informações sobre ações culturais de base comunitária, cultura periférica, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
A Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, redes estaduais, regionais e municipais, agentes culturais, gestores públicos, artistas, mestres e mestras convocam a sociedade brasileira — que reconhece o valor dos Pontos e Pontões de Cultura — para pedir que a Cultura Viva seja reconhecida como eixo estratégico do PNC 2025–2035. Assine, compartilhe e mobilize!
A Política Nacional Cultura Viva é uma das mais importantes conquistas da cultura brasileira, nascida dos territórios e comunidades do Brasil e que, pela sua força transformadora, inspirou políticas semelhantes em diversos países da América Latina. Há mais de 20 anos, ela reconhece, fortalece e conecta Pontos e Pontões de Cultura que atuam onde a política pública raramente chega: nas periferias urbanas, nos quilombos, aldeias, comunidades tradicionais de matriz africana, favelas, comunidades ribeirinhas e em tantos outros territórios de criação, memória e resistência.
Agora, no momento em que o Congresso discute o novo Plano Nacional de Cultura (PNC) 2025–2035, a Cultura Viva não foi incluída, apesar de sua relevância histórica, institucional e federativa. Por isso, nós — redes, gestores, mestres, coletivos e agentes culturais de todo o país — estamos mobilizados para garantir que esta política seja reconhecida como eixo estratégico, estruturante e autônomo do novo PNC, já que é ela que fortalece o Sistema Nacional de Cultura, democratiza o acesso e sustenta a base das demais políticas culturais no Brasil.
Através deste abaixo-assinado, nos dirigimos respeitosamente ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; à Ministra da Cultura, Margareth Menezes; ao Ministro da Casa Civil, Rui Costa Pimenta; à Ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann; ao Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos; ao Líder do Governo na Câmara, Deputado José Guimarães (PT-CE); à Presidenta da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, Deputada Denise Pessôa (PT-RS); e à Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), autora da Lei Cultura Viva e da PNAB.
Por meio desta mobilização nacional, solicitamos a alteração urgente da omissão da Política Nacional Cultura Viva no texto atual do Plano Nacional de Cultura (PNC) 2025–2035, para que seja incluída como eixo estratégico, estruturante e autônomo.
Quem a PNCV reconhece, fortalece e transforma
A PNCV é uma das políticas públicas mais inovadoras e transformadoras da cultura brasileira, e seu foco é quem faz cultura na ponta — ou no Ponto. Conforme a Lei Cultura Viva, ela reconhece, fortalece e fomenta iniciativas culturais desenvolvidas por entidades e coletivos de base comunitária que atuam de forma continuada em seus territórios, preservando identidades, memórias, práticas culturais, processos criativos e modos de vida.
Ao apoiar essas iniciativas, a PNCV sustenta redes culturais vivas, fomenta autonomia e pertencimento e fortalece processos culturais que nascem nos territórios — ampliando o direito à cultura e promovendo criação, transmissão de conhecimentos e cidadania cultural.
Sua base legal e institucional é sólida
A PNCV está amparada em um marco normativo consistente:
Lei 13.018/2014 — Lei Cultura Viva
Lei 14.399/2022 — Política Nacional Aldir Blanc (PNAB)
Decreto 11.740/2023 — Regulamentação da PNAB
Lei 14.903/2024 — Marco Regulatório do Fomento à Cultura
A omissão no PNC e o que estamos pedindo
A PNCV não foi incluída no novo Plano Nacional de Cultura, apesar de:
atender plenamente aos critérios formais para ser eixo estratégico;
ser transversal a todos os outros eixos;
possuir governança e institucionalidade consolidadas;
estar enraizada no Sistema Nacional de Cultura;
operar o maior mecanismo de fomento direto da cultura brasileira;
garantir participação social, controle social e gestão compartilhada;
estruturar políticas locais de cultura em milhares de municípios.
A ausência da PNCV como eixo estratégico, estruturante e autônomo é um equívoco político, técnico e simbólico que compromete a coerência do próprio PNC.
Por isso, pedimos:
Que o Governo Federal articule com sua base no Congresso a correção imediata da omissão, assegurando a inclusão da PNCV como eixo estratégico, estruturante e autônomo no PNC.
Que o Congresso Nacional insira explicitamente a PNCV como EIXO ESTRATÉGICO, ESTRUTURANTE E AUTÔNOMO no texto final do Plano Nacional de Cultura 2025–2035.
Com isso, convidamos todas as pessoas, organizações, entidades, redes, mestras e mestres, coletivos e apoiadores da Cultura Viva a assinar este abaixo-assinado, promover debates, rodas de conversa e articulações territoriais, mobilizar suas redes sociais, pressionar parlamentares, gestores e lideranças políticas e fortalecer a defesa dessa política que há décadas transforma o Brasil pela cultura.
“A Cultura Viva é a força da cultura brasileira que começa nos territórios.”
Vamos garantir que a PNCV esteja onde sempre deveria estar: no coração do PNC.
Quando o palco vira trincheira e a comédia, resistência
Numa Aracaju que respirava sonho e poesia, onde o vento cochichava segredos nas esquinas e o riso morava em cada beco, nasceu, em 1983, o Grupo Teatral Mambembe. Era filho do Quilombo da Maloca, gestado no calor da invenção e no improviso cheio de ginga. Os dois Antônios, Campos e Santos, teceram a travessura, lançaram a semente e acordaram a cidade com um teatro livre, faceiro, atrevido e com o coração maior que o Mercado Municipal.
Mas foi em 1985 que a magia decidiu chegar de verdade, e veio com elegância. Surgiu Virgínia Lúcia, artista de olhar cortante e alma que falava com as estrelas. Ela não entrou na trupe, pousou como quem sopra vida nova, trazendo outro compasso para o tambor, outro brilho para a cena e uma coragem bonita de virar o mundo de cabeça pra baixo. Com ela, o grupo se despediu da saudade do teatro engessado e abriu os braços para a arte viva, que é arma e festa, pensamento e brincadeira, resistência e encanto, tudo junto e misturado, do jeito que só Aracaju entende.
