segunda-feira, 10 de novembro de 2025

2ª Mostra Mercosul Audiovisual está tendo exibições gratuitas em todo o país. Em Aracaju o Cineclube Realidade fez exibição seguida de um belo debate no último sábado (08/11).

Filme: Movimentos Migratórios, direção Rogério Cathalá

Iniciativa do Ministério da Cultura e da Recam reúne 12 curtas de cinco países, reforçando a integração cultural e o olhar das novas gerações sobre o território latino-americano.

De 8 de novembro a 7 de dezembro, o público poderá conferir a 2ª Mostra Mercosul Audiovisual, que neste ano tem como tema Territórios e Paisagens em Transformação. As exibições ocorrem em 367 pontos culturais distribuídos em 250 municípios de todos os estados brasileiros e são gratuitas.

A iniciativa, promovida pela Secretaria do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul (Recam), celebra a diversidade cultural e o olhar sensível das novas gerações sobre o território e suas histórias.

A Mostra será exibida em cineclubes, pontos de cultura, bibliotecas públicas e comunitárias, escolas e instituições educacionais, centros educativos urbanos (CEUs) da Cultura, centros culturais, movimentos sociais, associações, museus e unidades socioeducativas, além de salas verdes e pontos do circuito Tela Verde, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

As exibições são organizadas de forma descentralizada pelos pontos exibidores, que têm liberdade para propor atividades complementares junto às sessões. Em muitos locais, o público também poderá participar de conversas, debates ou oficinas.

Duas sessões, múltiplos olhares

A Mostra reúne 12 curtas-metragens de cinco países — Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Colômbia (país associado da Recam) — distribuídos em duas sessões: uma voltada ao público infantil e outra ao público em geral.

Na Sessão Infantil, produções como A menina e o Mar; Casa na Árvore e Os Macarus convidam o público a redescobrir o mundo pela curiosidade e pela poesia do cotidiano, enquanto No Están Solos II, De Onde Você É? e El Intronauta propõem reflexões sobre a convivência e a relação entre humanidade e meio ambiente.

Já a Sessão para o público em geral apresenta histórias que atravessam memórias, resistências e identidades regionais. Filmes como Dois Riachões: Cacau e Liberdade, La Tierra Sin Mal e Movimentos Migratórios destacam a força das comunidades que reinventam o território a partir da luta, da ancestralidade e da esperança.

Entre o real e o mítico, Keradó, Mita’i Churi e Luthier reafirmam o poder do audiovisual como espaço de encontro e expressão entre povos latino-americanos.

Integração e circulação do audiovisual latino-americano

A Mostra é resultado da cooperação cultural entre os países do Mercosul e, nesta edição, conta com a Presidência Pro Tempore do Brasil, que tem fortalecido ações de integração e circulação audiovisual na região.

“A Mostra Mercosul é um espaço de encontro e partilha entre diferentes olhares da América Latina. Essas produções refletem nossas transformações, nossas memórias e a potência das novas gerações de realizadores”, afirma Joelma Gonzaga, secretária do Audiovisual.

Para Thay Limeira, chefe da Divisão de Promoção à Rede Cineclubista e Educação da SAV, que coordena a mobilização com os pontos de exibição e cineclubes, “levar esses filmes aos cineclubes, pontos de cultura, escolas, bibliotecas, centros culturais e muitos outros espaços que estimulam as ações culturais em suas comunidades é fortalecer o direito de acesso ao cinema e à diversidade cultural, ampliando as possibilidades de formação de público e de diálogo entre os povos”.

Programação

Sessão 1 — Infantil

A Menina e o Mar (Gabriel Mellin, Brasil, 18’, 2022)

No Están Solos II (Matias Maciel, Paraguai, 3’, 2024)

Casa na Árvore (Guilherme Lepca, Brasil, 8’, 2024)

El Intronauta (Jose Arboleda, Colômbia, 16’, 2020)

De Onde Você É? (Juan Cristiani, Uruguai, 2’30”, 2023)

Os Macarus (Julia Vellutini e Mateus de Jesus, Brasil, 7’, 2023)

Sessão 2 — Público geral

Dois Riachões: Cacau e Liberdade (Fellipe Abreu e Patrícia Moll, Brasil, 11’, 2021)

Keradó (Andrés Castillo e Diego Castillo, Colômbia, 15’, 2022)

Mita’i Churi (Elian Guerin, Argentina/Paraguai, 6’, 2024)

La Tierra Sin Mal (Sebastián Vecchione, Argentina, 9’30”, 2023)

Luthier (Carlos Gonzalez Penagos, Colômbia, 12’24”, 2023)

Movimentos Migratórios (Rogério Cathalá, Brasil, 14’, 2024)

Serviço

2ª Mostra Mercosul Audiovisual

Data: 8 de novembro a 7 de dezembro de 2025

Local: 367 pontos culturais distribuídos em 250 municípios de todos os estados brasileiros

Entrada gratuita em todas as exibições presenciais

Realização: Secretaria do Audiovisual (SAV) e Recam/Mercosul

Como foi a primeira exibição do Cine Realidade no dia 08 de Novembro, por Iasmin Feitosa.

Minha visão sobre os filmes em resposta às perguntas:

Pergunta – "Teve algo mostrado no filme que te marcou?

No primeiro, Dois Riachões: Cacau, o que mais me pegou foi o olhar silencioso das pessoas sobre a própria terra. Não era só cacau; era a história viva de um povo que foi negado e mesmo assim floresceu. A forma como eles transformaram o trabalho em liberdade me atravessou. Aquela ideia de que plantar é mais que sustento; é um gesto político, quase espiritual. Ver o cacau brotar ali, no lugar onde antes havia opressão, me deu uma sensação de retorno, de reexistência.

Pergunta – "Consegue fazer alguma conexão do filme com a atualidade?"

