sábado, 3 de maio de 2008

Cultura Popular na terra de Artur Bispo do Rosário

"TEM CHEIRO DE CULTURA NO AR"
Slogan do Festival de Arte do Povoado São José.



Em meados da década de 90, quando o então Ministro da Cultura Francisco Weffort esteve ministrando uma palestra na Universidade Federal de Sergipe (UFS), ele contou sobre as “surpresas maravilhosas” com as quais ele se deparava quando via e sentia a força da criatividade e, na maioria das vezes, também as formas de resistência cultural de nosso povo.

Segundo Weffort, era o melhor que o cargo de Ministro lhe proporcionava. E foi o que constatei quando estive no dia 20 de abril no povoado São José, em Japaratuba, para assistir às apresentações do IV Caatingarte — festival de artes daquela comunidade —, representando o Complexo Cultural “O Gonzagão” e a Ong Ação Cultural.

O convite foi formulado por Luciano Acciole, coordenador geral do evento, professor e atualmente vereador da cidade. Luciano é o tipo de ativista cultural honrado em qualquer lugar aonde ele for, e seu compromisso com a cultura popular chegou até nós a partir dos frutos que ele deixara em um dos Colégios onde trabalhou, no conjunto Jardim, região onde lecionei durante alguns anos, e que ajudaram a fortalecer as iniciativas culturais que apoiamos naquela localidade e bairros adjacentes nos anos de 2000 a 2006.


Luciano

Falando ao jornal Tribuna da Praia, edição on-line, Luciano Acciole explicou os objetivos do festival da seguinte maneira: “estamos com este evento homenageando as mais bem sucedidas experiências no campo da cultura popular, razão de serem premiadas com o Prêmio de Culturas Populares, do Ministério da Cultura”, disse.

Segundo ele, com o Caatingarte, experiência contemplada com o Prêmio através do Movimento Reação, “oportunizamos aqui uma confraternização dos grupos premiados, quatro de Japaratuba (São João na Roça, Caatingarte, Reisado de Nego e Acompanhamento São Benedito) e dois de Pirambu (Reisado de Sabal) e Ilariô) com os demais grupos folclóricos da região”, acrescentou.

“Em Sergipe foram desesseis projetos contemplados, sendo quadro te Japaratuba e dois de Pirambu. Dos quatro de Japaratuba, dois são daqui do povoado São José, por isso este reunião da cultura popular nesta comunidade símbolo da resistência cultural”, completou.

Da nossa parte ao ser convidado para dirigir algumas palavras aos que se faziam presentes, afirmei, em primeiro lugar, que a festa estava linda demais, independente se estavam em baixo ou em cima do palco, pelo que pude conferir naquele momento.

Estavam belos os mestres e brincantes de todas as idades, com suas vestimentas multicoloridas e novas, como afirmou com satisfação a brincante Marilene: os instrumentos novos ou remodelados, as melodias (algumas do nosso conhecimento e outras, não) e o mais importante: a auto-estima lá em cima, como pude constatar através dos sorrisos estampado nos rostos.

Algumas líderes da festança, como Marilene e Vilma, do grupo São João na Roça, estiveram participando de Seminários e Encontro de Culturas Populares em Brasilia, em 2005 e 2006, e não se deixaram contaminar pelo clima de pessimismo de alguns técnicos e gestores culturais que nos acompanhavam e que eram ligados ao governo anterior. Muitos deles ainda ocupando posições de destaque, e diziam que aquilo não iria dar em nada, era tempo perdido, promessas vãs etc...


Marilene



Vilma

E foi isso que lembrei a Marilene. Quando cheguei ao local do acontecimento, disse: “Pois é Marilene, é tão bom ver o resultado da colheita que plantamos em Brasilia, através de debates, conversas, brincadeiras e apresentações. Veja só, como é possível plantar e colher ao mesmo tempo, como ter resultados satisfatórios imediatos, como queriam alguns, se nunca antes um governo como o do Presidente Lula dedicou tanto respeito, atenção e cuidado para com as culturas populares e com resultados que logo não tardaria aparecer".

E foi um dos temas que lembrei quando disse que quando os queridos Gilberto Gil e Sérgio Mamberti assistirem ao vídeo do evento eles constatarão que realmente valeu a pena escutar e investir para apoiar aqueles que acreditam e lutam para fazer deste país, um Brasil justo, belo e plural.

