terça-feira, 30 de dezembro de 2025

O Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM) promove oficina de férias gratuitas para jovens egressos de escolas públicas.

Uma ação que pode ajudar bastante ao combate de mazelas preocupantes em nossa sociedade..

Uma ação necessária para todo o ano, incluindo os períodos de férias, caso governos municipais, como acontece em Pernambuco e estaduais fizessem algo semelhante com utilização das próprias escolas, dessa maneira  poderiam aumentar bastante o número de beneficiários, para além das vagas abertas pela iniciativa meritória do IJPCM,  mas para isso, no caso do governo do estado será preciso  priorizar  a utilização dos recursos do FUNDEB na educação básica, ao contrário de anunciar nesse final de 2025,  abertura de uma universidade estadual, o que no caso de Sergipe pode ser dispensado em razão de ser um estado pequeno e com vários campus da UFS espalhados em todo o estado. Ao final do release abaixo,  trazemos a iniciativa em Pernambuco de animação cultural nas escolas que acontece durante todo o ano.

ZdO

 


Foto: IJCPM

Com informações do Portal FAN FM

O Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM) abriu inscrições gratuitas para oficinas de férias nesta segunda-feira, 29. O projeto é direcionado para jovens de 15 a 24 anos estudantes ou egressos de escola pública.

No total, são 190 vagas distribuídas em 7 cursos de temas variados como dança contemporânea e astronomia, que serão realizados no período entre 19 de janeiro a 5 de fevereiro, nos períodos da manhã e tarde. As inscrições podem ser realizadas até o dia 16 de janeiro, por meio de formulário eletrônico disponibilizado no Instagram do projeto.

Após as inscrições os interessados farão uma visita ao prédio para, em seguida, confirmar o cadastro.

Confira os cursos

Crochê: Arte em nós

19 de janeiro a 28 de fevereiro – Segunda e Quarta das 13h30 às 17h30

Astronomia: Universo em curiosidades

19 de janeiro a 4 de fevereiro – Segunda e Quarta das 14h às 17h30

Escrita e Intervenção

20 de janeiro a 3 de fevereiro – Terça e Quinta das 13h30 às 17h30

Tranças Afro: Nagô e nagô alimentada

20 de janeiro a 3 de fevereiro – Terça e Quinta das 13h30 às 17h30

Teatro: Vencendo a timidez

19 de janeiro a 4 de fevereiro – Segunda e Quarta das 13h30 às 17h30

Hobby e tempo criativo

20 de janeiro a 5 de fevereiro – Terça e Quinta das 9h às 12h

Dança contemporânea

20 de janeiro a 29 de janeiro – Terça e Quinta das 9h às 12h

Para mais informações, o IJCPM disponibiliza o número de Whatsapp (79) 9 8101-1307 para contato.

https://fanf1.com.br/2025/12/30/oficina-de-ferias-gratuitas-para-jovens-egressos-de-escolas-publicas-esta-com-inscricoes-abertas-saiba-como-participar/

Juventudes, Paulo Freire e Animação Cultural (Part 2)



Live Ação Cultural com Reginaldo Veloso


O Programa de Animação Cultural (PROAC) é uma iniciativa de educação popular e intervenção social idealizada pelo Padre Reginaldo Veloso em Pernambuco. O programa tem  como foco principal o desenvolvimento de comunidades em situação de vulnerabilidade, utilizando a cultura como ferramenta pedagógica e política. 
Principais Características do Programa:
Público-alvo: Atendia prioritariamente adolescentes e crianças de escolas da rede municipal de ensino, com forte atuação em áreas como o Morro da Conceição, no Recife.
Objetivo: Promover o engajamento comunitário e a transformação das condições de vida por meio da valorização das raízes culturais e da cidadania.
Metodologia: Baseava-se na Educação Popular, onde o "animador cultural" atuava como um mediador que organizava atividades lúdicas, educativas e artísticas para fortalecer os laços sociais e a identidade local.
Legado: O trabalho de Padre Reginaldo Veloso no programa é reconhecido por integrar a luta social aos movimentos culturais de Pernambuco, sendo documentado em obras como o livro "Uma Experiência de Animação Cultural entre Adolescentes das Escolas da Rede Municipal de Ensino da Cidade do Recife"
O programa esteve estreitamente ligado ao Movimento de Adolescentes e Crianças (MAC), operando sob a premissa de que a cultura é um direito fundamental para a construção de sonhos e a superação da miséria. 