Já Keradó me pareceu uma ferida aberta dos nossos tempos. A menina indígena, enfrentando o medo, caminhando por um mundo que insiste em destruir o que ela tenta proteger; poderia ser qualquer um de nós. O filme fala da floresta, mas também fala das nossas escolhas diárias, do quanto estamos desligados da terra e dos povos que a guardam. É um espelho da atualidade: o desmatamento, a ganância disfarçada de progresso, e a resistência que ainda pulsa; mesmo que o resto do mundo finja não ouvir.

Local: Paróquia São Pedro Pescador

Horário: 16h00

Público presente: 19 pessoas (incluindo a produção)

[Primeiro Filme – Dois Riachões: Cacau]

Pergunta: “Teve algo mostrado no filme que te marcou?”

Respostas/opiniões de alguns convidados:

• [Edjane] – O que mais me marcou foi a forma como o filme mostra a preservação da mata e o cuidado com o ambiente. Também me tocou ver as crianças crescendo em meio às atividades de cultivo, aprendendo desde cedo o valor da terra, da luta e da educação.

• [Nathaly] – Fiquei comovida com o relato do rapaz sobre o avô que faleceu sem nunca ter comido chocolate, mesmo tendo trabalhado a vida inteira na produção do cacau. Essa desigualdade entre quem produz e quem consome me fez pensar em como as coisas mudaram; hoje, as pessoas da cidade têm fácil acesso ao que antes era inalcançável para os próprios produtores.

[Segundo Filme – Keradó]

Pergunta: “Consegue fazer alguma conexão do filme com a atualidade?”

Respostas/opiniões de alguns convidados:

• [Mariene] – Pareceu uma lenda que todos gostaríamos que fosse real. Um desejo de que ainda fosse possível, com fé e união, deter a destruição da floresta e proteger os povos originários. O filme desperta esse anseio por um equilíbrio entre o homem e a natureza.

• [Denisson] – Percebi uma forte ligação entre os dois filmes. Ambos falam, de maneiras diferentes, sobre exploração e resistência: o trabalho quase escravo nas plantações e a invasão dos territórios indígenas. Mostram como a luta pela terra e pela dignidade continua sendo atual.




domingo, 9 de novembro de 2025

Como politicas públicas e programas com arte, cultura e esporte podem ser aliadas vigorosas das estratégias de segurança pública em territórios conflagrados ou prevenir para não chegar a esse ponto?

 Fico feliz por essa fala do deputado Glauber Braga que coloca a mesma questão que destaco via blog da cultura, mesmo antes da repercussão da maior chacina policial no Rio de Janeiro. Além de um forte aparato de inteligência policial e financeira como fez o governo federal com a operação carbono oculto, e de integração das polícias estaduais com a polícia federal, como propõe a PEC da Segurança apresentada pelo ministro Lewandowski, , também um forte investimento em ações integradas de educação, cultura e esporte, e o Rio de Janeiro já teve os CIEPs como exemplo. O que falta é pautarmos isso no debate publico, porém sem generalidades e sem negar o papel da polícia, mas desde que não seja sob o comando único de quem só quer tirar proveito da situação de abandono que vivem os pretos e pobres na periferia. Sem contar que temos os exemplos das cidades de Medellin e Bogotá na Colômbia, os CEUs e os Pontos de Cultura. No aguardo de mais veículos de imprensa, parlamentares, pesquisadores acadêmicos, institutos de pesquisa e etc,, colocarem em evidência essa questão da integração das politicas de educação, da cultura e do esporte em articulação com a área da segurança pública.

Zezito de Oliveira - editor do blog da cultura

Glauber Braga Se os CIEPs que o Brizola fez lá atrás tivessem continuado, estaríamos em outra situação.



O deputado federal Glauber Braga (@glauberbraga_oficial) propõe virar o jogo no debate sobre segurança no Rio. Em vez de repetir a lógica da repressão que fracassou por décadas, o deputado defende ouvir quem vive nas favelas e construir alternativas com as próprias comunidades — lembrando o legado de Brizola e dos CIEPs como exemplo de política que poderia ter mudado a história.C
Para ler outras postagens sobre CIEPs, CEUs, Pontos de Cultura , Vocacional, Escolas Parque e etc. Clique AQUI

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

A escola que aprisiona e a arte que liberta.. A tragédia do modelo predominante na maioria das escolas sergipanas e brasileiras

 O modelo de educação predominante na maioria de nossas escolas aprisiona corpos e mentes, o contrário do caminho da arte, espaço-tempo de libertação, desde que não seja uma arte voltada apenas para gerar lucro, para o consumo, o que também predomina nestes tempo confusos.  A redução dos conteúdos curriculares de arte a apenas uma hora semanal dão bem um indicativo dessa realidade e da intenção.



E falar em liberdade como prática artística e cultural,  é falar no desenvolvimento de outras inteligências negligenciadas pela escola que aprisiona, além das duas primeiras que constam na lista abaixo, as que são mais reconhecidas como importante pelos sistemas de ensino atual com marcadores bem definidos para preparar mão de obra ajustada ao trabalho repetitivo, estafante, pouco criativo, em suma,  o trabalho alienado e precário realizado por um trabalhador conformado e a ajustado ao trabalho sub-remunerado e sem condições dignas em na maioria dos casos.

Linguística: Habilidade com palavras, seja na escrita ou na fala.

Lógico-matemática: Capacidade de raciocínio lógico, cálculos e resolução de problemas.

Musical: Habilidade com sons, ritmo, melodia e apreciação musical.

Corporal-cinestésica: Uso do corpo para expressar ideias e sentimentos, como em dança ou esportes, e para manipular objetos com destreza.

Espacial: Habilidade de perceber o mundo visual e espacial de forma precisa.

Interpessoal: Capacidade de compreender e interagir bem com outras pessoas.

Intrapessoal: Autoconsciência, entendimento das próprias emoções, motivações e habilidades.

Naturalista: Habilidade de reconhecer, classificar e se relacionar com a natureza e o meio ambiente.

Existencial (ou espiritual): Capacidade de refletir sobre questões profundas da existência, como o sentido da vida, a morte e o lugar do ser humano no universo. 