O Mambembe bebeu da fonte do Imbuaça, como quem encontra um poço encantado no próprio quintal. Fez morada nesse encanto e trouxe para o seu fazer a esperteza do cordel, a sabedoria brincalhona do circo-teatro e o fervor do teatro de rua popular. Cada cena virou grito, cada riso virou ironia afiada, cada gesto se abriu como janela para as dores e esperanças das periferias, que sempre tiveram o que dizer e nunca perderam a vontade de cantar.
E lá vinha Virgínia Lúcia, com sua escrita que cortava e acariciava ao mesmo tempo, abrindo horizontes para o Mambembe com a ousadia de quem nunca aprendeu a pedir licença. Sob sua pena inquieta, o grupo percorreu Sergipe de ponta a ponta, levantando poeira nos povoados, ocupando praças com poesia desobediente e cruzando fronteiras para ecoar em outros cantos do país. Em cada cidade ficava um rastro de riso crítico e encanto rebelde. Assim, o Mambembe foi se tornando lenda viva, trupe insurgente, militante e travessa, daquelas que entram pela porta da frente do coração e ali se instalam, sem jamais pedir permissão.
Foi no apagar das luzes da década de 1980 que Raimundo Venâncio entrou em cena. Não anunciou chegada, apenas surgiu, como personagem que o destino escreve de surpresa. Caminhou pelo terreiro do Mambembe com a naturalidade de quem sempre pertenceu ao enredo, e o grupo, ao vê-lo, pareceu reconhecer um velho companheiro de sonho. Raimundo trazia nos olhos o brilho das praças e nas veias a pulsação do verso. Sua presença tinha o dom de fazer o público rir e pensar ao mesmo tempo, como se a poesia soprasse segredos no ouvido da consciência. E assim, sob refletores inventados e estrelas cúmplices, sua palavra virou luz que dançava entre o riso e a revolta.
Logo Raimundo tornou-se farol no meio da trupe, luz teimosa apontando caminhos mesmo quando a neblina insistia em cair. Entrou em cena com corpo e alma em montagens que marcaram época, como Quem Matou Zefinha?, espetáculo que cutucava a ferida das injustiças e expunha, com ousadia e sarcasmo, as dores que o poder tentava esconder sob o tapete da indiferença. Era teatro que perguntava em voz alta, chamava o povo pelo nome e fazia de cada riso uma faísca de consciência, mostrando que a luta também pode nascer da poesia, da gargalhada e do peito valente que não aceita calar.
O Grupo Mambembe se destaca também por uma postura firme que nem vento teimoso dobra. É daqueles coletivos que olham o poder nos olhos e respondem com arte, ironia e coerência. Nunca se vendeu, jamais trocou sua alma por promessa bonita de governo que pouco entendia o povo, e às vezes até caminhava contra ele. Prosseguiu adiante com a teimosia boa de quem sabe onde pisa e por que pisa.
A arte do Mambembe caminhou junto das lutas sociais, não como sombra, mas como força viva que enfrentou o silêncio e desafiou o esquecimento. Foi um grupo que nunca se curvou aos poderosos, nem baixou a cabeça diante da censura, da indiferença ou do medo. Permaneceu de pé, risonho e combativo, fazendo do palco uma trincheira e da poesia uma arma de esperança. Cada gesto era bandeira, cada palavra, chamado à consciência. O Mambembe não apenas encenou: gritou junto, chorou junto, sonhou junto. Em cada praça, reacendeu a chama antiga da cultura sergipana, essa que só arde quando o povo se reconhece em cena e entende que arte também é forma de lutar.
Não faltou humor, nem veneno, nessa caminhada atrevida. Em 1993, o Grupo Mambembe invadiu as ruas de Aracaju com Passaram a Mão no Buraco do Meu Bem, espetáculo que já fazia o povo rir só pelo título e seguia derrubando máscaras a cada cena. Mas, por trás da gargalhada, vinha a ferroada: uma sátira ácida à política pública de saúde do governo estadual, que tropeçava mais que paciente em fila de posto. Com sorriso maroto, gestos exagerados e aquele deboche certeiro que só o povo domina, o grupo desmontou discursos, escancarou falcatruas e cutucou a ferida do poder. Esse é o Mambembe que nunca se rendeu ao afago dos poderosos, que fez da criatividade sua arma e da arte seu instrumento de informação e resistência, mostrando que riso também pode ser rebeldia e que o palco é lugar de luta, consciência e liberdade.
Essa mistura audaciosa de poesia com riso cortante virou marca registrada do Mambembe. Eles pegam o drama pesado da vida popular e o vestem com cordel, samba, rock e circo, criando um tempero que é metade beleza, metade desatino, todo revolucionário. O público não assiste, participa. Não é plateia, é cúmplice da piada que incomoda. Ri, mas sem esquecer da indignação necessária. É assim que o Mambembe transforma cada apresentação num pequeno levante, leve no jeito, forte na mensagem.
O grupo sempre caminhou lado a lado com movimentos sociais, sindicatos e causas populares de Sergipe, levando o teatro como farol em tempos de escuridão. Politizava cada apresentação com a ousadia de quem sabia que arte também é arma e esperança. Era palco que convidava o público a pensar, rir, se indignar e, se possível, sair dali com vontade de mudar o mundo. O Mambembe não representava por representar: despertava, cutucava, lembrava que cada aplauso podia ser também um grito por transformação.
Além das ruas de Aracaju, o Mambembe espalhou sua chama pelo interior sergipano e por estados vizinhos, levando seu teatro-poesia de resistência como quem protege um lume sagrado na palma da mão. Em cada povoado, em cada praça, reafirmava a identidade do povo e cutucava com coragem as desigualdades escondidas nas dobras do cotidiano. O circo-teatro, a palhaçaria consciente e o diálogo direto com o público transformavam o palco em território comum, onde artista e cidadão se misturavam num mesmo gesto de humanidade, rompendo a distância entre quem cria e quem vive a arte.
Assim, o Grupo Mambembe e seus incansáveis integrantes (dos fundadores Antônio Campos e Antônio Santos, à liderança inventiva de Virgínia Lúcia e à força poética e militante de Raimundo Venâncio), junto de tantos atores, técnicos e colaboradores, escreveram uma das páginas mais vibrantes da cultura brasileira. São prova viva de que, quando a arte se une à consciência, o teatro deixa de ser apenas espetáculo e se torna pulsação de vida, esperança e revolução. O Mambembe segue presente em cada esquina, em cada plateia improvisada, em cada coração fervoroso de Sergipe, lembrando que, enquanto houver povo e poesia, o palco jamais se apaga.
