias eleitorais, a primazia das políticas voltadas a  melhoria das condições materiais de nossa gente combinado ao avanço da consciência de classe , que também é consciência cidadã, consciência ecológica, consciência cultural e etc.

Sobre a reunião do Fórum de Participação Social em Sergipe, voltaremos ao assunto com uma segunda postagem. 

E afinal,  o que é o Fórum de Participação Social? Vamos responder com ajuda da IA e com links  do governo federal sobre.

O Fórum de Participação Social da Presidência da República é um espaço estratégico de diálogo e construção coletiva que integra governo e sociedade civil para debater e formular políticas públicas, atuando em nível nacional e territorial (estadual/DF) através de fóruns e conselhos, com o objetivo de fortalecer a democracia e garantir a participação popular em decisões sobre prioridades e execução de programas federais, como o PPA (Plano Plurianual). 
Como funciona:
Estrutura Nacional e Territorial: Existem fóruns estaduais e distritais que replicam a ideia de participação social em cada território, conectando os movimentos sociais e organizações da sociedade civil ao governo federal.

  • Diálogo e Articulação: Esses fóruns mapeiam políticas prioritárias, articulam-se com conferências nacionais (como as de Educação - CONAEs) e promovem a troca de experiências para aprimorar o sistema participativo.
  • Ferramentas Digitais: A plataforma Brasil Participativo é um espaço digital onde cidadãos podem apresentar ideias, votar em prioridades e participar de debates, sendo um canal fundamental para essa participação.
  • Legislação: Instituídos por portarias, como a nº 188/2024, e estruturados por decretos, como o Decreto 11.407/2023, que cria o Sistema de Participação Social, esses fóruns integram e coordenam a relação entre governo e sociedade civil. 
  • Principais Objetivos:
  • Construção Coletiva: A ideia central é que, juntos, governo e sociedade, se pensa e decide de forma mais justa e democrática.
  • Influência nas Políticas: Permitir que a sociedade civil influencie a formulação, execução, fiscalização e avaliação de políticas públicas (saúde, educação, etc.).
  • Fortalecimento da Cidadania: Valorizar o conhecimento e os saberes construídos no cotidiano da vida e da luta dos cidadãos, fomentando a educação popular e a cidadania ativa. 
  • Em resumo, os Fóruns de Participação Social são um braço do governo federal que busca ouvir e incorporar a voz da sociedade civil na gestão das políticas públicas, tornando o processo mais transparente, inclusivo e democrático. 

  • Governo federal cria fóruns de participação social para atuar nos territórios. aqui

  • Governo federal institui Fórum Interconselhos para fortalecer participação social. aqui

  • Reportagem da Carta Capital que faz referência aos números que constam na manchete dessa  postagem. aqui
  • Mas, dentro da mesma pesquisa,  há um contraste interessante e que contrabalança os  números negativos apontados acima,  para o campo politico de quem se reconhece como esquerda ou centro-esquerda, principalmente.
  • Segundo dados do levantamento, 40% se dizem petistas, enquanto 34% afirmam ser bolsonaristas.


Hoje 25 de dezembro de 2025 tem Baile do Menino Deus ao vivo em Recife e com transmissão oficial via youtube

 

Com apoio da Lei Rouanet, maior espetáculo natalino do país baseado na cultura brasileira realiza edição 2025