 As inteligência múltiplas apresentadas acima na definição de Howard Gardner  colaboram para o desenvolvimento do nosso  potencial existencial e criativo, assim uma educação com arte e intencionalmente voltada para afirmar a nossa liberdade inventiva também permite nos recriarmos, nos ressignificarmos, reexistirmos,  nos tornando pessoas melhores colaborando para fazer o mundo a nossa imagem e semelhança,  e isso não pode prescindir da educação pela arte, dentro e fora da escola.

A canção abaixo nos ajuda a lembrar  sobre o que causa uma escola sem espaços e tempo suficientes para práticas artisticas e culturais de uma maneira mais ampliada e consistente, ou seja, as consequências que impactam a saúde mental e também fisica.

Fora o quanto agrava o problema da falta de práticas do exercício da cidadania, incluindo aqui a participação social, porque as práticas artistica-culturais é um exercicio de trabalho em equipe, de respeito pelo diferente, da prática da negociação, auto aceitação, do exercicio da argumentação, do  acesso a informações sobre politica,  direitos humanos e etc. 

Zezito de Oliveira



quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Lançamento da Pesquisa Juventudes: Um Desafio Pendente

 A pesquisa Juventudes: Um Desafio Pendente é uma iniciativa da Fundação Friedrich Ebert (FES) que reúne dados e análises sobre as posições políticas das juventudes em relação à democracia, suas formas de participação e sua percepção sobre as agendas políticas atuais. Realizada em 14 países da região, a pesquisa oferece um panorama inédito sobre como jovens de 15 a 35 anos veem a democracia, o papel do Estado, as desigualdades e o futuro.


No caso brasileiro, o estudo evidencia a complexidade e a diversidade das juventudes, marcadas por desigualdades históricas, mas também por esperança e desejo de transformação. Em meio à precarização do trabalho, ao avanço de discursos conservadores e à crise de confiança nas instituições, as juventudes brasileiras demonstram forte compromisso com a justiça social, a democracia e os direitos humanos.

Data: 05 de novembro de 2025, Quarta-feira
Local: Sala Broadway, Hotel Manhattan (SHN Q2), Brasília/DF
Realização: Fundação Friedrich Ebert Brasil (FES Brasil)
Parceria: TVT e CONJUVE



Pesquisa indica mulheres jovens mais progressistas que homens



Para 55% dos jovens, Estado deve assegurar política de emprego 61% dizem que problema que mais preocupa é pobreza, desemprego e falta de acesso a direitos, segundo pesquisa da FES Brasil ...


terça-feira, 4 de novembro de 2025

Mais repercussões sobre a matança, chacina e massacre no Rio de Janeiro

Governo Lula se imuniza contra o veneno de que a esquerda favorece bandidagem | Josias de Souza



CPI do Crime Organizado irá a fundo sem poupar ninguém, inclusive eventuais políticos, diz senador



Operação no Rio: mortes não restauram paz na comunidade, diz presidente da CPI do Crime Organizado






CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE?
Os mais jovens não conhecem a história da Scuderie Le Cocq, organização paramilitar criada no Rio de Janeiro que, no fim dos anos 1960, tornou-se o primeiro grupo de extermínio do Rio. 
Os mais velhos associam seu nome à criação do Esquadrão da Morte.
A lista de fundadores da Scuderie estava cheia de policiais que nunca esconderam seu histórico de violência. Ela tinha estatuto e sede, e apoio público de jornalistas, empresários, advogados e até de juízes e desembargadores.
O slogan “bandido bom é bandido morto”, foi criado por seus membros. O símbolo do grupo era uma caveira com ossos cruzados e a siga EM (o símbolo do BOPE é uma caveira com duas pistolas cruzadas. A semelhança será mera coincidência?).
Naquela época, boa parte da sociedade aplaudia as execuções do grupo. Hoje, segundo dados de pesquisa do Instituto Datafolha, realizada após a operação policial nos Complexos da Penha e Alemão, a mais letal da história do Rio, 51% dos cariocas ainda concordam com o que prega a máxima do grupo.
Com o tempo, quase todos seus integrantes ou foram mortos ou acabaram presos por suborno, obstrução da Justiça, abuso de poder e envolvimento com bicheiros.
Na verdade, o que se vê na política de segurança do Rio, hoje, são as mesmas práticas que a velha Scuderie Le Cocq e seus “homens de ouro” praticavam: extermínio sumário, violência policial, chacinas, incursões letais nas favelas.
Não dá para apoiar esse tipo de ação. Para combater as facções criminosas que oprimem e se impõem na base do terror nas favelas do Rio, sejam traficantes ou milícias, é preciso usar um trabalho de inteligência e, ao mesmo tempo, ocupar o território com educação, esporte, cultura e saneamento.
Leva mais tempo do que um dia de morticínio. Mas a questão aqui é outra: civilização ou barbárie.
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Telhado na Cidade de Deus diz: "Aqui tem crianças, sonhos e famílias"

ONG chama atenção de autoridades para incursões com helicópteros

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil

Publicado em 31/10/2025 - 15:31 - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2025 - Faixa em telhado na Cidade de Deus para evitar tiros de helicópteros no local. Foto: ONG Nóiz/Divulgação© ONG Nóiz/Divulgação

Considerada uma das regiões mais perigosas da capital fluminense - devido a confrontos nas favelas da área - o bairro da Cidade de Deus, no Rio, ganhou uma faixa dias antes da Operação Convenção, chamando a atenção de autoridades para preservar a vida das famílias durante incursões policiais com auxílio de helicópteros.

A faixa foi colocada no último dia 24, no telhado da organização não governamental (ONG) Nóiz, localizada no coração da Cidade de Deus, em área conhecida como Karatê-Rocinha 2. O alerta diz “Calma! Aqui tem sonhos, crianças e famílias”.

A casa, grafitada em cores vibrantes, onde a ONG Nóiz funciona desde 2018, já foi alvo de tiros vindos de helicópteros, que destruíram uma caixa d’água, há quatro anos.