E assim chegamos ao último aplauso, aquele que não se apaga e continua ecoando no peito de cada sergipano. Porque o Mambembe não foi apenas um grupo, foi abraço coletivo, farol teimoso e riso resistente nas horas mais duras. Foi arte que não pediu licença para existir. Por isso, sindicatos, associações, movimentos sociais, artistas, professores, estudantes, gente de toda esquina e de toda quebrada têm motivo de sobra para agradecer de pé a existência desse bando arretado que ousou transformar tristeza em reflexão, dor em poesia e injustiça em gargalhada crítica, e com isso manteve viva a chama da esperança no palco da vida.
O Mambembe ensinou que o teatro pode ser espada e flor ao mesmo tempo, que a rua é palco legítimo e que o coração do povo é plateia que nunca dorme. E até hoje, quem passa pelas praças de Aracaju ainda sente aquele pulsar escondido no vento, um ritmo leve que parece sussurrar: aqui já houve teatro que disse verdades com humor, que provocou esperança com deboche e que acendeu coragem com poesia.
Por tudo isso, Sergipe tem motivo de sobra para se orgulhar e preservar a memória desse grupo que ousou desafiar o poder, atravessou fronteiras, levou alegria aos lugares mais distantes e transformou a arte em arma, fé e coragem.
O Mambembe foi e continua sendo centelha de sonho e resistência, lembrando que o riso também pode ser gesto de luta e que a poesia, quando encontra o povo, vira força capaz de mover o mundo.
Fica, então, nosso agradecimento cheio de encantamento e sorriso torto. Obrigado ao Mambembe por existir, resistir e insistir. Obrigado por colocar poesia no meio da poeira, por arrancar riso onde só havia silêncio, por ensinar que a revolução também pode ter cheiro de picolé, som de sanfona e brilho de lampião.
Mesmo com seu término, o Mambembe permanece aceso no tempo, feito brasa teimosa que o vento não apaga. Sua voz ainda sopra nas esquinas, sua gargalhada ainda mora nas praças, seu passo ainda ecoa nos becos onde a esperança aprende a dançar.
Que essa chama continue viva, brincalhona e danada, batendo firme no coração de quem cruza as praças, os becos e os sonhos de Sergipe, terra que aprendeu, com o Mambembe, que a arte é coragem disfarçada de alegria e que nenhum fim é capaz de apagar o que nasceu do povo, do riso e da luz.
* Emanuel Rocha é Historiador, poeta popular, escritor e Repórter fotográfico
Seis longas e um curta metragem compõem a edição online da programação da11ª MOSTRA MOSFILM DE CINEMA SOVIÉTICO E RUSSO, que acontece na plataformaSpcine Play, entre os dias24 de novembro a 8 de dezembro.
Entre os destaques da programação estão filmes selecionados em virtude da comemoração dos80 ANOS DA VITÓRIAsobre o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial, um curta e um longa-metragem do cineastaKAREN SHAKHNAZAROV, que completa, este ano, 50 anos de carreira, e o clássicoO ENCOURAÇADO POTEMKIN(1925), que chega aos 100 anos em 2025.
Os filmes de Karen Shakhnazarov apresentados na mostra são o curta metragem “Devaneio de Primavera” (1975), primeiro filme do diretor, e o longa “No Submundo de Moscou” (2023), que será apresentado em versões dublada e legendada.
O DIA DA VITÓRIA será relembrado na mostra através dos filmes “O Caminho Para Saturno” e “O Fim de Saturno”, ambos de 1967, sobre a infiltração de um oficial da inteligência soviética na escola de espionagem nazista Saturno. A direção é de Villen Azarov, e ambos os longas foram restaurados pelo Estúdio Mosfilm em 2025.
Completam a programação “A Queda da Dinastia Romanov” (1927), da pioneira dos documentários de compilação, Esfir Shub, e a ficção científica “O Segredo da Noite Eterna” (1955), de Dmitry Vassilev.
Celulares e Tablets: Google Play Store (Android) e Apple Store (iOS)
Outras formas: Pode ser acessado por notebooks e também via Chromecast.
O ENCOURAÇADO POTEMKIN 1925 / P&B / 71 MIN. / ÉPICO
Direção: Serguey Eisenstein
Roteiro: Nina Agadzhanova, Serguey Eisenstein e Grigori Aleksandrov
Com Andrei Fait, Aleksandr Antonov, Ivan Bobrov e Grigori Aleksandrov
Em 1905, marinheiros do Potemkin rebelam-se. A população da cidade portuária de Odessa apoia a revolta e é brutalmente reprimida. O encouraçado dispara contra o Quartel General czarista e parte ao encontro da frota do Mar Negro, visando sublevá-la.
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Curiosidades:
Baseado em eventos reais, e um dos filmes mais influentes da história do cinema, “O Encouraçado Potemkin” completa 100 anos em 2025
Revolucionou a linguagem cinematográfica, principalmente no que concerne à montagem.
A QUEDA DA DINASTIA ROMANOV
1927 / P&B / 62 MIN. / DOCUMENTÁRIO
Direção e roteiro: Esfir Shub
Documento histórico sobre os grandiosos e ao mesmo tempo trágicos eventos que marcaram a história da Rússia na virada do século XIX para o XX. As imagens, que retratam a vida do povo e da elite governante, demonstram claramente a gravidade das contradições sociais da Rússia pré-revolucionária.
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 10 anos
Curiosidades:
Esfir Shub foi pioneira na criação dos “documentários de compilação” (feitos a partir de imagens de arquivo de eventos reais), sendo este filme considerado o primeiro do gênero.
O filme foi realizado para comemorar o aniversário de 10 anos da Revolução de Outubro
O SEGREDO DA NOITE ETERNA
1955 / COR / 79 MIN. / FICÇÃO CIENTÍFICA
Direção: Dmitry Vassilev
Roteiro: Igor Lukovsky
Com Ivan Pereverzev, Danuta Stolyarskaya, Mikhail Astangov, Konstantin Bartashevich
Uma explosão no fundo do Oceano Pacífico faz com que a vegetação subaquática aumente rapidamente de tamanho. Denisov, pesquisador de um Instituto de Oceanologia que testemunhara o desastre, presume que o fenômeno se deva a um novo elemento radioativo, que deve ser estudado com urgência. Ele precisa descer ao fundo do oceano, mas começa a perder a visão por conta do efeito da radiação.