Acesso AQUI

Datafolha: 34% dos petistas se posicionam à direita, e 14% dos bolsonaristas, à esquerda. Como explicar?

 



Além de Jessé de Souza e André Singer, há outros autores e pesquisadores que, de formas distintas, questionam ou relativizam a aplicabilidade tradicional dos conceitos de "esquerda" e "direita" para explicar as preferências ideológicas dos eleitores brasileiros. Essas abordagens geralmente enfatizam clivagens socioculturais, valores morais, antipetismo, ou a centralidade de pautas não econômicas. Seguem alguns nomes importantes:

1. Sérgio Abranches

Contribuição: Em obras como "Presidencialismo de coalizão" e em análises contemporâneas, Abranches discute como o sistema político brasileiro frequentemente opera por meio de arranjos pragmáticos e clientelistas que transcendem as divisões esquerda-direita, especialmente no Congresso. Ele também explora como identidades e lealdades regionais ou pessoais podem ser mais decisivas do que a ideologia formal.

2. Marta Arretche

Contribuição: Embora mais conhecida por estudos sobre federalismo e políticas públicas, em análises do comportamento político, Arretche destaca a heterogeneidade dentro dos blocos de esquerda e direita e a importância de questões específicas (como segurança, costumes e gestão pública) que não se alinham perfeitamente ao eixo econômico tradicional.

3. Rodrigo Nunes

Contribuição: Filósofo e autor de "Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição", Nunes analisa o bolsonarismo como um fenômeno que não se encaixa na dicotomia esquerda-direita clássica, mas mobiliza uma mistura de liberalismo econômico, conservadorismo moral, antipetismo e uma visão antiestablishment paradoxal.

4. Luis Felipe Miguel

Contribuição: Embora mantenha uma perspectiva de esquerda, Miguel critica a simplificação do espectro político, destacando como questões como racismo, gênero e religião criam divisões que cortam transversalmente a clivagem econômica. Em "Democracia e representação: territórios em disputa", discute a complexidade das identidades políticas.

5. Fabio Wanderley Reis

Contribuição: Sociólogo e cientista político, Reis argumenta que a política brasileira é marcada por personalismo, clientelismo e uma relação ambígua com ideologias programáticas, o que enfraquece a aplicação direta dos conceitos de esquerda e direita. Sua obra "Mercado e utopia" explora tensões entre liberalismo e tradição.

6. David Samuels e Cesar Zucco

Contribuição: Em pesquisas quantitativas, como no livro "Partisans, Antipartisans and Nonpartisans", eles mostram que o antipartidarismo (especialmente o antipetismo) é uma força política autônoma no Brasil, que não se alinha necessariamente a uma ideologia coerente de direita. Zucco também destaca como programas de transferência de renda criaram apoios que cruzam fronteiras ideológicas.

7. Juan Linz (embora não brasileiro)

Relevância: Sua teoria sobre cleavages (clivagens) múltiplas (étnicas, religiosas, regionais) é frequentemente invocada para explicar como sistemas políticos como o brasileiro não se estruturam apenas em torno do eixo esquerda-direita econômico.

8. Rafael Cortez

Contribuição: Pesquisador de opinião pública, em estudos com a Tendências Consultoria, destaca a ascensão de pautas morais e de segurança como determinantes do voto, que frequentemente sobrepõem a identificação econômica esquerda-direita.

9. Flávia Biroli

Contribuição: Em trabalhos sobre conservadorismo e gênero, Biroli argumenta que a "agenda dos costumes" criou novas divisões que recombinam posições econômicas e culturais de formas inesperadas, desafiando a categorização tradicional.

10. Oswaldo Amaral

Contribuição: Em pesquisas sobre o PSL e o bolsonarismo, Amaral destaca como partidos "novos" muitas vezes agregam eleitores com preferências ideológicas difusas, unidos mais por rejeições (ao PT, à "velha política") do que por um projeto coerente de esquerda ou direita.

Temas comuns nessas abordagens:

Antipetismo como força autônoma.

Importância de clivagens culturais/morais (religião, segurança, família, gênero).

Personalismo e lideranças carismáticas que transcendem ideologias.