“A gente precisava chamar a atenção de alguma maneira para dizer que, embora saibamos que a comunidade toda tem famílias, tcrianças, aqui, em especial, a gente passa o dia inteiro em atividade. Sempre foi temeroso ser alvo de helicóptero. Então, decidimos colocar a faixa para chamar a atenção das autoridades”, disse, nesta sexta-feira (31), à Agência Brasil o presidente da ONG, André Melo.

Ele reforçou que a região já foi objeto de incursões sérias da polícia e a preocupação era que as equipes da ONG e as pessoas da comunidade assistidas não corressem risco de morte no local.

Atendimentos

Atualmente, estão cadastradas na ONG 250 crianças. Entre crianças, jovens e adultos que frequentam o local diariamente, são cerca de 120 pessoas. A organização funciona de segunda-feira a sábado, das 8h às 18h. Há atividades regulares que ocorrem no contra turno das crianças nas escolas. “A gente tem dança contemporânea, balé, teatro, jiu jitsu, reforço escolar, tem um projeto de apoio à alfabetização chamado Soletrar, tem uma lan house social disponível para acesso à internet. Isso é comunitário, qualquer pessoa pode usar”, citou Melo.

Além disso, a ONG Nóiz disponibiliza para a população local uma biblioteca que funciona desde a manhã até as 18h, apoio psicológico, além de terapeuta ocupacional para ajudar no tratamento de oito crianças autistas. “Isso tudo funciona durante a semana”.

Faixa em telhado na Cidade de Deus para evitar tiros de helicópteros no local. Foto: ONG Nóiz/Divulgação

Aos sábados, há a atividade chamada Sábado do Acolhimento, que atende entre 40 e 50 crianças que realizam atividades lúdicas no local. Outras ações no sábado incluem o pré-vestibular social, em que os jovens entram às 8h e saem à tarde, preparando-se para o ingresso na universidade, além do plantão da assistente social, que começa cedo e se encerra às 13h.

Cuidado

Questionado se a colocação de faixas semelhantes em outras comunidades ajudaria a diminuir tragédias, como a resultante da Operação Convenção, realizada pelo governo do estado na última terça-feira (28), André Melo ressaltou que é necessário que se tente fazer tudo o que for possível para chamar a atenção e para que as autoridades tenham mais cuidado.

“A gente não tem certeza se isso (faixa) é eficaz, porque não sabe o que passa pela cabeça das pessoas, principalmente de cima para baixo.” Ele acredita, porém, que tudo é válido para se tentar de alguma maneira diminuir um pouco a sensação de insegurança nas comunidades.

André Melo não é cria de favela, mas virou um empreendedor social. “Eu moro no asfalto, aprendi a viver aqui hoje. Larguei tudo na minha vida e estou na ONG todo dia, das 10h às 18h. Sou publicitário de formação. Então, se aprende com outro olhar a entender de fato o que é isso aqui e se cercar de possibilidades, de alternativas, para se proteger também”. Ele acredita que mesmo que se estendesse uma faixa branca nas favelas do Rio, apenas com a palavra escrita PAZ, já seria válido.

Demandas

A ONG Nóiz conta com voluntários que se dedicam ao projeto diariamente, “com o coração”, embora os professores sejam pagos. No total, trabalham no local 15 pessoas. “Todos estão dentro do mesmo propósito. O trabalho é realizado muito em função do que a comunidade demanda. Ações relativas à saúde mental têm sido acompanhadas de palestras de psiquiatras sobre o tema, há atendimento psicológico com as mães e as grávidas são acompanhadas até os seis meses de vida dos bebês, por exemplo. São estruturas que a gente vai montando para atender a comunidade.”

Na avaliação de André Melo, o Estado não cria referências para as crianças e jovens das comunidades, ou seja, não tem um olhar para elas. Ele sugeriu que os projetos de organizações não governamentais, que dão certo, deveriam ser mapeados e replicados pelo governo.

“A gente tem uma fila muito grande de espera de famílias que querem botar as crianças aqui e nota, perfeitamente, que existe um desespero por conta delas de colocar as crianças para terem referências aqui dentro.” 

Melo lamentou que o Estado não enxergue a maneira de tentar transformar as crianças e jovens com um outro olhar. “É o que a gente tenta fazer aqui”.

Ele concluiu que, enquanto a sociedade olhar para as comunidades de forma apartada, como se morassem em outro mundo, nada vai dar certo. 

Desembargador de SC manda carta à moradora do Complexo da Penha: ‘Estou andando ao seu lado’

Magistrado tomou posse em março e viralizou com discurso sobre ameaças do fascismo

 04/11/2025 | 06h58

Desembargador de SC manda carta à moradora do Complexo da Penha: ‘Estou andando ao seu lado’

O desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), João Marcos Buch, conhecido durante seu período na Vara de Execuções Penais de Joinville por enviar cartas a detentos e seus parentes, redigiu um longo texto para uma mulher desconhecida no Rio de Janeiro. “Dona Nice” está a quilômetros de distância, mas enfrenta uma realidade que, na magistratura, ele tenta combater.

A senhora, abordada por uma emissora de televisão enquanto retornava para casa após a Operação que vitimou 121 pessoas no Rio de Janeiro, fez com que o magistrado se sentisse profundamente comovido. Ao longo da carta, ele cita ação conhecida como “ADPF das favelas”, que ele considera não ter sido “muito bem respeitada” pelas forças de segurança.

Buch explica, no texto, pontos que fazem parte da lei e que podem ter sido violados. Entre eles estão o uso proporcional da força, câmeras nas viaturas, elaboração de um plano de reocupação de territórios invadidos por organizações criminosas e a entrada da Polícia Federal nas investigações contra milícias e tráfico de drogas interestadual e internacional.

O magistrado, cujo discurso de posse como desembargador viralizou nas redes sociais no início do ano ao mencionar o termo “fascismo”, também escolhe o termo “chacina” para falar sobre a operação e suas consequências “extremamente letais sobre as comunidades marginalizadas”.

No texto, ele também questiona a “fórmula do confronto”, que considera “fadada ao fracasso”. “Por que é tão difícil que governos e autoridades entendam que somente políticas públicas inclusivas, articuladas à segurança pública, podem trazer benefícios reais para toda a sociedade?”.