Baile do Menino Deus será apresentado de 23 a 25 de dezembro no Recife para uma plateia estimada em 70 mil pessoas
O Baile do Menino Deus: Uma Brincadeira de Natal é um espetáculo de fim de ano que investe na brasilidade. Em vez de trenós, neve e renas há maracatus, frevo, caboclinho e reisado. Essas manifestações culturais representam a herança cultural dos povos indígena, negro e ibérico em uma peça que aborda questões como inclusão, solidariedade, desigualdade e oportunidade. A maior encenação natalina baseada na cultura do país chega à 22ª edição no Marco Zero do Recife, dias 23, 24 e 25 de dezembro, às 20h, para uma plateia estimada em 70 mil pessoas. Patrimônio Imaterial da capital pernambucana desde 2024, a apresentação gratuita e ao ar livre, com recursos de acessibilidade, tem apoio da Lei Rouanet.
A montagem nasceu em 1983, do desejo do escritor Ronaldo Correia de Brito e seus amigos Assis Lima e Antonio Madureira (Zoca) de criarem um auto de Natal inspirado na tradição da festividade brasileira mais antiga. A estreia foi no teatro, permanecendo em cartaz por oito anos consecutivos.
“Nas décadas de 1960 e 1980, o país foi invadido por uma nova colonização cultural, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa Central, a do Natal gelado. A celebração brasileira vinha da tradição ibérica, sobre o nascimento de um menino Deus. Com essa apropriação comercial, os protagonistas, Maria José e o menino, foram expulsos”, conta Ronaldo.
Segundo ele, práticas culturais populares serviram de fonte para a encenação. “Nos inspiramos nas brincadeiras populares tradicionais, nos autos natalinos de folia de reis, guerreiro, Cavalo Marinho, bumba meu boi, entre outros. O texto é baseado na dramaturgia do reisado, e as músicas nessas brincadeiras”, explica.
No enredo, dois homens de nome Mateus procuram pela casa onde nasceu Jesus para festejar o Natal ao lado de José e Maria. Durante a jornada cruzam com criaturas fantásticas do imaginário popular, grupos de expressões artísticas e enfrentam dilemas existenciais, sociais e coletivos.
Novidades
A edição 2025 traz várias novidades. O sanfoneiro Flávio Leandro fará a cena do pastoreio do boi. Finalista do Grammy Latino, a cantora Joyce Alana estreia no Baile. Dança popularizada por Michael Jackson, o popping, se une ao Hip-Hop, caboclinho e frevo nos passos do dançarino Dimas Popping..
Já Flávio Leandro, expoente do forró, e Maestro Spok, ícone do frevo e do jazz brasileiros, também compõem o time do espetáculo, que teve atualizações em cenas, arranjos e personagens
Neste ano, a montagem teve apresentação em Goiana, na Mata Norte do estado, e realizou cortejo com mais de 300 artistas ligados aos ciclos natalino e carnavalesco. Irá ganhar ainda especial em plataforma de streaming.
Livro 
Desde 2004, o Baile do Menino Deus integra o calendário oficial do Marco Zero, principal palco a céu aberto do Recife. Também virou filme, livro paradidático adotado pelo MEC, com tiragem de 700 mil exemplares, e inspira montagens de Norte a Sul do país.
Lei Rouanet
Viabilizada por meio da Lei Rouanet, a edição deste ano foi autorizada pelo Ministério da Cultura (MinC) a captar R$ 3,33 milhões para a sua realização. O secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Henilton Menezes, destaca o caráter diverso da Lei. “O Baile do Menino Deus, uma celebração histórica e popular de final de ano que reúne uma multidão de recifenses anualmente, é um entre centenas de exemplos que mostram como a Lei Rouanet é plural e longeva no fortalecimento do setor cultural brasileiro”, salienta.
Para o autor e diretor, ela teve grande impacto nZezitoo projeto. “A entrada da Lei Rouanet significou uma mudança radical. Ela possibilitou que a gente trouxesse patrocinadores de fora do Nordeste. A Rouanet é fundamental para que o Baile seja o que é, essa expressão de maior espetáculo natalino do país”, frisa Ronaldo.
"Para quem quiser e  puder assistir a transmissão ao vivo do  baile do Menino Deus é só ficar ligado no link abaixo.. Quem não puder assistir a transmissão ao vivo, fica gravado. E não esqueçamos auto de natal, presépio, novena, sarau temático, concerto ou cantata natalina, apresentações de grupos da cultura popular do ciclo natalino  e etc., são sempre atos de resistência contra a consumismo desenfreado que transformou o natal em puro suco de capitalismo." Zezito de Oliveira



O Baile do Menino Deus no blog da cultura. AQUI e  AQUI
Espetáculo Baile do Menino Deus encena há 40 anos um Natal bem brasileiro no centro do Recife





Papa Francisco e a importância da literatura e da arte em geral na formação dos sacerdotes e por extensão na formação escolar e universitária..

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NÃO PODEMOS FORMAR SACERDOTES BURROS......

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E não apenas sacerdotes, leigos também. Sem contar a quantidade de professores que lêem pouco  literatura e que pouco  frequentam o cinema não comercial, como é o caso do Cinema do Centro em Aracaju e cineclubes, mesmo que tenhamos pouca oferta nesse sentido. Dessa maneira é melhor tratar  dessa questão primeiro, antes de apontar o dedo com críticas aos mais novos, crianças, adolescentes e jovens..

