informações sobre ações culturais de base comunitária, cultura periférica, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
Texto de César Benjamim no final de 2022 relembrado no dia de hoje
Ano Novo na Praia de Copacabana, 01/01/1981 — Foto: Anibal Philot/Agência O Globo
Sou de uma época em que passávamos o Ano Novo na praia com amigos e familiares em completa paz. As pessoas levavam violões, flautas, pandeiros e tambores. Formavam seus grupos para cantar e rir até o dia raiar. Havia o pessoal de Iemanjá com seus barcos. Nenhuma violência. As crianças adoravam passar uma noite na praia.
Éramos muita gente, todos os anos, mas permanecíamos pessoas, cada um com seu jeito.
Mas, como podem tantos consumidores serem deixados em paz se há tanta coisa para vender? Grandes empresas e Prefeitura inventaram então que precisavam controlar a festa, mercantilizá-la e adensá-la. Gente é business.
O que era a celebração de cada um tornou-se mais um evento de propaganda e marketing, feito para exercitar o controle sobre multidões sem rosto.
A festa das pessoas tornou-se mais um evento mercantil para consumidores padronizados, excitados e idiotizados.
Vieram os shows. Os cachês. Os patrocínios. A mercantilização dos espaços. Os cordões de isolamento. A ânsia de ter cada vez mais gente apinhada. As galeras. A música da hora. Vieram junto a tensão, a violência e a sujeira.
Saíram a individualidade, o prazer, a paz, a intimidade, a música de cada um.
Os espetáculos dos fogos tornaram-se desproporcionais. Tudo se tornou desproporcional a qualquer medida humana.
Neste ano foram três milhões? Pois no próximo serão quatro! Sucesso se mede assim. Quem garante é a grande máquina de formação e controle de multidões a serviço das mercadorias.
Leio que neste ano o acesso à praia terá detectores de metais. Sorria, você está sendo filmado!
Tchau, pessoal, a gente não se encontra lá!
César de Queiroz Benjamin - é um cientista político, editor e político brasileiro. Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Cofundador do Partido dos Trabalhadores (PT), foi também filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tendo se desligado dos dois partidos. Atualmente, César Benjamin é o editor da Contraponto Editora] e colunista da Folha de S.Paulo.
O mano DI Quebra, professor de História que foi crente durante uma boa fase da vida, de criança a um periodo da juventude, escreveu o seguinte em sua página do facebook no dia de hoje, 29/12/2025
"Algumas pessoas aqui me conhecem há mais de uma década e sabem o quanto já fui militante.
Sabem também de algo que eu aponto desde 2009 mais ou menos que eu sempre chamei de "Ditadura Gospel".
Em 2013 ficou muito claro pra mim que existia um claro racha entre o povo brasileiro. De um lado, aqueles que sabiam que algumas migalhas que caíam das mesas dos nossos senhores capitalistas não seriam suficientes para conter o terror da luta de classes e da desigualdade social. De outro, os donos do mundo e sua massa de zumbis dispostos a darem as suas vidas e eliminarem tudo e todos que discordem da manutenção do sistema.
Diante dessa luta uma ferramenta, um instrumento essencial para que os vencedores continuem no primeiro lugar do pódio:
O cristianismo.
Mais de quinze anos observando isso. Uma parte dessa observação de dentro das igrejas evangélicas e eu só vi o quadro piorar.
Conseguiram fazer da mensagem coletivista do Cristo a maior arma de controle social do sistema que coloca o individualismo exacerbado como sua principal característica.
É triste e eu não vejo mais saída."
Por coincidência, o facebook tinha me recordado o meme acima que compartilhei há nove anos. Como essa questão está na ordem do dia e mexendo bastante com as emoções e conhecimentos dos defensores do estado laico, seja cristão , seja ateu ou agnóstico, resolvi trazer o debate para este espaço.
O que respondi na postagem do mano
"O caminho é investir em mais cultura em outra chave ou direção... Ou seja mais Legião Urbana para "iluminar" um pouco mais, sem precisar deixar de ler a Biblia e reconhecer suas luzes e sombras, mas sei que não é fácil, pois para reconhecer a Biblia como livro atravessado por sombras, precisa de uma leitura humanista e humanizadora de outros autores, muitos destes ateus ou agnósticos."