Hibridismo ideológico (ex.: eleitores favoráveis a políticas sociais, mas conservadores em costumes).

Crítica ao reducionismo de classes na análise política brasileira.

Observação:

Muitos desses autores não negam completamente a utilidade dos conceitos de esquerda e direita, mas propõem camadas analíticas adicionais para capturar a complexidade do caso brasileiro. A relativização é, em geral, uma resposta à crise dos partidos programáticos e ao realinhamento político pós-2013.

Quais os livros escritos pelos autores citados acima e que relativizam a utilização dos conceitos de esquerda e direita no debate contemporâneo sobre as preferências ideológicas dos eleitores brasileiros?

Aqui está uma lista de obras específicas dos autores citados que abordam, direta ou indiretamente, a relativização dos conceitos de esquerda e direita no cenário político brasileiro contemporâneo.

1. Sérgio Abranches

Obra mais relevante: "Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro" (1988).

Por que se relaciona: Embora seja um clássico da ciência política institucional, a obra ajuda a explicar por que a lógica da coalizão pragmática e do toma-lá-dá-cá frequentemente se sobrepõe a alinhamentos ideológicos rígidos no Congresso, relativizando a atuação prática de partidos de "esquerda" e "direita".

2. Marta Arretche

Obra mais relevante: Embora sua produção seja vasta em políticas públicas, para esta discussão, procure seus artigos e capítulos em coletâneas sobre comportamento eleitoral e clivagens. Um exemplo é a organização do livro "Trajetórias das Desigualdades: Como o Brasil Mudou nos Últimos Cinquenta Anos" (2015), que, ao discutir múltiplas dimensões da desigualdade, indiretamente mostra como as preferências políticas não se organizam apenas no eixo econômico esquerda-direita.

Artigo relevante: "Clivagens, Competição Partidária e Desigualdade no Brasil" (em revistas acadêmicas como a Revista Brasileira de Ciências Sociais).

3. Rodrigo Nunes

Obra mais relevante: "Do Transe à Vertigem: Ensaios sobre Bolsonarismo e um Mundo em Transição" (2023).

Por que se relaciona: Analisa o bolsonarismo como um fenômeno pós-ideológico ou "transideológico", que combina elementos de forma inconsistente do ponto de vista tradicional (ex.: liberalismo econômico, estatismo militarista, conservadorismo moral, antipolítica), desafiando diretamente as categorias de esquerda e direita.

4. Luís Felipe Miguel

Obra mais relevante: "Democracia e Representação: Territórios em Disputa" (2014).

Por que se relaciona: Discute como diferentes eixos de dominação (classe, gênero, raça) criam identidades e demandas políticas que não se encaixam perfeitamente no espectro unidimensional esquerda-direita, exigindo uma análise mais complexa das preferências dos eleitores.

5. Fábio Wanderley Reis

Obra mais relevante: "Mercado e Utopia: Teoria Política e Sociedade Brasileira" (1992/2000).

Por que se relaciona: Clássico da teoria política no Brasil, argumenta que a formação social brasileira combinou, de forma peculiar, elementos liberais (mercado) e comunitários/tradicionais (utopia), resultando em um pluralismo de valores que complica a classificação ideológica simplista.

6. David Samuels e Cesar Zucco

Obra mais relevante: O livro seminal é "Partisans, Antipartisans and Nonpartisans: Voting Behavior in Brazil" (2018).

Por que se relaciona: A obra demonstra empiricamente que o antipetismo funciona como uma identidade política poderosa e autônoma, que não corresponde exatamente a uma ideologia de direita. Mostra como muitos eleitores se definem contra algo (o PT) e não por uma agenda programática coerente, relativizando a clivagem tradicional.

7. Juan Linz (Referência internacional)

Obra mais relevante: "A Queda dos Regimes Democráticos" (com Alfred Stepan) e seus textos sobre cleavages (clivagens).

Por que se relaciona: Fornece a base teórica para argumentar que sociedades como a brasileira são marcadas por múltiplas clivagens (regionais, religiosas, urbanas-rurais) que cruzam e fragmentam o alinhamento esquerda-direita, tornando-o insuficiente para explicar o voto.

8. Rafael Cortez (Pesquisador de opinião pública)

Obra mais relevante: Procure os Relatórios e Estudos da Tendências Consultoria, onde atua como politólogo. Não é autor de um livro específico, mas seus artigos e apresentações são fundamentais.