Francisco e Martin Scorcese

A  cultura do Nordeste é contagiante e alcança a todos, até mesmo a celebração


Para ler artigos e entrevistas do e com o Papa Francisco sobre Literatura e Arte em geral, AQUI


AQUI, artigos e entrevistas do Papa Francisco sobre cinema


quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Alexandre de Moraes, Globo, Lava a Jato, Bolsonaro e o ódio à democracia.

 Por Sérgio Alarcon. 

Respeito profundamente Breno Altman e escrevo este texto como uma resposta respeitosa a ele. 

Breno tem criticado setores da esquerda que defendem Alexandre de Moraes, alertando para os riscos de que essa defesa acabe legitimando excessos judiciais capazes, a longo prazo, de criar armadilhas e fortalecer a narrativa autoritária da direita.

De minha parte, não me considero ingênuo - talvez aí resida justamente a minha ingenuidade. Quando Temer indicou Moraes ao STF, não tive dúvidas: mais um inimigo no poder. Critiquei-o duramente. Com o tempo, porém, ficou claro que coragem para desobedecer pretensos patrões ele tem. E certos princípios - o oposto do Vampiro. À época, não havia espaço para vacilação. Ocorre que, às vezes, é preciso ter coragem até para errar ao invés de se deixar paralisar.

Você há de concordar que Moraes talvez não seja exatamente um inimigo hoje; talvez, no máximo, um adversário futuro - e adversários, diferentemente de inimigos, podem, em certas conjunturas, compor conosco em nome de algo maior. Alckmin e Simone Tebet estão aí para não me deixar mentir.

Uma verdade incômoda que devemos sempre repetir - e vou aqui repetir - é que guerras não se vencem com vacilações. Passei anos pelejando contra lavajatistas, olavistas e bozistas - como, felizmente, um número considerável de brasileiros. Creio já ter compreendido um pouco da maneira de agir desses canalhas. Merval, Malu Gaspar e congêneres deixei de ler e ouvir no momento em que ficou claro que não passam de instrumentos daqueles que não toleram a verdade quando ela incomoda. Se seus nomes me aparecem hoje, é porque seus patrões estão tramando contra o Brasil e os brasileiros. Não há como vacilar quanto ao lado a tomar - por princípio e em princípio.

Há muito tempo li um filósofo chamado Jacques Rancière. Em O Ódio à Democracia acho que ele ajuda a entender em parte esse nosso cenário. Rancière mostra que o verdadeiro ódio à democracia não se dirige necessariamente à sua forma institucional, mas à possibilidade de que a igualdade irrompa de baixo e desestabilize aqueles que se julgam naturalmente autorizados a mandar - os “competentes”, os especialistas, os ricos, os togados. Em outras palavras, aquilo que chamamos de “elite”. Essa chave ajuda a compreender a irracionalidade do ódio a Lula e o antipetismo estrutural. Meio óbvio… concordo.

E, à primeira vista, ela parece menos óbvia para entender o bozismo, que expressa um ódio à democracia vindo dos “de baixo”. Mas não vem dos trabalhadores - e sim do lumpesinato, da escória, dos jagunços da Casa Grande. Ainda assim, essa contradição é apenas aparente. Bozismo e lavajatismo são duas faces do mesmo ódio à democracia. O primeiro, mais tosco e arrivista, aceita - ao menos temporariamente - sua associação aos velhos donos do poder, dos quais foi serviçal, e busca impor-se pela força bruta e pela ameaça golpista franca contra a ordem institucional. É o lado da moeda do oito ou oitenta. Acabou com centenas de presidiários, incluindo o líder. O segundo tenta restaurar a hierarquia oligárquica por meio da simulação de uma “justiça técnica”, do punitivismo midiático e da elevação sistemática de fofocas à condição de prova judicial. O lawfare. Conseguiram fazer muitos acreditarem que a deposição de Dilma não foi golpe - caso do Ouriques - pois não promoveram uma ruptura da ordem institucional. Nunca foram devidamente punidos provavelmente por isso também.