Leia a íntegra da carta, repassada à colunista:

Uma carta para dona Nice

Querida dona Nice,

escrevo-lhe com afeto e respeito.

Meu nome é João Marcos, moro em Santa Catarina e trabalho com a Justiça. Sou desembargador, nome dado a juízes que atuam em recursos nos tribunais.

Na última terça-feira, vi sua entrevista no jornal da TV. A senhora voltava para casa, com sacolas de supermercado nas mãos, e foi parada por uma repórter que queria saber sobre a chacina ocorrida mais cedo nos complexos da Penha e do Alemão, onde mais tarde se viria a constatar que  121 pessoas (pode ser além) haviam sido mortas, na mais sangrenta intervenção da segurança pública já ocorrida no Rio de Janeiro e no Brasil dos tempos atuais.

Sua entrevista me marcou profundamente. Moradora desde sempre da Penha, a senhora disse que já não tinha mais esperança, que, nessa altura da vida, tendo visto tanta tragédia, tantas operações policiais, tantas pessoas próximas assassinadas, não acreditava mais que um dia a vida melhoraria — tudo era tristeza. Em seguida, a senhora se despediu da repórter e retomou seu caminho para casa, cambaleante, cansada, segurando as sacolas.

Hoje já é domingo; faz cinco dias que eu penso na senhora, faz cinco dias que estou andando ao seu lado, faz cinco dias que tento carregar as suas sacolas até sua casa. Por isso, querida Dona Nice, com o coração inquieto, mesmo sem saber nada da sua vida, senão o fato de que a senhora perdeu a esperança, resolvi lhe escrever.

Eu sei que esta carta nunca chegará a seu destino, pois nunca a postarei. Impotente que sou para modificar um átomo de sua vida e para lhe oferecer uma centelha de esperança, escrevo-lhe porque não consigo fazer diferente, porque não sei mais se a esperança também me abandonou.

Assim como nas favelas de Florianópolis, já estive em favelas do Rio; já me encharquei da beleza e da bondade de pessoas que tão bem me acolheram. E já testemunhei muita dor e injustiça. Entretanto, o fato é que nada mais conheço, além de que a vida de quem mora nessas comunidades periféricas é carente de direitos e de oportunidades.

Sabe, Dona Nice, sempre tive o cuidado de não me arvorar em senhor das verdades, e me incomoda muito ver quem acha que sabe de tudo — cegado por redes sociais e algoritmos —, pessoas com quem é impossível argumentar com base em fatos e lógica. É desolador ouvir suas vozes celebrando a chacina, justificando o horror com acusações sem conhecimento de causa sobre crimes antes cometidos. De onde vem esse ódio? De que veneno se alimentam esses seres humanos? Onde está sua bondade, sua compaixão?

Fico a pensar o que essas manifestações causam na senhora, que tanto já testemunhou e viveu. Será que a senhora ainda chora, ainda se revolta com a opressão e a violência que sua comunidade sofre? Essa chacina, para mim, que vivo em um apartamento confortável, localizado em um bairro seguro, saneado, arborizado, com espaços de cultura e lazer, provocou espanto, lamento e indignação. Porém, quando a pessoa tem sua dignidade tão ferida e há tanto tempo, ela acaba perdendo a consciência de que aquela situação fere de morte seus direitos. Então, não sei o quanto isso tudo lhe afetou; só sei que a esperança lhe foi roubada.

Em meus estudos e em meu trabalho, aprendi algo sobre o fenômeno da violência urbana. Depois de algum tempo procurando entender nossa sociedade, tomei conhecimento de que a fórmula do “confronto” na segurança pública é fadada ao fracasso (a senhora sabe disso bem antes de mim). Essa fórmula ceifa vidas de todos os lados e não supera as dificuldades das comunidades vulnerabilizadas. Por que é tão difícil que governos e autoridades entendam que somente políticas públicas inclusivas — de habitação, saneamento, saúde, educação, empregabilidade, cultura e lazer — articuladas à segurança pública, podem trazer benefícios reais para toda a sociedade?

No país, nós temos o Supremo Tribunal Federal (STF). Pois bem, a mais alta corte da Justiça definiu, em uma ação proposta pelo Partido Socialista Brasileiro (ADPF n.º 635, conhecida como ADPF das Favelas), que o governo do Rio deve seguir diversas regras nas operações policiais, como o uso proporcional da força, câmeras nas viaturas, elaboração de um plano de reocupação de territórios invadidos por organizações criminosas, bem como a entrada da Polícia Federal nas investigações contra milícias e tráfico de drogas interestadual e internacional. Olha, Dona Nice, parece que o Supremo não foi muito bem respeitado. Creio, inclusive, que logo logo autoridades terão de prestar contas.

Aliás, até a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do seu Alto Comissariado dos Direitos Humanos, declarou que essa operação policial — que eu chamo de chacina — ampliou a tendência de consequências extremamente letais sobre as comunidades marginalizadas e enfatizou que as autoridades têm obrigação perante as leis internacionais de direitos humanos.

Mas o que isso importa, não é? A chacina já aconteceu, vidas foram ceifadas, até policiais morreram — e não consigo imaginar a dor das famílias que tiveram seus entes sequestrados de suas vidas para todo o sempre.

Ainda sinto que um dia a justiça alcançará a todos os cidadãos, que as instituições funcionarão conforme a Constituição e que a dignidade da pessoa humana será, em definitivo, fundamento da República.

Dona Nice, inspirado na leitura de um livro chamado Antes que as Palavras te Abandonem, de um grande amigo, Leonardo Tônus, em que um imigrante, à procura de um amigo refugiado afegão em Berlim, escreve-lhe cartas, eu lhe digo que, se pudesse, eu a abraçaria e afirmaria, com o coração aberto, que não importa mais o resultado da luta, mas a capacidade de entender o seu chamado.