Tema relevante: Pesquisas que mostram o "cidadão de bem" como um significante que agrega eleitores com visões econômicas distintas em torno de valores como segurança, ordem e tradição, criando uma nova identidade política.

9. Flávia Biroli

Obra mais relevante: "Gênero e Desigualdades: Limites da Democracia no Brasil" (2018) e "Conservadorismo, Autoritarismo e Direita no Brasil" (org., com Luciana Tatagiba, 2023).

Por que se relaciona: Mostra como a "agenda dos costumes" (gênero, família, religião) criou uma nova fronteira política que reorganiza alianças e identidades, fazendo com que posições econômicas de esquerda possam coexistir com conservadorismo moral, e vice-versa, desestabilizando as classificações tradicionais.

10. Oswaldo Amaral

Obra mais relevante: Procure seus artigos científicos sobre o PSL e a direita brasileira. Exemplo: "Da Frente para o PSL: a Direita Religiosa e sua Trajetória no Sistema Partidário Brasileiro" (em coletâneas ou revistas como a Revista de Sociologia e Política).

Por que se relaciona: Sua pesquisa mostra como partidos como o PSL surgiram e cresceram agregando eleitores não por um programa ideológico claro, mas por uma combinação de rejeição ao PT, liderança carismática e pautas morais específicas, relativizando a noção de uma "direita" coesa.

Síntese e Recomendações de Leitura:

Para um entendimento profundo do debate, a leitura pode ser orientada por três pilares:

Crítica Teórica à Dicotomia:

Fábio Wanderley Reis ("Mercado e Utopia") oferece a base teórico-histórica.

Juan Linz fornece o ferramental das "clivagens múltiplas".

Análise do Comportamento Eleitoral Contemporâneo:

David Samuels & Cesar Zucco ("Partisans, Antipartisans...") é a obra empírica mais importante, mostrando o papel do antipetismo.

Os artigos de Oswaldo Amaral e Rafael Cortez dão concretude a essas tendências.

Novas Fronteiras Culturais e Morais:

Flávia Biroli é essencial para entender o eixo dos costumes.

Rodrigo Nunes ("Do Transe à Vertigem") oferece uma análise filosófica e abrangente do fenômeno bolsonarista, que é o caso empírico máximo da relativização.

Essas obras, em conjunto, fornecem um mapa completo das principais argumentações que complexificam e relativizam o uso dos rótulos "esquerda" e "direita" para entender o eleitorado brasileiro atual.

Acima com IA deepseek

Popularidade, dados e polarização: o Brasil no espelho com Felipe Nunes - PODPEOPLE #276



“O Brasil no espelho”: Quais lições podemos tirar da pesquisa Quest? – Por Rodrigo Perez
Acaba de ser publicado pela Globo Livros a obra “O Brasil no espelho: um guia para entender o Brasil e os brasileiros”, assinada pelo cientista político Felipe Nunes, CEO da Quest, uma das mais prestigiadas empresas especializadas em pesquisas de ...

Por: Rodrigo Perez Oliveira na REVISTA FÓRUM
Publicado: 03/12/2025 - às 18h44

-Acaba de ser publicado pela Globo Livros a obra “O Brasil no espelho: um guia para entender o Brasil e os brasileiros”, assinada pelo cientista político Felipe Nunes, CEO da Quest, uma das mais prestigiadas empresas especializadas em pesquisas de opinião pública que temos no Brasil. O livro apresenta os dados de um ambicioso trabalho de investigação sobre os valores da sociedade brasileira. Os dados são muitos e complexos, e incontornáveis para intelectuais e lideranças políticas que tenham o interesse em entender o país fora da histeria ideológica que na última década pautou o debate político entre nós, à esquerda e à direita.

O livro divide o Brasil em nove identidades políticas: conservadores cristãos (27%), dependentes do Estado (23%), agro (13%), progressistas (11%), militantes de esquerda (7%), empresários (6%), liberais sociais (5%), empreendedores individuais (5%), extrema-direita (3%). Cada uma delas apresenta opiniões divergentes sobre os principais temas de interesse nacional, como economia, assistência social, segurança pública, democracia, ditadura, costumes etc. Essas “bolhas” (termo usado pelo próprio Felipe Nunes) possuem considerável grau de “calcificação”, ou seja, as possibilidades de trânsito entre elas são restritas, o que sugere o estreitamento da retórica, entendida como técnica de convencimento através da palavra. Todos estão tão confortáveis nas suas bolhas que têm pouco interesse em ouvir opiniões diferentes.