O que vocês que acompanham as publicações deste blog pensam a respeito? Pode responder nos comentários abaixo ou em outras redes.
Aproveitando o ensejo, continuo na expectativa de uma segunda conversa com a vereadora Sônia Meire (PSOL_ARACAJU) para tratar sobre como fortalecer a ideia do intervalo cultural nas escolas e outras ações potentes de ação cultural para além e concomitante as aulas de artes e/ou dos projetos culturais pontuais como São João, Consciência Negra, Show de Talentos, Feiras de Artes, Ciências e Humanidades e etc.
A atriz francesaBrigitte Bardot, ícone do cinema mundial e uma das maiores estrelas da cultura pop do século 20, morreu aos91 anos. Alçada ao estrelato como símbolo sexual nos anos 1960, Bardot construiu uma trajetória pública que, ao longo das décadas, passou por uma guinada radical: do glamour das telas para oativismo animale, mais tarde, para um engajamento político controverso àextrema direitafrancesa.
Depois de uma carreira meteórica que a levou ao reconhecimento internacional, Bardot decidiu se afastar definitivamente do cinema aos 39 anos. Reclusa desde então, passou a viver em Saint-Tropez, na Riviera Francesa, cidade que ajudou a transformar em destino turístico global.
Do estrelato ao ativismo animal
Em 1986, Bardot fundou a Fundação Brigitte Bardot, dedicada à proteção dos animais. A instituição tornou-se uma das mais conhecidas da França na área e esteve à frente de campanhas contra a caça de focas, em defesa de elefantes, pelo fim de sacrifícios rituais de animais e pelo fechamento de abatedouros de cavalos.
O engajamento lhe rendeu apoio de ambientalistas e defensores da causa animal, mas também ampliou sua visibilidade pública em um período em que suas posições políticas passaram a gerar fortes reações negativas.
Condenações por incitação ao ódio
A partir dos anos 1990, declarações de Bardot sobre imigração, islamismo e homossexualidade levaram a uma série de processos judiciais. Entre 1997 e 2008, tribunais franceses aplicaram seis multas à atriz por incitação ao ódio racial, sobretudo por comentários dirigidos à comunidade muçulmana na França.
Em um dos casos mais emblemáticos, um tribunal de Paris a condenou ao pagamento de 15 mil euros após declarações em que afirmou que muçulmanos estariam “destruindo o país ao impor seus atos”. Ao todo, Bardot acumulou cinco condenações por esse tipo de crime ao longo da vida.
Vínculo com a extrema direita
Em 1992, Bardot se casou com Bernard d’Ormale, ex-assessor da Frente Nacional, partido de extrema direita. Desde então, tornou-se apoiadora declarada da legenda e de seus principais líderes, Jean-Marie Le Pen e Marine Le Pen, a quem chegou a chamar de “a Joana d’Arc do século XXI”.
Após a morte da atriz, o atual presidente do partido, Jordan Bardella, foi um dos primeiros a se manifestar. Em publicação nas redes sociais, escreveu que “o povo francês perdeu a Marianne que tanto amava, cuja beleza espantou o mundo”.
A imagem de Marianne
A referência à Marianne — figura alegórica da República Francesa — remete a um símbolo nacional que representa os valores de liberdade, igualdade, laicidade e soberania popular. Tradicionalmente retratada como uma mulher com o barrete frígio, Marianne já teve seu rosto inspirado em diversas atrizes e personalidades francesas ao longo do tempo, o que explica associações simbólicas como a feita com Bardot.
Último livro e críticas à França contemporânea
Poucas semanas antes da morte, Bardot lançou seu último livro, “Mon BBcédaire” (“Meu Alfabeto BB”). Na obra, criticou o que descreveu como uma França “monótona, triste e submissa” e atacou a transformação de Saint-Tropez em um reduto de turistas ricos — fenômeno que ela própria ajudou a impulsionar.
O livro também reacendeu controvérsias ao trazer comentários depreciativos sobre pessoas gays e transgêneros, reforçando a imagem de uma figura pública tão influente quanto divisiva.