Classificação Indicativa: livre
Curiosidades:
O diretor do filme, Dmitry Vassilev, foi assistente de direção de dois clássicos do cinema soviético: “Lenin em Outubro”, de Mikhail Romm, e “Aleksandr Nevsky”, de Serguey Eisenstein.
O filme estreou primeiro na televisão, em junho de 1956, e posteriormente nos cinemas, em setembro do mesmo ano.
Com Mikhail Volkov, Georgy Zhzhenov, Arkady Tolbuzin e Valentina Talyzina
O Capitão Krylov, oficial de inteligência soviético, infiltra-se na organização altamente secreta “Saturno” com o objetivo de conquistar a confiança dos líderes do centro de sabotagem hitlerista e transmitir uma mensagem importante a Moscou.
Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2025
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Curiosidades:
Baseado na obra de V. Ardamatsky, “Saturno é Quase Invisível”, por sua vez inspirado na vida do agente russo Aleksandr Ivanovich Kozlov.
Tropas reais do Distrito Militar dos Cárpatos adicionaram autenticidade às filmagens, e em vez de cenários foram usadas locações reais, requerendo uma enorme quantidade de filme.
Com Mikhail Volkov, Lyudmila Maksakova, Georgy Zhzhenov e Vladimir Pokrovsky
Nessa continuação de “O Caminho Para Saturno”, o oficial de inteligência soviético Krylov trabalha na organização de espionagem alemã “Saturno”, no território ocupado da Bielorrússia, sob o nome de Kramer. Ele transmite a Moscou os nomes e características dos sabotadores nazistas enviados à retaguarda soviética.
Matriz restaurada pelo Estúdio Mosfilm em 2025
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Curiosidades:
Baseado na obra de V. Ardamatsky, “Saturno é Quase Invisível”, por sua vez inspirado na vida do agente russo Aleksandr Ivanovich Kozlov.
Villen Azarov, batizado em homenagem a Vladimir Ilich Lenin, escolheu o tema de Saturno inspirado pela trajetória do pai, Avraam Azarov, major da segurança do Estado, por conta do cinquentenário da Agência de Inteligência Soviética.
DEVANEIO DE PRIMAVERA
1975 / COR / 22 MIN. / DRAMA
Direção: Karen Shakhnazarov
Roteiro: Vassily Shukshin e Karen Shakhnazarov
Com Aleksandr Safronov, Nina Grebeshkova, Gueorgy Burkov e Nikolai Smirnov
O jovem médico Solodovnikov é enviado a um hospital em uma zona rural para um período de três anos de residência. Constantemente atrasado para suas tarefas diárias, o rapaz faz planos ambiciosos para sua carreira, e os descreve em seu diário que marca a chegada da Primavera.
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 10 anos
Curiosidades:
Curta metragem de estreia do diretor Karen Shakhnazarov, e seu trabalho de conclusão de curso no Instituto Estatal de Cinema (VGIK)
Inspirado no conto “Um passo à frente, Maestro!”, do escritor e cineasta Vassily Shukshin
Com: Konstantin Kryukov, Mikhail Porechenkov, Anfisa Chernykh e Evgeny Stychkin
Moscou, 1902. O famoso diretor de teatro Konstantin Stanislavsky, em busca de inspiração para uma nova peça, decide se aprofundar na vida do “submundo” da cidade. Ele pede ajuda a Vladimir Gilyarovsky, reconhecido especialista nas periferias de Moscou. Juntos, eles vão ao lendário bairro dos bandidos, Khitrovka, e se envolvem na investigação do assassinato de um misterioso residente local: um sikh indiano com um passado sombrio…
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Curiosidades:
Inspirado no romance “O Signo dos Quatro”, de Arthur Conan Doyle e em um evento real: a tour de Stanislavsky acompanhado por Gilyarovsky pelo distrito de Khitrovka.
O filme estreou em 18/05/23, em 1800 salas de cinema da Rússia, depois de liderar as pré-vendas de ingressos na semana anterior.
A COP30, realizada em Belém (PA), terminou neste sábado (22) e contou com resoluções aprovadas por consenso entre os Estados-membros da ONU, além de compromissos voluntários assumidos fora do processo formal de negociação. Diante dos resultados, como se pode avaliar o que foi obtido ao longo do processo de negociação que começou bem antes da realização do evento em si?
Para a professora de Direito da Universidade de Melbourne, Jacqueline Peel, especialista de renome internacional na área de direito ambiental e de mudanças climáticas, houve progressos no financiamento climático e na adaptação às mudanças já em curso. "No entanto, os esforços para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis estagnaram diante da forte resistência das potências petrolíferas. Grande parte do progresso em Belém ocorreu fora das negociações principais", aponta ela.
Combustíveis fósseis
Em artigo publicado no The Conversation, a especialista pontuou que o Brasil tinha um plano: angariar apoio para um roteiro de eliminação gradual dos combustíveis fósseis, defendido pelo presidente Lula e fortemente impulsionado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. "O plano recebeu apoio de mais de 80 países, incluindo grandes exportadores de combustíveis fósseis como Noruega e Austrália. Antecipando resistência, o Brasil trabalhou para ampliar o apoio fora das negociações principais antes de apresentá-lo formalmente", conta.
"Não funcionou. Ao final da COP30, toda menção a um roteiro para os combustíveis fósseis havia sido removida do texto dos resultados finais, após forte reação negativa de países como Rússia, Arábia Saudita e Índia, além de muitas economias emergentes", pontua a especialista. "Em vez disso, os países concordaram em lançar o 'Acelerador Global de Implementação […] para manter o limite de 1,5°C ao nosso alcance' e 'evando em consideração' as decisões anteriores da COP. Essa iniciativa será conduzida pela Presidência brasileira da COP30 e pelos líderes das negociações da COP31 do próximo ano, Turquia e Austrália."