A normalização de acusações sem provas por jornalistas - ou por grandes empresas de jornalismo - faz parte do lawfare, e deveria ser seriamente problematizada pela sociedade. O problema não é a publicação da fofoca em si, mas tratá-la imediatamente como evidência, elevá-la à categoria de verdade judicial e, a partir daí, construir narrativas punitivistas completas, funcionando em rede. À época do lawfare contra Lula, Globo, Estadão e Folha frequentemente estampavam manchetes praticamente idênticas, enviesadas na mesma direção. O que fazem hoje com Moraes parece a repetição do método testado com sucesso pelo lavajatismo e que, ao final, serviu de laboratório para o avanço do bozismo nas redes sociais e que valeu a eleição de 2018. Com Moro como Ministro do atual presidiário - farinha do mesmo saco.

O lavajatismo, aliás, não é uma abstração imoral. É uma máfia política ativa e perigosa, que segue operando mesmo com seu principal expoente, Moro, hoje cercado por investigações no STF e na Polícia Federal. Buscas autorizadas recentemente na própria 13ª Vara de Curitiba revelaram provas documentais de grampos ilegais contra autoridades com foro privilegiado. Aqui não se trata de “ouvi dizer”. Estranhamente, isso não se tornou escândalo para Merval ou Malu. Tampouco recebeu do Jornal Nacional a atenção devida. E, no entanto, não estamos falando de fofocas atribuídas a “seis fontes” anônimas e inalcançáveis. São fatos - fatos que ajudam, inclusive, a explicar parte dos ataques a Moraes. Claro que podemos acreditar agora em “coincidências”… mas aí a guerra está perdida.

Por isso, Breno, defender a democracia, nesse contexto, não é sacralizar juízes nem romantizar o STF como salvador da pátria. O próprio Rancière nos alerta para a longa duração dos Estados de direito oligárquicos disfarçados, nos quais o poder se concentra sob o pretexto da “competência” técnica, despolitizando a igualdade real. Foi exatamente esse o discurso jornalístico que criou o Moro-herói da Globo e presidenciável da Faria Lima. Hoje sabemos que essa suposta “competência técnica” não passava de uma farsa - uma narrativa construída -, como evidenciam tanto o “recorta-e-cola” da juíza lavajatista Gabriela Hardt quanto as irregularidades processuais comprovadas na Lava Jato, reveladas pela Vaza Jato e pelas anulações no STF. Não temos ilusões a respeito.

Em suma, Breno: não defendo Moraes. Defendo a democracia. E os ataques a Moraes, vindos de quem vêm, têm o nariz, os olhos, as rugas e a boca torta dos inimigos históricos da democracia como princípio. Não podemos vacilar: em uma democracia conflituosa, sob ataque golpista aberto, todas as estratégias devem se voltar para alianças capazes da contenção da catástrofe maior - o retorno da ditadura declarada. Trata-se de antes de uma trégua tática na luta pela igualdade, não de uma legitimação eterna.

Os que hoje acusam o STF de promover uma “ditadura do Judiciário” realizam exatamente a inversão perversa descrita por Rancière: gritam “fim da democracia” justamente quando se pune quem tentou destruí-la em 8 de janeiro e depois. O verdadeiro ódio à democracia é o deles, não o de quem resiste.

2026 pode ser decisivo: derrotar, num só movimento, o lavajatismo - com Moro, seus asseclas e seus jornalistas cúmplices respondendo judicialmente pelas irregularidades comprovadas - e o bozismo, não apenas por meio de prisões, mas também com a limpeza do Congresso dessa organização criminosa.

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MALU GASPAR | O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pelo menos quatro vezes para fazer pressão em favor do Banco Master. Ao menos três dos contatos foram por telefone, mas pelo menos uma vez Moraes se encontrou presencialmente com Galípolo para conversar sobre os problemas do banco de Daniel Vorcaro. Os relatos sobre as conversas foram feitos à equipe do blog de Malu Gaspar, no site do #JornalOGlobo, por seis fontes diferentes nas últimas três semanas. Uma delas ouviu do próprio ministro sobre o encontro com Galípolo, e as outras cinco souberam dos contatos por integrantes do BC.  22 de dezembro

Ministro Alexandre de Moraes divulga nota sobre reunião com o presidente do Banco Central.