Com uma vida marcada por contrastes, Brigitte Bardot deixa um legado complexo: ao mesmo tempo em que redefiniu padrões de beleza e protagonizou uma das carreiras mais emblemáticas do cinema francês, tornou-se uma das personalidades mais controversas do país nas últimas décadas.
Foi ouvindo por
estes dias e pela segunda vez a entrevista de Ronaldo Correia de Brito, idealizador
e diretor geral do espetáculo “O baile do menino Deus” que também virou filme e
livro, que passei a considerar a pertinência da frase "A vida
presta", utilizada por Fernanda Montenegro ao se referir ao sucesso do filme
“Ainda Estou Aqui” , conforme dissemos nomomento da partilha da palavra na noite deste último sábado,por ocasião da celebração de natal na comunidade bom pastor.
Na verdade,
"a vida presta" e "a vida não presta". O desafio é fazer
prevalecer a primeira afirmação contra ou apesar de tudo e de todos que procuram fazer prevalecer a segunda.
E a arte presta
para isso, entre outras coisas, nos lembrar do que precisamosreforçar, mesmo que seja pela via do sonho , da imaginação, lembro aqui a importância da
escuta e do sonho, como bem disse o mestre Itamar na noite no momento da
celebração. E, se Deus é a vontade de estar feliz, como afirma a banda Cidade
Negra em uma de suas canções, o poeta Fernando Pessoa escreveu " Deus
quer, o homem sonha, a obra nasce".
E prevalecer
aqui não é com imposição, seja da forma como for, é considerar o tempo favorável ou o tempo propicio , nem
sempre determinado por nós mesmos, e com
poesia, o que na vida cotidiana se traduz como relações de afeto, como me
recordou a fala de Édila, que também me remete a canção francesa “La Trendesse” (A Ternura) .
E, se estamos em um mundo à deriva, mundo caoticamente programado pelo
grande capital, fortaleçamos a quem pode ser lugar de abrigo e proteção, e isso
com atuação em rede, bem lembrado pelo mestre Romero Venâncio, a fim de podermos ouvir mais histórias de superação, mesmo
não suficientes na totalidade, mas capazes de levantar pessoas como a jovem
senhora Emilly , a qual fez um emocionante relato sobre o quanto os irmãos e
irmãs da comunidade bom pastor foram importantes para as conquistas e vitórias
que ela e sua família tiveram neste ano que finda.
Uma comunidade
bem lembrada por Romero Venâncio, como referência ou como ponto focal da rede
de abrigo e proteção para centenas de pessoas que moram nas ruas de Aracaju, ou
que vivem em bairros periféricos em condições de grandes dificuldades naquilo
que consideramos como minimamente digno em matéria de humanidade, seja sob o ponto
de vista laico, seja sob o ponto de vista cristão.
E para um “catolaico”
como o professor Romero e este que escreve, é duplamente terrível, até porque esse
número aumentou bastante nas ruas de Aracaju e de outras grandes cidades.
E por último, mais uma razão para afirmar “a vida presta”,o filme Evangelho da Revolução, o qual
apresenta um recorte da ousadia de milhares de cristãos no Brasil e na América Latina
que ousaram viver a experiência radical e revolucionário de Jesus de Nazaré,
não apenas como memória ou como esperança do verbo esperar, mas como uma experiência
rediviva, o que significa dizer, como algo que retorna à vida, que é
ressuscitado ou renovado, ou como afirma Frei Betto “Ter a fé de Jesus e
nãofé em Jesus’ , o que custou a vida terrena
ou a vida física destes cristãos destemidos, assim como se sucedeu ao próprio Jesus
e a muitos dos seus seguidores antes da aliança com os imperadores de Roma.
Uma experiência
de retorno de Jesus não como fuga covarde da realidade, mas pela necessidade de
encarar os nossos dramas sociais e existenciais
como algo politico também, como um perigo, como uma ameaça subversiva a manutenção
do sistema opressor ainda existente, sob outros formatos e outras bandeiras de como era no tempo de Jesus, mas ainda fortemente opressor
e anticristão, mesmo abençoado e sustentado pelos fariseus de nosso tempo.
Zezito de Oliveira
As referências artisticas e de pensamento que utilizo no texto acima.
Espetáculo Baile do Menino Deus encena há 40 anos um Natal bem brasileiro no centro do Recife
“Natal do Brasil”: espetáculo no Recife resgata a identidade cultural do nascimento de Jesus.