É certo que toda classificação demanda critérios que não são imunes às premissas ideológicas e que sempre podem ser questionados, discutidos e criticados. Por ora, desejo me concentrar em um aspecto específico da pesquisa, justamente aquele que me parece ser o mais importante e urgente para a esquerda. O cruzamento das informações nos permite pensar o “brasileiro médio” como um tipo ideal, no sentido em que Max Weber utilizava a categoria: um modelo abstrato que não necessariamente existe na realidade neste formato, mas nos ajuda a compreender o fenômeno analisado. Dito isso, sim, o “brasileiro médio” é conservador nos costumes, o que não quer dizer que seja “fascista”, ofensa usada e abusada pela esquerda nos últimos anos. A extrema-direita puro sangue contempla apenas 3% da população, bem menor do que o capital eleitoral de Jair Bolsonaro nas duas últimas eleições presidenciais. Se é verdade que toda a extrema-direita vota em Bolsonaro, também é verdade que nem todo eleitor de Bolsonaro é de extrema-direita. Já sabíamos, ainda que intuitivamente. É bom ver a intuição confirmada nos números.

Mas o que significa ser “conservador nos costumes”? A interpretação dos dados apresentados pela Quest permite ensaiar uma resposta. “Conservador nos costumes” é aquele que vê na casa, no espaço doméstico, um lugar que precisa estar seguro da criminalidade e das ideias consideradas desestabilizadoras da estrutura familiar. Isso, porém, não significa, necessariamente, negar direitos fundamentais para as minorias sexuais, raciais e de gênero. Para o brasileiro médio, direitos como adoção de crianças, união civil e igualdade no mercado de trabalho devem ser universalizados. Entretanto, “ideologia de gênero”, intervenção hormonal em crianças para fins de transição de gênero, ameaça aos espaços femininos de intimidade e a ampliação da política de cotas para além do acesso de pobres e negros aos cursos de graduação nas universidades públicas são projetos potencialmente rejeitados e profundamente identificados com a esquerda, o que explica a deterioração do prestígio desse campo político junto à maioria da população.

O brasileiro médio deseja viver em um país onde os direitos fundamentais estejam universalizados, mas não quer se sentir prejudicado neste processo, não deseja ser um perdedor na competição social. A lição me parece muito explícita: a estratégia que deve conduzir a atuação da esquerda precisa estar focada na universalização de direitos, sem ceder à tentação de tensionar nos costumes. Na casa, entre quatro paredes, cada um faz o que quiser. Na praça, no espaço público, todos precisamos ser contemplados pelos mesmos direitos. É a velha e boa utopia republicana.

Abaixo com IA DeepSeek

Existe  uma obra relevante de Felipe Nunes (cientista político e diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria) que, de fato, contribui diretamente para esse debate. A referida obra é:

"A Mente do Eleitor: O que Psicologia e Neurociência nos Revelam sobre a Política" (2021, coautoria de Brian K. Krueger).

Ambas as obras – a de André Singer e a de Felipe Nunes – contribuem, de modos distintos e complementares, para o entendimento da relativização dos conceitos "esquerda-direita".

1. O Brasil no Espelho (ANDRÉ SINGER) – Contribuição já detalhada:
O livro de Singer apresenta a tese do eixo "Ordem vs. Progresso", argumentando que essa clivagem cultural-moral substituiu a antiga divisão econômica (Estado x Mercado) como principal divisor político no Brasil pós-2013. Isso relativiza "esquerda-direita" ao mostrar que eleitores podem escolher lados com base em valores, medos e identidades (ex.: segurança, tradição, costumes) que não se alinham necessariamente com suas posições econômicas.

2. A Mente do Eleitor (FELIPE NUNES) – A Contribuição da Psicologia Política:
A obra de Felipe Nunes (com Krueger) adiciona uma camada microfundada, cognitiva e emocional ao debate. Seu foco está nos processos mentais, vieses e mecanismos psicológicos que explicam por que as pessoas votam como votam – frequentemente de formas que desafiam a racionalidade ideológica.