Íntegra:

“O Ministro Alexandre de Moraes esclarece que, em virtude da aplicação da Lei Magnistiky, recebeu para reuniões o presidente do Banco Central, a presidente do Banco do Brasil, o Presidente e o vice-presidente Jurídico do Banco Itaú. Além disso, participou de reunião conjunta com os Presidentes da Confederação Nacional das Instituições Financeira, da Febraban, do BTG e os vice-presidentes do Bradesco e Itaú. Em todas as reuniões, foram tratados exclusivamente assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da referida lei, em especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas correntes, cartões de crédito e débito.” 23 de dezembro

Ministro divulgou as datas dos encontros que manteve com o presidente do BC

Atualização em 26 de dezembro de 2025

Cesar Benjamin
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Há pouco tempo, técnicos do Banco Central identificaram uma série de crimes graves na atuação do Banco Master. A instituição operava no esquema de pirâmide financeira, vendendo papéis que não correspondiam a nada, mas pagavam juros muito acima do mercado. Coisa de bilhões. 
Acionada, a Polícia Federal prendeu o banqueiro na escada de embarque de um jatinho particular, no exato momento em que fugia do país. 
Estavam dados todos os elementos para a sua prisão: crime provado e tentativa de obstruir a Justiça. No BC, na PF e na primeira instância da Justiça, os quadros técnicos do Estado brasileiro cumpriram o seu dever.
A bandalha começou quando o caso escalou, com inusitada rapidez, para as instâncias superiores. Uma desembargadora relaxou a prisão do criminoso, que passou a domiciliar, num país em que centenas de milhares de desvalidos permanecem presos indefinidamente, em regime fechado, sem nenhuma acusação.
Com alegações pueris, o ministro Dias Toffoli, do STF, avocou o caso para si, decretou sigilo absoluto e paralisou as investigações. 
Na sequência, soubemos que o Master mantinha um contrato milionário com a esposa do ministro Alexandre de Moraes, também do STF, e que este último teria tentado influir nos procedimentos técnicos do Banco Central. 
Esta última acusação passou a dominar o debate. Mas, para mim, é a menos importante. 
Acredito que Moraes não tenha pressionado o BC. Seria escatológico. As explicações que deu são razoáveis. Mas os fatos restantes, incontestáveis, são extremamente graves. Mostram a promiscuidade das altas instâncias do Judiciário com o poder econômico. 
As pedras da minha rua sabem que, ao se comprometer a pagar R$ 120 milhões à esposa do ministro, o banco estava pagando o próprio ministro. 
É inaceitável.
Nesse sentido, a jornalista Malu Gaspar prestou um desserviço à Nação, ao apresentar indícios fracos para tentar agravar um problema que já era gravíssimo.
A higidez do STF – e, por extensão, do Poder Judiciário – está em xeque, escancaradamente. Se a degradação da Corte não for estancada, cortando na carne, será um processo sem retorno. 
Não importa que Dias Toffoli seja reconhecidamente despreparado, seja do ponto de vista técnico, seja moral, e que Alexandre de Moraes, ao contrário, tenha desempenhado um papel central na defesa das instituições democráticas. Nenhum dos dois está acima da lei e da ética. 
De ministros da Suprema Corte exige-se a máxima correção. Ou então a Suprema Corte deixa de existir, deixando o país à deriva, sem nenhuma âncora institucional.
Sou pessimista. Justamente por ser o poder mais resguardado de críticas e de investigações, o Judiciário é o mais impune e, provavelmente, o mais corrupto.
Estamos assistindo a uma aula de Brasil. Funcionários públicos de carreira cumpriram o seu dever. Quando entrou a política – a política que temos – ficamos, mais uma vez, com a bunda de fora.
Tudo indica que, com os salamaleques de sempre, a impunidade prevalecerá mais uma vez, pois tudo se resolve com negociações em que todos ganham. É só dar tempo ao tempo.
Brasília seguirá o seu curso normal, cavando ainda mais o nosso buraco.

Xandão virou fetiche da esquerda, diz Gustavo Conde
Comentarista afirma que “a conta chegou” para o STF, critica defesa automática de ministros e aponta o caso Master como estopim de uma crise institucional
26 de dezembro de 2025, 04:36 h
247 – A crise interna no Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou novos contornos e passou a ser interpretada como um sintoma de desgaste estrutural da Corte. Em uma transmissão especial, o comunicador Gustavo Conde afirmou que o país vive um momento em que “chegou a conta pro Supremo” e criticou duramente o que chamou de defesa automática de ministros por setores progressistas. Para ele, parte da esquerda estaria tratando o ministro Alexandre de Moraes como símbolo intocável — e isso abriria espaço para armadilhas políticas e desgaste institucional.