COP30: Confira o que foi decidido
Peel ressaltou que o presidente Lula prometeu continuar defendendo um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis no G20 e que a Colômbia e os Países Baixos realizarão uma conferência sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis em abril de 2026. "O texto da decisão da COP30 também faz referência a um 'evento de alto nível em 2026', que poderá ocorrer no Pacífico . Sem os obstáculos ao consenso nessas reuniões, uma coalizão de países dispostos a colaborar poderia fazer progressos reais no estabelecimento de cronogramas e na troca de ideias políticas para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis."
Financiamento climático
A professora de Direito diz que a decisão de desenvolver um mecanismo de transição justa foi saudada como uma vitória para os trabalhadores e as comunidades. O objetivo deste novo mecanismo será aumentar a cooperação internacional, a assistência técnica, o desenvolvimento de capacidades e a partilha de conhecimentos à medida que os países avançam rumo a uma economia global de baixo carbono.
"Esses fundos destinam-se a ajudar as nações mais expostas a danos climáticos severos, geralmente mais pobres e com baixas emissões. Essas nações lideraram a luta para triplicar o financiamento climático até 2030, partindo dos US$ 40 bilhões (A$ 62 bilhões) acordados na COP26, quatro anos atrás. Mas o texto acordado apenas 'solicita esforços para pelo menos triplicar o financiamento para adaptação até 2035', o que adia o prazo e não estabelece uma meta de financiamento", explica.
Ela destaca ainda uma outra iniciativa brasileira, o Fundo para Florestas Tropicais, que assegurou US$ 9,5 bilhões em promessas de financiamento, o que é um recorde na COP. Também foi consolidado o suporte a um roteiro para acabar com o desmatamento, firmado com 92 apoiadores.
"O sucesso dessas iniciativas de combate ao desmatamento demonstra a eficácia da Agenda de Ação da COP, que visa impulsionar ações climáticas fora das negociações formais e inclui compromissos de empresas, investidores e da sociedade civil. À medida que as negociações formais se emperram, essas vias alternativas podem acabar substituindo as negociações como motor do progresso", assinala.
Consenso
Segundo Peel, surgirão também questionamentos sobre a adequação dessas negociações baseadas em consenso, visto que esse tipo de mecanismo pode ser manipulado por grupos que buscam obstruir o processo.
"Para muitos, a COP30 será considerada um fracasso em relação aos combustíveis fósseis e na resolução das grandes lacunas entre as promessas nacionais de redução de emissões e o que é necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C", diz ela. "Isso é verdade. Mas outra perspectiva seria a de que essas negociações trouxeram avanços reais em áreas importantes, apesar dos consideráveis ??desafios."
"Negociadores de 194 países compareceram e continuaram a conversar e trabalhar juntos para enfrentar a crise crescente. Quase metade desses países demonstrou estar pronta para começar a se desvencilhar dos combustíveis fósseis, apoiando o roteiro de eliminação gradual. Eles não precisam esperar por um consenso da ONU para agir. Os exportadores de combustíveis fósseis só têm poder enquanto outras nações comprarem e dependerem de seus produtos", analisa, vislumbrando novas possibilidades futuras além daquelas ditadas pelo consenso na COP.
A COP30 era “a hora da verdade”, mas a verdade é que o mundo rico não tem pressa nenhuma em parar de fritar o planeta. O rascunho do texto final é fraco: ninguém quer assumir o fim dos combustíveis fósseis nem pagar a conta da adaptação de um clima já descontrolado. Produtores de petróleo empacam, países ricos fogem do cheque, países pobres exigem o básico: financiamento. Não é falta de esforço do Brasil, é sobra de ganância global. Já passamos do limite dos 1,5°C e seguimos apostando num negacionismo-light: “mudanças climáticas existem, mas deixa eu queimar mais petróleo antes”. Vendem capitalismo verde, mas ele parece mais banqueiro pintado de guache no carnaval. Ainda dá para mudar o rumo, mas, como diria Santo Agostinho, traga-me a virtude, mas não ainda.
Marina é aplaudida de pé após fala no encerramento da COP30: 'Progredimos, ainda que modestamente'
Rápidas palavras das impressões dessa noite de 19 de novembro de 2025 , até pelo adiantado da hora, 22h30. Começo com uma palavra que o Padre Soares gosta de utilizar muito. Espetacular! Tanto a escolha dos filmes pela equipe que fez a curadoria da 2° Mostra Mercosul Audiovisual, assim como a presença e contribuição ao debate por parte dos participantes destas duas primeiras sessões de retomada do Cine Realidade na Igreja São Pedro Pescador, a do dia 8 de novembro e a deste dia, sem falar do trio que forma a produção e mediação das sessões de exibição como componente da atividade matriz da Ação Cultural como Ponto de Cultura, o Cineclube Realidade. O trio formado por Iasmin, Denisson e este que escreve..
Uma participação especial a destacar é a da juventude, mesmo com a timidez e dificuldade para se expressar em um ambiente com maior grupo de pessoas, porém participar e prosseguir, vai criando condições para superação dessa dificuldade e de outras, o que é necessário para o protagonismo e também para o rejuvenescimento dos mais velhos e das iniciativas e/ou organizações sociais e culturais, os/as quais precisam entender a importância de empoderamento dos mais jovens.
A realização dessa sessão também acontece com a Ação Cultural contemplada com o projeto do Cineclube Realidade apresentado a seleção pública através do Edital de Chamamento Público nº 11/2024 – Rede Municipal de Pontos de Cultura de Aracaju, no âmbito da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) e da Política Nacional Cultura Viva com participação da Fundação Cultural de Aracaju (Funcaju).
O projeto em tela prevê, além da sessões de cinema mensal, oficina de audiovisual com celular (março-abril-2026), oficina de teatro popular (abril-maio-2025), mostra cultural (maio-2026), seminário introdutório de educação popular, ação cultural e participação social (junho-2026) e transmissão aberta de formação cultural no youtube (agosto-setembro-outubro 2026).
Abaixo o relatório produzido por Iasmin Feitosa, agente jovem cultura viva e assistente de produção do Ponto de Cultura Ação Cultural e responsável pela elaboração das perguntas e condução do debate pós filme.
Zezito de Oliveira
Local: Paróquia São Pedro Pescador
Horário: 19:00
Data: 19/11/2025
Público presente: 16 pessoas (com a produção)
[Primeiro Filme – Mita'i Churi]
Pergunta: “O que foi mais impactante para você?”