Como o livro relativiza "esquerda" e "direita":
a) O Primado da Emoção sobre a Razão Ideológica:
Nunes mostra que decisões políticas são majoritariamente automáticas, emocionais e baseadas em atalhos cognitivos (heurísticas), não em análises programáticas de propostas de esquerda ou direita. Isso explica por que campanhas bem-sucedidas apelam ao medo, esperança, raiva ou identificação tribal, e não a debates ideológicos.

b) A Centralidade da Identidade Partidária e do "Time":
O livro explica como a identificação partidária (ser "petista" ou "antipetista", por exemplo) funciona como uma "identidade social" poderosa, semelhante à torcida por um time de futebol. Essa identidade pode sobrepujar posições ideológicas específicas. Um eleitor pode apoiar medidas contraditórias se forem propostas pelo seu "time", demonstrando que o alinhamento não é doutrinário, mas tribal.

c) Os Vieses que Distorcem a Percepção da Realidade:

Viés de Confirmação: Eleitores buscam e acreditam apenas em informações que confirmem suas lealdades pré-existentes, não em análises que as confrontem com programas de esquerda/direita.

Viés Partidário: A mesma notícia ou dado econômico é interpretado de forma radicalmente oposta dependendo do partido no poder. A percepção da realidade é filtrada pela identidade política, não por um quadro ideológico coerente.

Aversão à Perda e Medo: Decisões eleitorais são frequentemente motivadas mais pelo medo de perder algo (status, valores tradicionais, segurança) do que pela adesão a um projeto de futuro de esquerda ou direita.

d) A Importância da Comunicação Não-Verbal e dos Sinais Subconscientes:
A obra aborda como eleitores decidem com base em características superficiais (aparência, tom de voz, expressões faciais) e sinais de confiança do candidato, fatores que são completamente alheios ao conteúdo ideológico de esquerda ou direita.

Síntese: Como as Duas Obras se Complementam
Dimensão Analisada André Singer ("O Brasil no Espelho") Felipe Nunes ("A Mente do Eleitor")
Nível de Análise Macro (Sociológico e Político). Foca em clivagens estruturais na sociedade (Ordem x Progresso) e realinhamento eleitoral. Micro (Psicológico e Cognitivo). Foca nos processos mentais individuais e nas heurísticas do voto.
Objeto de Estudo Forças históricas e grupos sociais. Examina como coalizões de classe e valores se reorganizam no tempo. O cérebro e a mente do eleitor individual. Examina como biologia, emoção e cognição guiam a escolha.
Como Relativiza Esq./Dir. Argumenta que um novo eixo (cultural) substituiu o antigo (econômico). A posição nesse novo eixo não corresponde necessariamente à posição no eixo antigo. Argumenta que a escolha é frequentemente não ideológica, mas sim emocional, tribal e sujeita a vieses que pouco têm a ver com conteúdo programático.
Conclusão Conjunta A sociedade se reordenou em torno de um conflito que não é mais o clássico. O indivíduo vota com base em mecanismos que ignoram o conflito clássico.
Resumindo:

Singer nos diz "o que" está estruturando o novo campo político (não é mais esquerda x direita no sentido econômico, mas Ordem x Progresso).

Nunes nos explica "por quê" isso é possível a nível individual: porque a mente do eleitor não opera com lógica ideológica, mas com atalhos emocionais e identitários que podem se vincular facilmente a novos eixos como o proposto por Singer.

Portanto, ler "A Mente do Eleitor" (Felipe Nunes) após "O Brasil no Espelho" (André Singer) é extremamente revelador. Ele fornece as ferramentas da psicologia política para entender como a relativização dos conceitos tradicionais, mapeada por Singer, consegue se concretizar na cabeça de cada votante. Juntos, eles oferecem uma explicação poderosa e em duas camadas (macro e micro) para a crise das categorias "esquerda" e "direita" no Brasil contemporâneo.



segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Na passagem deste ano de 2025 se não for passar em casa estarei por aí onde estiver amigos e um violão.

Texto de César Benjamim no final de 2022 relembrado no dia de hoje

Ano Novo na Praia de Copacabana, 01/01/1981 — Foto: Anibal Philot/Agência O Globo

 Sou de uma época em que passávamos o Ano Novo na praia com amigos e familiares em completa paz. As pessoas levavam violões, flautas, pandeiros e tambores. Formavam seus grupos para cantar e rir até o dia raiar. Havia o pessoal de Iemanjá com seus barcos. Nenhuma violência. As crianças adoravam passar uma noite na praia. 