Na live intitulada “Supremo à deriva: crise no STF escala em todos os níveis; país quer respeito”, Conde disse que o debate público sobre a Corte precisa escapar da polarização simplificada — na qual a direita atacaria o Supremo e a esquerda deveria defendê-lo incondicionalmente. Segundo ele, a discussão central deveria ser: “Que STF nós queremos?”. Na avaliação do comentarista, o Brasil precisa de uma Corte com credibilidade, que respeite critérios éticos rigorosos e que não se deixe atravessar por interesses bilionários, relações promíscuas e vazamentos seletivos.

Em tom crítico, Conde afirmou que setores progressistas teriam transformado Moraes em uma espécie de “fetiche” político, adotando uma postura de torcida que impediria uma avaliação racional do momento vivido pelo STF. Para ele, a esquerda deveria concentrar energia em pautas estratégicas, como a defesa do presidente Lula, e não na blindagem de ministros que, segundo ele, já detêm poder suficiente para se sustentar institucionalmente.

Conde ironizou o que chamou de “xandetismo” e sugeriu que a mobilização em torno de Moraes revela um tipo de comportamento que considera politicamente improdutivo: uma defesa baseada em identidade e vaidade, e não na análise do funcionamento da Justiça e das instituições. Na sua visão, esse movimento acaba enfraquecendo o campo democrático ao permitir que adversários explorem contradições e construam narrativas de conivência com irregularidades.

“O problema é o Toffoli”, diz Conde ao mirar o centro da crise
Embora reconheça o papel do STF no julgamento de Jair Bolsonaro e no enfrentamento de ameaças golpistas, Conde deixou claro que seu foco, no momento, está na atuação do ministro Dias Toffoli. Para ele, Toffoli ocupa o centro do turbilhão porque suas decisões e iniciativas recentes estão acelerando a convulsão interna da Corte, sobretudo no contexto das investigações relacionadas ao Banco Master.

O comentarista destacou como episódio emblemático a careação marcada para 30 de dezembro, durante o recesso, envolvendo o banqueiro Daniel Vorcaro (Banco Master), o ex-presidente do BRB Paulo Henrique Costa e um diretor do Banco Central. Segundo ele, o fato de a careação ter sido convocada diretamente pelo ministro, sem pedido prévio de investigadores, acendeu alertas em Brasília e provocou reação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Na leitura de Conde, trata-se de um movimento “fora do padrão”, que poderia empurrar o Banco Central para o centro do caso e intensificar ainda mais a crise institucional.

Código de ética, vazamentos e “tempestade num copo d’água”
Outro eixo central da crítica feita na live foi a ausência de um código de conduta mais rigoroso no STF. Conde argumentou que cortes supremas em diferentes países adotam regras claras para limitar conflitos de interesse, relações com agentes econômicos e participação em eventos pagos. Para ele, o problema não é a existência do Supremo, mas o fato de ele funcionar como “11 ilhas” corporativas, sem humildade para reconhecer falhas e sem disposição real para se submeter ao escrutínio público.

O comentarista também condenou o que classificou como cultura de vazamentos seletivos e proximidade excessiva entre ministros e jornalistas, lembrando que integrantes da imprensa frequentemente afirmam conversar com ministros “todos os dias” — algo que, para ele, evidencia uma estrutura disfuncional de bastidores que se tornou parte da normalidade institucional.

Conde citou ainda declarações atribuídas a ministros que avaliam que o STF estaria “apanhando de graça”, interpretando esse tipo de leitura como prova de prepotência e negação da crise, em vez de compromisso com reconstrução de credibilidade.

“Não quero destruir o STF. Quero um Supremo de respeito”
Apesar do tom duro, Conde afirmou que não defende o enfraquecimento do STF como instituição. Pelo contrário: disse desejar um Supremo com ministros respeitáveis e reconhecidos pela sociedade. No entanto, ressaltou que isso exige um processo profundo de revisão institucional e ética — e que a população tem o direito e o dever de cobrar.

Ele também alertou que a crise pode ser instrumentalizada pela direita para empurrar setores progressistas para posições defensivas, explorando vaidades e criando armadilhas discursivas. Em um ano pré-eleitoral, segundo ele, a construção de uma imagem de “esquerda conivente” com irregularidades poderia se tornar um instrumento de desgaste político.