Dona Nice, neste Brasil tão sangrento, de séculos de escravidão, racismo, patriarcado e colonialismo, não tenho o direito de lhe pedir que volte a ter esperança. Entretanto, ouso lhe pedir outra coisa: atenda nosso chamado, não desista de mim, não desista de nós, não desista da humanidade.

Querida Dona Nice, a senhora é a nossa esperança, volte,

João Marcos Buch

Desterro, 02/11/25 – finados

PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR

Dos 69 citados pelo MP na investigação que deu origem à megaoperação no Alemão/Penha, nenhum consta na lista dos mortos identificados até o momento. Estão presos? Fugiram?

Os chefões do CV na região - "Doca", "Gardenal", "BMW", "Bafo" e "Grandão" - não foram presos. Segundo a Polícia Civil, "Grandão" possuía um telefone exclusivo para se comunicar com PMs. Será que os “grandões” tiveram informações privilegiadas para escapar? 

Essas operações espetaculares só atingem o "andar de baixo"? E os "barões" do narconegócio, ficam intocáveis nas coberturas e mansões? Cortaram a cabeça de Iago, 20 anos (barbárie), mas os cabeças, que não são favelados, nunca são achados? E o curso do dinheiro, ninguém segue?

Por que nada se fala de uma "ocupação social" nas áreas objeto da ação mais violenta da história do país? Não estão preocupados com o dia seguinte, com a população trabalhadora?

O 28 de outubro de 2025 foi "planejado" de olho no 4 de outubro de 2026, dia das eleições nacionais? 

A extrema direita, que andava sem rumo, vai se aglutinar, "triunfante", em torno da pauta do populismo penal? "Quanto mais mata, mais resolve"?

Classificar traficantes como "terroristas" - como se não houvesse tipificação suficiente de seus graves crimes - não visa dar base à intervenção norte-americana por aqui, como Trump já faz em mares próximos e Flávio Bolsonaro sugeriu, na Baía de Guanabara?

Por que não votam a Pec da Segurança Pública? Vão apoiar o PL do combate às facções? 

O jornalista Bernardo Mello Franco, em seu artigo "O marketing da matança" (O Globo, 31/10/25), relembra: "Em 2018, o Rio elegeu Wilson Witzel, que prometia abater bandidos à base de 'tiro na cabecinha'. Ele não libertou as favelas da tirania do tráfico e foi cassado em meio a um escândalo de corrupção. Mês passado a polícia prendeu o deputado THJoias, acusado de contrabandear armas e lavar dinheiro para o CV. Ele era aliado do atual governador, que chegou ao poder como vice de Witzel".

A "firmeza" do governo estadual é a de uma estaca no brejo do cinismo, da incoerência, da falta de preocupação séria com a segurança da população.

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Presidente Lula sobe o tom contra o massacre de Cláudio Castro no Complexo do Alemão | 04.11.25


Leonel Brizola sobre criminalidade e violência contra população periférica | 1989



São Sebastião do Rio de Janeiro

Por Carlos Marina Frederico*

Publicado A Terra é redonda 05/11/2025 em: https://aterraeredonda.com.br/sao-sebastiao-do-rio-de-janeiro/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=novas_publicacoes&utm_term=2025-11-05 

Quando o Estado elege a pobreza como inimigo e a execução como política, a Constituição Cidadã é reduzida a um mero epitáfio para os que morrem em sua suposta proteção

“Peço que olhe por ela” (Gilberto Gil e Milton Nascimento).

“Identificar um falso inimigo é sempre útil para atenuar a ansiedade provocada pela complexidade fenomênica e desviar do caminho certo os esforços para remediar os males.” ((ZAFFARONE, Eugênio Raul. Direito Penal-I).

O presente texto se propõe a demonstrar a ilegalidade no argumento do governador Cláudio Castro que, ao ser questionado a respeito da megaoperação vitimizadora de, até o momento, cento e vinte e um cidadãos, justifica-a com o seguinte argumento: eram todos suspeitos, a operação foi um sucesso.

Esse argumento não contraria apenas a ética que permeia uma sociedade pretensamente civilizada, mas vai de encontro a institutos presentes em nossa Constituição Federal, pactos de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário e leis infraconstitucionais, tal e como o Código Penal e de Processo Penal.

Veja, caro leitor, não é uma questão de opinião, de forma de ver o mundo, não se trata de escolha individual e, sim, de escolha civilizatória de nação. O que ocorreu foi ilegal, inconstitucional! Veja-se que no Preâmbulo da Carta Cidadã de 1988, o Poder Constituinte Originário deixou claro o que o Brasil desejava naquela imediata pós-ditadura: que a sociedade brasileira perseguisse os caminhos do Estado democrático de direito, ressaltando a solução pacífica dos conflitos. É visível que não conseguimos!

Mas, essas normas servem como norte no processo de civilização coletivo e individual. “Como a raiva é filha do medo e mãe da covardia” (Chico Buarque), em metrópoles que estão cada vez mais violentas, há um ímpeto selvagem em ansiar por exterminar, ou aplaudir o extermínio daqueles que são considerados inimigos do povo.

Reconhecer isso não é aval para liberação desse tipo de conduta ou fala. Ao contrário, é obrigação de que, enquanto sociedade e individualmente haja o exercício do pensamento racional para sufocar os impulsos bestiais. A Constituição de 1988 reflete exatamente isso: a escolha de uma sociedade recém-saída de uma ditadura civil-militar, por distanciar-se da truculência que leva a porões irrespiráveis, sufocantes e infectos. Naquele momento a sociedade fez a escolha por um Estado que prefere o cérebro ao fígado como conselheiro.

O que percebemos na cidade de São Sebastião foi o Estado agindo no extremo oposto à decisão do constituinte, voltando a força letal contra o titular da Constituição: o povo

Mas vamos à fala do governador que, para justificar massacre, trocou a palavra vítima por suspeito.

Primeiramente é necessário esclarecer o que é ser suspeito à lente do Código de Processo Penal: é aquele que sequer foi investigado. Não há provas, indícios. Literalmente, recai sobre ele somente suspeita!