Éramos muita gente, todos os anos, mas permanecíamos pessoas, cada um com seu jeito. 

Mas, como podem tantos consumidores serem deixados em paz se há tanta coisa para vender? Grandes empresas e Prefeitura inventaram então que precisavam controlar a festa, mercantilizá-la e adensá-la. Gente é business.

O que era a celebração de cada um tornou-se mais um evento de propaganda e marketing, feito para exercitar o controle sobre multidões sem rosto. 

A festa das pessoas tornou-se mais um evento mercantil para consumidores padronizados, excitados e idiotizados.

Vieram os shows. Os cachês. Os patrocínios. A mercantilização dos espaços. Os cordões de isolamento. A ânsia de ter cada vez mais gente apinhada. As galeras. A música da hora. Vieram junto a tensão, a violência e a sujeira. 

Saíram a individualidade, o prazer, a paz, a intimidade, a música de cada um.

Os espetáculos dos fogos tornaram-se desproporcionais. Tudo se tornou desproporcional a qualquer medida humana.

Neste ano foram três milhões? Pois no próximo serão quatro! Sucesso se mede assim. Quem garante é a grande máquina de formação e controle de multidões a serviço das mercadorias. 

Leio que neste ano o acesso à praia terá detectores de metais. Sorria, você está sendo filmado!

Tchau, pessoal, a gente não se encontra lá!

César de Queiroz Benjamin -  é um cientista político, editor e político brasileiro. Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Cofundador do Partido dos Trabalhadores (PT), foi também filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tendo se desligado dos dois partidos. Atualmente, César Benjamin é o editor da Contraponto Editora] e colunista da Folha de S.Paulo.


História do Réveillon em Copacabana

Mais um ano desse grande evento da cidade

A ditadura gospel irá triunfar nesse Brasil abençoado por Deus, mas que sempre foi diverso, plural e violento ao mesmo tempo?

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 Di Quebra

O mano DI Quebra, professor de História que foi crente durante uma boa fase da vida, de criança a um periodo da juventude, escreveu o seguinte em sua página do facebook no dia de hoje, 29/12/2025

"Algumas pessoas aqui me conhecem há mais de uma década e sabem o quanto já fui militante.

Sabem também de algo que eu aponto desde 2009 mais ou menos que eu sempre chamei de "Ditadura Gospel".

Em 2013 ficou muito claro pra mim que existia um claro racha entre o povo brasileiro. De um lado, aqueles que sabiam que algumas migalhas que caíam das mesas dos nossos senhores capitalistas não seriam suficientes para conter o terror da luta de classes e da desigualdade social. De outro, os donos do mundo e sua massa de zumbis dispostos a darem as suas vidas e eliminarem tudo e todos que discordem da manutenção do sistema.
Diante dessa luta uma ferramenta, um instrumento essencial para que os vencedores continuem no primeiro lugar do pódio:
O cristianismo.
Mais de quinze anos observando isso. Uma parte dessa observação de dentro das igrejas evangélicas e eu só vi o quadro piorar.
Conseguiram fazer da mensagem coletivista do Cristo a maior arma de controle social do sistema que coloca o individualismo exacerbado como sua principal característica.
É triste e eu não vejo mais saída."

Por coincidência, o facebook tinha me recordado o meme acima que compartilhei há nove anos. Como essa questão está na ordem do dia e mexendo bastante com as emoções e conhecimentos dos defensores do estado laico, seja cristão , seja ateu ou agnóstico, resolvi trazer o debate para este espaço.
O que respondi na postagem do mano
"O caminho é investir em mais cultura em outra chave ou direção... Ou seja mais Legião Urbana para "iluminar" um pouco mais, sem precisar deixar de ler a Biblia e reconhecer suas luzes e sombras, mas sei que não é fácil, pois para reconhecer a Biblia como livro atravessado por sombras, precisa de uma leitura humanista e humanizadora de outros autores, muitos destes ateus ou agnósticos."
O que vocês que acompanham as publicações deste blog pensam a respeito? Pode responder nos comentários abaixo ou em outras redes.
Aproveitando o ensejo, continuo na expectativa de uma segunda conversa com a vereadora Sônia Meire (PSOL_ARACAJU) para tratar sobre como fortalecer a ideia do intervalo cultural nas escolas e outras ações potentes de ação cultural para além e concomitante as aulas de artes e/ou dos projetos culturais pontuais como São João, Consciência Negra, Show de Talentos, Feiras de Artes, Ciências e Humanidades e etc.