Respostas/opiniões de alguns convidados:
• O impacto da realidade. Recrutam os jovens, lhe dão prêmios, e uma sensação de falso poder, uma ilusão de heroísmo, sem esses jovens terem noção da realidade da coisa.
• A realidade de como são criadas as guerras, inclusive as guerras urbanas.
• A sociedade que leva muito dos jovens, os mandam desiludidos para a guerra, e quando retornam, se voltam, carregam um trauma para a vida toda.
• Quando os jovens do filme percebem o discurso de guerra, as medalhas, o povo admirado com os soldados, se iludem rapidamente por aquela ideia sem terem noção da realidade cruel da guerra. Tudo em relação à poder.
• A reação das pessoas, apenas sorrindo, recebendo somente aquele informação ilusionista, o povo simplesmente deixa passar, também perdendo a noção da realidade da situação.
• [Iasmin] - A transição do momento em que o menino-soldado, cercado pelos olhares de admiração do povo, enxerga pela primeira vez os soldados feridos/mortos. A cena é devastadora porque a desilusão veio como um golpe. Se vê nos olhos dele o exato instante em que a farsa do heroísmo desaba, e a realidade crua da guerra entra no lugar. A tragédia do menino é individual, mas a da sociedade é coletiva: ela corrompeu seu instinto de proteção e perpetuou um ciclo que sacrifica seus jovens.
Traducción al portugués o español: MITôI CHURI
Director: ELIAN GUERIN
País: Argentina - Paraguay
Idiomas hablados: Sin dialogo
Formato: Cortometraje
Género: Drama Histórico.
Duración: 06:05
Año: 2024
Calificación por edad: SAM13
Sinopsis en español: Al perder todos sus soldados, el ejército recluta niños en los pueblos cautivando a sus habitantes con promesas de gloria y patriotismo
Sinopsis en portugués: Ao perder todos os seus soldados, o exército recruta crianças nas aldeias, cativando seus habitantes com promessas de glória e patriotismo.
Premios y reconocimientos:
Mención Honorífica RECAM en FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul)
Link a trailer: https://youtu.be/duNu6ia3EIE?si=VYtsY55YACAX0txq
Pergunta 1: “Comparando a realidade dessas pessoas com a que nós vivemos. O que vocês viram como grande diferencial?”
Respostas/opiniões de alguns convidados:
• Somos urbanos. E o fato de sermos urbanos, nos torna muito cegos. Nos faz enxergar que somos um povo superior, com uma cultura superior. A vida urbana nos arranca das nossas raízes, nos fez perder nossas raízes. Nos cegou.
• Olhando pelo lado crítico, não podemos desprezar um, e endeusar o outro. Mas também há ilusão, pois nem tudo o que é moderno, é bom. Principalmente em sua maioria prejudicando o meio ambiente, e destruindo suas belezas naturais. Não suportamos o próprio lixo que fazemos.
Director: Pablo Pintor/ Sebastián Vecchione
País: Argentina
Idiomas hablados: Español/ Mbya guarani
Formato: (Corto/Medio/Largometraje) corto
Género: Documental
Duración: (en minutos) 9.30
Año: 2023
Calificación por edad: atp
Sinopsis
(en portugués y español)
O mito dos Guarani sobre sua busca incessante pela TERRA SEM MAL é hoje prejudicado pelo avanço do desmatamento incontrolável
El mito de los guaraníes sobre su búsqueda interminable de LA TIERRA SIN MAL se ve hoy obstaculizada por el avance de la deforestación incontrolable
Primer premio FIDBA 22, Primer premio CINE.AR 22, Primer premio en Best Short competition 22, Premio mejor diseño sonoro iberoamericano ÁNCASH 22, Premio Recam-Festival VIVA EL CINE 23
Competencia Cinemambiente Awards 22, Cine Las Américas 22, FINCA 22, Festival Cine de
Maracaibo 22, Premio Gato Negro 22, SUNCINE 22, Festival Jujuy cortos 22
Premios y reconocimientos
Ig @pablo.pintor
Ig @sebastianvecchione
Redes sociales (película y/o realizadorxs)
trailler
Pergunta 2: “Você acredita que esse ‘lugar’ existe dentro de nós ou é algo que a sociedade ainda precisa construir?”
Respostas/opiniões de alguns convidados:
• A gente tem que ter cuidado de reconstruir. Talvez tenhamos de fato uma "terra sem males" em nós, mas também é algo que a sociedade precisa construir. Há importância em ambos.
• Há esse lugar em nós, que é a nossa essência. No entanto, ela vem sendo desvirtuada pelas aparências. O melhor para nós vem da natureza, e infelizmente está sendo destruída para que essas aparências se mantenham.
Sobre a sessão do dia 08 de novembro de 2025, abaixo:
Próximas exibições do Cineclube Realidade - 2ª Mostra Mercosul Audiovisual.
1ª sessão - 08 de Novembro (sábado) - Igreja São Pedro Pescador -Avenida João Rodrigues, 425, bairro Industrial– Aracaju – às 16h30. Realizada com êxito
2ª sessão 19 de Novembro (Quarta-Feira) – Igreja São Pedro Pescador - Avenida João Rodrigues, 425, bairro Industrial– Aracaju – às 19h. Realizada com êxito
3ª sessão 02 de dezembro (Terça-Feira) - Instituto Federal de Ensino (Socorro) - Av. Perimetral B, s/n, Conj. Marcos Freire I, Nossa Senhora do Socorro - Sergipe.-8 às 12 h
4ª sessão - 05 de dezembro (Sexta-Feira) - Sede do Instituto Piabinhas no município de Nossa Senhora do Socorro, localizado no povoado São Braz, rua Vereador Deoclides Vasconcelos, n°44. - às 15h.
Chega ao Brasil Evangelho da Revolução, o primeiro documentário de longa-metragem dedicado à história da Teologia da Libertação na América Latina. Após circular por diversos festivais e estrear em cinemas de cinco países europeus, o filme passará por várias capitais brasileiras e estará disponível em múltiplas plataformas.