Um Supremo em convulsão e um país em cobrança
A avaliação geral do comentarista é de que o STF vive um momento de convulsão, em que pressões internas e externas se acumulam e podem produzir efeitos imprevisíveis. Para ele, o caso Banco Master acelerou uma crise que já estava “precificada” e que agora exige respostas concretas da Corte à sociedade.

Em sua mensagem final, Conde defendeu que a cobrança pública deve ser feita com serenidade e firmeza, sem submissão a autoridades e sem transformá-las em objetos de idolatria política. Segundo ele, o Brasil precisa de instituições fortes — mas também transparentes, éticas e respeitadas — e esse debate, afirmou, não pode ser adiado.

Leia o artigo acima no 247. AQUI

OS ENSINAMENTOS DE VLADIMIR!

Por Sergio Alarcon

Caros,

Gostaria de lembrar aos companheiros e camaradas algo que ensinou um sujeito vitorioso chamado Vladimir. Não aquele do Corinthians - que me fez chorar quando marcou aquele gol sofrido contra a Ponte Preta, garantindo ao time do meu pai um título depois de 23 anos. Não. Falo de outro Vladimir. Um tal de Lênin.

Em O Estado e a Revolução e em A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo, Lênin nos ensina que, em conjunturas de ofensiva reacionária aberta, a destruição precipitada de instituições democráticas - ainda que contraditórias, limitadas e cheias de vícios - tende a beneficiar não aqueles que lutam por mais igualdade, mas justamente os que sempre trabalharam contra ela.

Não se trata de morrer de amores pelo STF e sua origem aristocrática, muito menos de nutrir paixões pelo Xandão - que, aliás, já foi lavajatista (e deixou de ser), como quase todos ou todos do Supremo, exceto aquele que foi, dizem (mais de seis fontes me confirmaram), assassinado. Trata-se de defender a soberania popular contra mais uma articulação entre dois espectros - bozismo e lavajatismo - igualmente antidemocráticos, autoritários, entreguistas, antipovo e anti-Brasil. Só isso.

O ataque dos jornalões a Moraes não tem motivação ética alguma. Nenhuma. Tampouco é jornalismo, no sentido sério do termo: não há intenção de apurar, fiscalizar ou esclarecer. Nada disso. A única intenção é o escândalo.

O objetivo? Talvez o lavajatista impenitente Alessandro Vieira, com toda aquela sua educação e brandura (que engana muita gente da esquerda), tenha dado a chave: abrir uma CPI contra o Supremo em ano eleitoral. Colocar ministros contra a parede. Atrapalhar as investigações da PF contra as facções que financiam a extrema-direita e o neoliberalismo (outras seis fontes diferentes me informaram). Salvar Moro (esse nem preciso de fonte…).

Quanto à jornalista que tinha Moro como herói e agora afirma não querer mais heróis, vale dois lembretes elementares. Em primeiro lugar, assim como um ministro não está acima da lei, jornalistas também não estão acima da responsabilidade. Lamentavelmente, a porta-voz das “seis fontes” não fez jornalismo: fez fofoca. A que fazia jornalismo era a Daniela Lima. Podem espalhar. Cada dia, isso fica mais claro. Em segundo lugar, ela é apenas a linha de frente, a fuzileira, a peã escalada por uma empresa inimiga do Brasil e dos brasileiros. Seus heróis e anti-heróis são exatamente os mesmos do patrão que lhe paga. Está ali para atirar e receber tiros, matar ou morrer conforme interesses teleguiados. Recebe bem (lamentavelmente) por isso. Nós não.

Ninguém nos paga para defender nossas próprias vidas dessa gente. E nem precisaria. Porque é disso que se trata: das nossas vidas.

Ou vocês realmente acham que conseguiríamos viver - ou ao menos viver bem - numa ditadura neopentecostal, neoliberal e fascista? Muitos dos mais de 700 mil mortos, assassinados pelo negacionismo bozista, também deram de ombros quando alertávamos e lutávamos entre 2015 e 2018: com Dilma sendo golpeada, com Lula atacado e preso, e a mesma moralina operando a pleno vapor, orquestrada, com sonoplastia e tudo, pelo Jornal Nacional.

Deu no que deu.

A pergunta é simples - e incômoda: querem repetir o erro?

Abaixo, com orgulho, a mensagem de meu professor, Leonardo Boff.