Antonio Nóbrega: há um vazio na compreensão sobre o que é cultura popular | Entrevista
quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
Papa Francisco e a importância da literatura e da arte em geral na formação dos sacerdotes e por extensão na formação escolar e universitária.
Sobre a frase "A vida presta", Fernanda Torres proferiu a expressão de forma espontânea e emocionada ao celebrar sua indicação ao prêmio de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro (Golden Globe Awards) no início de 2025, pelo filme "Ainda Estou Aqui".
O contexto exato foi:
Ocasião: Reação à sua nomeação para o Globo de Ouro em janeiro de 2025.
Local: Ela estava em Londres, se arrumando para uma sessão do filme, quando soube da notícia e gravou um vídeo para as redes sociais.
Sentimento: A frase expressou sua surpresa e alegria imensas com o reconhecimento internacional do filme brasileiro e de sua atuação, algo que ela descreveu como "incompreensível" de tão bom.
Significado: A expressão rapidamente viralizou no Brasil, simbolizando um momento de orgulho nacional para o cinema e a cultura do país. (Por IA Google)
Cidade Negra - Mensagem (DVD Acústico MTV)
O verso "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce" faz parte do poema "O Infante", de Fernando Pessoa.
Este poema está incluído na segunda parte da sua obra mais emblemática, a colectânea poética "Mensagem", publicada em 1934.
Aqui duas canções que explicitam com beleza poética os dramas que nos ameaçam como tragédia nesse planeta azul.
Leo Cavalcanti - Ainda Aqui Sonhando (Video Oficial)
“O Ocidente trama a morte do futuro”
Em entrevista a editora em Hong Kong, filósofo alegra-se com a emergência do Sul Global. Mas alerta: para evitar um mundo livre de seu controle, o eurocentrismo recorrerá à guerra total e à dissolução da utopia e do próprio pensamento
Democracia liberal colapsa. Nos EUA e Europa, coração do colonialismo, demência senil da oligarquia branca quer liquidar a política e levar o planeta à catástrofe. A resistência, agora, é multiplicar pontos de refúgio, sob a ética da frugalidade
Explicitando com a IA do Google a afirmação de Frei Betto
A afirmação de Frei Betto, "Ter a fé de Jesus e não fé em Jesus", significa que o mais importante para o cristianismo autêntico é viver os valores e a prática de vida de Jesus (fé de Jesus), e não apenas professar a crença na divindade ou na figura histórica dele (fé em Jesus).
Significado da Frase
A frase é um convite à ortopraxia (prática correta) em vez de focar exclusivamente na ortodoxia (doutrina correta). O significado central é:
Fé em Jesus: Refere-se à crença dogmática, à aceitação de Jesus como figura de adoração, Salvador ou Messias. Pode ser vivida de forma passiva, focando em rituais e na salvação individual, sem necessariamente implicar uma transformação social ou um compromisso profundo com o próximo.
Fé de Jesus: Refere-se a ter o mesmo tipo de fé que Jesus tinha em Deus Pai/Mãe e no Reino de Deus. Implica um compromisso ativo com a justiça, a solidariedade, a defesa dos oprimidos e a transformação do mundo em direção ao bem comum. É uma fé que se manifesta em ações concretas, como a luta pela igualdade e pela vida digna para todos.
Contexto da Afirmação
Essa afirmação está inserida no contexto da Teologia da Libertação, da qual Frei Betto é um proeminente representante. O contexto inclui:
Crítica à religião alienante: A frase critica uma religião que se torna um conjunto de ritos e crenças vazios, que não incomoda a ordem estabelecida e não se posiciona contra as injustiças sociais.
Fé e Política: Frei Betto defende que fé e política não devem andar separadas, mas que a fé deve inspirar uma política voltada para o amor, a verdade e a justiça, em nome do bem comum.
Compromisso com os pobres: O cerne da fé, segundo essa perspectiva, é o compromisso com os "pequenos" e marginalizados, assim como Jesus demonstrou em sua vida e pregação.
Espiritualidade prática: A espiritualidade autêntica é aquela que leva à prática do Evangelho na vida real, transformando a realidade em que se vive e lutando pelos direitos humanos.