Mas ainda que se considerem todas as vítimas os mais ignóbeis dos criminosos, mesmo assim, de acordo com o Código de Processo Penal, instituído em plena ditadura do Estado Novo (1941), há um conjunto de procedimentos a serem percorridos. Primeiramente seriam investigadas. Havendo indícios de autoria e materialidade, processadas dentro do devido processo legal e, uma vez provado o crime, condenadas às penas previstas no Código Penal e na Constituição. Esta, por sua vez, em seu art. 5º traz a proibição de penas cruéis, desumanas, tortura, e pena de morte.

Aliás, é preciso frisar que a proibição desses tipos de pena representa o processo de civilização da sociedade, uma evolução. Agora, mesmo nos Estados onde há a possibilidade da pena de morte, esta pode ser considerada menos bárbara do que o ocorrido no Rio de Janeiro, pois a pena capital exige processo, defesa, prova, julgamento. O que o Rio de Janeiro vivenciou demostrou algo que retroage até mesmo à pena de morte, cuja proibição já é uma conquista consolidada em diversos Estados.

E aos que defendem a implantação da pena de morte no Brasil, é importante lembrar que há o princípio da vedação ao retrocesso impedindo a mitigação de direitos fundamentais por legislação infraconstitucional e até mesmo por emenda constitucional. Portanto, não! Não há a possiblidade de implantarmos a pena de morte até mesmo porque se trata de cláusula pétrea constitucional, isto é, imodificável, na inteligência do art. 60, § 4, inciso IV.

E essas conquistas, vedação às penas cruéis, à tortura, à pena de morte e o direito de ser julgado dentro do devido processo legal encontram seus fundamentos na dignidade da pessoa humana, que, mais do que princípio, é valor constitucional. É importante ressaltar a historicidade liberal desses direitos, não só advindos das revoluções burguesas, como encontram seu marco jurídico no chamado constitucionalismo liberal. São os direitos de primeira geração.

Todavia, em se tratando de justiça penal, todos esses direitos individuais e mesmo os direitos voltados à justiça social, podem ser considerados meras alegorias jurídicas se não enfrentarem algo que Raul Eugênio Zaffarone denomina seletividade penal, cujo termo já traz em si seu conceito, mas, em resumo, pode ser definido como a criminalização da população vulnerável. É, em curtos termos, a certeza de que esse massacre jamais ocorreria no Leblon.

Inclusive, o óbito dos policiais nessa operação também demonstra que há um único alvo: a pobreza! Nesse sentido explica Raul Eugênio Zaffarone: “Se considerarmos que os criminalizados, os vitimizados e os policializados (ou seja, todos aqueles que sofrem as consequências desta suposta guerra) são selecionados nos estratos sociais inferiores, cabe reconhecer que o exercício do poder estimula e reproduz antagonismos entre as pessoas desses estratos mais frágeis, induzidas, a rigor, a uma autodestruição” (Zaffarone, Direito Penal-I, p. 58).

E o combate à seletividade penal ultrapassa as esferas jurídica e adentra, por óbvio, em escolhas de cunho político e econômico, que o presente texto irá se eximir em aprofundar. Nas palavras de Frei Beto no texto, “Uma história da esperança”, que introduz a obra História Social dos Direitos Humanos, há uma contradição e distância entre o que idealizamos, teorizamos sobre direitos humanos e a hediondez da miséria, exclusão social que atinge a maioria do planeta.

É visível o elastecer dessa longevidade a cada escolha política por representantes de uma ideologia que não esconde a tranquilidade em afirmar nas entrelinhas que, se for pobre, prescinde o inquérito, o processo, a prova, a pena; pode matar!

Como último ponto, não se pode ignorar que a barbárie ocorrida no dia 28 de outubro de 2025 encontra vozes elogiosas dentro da sociedade civil, tal e como tantos outros crimes cometidos pelo Estado ao longo de nossa história. Pois, infelizmente, “existe um povo que a bandeira empresta para cobrir tanta infâmia e covardia!… Meu Deus, Meus Deus, mas que bandeira é essa?”, perguntaria Castro Alves.

Que horror![1]

*Carlos Marina Frederico é doutor em Direito Penal pela PUC-SP.

Nota

[1] Esse artigo traduz o posicionamento não apenas de seu autor, como também da equipe de advogados criminalistas da Assistência Judiciária Gratuita 22 de Agosto: Antônio Carlos Malheiros.   

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domingo, 2 de novembro de 2025

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O MASSACRE NO RIO. Por Frei Betto

           Houve um tempo em que o Rio de Janeiro era qualificado de “Cidade Maravilhosa”. Hoje, o apelido soa como ironia amarga diante das chamas que consumiram quase cem ônibus, das ruas sitiadas e do medo que paralisou milhões de pessoas. O Comando Vermelho disseminou o terror, e o Estado respondeu com o mesmo idioma da barbárie: balas, cerco e corpos espalhados. Ao fim, cento e vinte e uma vidas se perderam, entre elas, quatro policiais mortos.  Nenhum dos mortos consta na denúncia do Ministério Público do Rio que motivou a operação. 

           Até a noite de sexta, 109 corpos haviam sido identificados. A maioria pertencia a foragidos e integrantes do CV vindos de outros estados: 78 tinham passagens por tráfico, roubo e assassinato; 43 tinham mandados de prisão; 39 eram de outros estados. Trinta  mortos identificados não tinham sequer passagem pela polícia. Todos, culpados ou não, foram tragados pelo mesmo vendaval de violência que reduz a cidade a zona de guerra. A Gaza dos trópicos!

          Essas mortes não começaram no dia da chacina. Começaram há décadas, quando o abandono foi oficializado como política pública. Começaram quando se privatizou o direito à paz e se terceirizou a segurança às facções. Começaram quando o Estado trocou o cuidado pela guerra, a escola pela prisão, o diálogo pelo fuzil.