A primeira exibição, na próxima quarta-feira (26), será na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro. Dias 27 e 28, estará em São Paulo. Haverá uma sessão dia 28, às 18h30, na Casa da Solidariedade (Rua Gravi, 60, ao lado do Metrô Praça da Árvore), onde é realizado o Cursinho Vito Giannotti. No dia 29, às 20h, terá apresentação no Instituto Educar, na Fazenda Annoni, em Pontão (RS). E no domingo (30), estará em Porto Alegre, às 16h, no Cinemateca Capitólio. Todas as sessões terão debate com o diretor francês François-Xavier Drouet (veja agenda completa ao final).
Segundo Drouet, o filme nasceu da urgência de preservar a memória e transmitir a história desses protagonistas, muitos dos quais já estavam idosos ou haviam falecido.
O documentário busca desconstruir a ideia de Karl Marx de que a religião é o ópio do povo, partindo do reconhecimento de que, embora a Igreja Católica tenha tido responsabilidade em atos de opressão histórica, sempre houve cristãos que se opuseram à injustiça com base na sua fé, sendo a TL um capítulo dessa longa história.
O filme nasceu da urgência de preservar a memória e transmitir a história desses protagonistas – Foto: Divulgação / l’atelier documentaire
Drouet detalha como a TL inspirou bispos, padres e leigos a se engajarem em lutas políticas e sociais, tendo um papel fundamental de “guarda-chuva” para militantes durante as ditaduras na América Latina. Frei Betto, Leonardo Boff e o padre Júlio Lancellotti são alguns dos brasileiros entrevistados.
No Brasil, a TL foi o alicerce das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e teve uma influência crucial na fundação de movimentos populares, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e também do Partido dos Trabalhadores (PT).
A seguir, confira a entrevista exclusiva com François-Xavier Drouet sobre o processo de produção, as perseguições sofridas pelo movimento e a atualidade da Teologia da Libertação. O cineasta também comenta sobre o lançamento do filme, que incluirá uma sessão na Fazenda Annoni, no Rio Grande do Sul, como um gesto de reciprocidade com aqueles que participaram da história.
Brasil de Fato RS: Como surgiu a ideia de realizar este documentário? Qual a sua relação com a Teologia da Libertação?
Durante muito tempo, eu fui anticlerical, como boa parte da esquerda na França. Isso tem a ver com o fato de que, lá, a luta entre a República e a igreja tem sido muito dura desde a Revolução Francesa. Para a minha geração, a América Latina foi uma fonte de inspiração política, por exemplo, através da luta zapatista, do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, e também do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A Teologia da Libertação teve um papel muito importante na luta contra as ditaduras em toda a América Latina – Foto: Divulgação / l’atelier documentaire
Contudo, eu não percebia a influência da Teologia da Libertação no engajamento de muitos latino-americanos, pois tinha esses preconceitos anticlericais. Comecei a me interessar pelo assunto ao ler a obra de Michel Löwy, um sociólogo franco-brasileiro de inspiração marxista, que escreveu muito sobre o tema. Isso me apaixonou.
Então, eu quis conhecer protagonistas das lutas políticas do século 20 que se engajaram em nome da fé. Primeiro na França, porque lá há muitos religiosos, religiosas, padres e leigos que foram para a América Latina, e também porque acolhemos muitos exilados da ditadura a partir da década dos anos 1960.
Percebi que era urgente fazer esse filme para preservar a memória
Depois, fiz várias viagens de reconhecimento ao México, à América Central, ao Brasil, ao Chile. Esses encontros me comoveram muito e percebi que ninguém ainda havia feito um filme histórico e retrospectivo sobre a importância da Teologia da Libertação na América Latina. Muitos protagonistas dessa história já estavam bem idosos e muitos já haviam falecido.
Percebi que era urgente fazer esse filme, por um lado, para preservar a memória e, por outro lado, porque acredito que essas pessoas têm coisas a nos ensinar e transmitir sobre os desafios do presente.
No filme, você questiona a ideia de que a religião é o ópio do povo. Como essa questão é abordada?
Eu tive uma educação católica muito conservadora. Eu me aborrecia muito durante a missa. Na minha família, a fé cristã baseava-se mais no medo da morte do que no amor ao próximo. Era uma fé cheia de superstições, muito distante da razão. Para mim, perder a fé foi realmente uma libertação. Logo, aderi à ideia de Karl Marx de que a religião é o ópio do povo.
O que é muitas vezes verdade. Se você olhar a história da América Latina, a Igreja Católica tem uma responsabilidade enorme no genocídio dos povos indígenas, no sistema da escravidão, na opressão que os povos sofreram durante séculos, devido à sua cumplicidade com o poder. Para mim, a religião só podia rimar com alienação e nunca com emancipação.
A Teologia da Libertação foi o alicerce das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e teve uma influência crucial na fundação de movimentos populares – Foto: Divulgação / l’atelier documentaire
Por isso, eu não tinha reparado que sempre na história do cristianismo houve cristãos que se opuseram à injustiça com base na sua fé. Essa é uma atitude de fidelidade ao evangelho.
A Teologia da Libertação (TL) é um capítulo dessa longa história. Quando descobri esse movimento e compreendi o lugar que ele ocupava na história política da América Latina, percebi que eu não tinha entendido nada. Assim, essa frase de Marx é o ponto de partida do filme, que será desconstruído ao longo do documentário e dos encontros com os personagens.
A Teologia da Libertação inspirou bispos, padres e leigos a se engajarem em lutas políticas e sociais e até em revoluções, como a Sandinista na Nicarágua. Qual a atualidade dessa história? Por que lançar esse filme hoje?
Ao contrário do que se costuma dizer, a Teologia da Libertação nunca foi condenada pelo Vaticano; não é uma heresia. A tal ponto que até o papa João Paulo II disse uma vez que a TL era boa, útil e necessária. Mas, sim, ela foi perseguida e marginalizada. Os teólogos e as teólogas foram censurados e sofreram um tipo de assédio por parte do Vaticano.
Os 40 anos de pontificado de João Paulo II e de Bento XVI remodelaram profundamente a face da igreja na América Latina, porque nomearam bispos conservadores e se apoiaram na Opus Dei e na Legião de Cristo no México, a fim de diminuir a influência da Teologia da Libertação.