Em resumo, para Frei Betto, a fé cristã autêntica não é apenas crer em Jesus como objeto de culto, mas sim viver como Jesus viveu, com uma atitude de amor e compromisso militante pela justiça social.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
O filme "Evangelho da Revolução" está disponível para os membros do Instituto Conhecimento Liberta (ICL).
O documentário “O Evangelho da Revolução”, disponível emicl.com.br, retrata cristãos da América Latina que, inspirados pela Teologia da Libertação, transformaram a fé em luta política contra ditaduras e a desigualdade.
Na sexta (19), o filme foi exibido no programa Cine ICL, no YouTube. Após a exibição, o apresentador Duda Leite (@milkduds67) recebeu o diretor François-Xavier Drouet para uma entrevista exclusiva.
CINE ICL - DOC ''O EVANGELHO DA REVOLUÇÃO'' - TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NA AMÉRICA LATINA - 19/DEZ.
No caso de exibição não comercial para grupos organizados, incluindo cineclubes, entrar em contato através do email
Merece lembrança um momento raro (raríssimo!) da Igreja Católica na América Latina. Na esteira do crescimento da Teologia da Libertação dentro do catolicismo latino americano (lembrando apenas que esse crescimento não foi igual em todos os países) entre 1980-1985, houve algumas reflexões sobre a possibilidade de uma “eclesiologia libertadora”. A estrutura da Igreja Católica não poderia continuar tão piramidal, masculina e autoritária. Havia uma preocupação em pensar uma Igreja que nasce da base… Pensando na milenar estrutura da Igreja Católica, só o surgimento de questionamentos com tamanha radicalidade já era para se pensar com cuidado e ter alguma esperança.
1980. Foi publicado no Brasil o livro: “A Igreja dos pobres na América latina” (org. José J. Queiroz), editora Brasiliense. O livro era fruto de um evento com o mesmo nome realizado na PUC de São Paulo. O evento tinha uma prática ecumênica entre cristãos. Havia uma presença significativa de protestantes. Dois registros históricos: foi a primeira vez que veio ao Brasil o teólogo negro James Cone (um dos mentores da teologia negra dos EUA) e uma presença indígena marcante. Leigos, bispos, padres e pastores se encontraram durante uma semana e colocaram em questão papel da Igreja na América Latina. Um tema presente no evento era a participação dentro das instituições cristãs e uma perspectiva de desclericalização das igrejas cristãs.
1985. Sai em português uma das mais radicais obras dentro da teologia da libertação latino americana. Trata-se de: “A luta dos deuses: os ídolos da opressão e a busca do Deus libertador” (Paulinas). A teses era: a mudança na ideia de Deus levaria a uma mudança na práxis eclesial. Era preciso desconstruir uma ideia do “cristo rei” e todos os vínculos ideológicos do Deus cristão com os poderes temporais. O deus dos poderes deste mundo nunca passou de um ídolo. Figuras como Jorge Pixley, Jon Sobrino, Franz Hinkelammert, Frei Betto dentre outros, escreveram textos impactantes numa teologia que procurava libertar a própria teologia latino americana.
No caso do Catolicismo, a eleição do Papa João Paulo II representou uma implacável perseguição a todas as formas de Teologia da Libertação. Um marco do inicio dessa perseguição, foi a visita do Papa à Nicarágua em 1983. Visita desastrosa em todos os sentidos. Vemos um Papa carrancudo, mandando o povo de calar e pouco afetuoso. O semblante de João Paulo II assustou e foi revelador. A partir de 1985, a perseguição começa a ser sistemática e implacável. Teólogos/Teologas são perseguidos, documentos censurados, coleções de livros barradas ou proibidas e volta-se a uma cultura da “grande disciplina”. A Teologia da Libertação foi atacada em todos os sentidos: da teoria à pastoral; dos seminários fechados à nomeação de bispos conservadores.
Uma coisa é certa: toda essa truculência não apagou a memória. Os livros existiram e ficaram para nos fazer refletir em dias atuais. O mundo é outro e as Igrejas mudaram mais ainda… Porém ainda queima um pensamento teológica e eclesial que marcou um momento da cultura religiosa da América latina. E pensou um ouro futuro.