Também compartilhei em primeira mão com Di Quebra

Brigitte Bardot: linda, talentosa, xenófoba, homofóbica e ativista de extrema direita

 A atriz francesa Brigitte Bardot, ícone do cinema mundial e uma das maiores estrelas da cultura pop do século 20, morreu aos 91 anos. Alçada ao estrelato como símbolo sexual nos anos 1960, Bardot construiu uma trajetória pública que, ao longo das décadas, passou por uma guinada radical: do glamour das telas para o ativismo animal e, mais tarde, para um engajamento político controverso à extrema direita francesa.  

Depois de uma carreira meteórica que a levou ao reconhecimento internacional, Bardot decidiu se afastar definitivamente do cinema aos 39 anos. Reclusa desde então, passou a viver em Saint-Tropez, na Riviera Francesa, cidade que ajudou a transformar em destino turístico global.

Do estrelato ao ativismo animal

Em 1986, Bardot fundou a Fundação Brigitte Bardot, dedicada à proteção dos animais. A instituição tornou-se uma das mais conhecidas da França na área e esteve à frente de campanhas contra a caça de focas, em defesa de elefantes, pelo fim de sacrifícios rituais de animais e pelo fechamento de abatedouros de cavalos.

O engajamento lhe rendeu apoio de ambientalistas e defensores da causa animal, mas também ampliou sua visibilidade pública em um período em que suas posições políticas passaram a gerar fortes reações negativas.

Condenações por incitação ao ódio

A partir dos anos 1990, declarações de Bardot sobre imigração, islamismo e homossexualidade levaram a uma série de processos judiciais. Entre 1997 e 2008, tribunais franceses aplicaram seis multas à atriz por incitação ao ódio racial, sobretudo por comentários dirigidos à comunidade muçulmana na França.

Em um dos casos mais emblemáticos, um tribunal de Paris a condenou ao pagamento de 15 mil euros após declarações em que afirmou que muçulmanos estariam “destruindo o país ao impor seus atos”. Ao todo, Bardot acumulou cinco condenações por esse tipo de crime ao longo da vida.

Vínculo com a extrema direita

Em 1992, Bardot se casou com Bernard d’Ormale, ex-assessor da Frente Nacional, partido de extrema direita. Desde então, tornou-se apoiadora declarada da legenda e de seus principais líderes, Jean-Marie Le Pen e Marine Le Pen, a quem chegou a chamar de “a Joana d’Arc do século XXI”.

Após a morte da atriz, o atual presidente do partido, Jordan Bardella, foi um dos primeiros a se manifestar. Em publicação nas redes sociais, escreveu que “o povo francês perdeu a Marianne que tanto amava, cuja beleza espantou o mundo”.

A imagem de Marianne

A referência à Marianne — figura alegórica da República Francesa — remete a um símbolo nacional que representa os valores de liberdade, igualdade, laicidade e soberania popular. Tradicionalmente retratada como uma mulher com o barrete frígio, Marianne já teve seu rosto inspirado em diversas atrizes e personalidades francesas ao longo do tempo, o que explica associações simbólicas como a feita com Bardot.

Último livro e críticas à França contemporânea

Poucas semanas antes da morte, Bardot lançou seu último livro, “Mon BBcédaire” (“Meu Alfabeto BB”). Na obra, criticou o que descreveu como uma França “monótona, triste e submissa” e atacou a transformação de Saint-Tropez em um reduto de turistas ricos — fenômeno que ela própria ajudou a impulsionar.

O livro também reacendeu controvérsias ao trazer comentários depreciativos sobre pessoas gays e transgêneros, reforçando a imagem de uma figura pública tão influente quanto divisiva.

Com uma vida marcada por contrastes, Brigitte Bardot deixa um legado complexo: ao mesmo tempo em que redefiniu padrões de beleza e protagonizou uma das carreiras mais emblemáticas do cinema francês, tornou-se uma das personalidades mais controversas do país nas últimas décadas.