Eu queria contar essa história comum a toda América Latina para ajudar a criar esse sentimento de uma história comum
Consequentemente, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) deixaram de ser apoiadas e foram afastadas da igreja oficial. A TL não existe mais na escala e na intensidade que existia em seu auge, no final dos anos 1970.
Contudo, ela continua viva em muitas paróquias e em algumas dioceses, por exemplo, em Chiapas. Acima de tudo, ela marcou profundamente o panorama político e social através de organizações muito ativas, como o MST, e continua a inspirar muitos militantes para quem a fé e o compromisso com as lutas sociais não podem ser separados.
A memória desse movimento precisava ser preservada e transmitida, pois os protagonistas dessa história na segunda metade do século 20 já estão idosos e muitos já faleceram. Além disso, na América Latina, os povos conhecem muito mal a história dos outros povos da região. Eu queria contar essa história comum a toda América Latina para ajudar a criar esse sentimento de uma história comum, um pouco no modelo dos livros de Eduardo Galeano.
No Brasil, a Teologia da Libertação foi o alicerce das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que seriam um dos pilares na fundação do Partido dos Trabalhadores, e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Por que isso foi possível em plena ditadura militar?
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) baseavam-se na Teologia da Libertação, mas a TL também se baseava nas práticas das CEBs, pois a TL é uma reflexão sobre práticas que às vezes existiam muito antes do seu nascimento. Ela teve um papel muito importante na luta contra as ditaduras em toda a América Latina.
A igreja desempenhou um papel de guarda-chuva para as organizações sociais e para militantes. Isso ocorreu pela simples razão de que era o único espaço que as ditaduras não podiam controlar totalmente, embora muitas vezes pudessem contar com a cumplicidade das hierarquias.
Em El Salvador ou na Guatemala os regimes militares podiam assassinar catequistas pelo simples fato de terem uma Bíblia ou um livro de hinos – Foto: Divulgação / l’atelier documentaire
Às vezes, esse papel de guarda-chuva não foi suficiente, como em El Salvador ou na Guatemala, onde os regimes militares podiam assassinar catequistas pelo simples fato de terem uma Bíblia ou um livro de hinos. Eles não hesitaram em assassinar uma figura tão importante como Óscar Romero, arcebispo de São Salvador.
A igreja desempenhou um papel de guarda-chuva para as organizações sociais e para militantes
No Brasil, os militares não ousaram ir tão longe na repressão como na América Central. No contexto dos últimos anos da ditadura, eles não conseguiam mais conter a ira do povo. As organizações sociais podiam contar com o apoio de grandes figuras do clero, como Hélder Câmara, Paulo Evaristo Arns e muitos outros. Isso dava legitimidade às lutas e abriu espaços.
O MST é filho do trabalho da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acompanhava as ocupações de terra no final da década de 1970. O Partido dos Trabalhadores (PT) também se fundou com base no modelo das CEBs. Lula disse que era filho da Teologia da Libertação. Portanto, foi uma influência muito importante.
O documentário mescla imagens de arquivo com entrevistas de expoentes da Teologia da Libertação no Brasil, em El Salvador, na Nicarágua e no México, como Frei Betto, Leonardo Boff e o padre Júlio Lancellotti. Também traz imagens de D. Óscar Romero, bispo salvadorenho, assassinado durante a celebração de uma missa em 1980, a mando da extrema direita de seu país. Como foi esse processo de produção do documentário?
Este filme é uma coprodução franco-belga. O financiamento provém essencialmente de subsídios públicos desses dois países e também de um financiamento coletivo (crowdfunding).
Infelizmente, não conseguimos vender o projeto para canais de televisão ou plataformas. No entanto, isso nos deu mais liberdade, pois assumimos uma forma mais cinematográfica, com a ideia de que o filme fosse exibido essencialmente na Tela Grande.
As organizações sociais podiam contar com o apoio de grandes figuras do clero, como Hélder Câmara, Paulo Evaristo Arns e muitos outros – Foto: Divulgação / l’atelier documentaire
Passei 2 anos escrevendo o filme, viajando muito para conhecer os personagens e me documentar. Tivemos que adiar as filmagens devido à pandemia, sendo necessário esperar que as restrições de viagem fossem suspensas.
O grande cineasta chileno Patrício Guzmán, que mora em Paris, me ajudou e me ofereceu arquivos. Ele me disse que eu levaria 10 anos para fazer este filme, mas no final levou apenas 5 anos, sendo mais breve do que ele esperava.
Como será o lançamento no Brasil? E por que lançar o filme na Fazenda Annoni?
Eu organizei uma turnê em cerca de 10 cidades em todo o Brasil, graças ao apoio da Cooperação Cultural Francesa. Outras exibições em outros lugares já estão sendo organizadas. Eu disponibilizo o filme gratuitamente para todos os grupos militantes e as CEBs que queiram organizar exibições.
Ele também será exibido em pelo menos três plataformas, incluindo o ICL. É importante que as pessoas descubram o filme em grupo e possam discuti-lo, e por isso não quero que ele esteja disponível gratuitamente no YouTube.
Eu disponibilizo o filme gratuitamente para todos os grupos militantes e as CEBs que queiram organizar exibições
A quarta sessão desse tour vai ser na Fazenda Annoni, no Rio Grande do Sul. Gravei uma sequência lá com a participação do padre Arnildo Fritzen, que acompanhou a ocupação desde o início.
Para mim, é um enorme prazer e também um gesto de reciprocidade vir mostrar o filme àqueles que participaram nele. Estou muito ansioso por descobrir a reação deles e do público brasileiro em geral.
Sessões com debate e presença do cineasta
26/11 – Rio de Janeiro – Cinemateca do MAM – 18h30
27/11 – São Paulo – Cinemateca Brasileira – 19h30 (com Frei Betto)
28/11 – São Paulo – Casa da Solidariedade – 18h30
29/11 – Fazenda Annoni/MST (RS) – Instituto Educar – 20h
30/11 – Porto Alegre – Cinemateca Capitólio – 16h
02/12 – Salvador – Cine Glauber Rocha – 19h30
04/12 – Recife – Cinema da Fundação – 19h
05/12 – João Pessoa – Cine Bangüê – 19h
08/12 – Brasília – Cine Cultura – 19h
09/12 – Ouro Preto – Museu da Inconfidência – 18h30