          O narcotráfico não brota do nada. Nasce onde o Estado nunca plantou esperança. Cresce na ausência de políticas públicas, floresce entre muros rachados e becos sem saneamento, alimenta-se da desigualdade e da humilhação. As facções são o espelho deformado do capitalismo brasileiro: hierárquico, violento, sedento de lucro e controle. O traficante é o empresário da ruína, e o consumidor dos bairros ricos seu investidor invisível.

          Não há o que celebrar. Uma operação que termina com 121 mortos não é vitória, é derrota civilizatória. O Estado não pode combater o crime reproduzindo sua lógica. A cada incursão policial em que a favela é tratada como campo inimigo, a distância entre o poder público e o povo aumenta. Não se constrói paz sobre o chão ensanguentado da periferia.

          O narcotráfico é, sim, um flagelo. E cresce onde o Estado nunca chegou com segurança aos moradores e políticas públicas. As 1.900 favelas cariocas sofrem a insuficiência de escolas, saneamento, transporte, cultura, atividades esportivas, emprego e perspectiva de vida. As facções ocupam o vazio deixado por décadas de omissão governamental. São o espelho perverso de um sistema que exclui, humilha e depois criminaliza os excluídos. O traficante, muitas vezes, é o produto final de uma política que trocou direitos por fuzis e políticas sociais por operações midiáticas.

          A violência virou rotina, e a brutalidade se institucionalizou. O governo fala em “ação de segurança”, mas que segurança há em metralhar comunidades inteiras? A segurança pública, no Rio, virou gestão de cadáveres. A cada chacina, repete-se o mesmo roteiro: promessas de “investigação rigorosa”, notas frias de gabinete e o silêncio que cobre a cidade quando as câmeras da mídia vão embora.

          Estudiosos do tema são unânimes em admitir que não se destrói facção com fuzil, e sim com políticas públicas. A guerra às drogas fracassa porque não é um combate às drogas, é guerra aos pobres. A cada morte, a favela se torna ainda mais vulnerável, o tráfico se reorganiza, e o ciclo recomeça. O verdadeiro inimigo não é o jovem armado, mas a ausência de Estado que o empurrou para isso.

          O Rio, sitiado e queimado, assiste ao colapso de suas maiores riquezas, como o turismo, a beleza da paisagem, o bom humor do carioca. Nenhuma cidade sobrevive quando a morte se torna rotina e a injustiça persiste. Beleza somente não põe mesa, e o cartão-postal desbota diante da dor.

          Mas há quem resista. Mães que enterram filhos e ainda erguem faixas nas praças. Cidadãos que filmam, denunciam, documentam. Gente que, entre o medo e o luto, ainda acredita na vida. São esses os guardiões do Rio que resta, o Rio que não se rende.

          Os 121 mortos não são apenas números. São o espelho de um país que perdeu o rumo, confunde justiça com vingança, e segurança com extermínio. O Brasil precisa escolher: continuar contabilizando corpos tombados pela violência urbana ou finalmente governar para a vida de todos.

          Só haverá paz quando o Estado for presença de direitos, não de morte. Só haverá futuro quando a favela deixar de ser território inimigo. Só haverá Rio de Janeiro de novo quando a cidade se lembrar de que é feita de gente, e gente não é descartável.

          Por quem choram as mães dos jovens assassinados? Choram ao ver sonhos desfeitos pela letalidade policial e pelo equívoco de se buscar na criminalidade a escalada para uma vida melhor. Choram sobretudo por um país que perdeu o senso de justiça. 

          O axioma “bandido bom é bandido morto” significa barbárie travestida de justiça. Ele nega o Estado de Direito, despreza a dignidade humana e substitui a lei e os direitos por vingança. Ao defender o assassinato em vez de reabilitação e combate às causas do tráfico de drogas e de armas, esse pensamento fortalece a violência que diz combater e fragiliza a própria sociedade civilizada.

 Frei Betto é escritor, autor do romance policial  “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org




RIO EM CORES DE CINEMA

(Chico Queiroga)


“O Rio de Janeiro continua lindo”

A praia de Ipanema, a pele da morena,

Como é bom se ver, como é bom viver,

Como é bom sonhar.


O Rio de Janeiro continua indo

Esconde a violência e mostra um paraíso.

Como é bom viver, como é bom se ver,

Como é bom sonhar.


Mas vejo bandoleiros de carroças atômicas

Índios caras-pálidas

Vejo gaviões em batalhões lançando suas garras.

E o que se passa na cabeça do Cristo Redentor?

Eu vejo o Rio de Janeiro vendo O Salvador

Em cores de cinema.


O Rio de Janeiro continua rindo

Portela na avenida, confetes e serpentinas,

Como é bom se ver, como é bom viver,

Como é bom sonhar.


Ainda o Rio de Janeiro em prosa e poesia

Esconde todo o choro mostrando a alegria

Como é bom viver, como é bom se ver,

Como é bom sonhar.


Mas vejo o carnaval na edição “O Dia”

Adeus toda a folia pra tantos foliões

E nos olhos de Deus, mais longe a harmonia.

E o que se passa na cabeça do Cristo Redentor?

Vendo o Rio de Janeiro O nosso Salvador,

Em cores de cinema.



SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO, por Chico Alencar. (no Instagram) 

Rio, cidade tão castigada e tão bela. A música Sebastian, de Gil e Milton, é um retrato da cidade que ambos escolheram para viver. Essas palavras musicadas não saem da minha cabeça após os acontecimentos dos últimos dias…

SEBASTIAN

(Gilberto Gil/Milton Nascimento)


Sebastian, Sebastião

Diante de tua imagem

Tão castigada e tão bela

penso na tua cidade

Peço que olhes por ela


Cada parte do teu corpo

Cada flecha envenenada

Flechada por pura inveja

é um pedaço de bairro

é uma praça do Rio

Enchendo de horror quem passa


Oô cidade, oô menino

Que me ardem de paixão

Eu prefiro que essas flechas

Saltem pra minha canção

Livrem de dor meus amados


Que na cidade tranqüila

Sarada cada ferida

Tudo se transforme em vida

Canteiro cheio de flores

pra que só chorem, querido,

Tu e a cidade, de amores