Percebemos também da parte do Prefeito Padre Geraldo (PT) o mesmo carinho e atenção que o governo federal manifesta pelos mestres e brincantes, e isso é materializado de diversas maneiras: participando das festas populares, trazendo os restos mortais de Artur Bispo do Rosário para a cidade de Japaratuba, local de seu nascimento, apoiando com recursos materiais e financeiros o próprio festival e a manutenção e subsistência dos grupos, destinando para esse fim, recursos públicos, todos os anos.

E é isso e mais que esperamos do próximo prefeito eleito, inclusive o mais forte candidato ao próximo pleito, Hélio Sobral, e que conta com o apoio de Padre Geraldo e Luciano Acciole, esteve presente e demonstrou que também percebe a necessidade de dar continuidade e de ampliar as iniciativas que visam fortalecer a identidade cultural do nosso povo, no intuito de atingir uma população com a mente massificada pela cultura do consumo imediato, como afirma a carta cultural da periferia elaborada no ano de 2005 em Aracaju e que contou com representação de seis municípios sergipanos.

E para concluir, gostei muito da proposta de incluir trabalhos com oficinas e rodas de conversa, pois, como tenho escrito há alguns anos, é necessário possibilitar o acesso aos meios de produção cultural, ou aprimorar os conhecimentos daqueles que detém o controle desses meios, como artistas, produtores e educadores populares, e não simplesmente investir altas somas de dinheiro tão somente para que os sergipanos continuem como meros consumidores, assistentes, expectadores etc.. daquilo que é produzido artisticamente em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Belém.


Oficina de Teatro


Oficina de Máscara

Outro fato importante é a postura de atenção e respeito demonstrada pelos moradores que assistiam a todas as apresentações (em especial as da cultura tradicional). Percebi também que a mesma estrutura de som e palco para os grande shows também estiveram a serviço dos artistas populares. E, para concluir, a questão da diversidade cultural foi garantida com a apresentação da banda de reggae Reação, da Pagodant (pagode) e Legionários ( pop-rock).

Por tudo isso, ganhei o dia, a despeito de alguns contratempos para chegar ao local, e tenho certeza que foi um dos melhores momentos que vivenciei em 2008.

Agradeço a todos e todas que tornaram possível a realização do IV Caatingarte, inclusive aqueles que, por motivo de espaço, não tiveram os nomes citados acima. Por fim, agradeço especialmente ao jornalista e fotográfo Ronaldo Sales,
autor das imagens que embelezam esse post, pela atenção a mim dispensada.


Exposição de fotografias de Ronaldo Sales

POLIFONIA DO IV CAATINGARTE

Vale a pena conferir os depoimentos de quem sonhou e realizou. E nunca é demais repetir: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce." Fernando Pessoa

"Foi uma experiência ímpar! Poder dar essa oportunidade para que o povo pudesse vivenciar esse reencontro com o que é seu...Foi algo muito prazeroso. Valeu a pena!

Allan Nobre , funcionário público, coordenador do MOVIMENTO REAÇÃO

"Ter aqui todos esses mestres , esses brincantes, esses artistas compensam todas as noites que perdemos em reuniões ...que venham o V CAATINGART "

Flávia Lima, 26 anos, agente de saúde, graduada em história, moradora da comunidade, brincante do Reisado e do São José, do São João na Roça, membro do Grupo Teatral Canudos em Movimento, Cantora, e coordenadora das oficinas do evento.

"Foi um momento mágico! Aliás tivemos vários momentos mágicos. O cortejo pelas ruas da comunidade com a saudação ao Mestre Zé de Jove, em sua casa. Foi como um "soco"...Já se percebia que tinha algo mágico acontecendo.Depois veio o Sergio Silveira (diretor de arte do filme "O Senhor dos Labirintos") que transformou uma roda de bate-papo em depoimento apaixonado sobre o Bispo do Rosário. Encantou e arrepiou! Então, à tarde, veio o momento mais tocante que foi aquelas vozes do Ilariou e do Reisado. Bateu uma dor no coração. Aí veio a explosão do choro de Marilene ( brincante do São João na Roça). Foi espetacular!"Luciano Acciole, professor, idealizador do evento

"Agora eu entendo essa força que move Luciano, Marilene, Dona Vilma e a galera quando se refere a cultura popular! Foi muito gratificante!"
Marcos Rocha, estudante, vocalista do Legionários

"Uma festa para todos ! Crianças, jovens e adultos! Mexeu com a comunidade!
Estamos realizados! Foi muito bom! Tá bem aplicado o dinheiro que ganhamos!".

Marilene Moura, brincante

"Um trenzinho da cultura popular foi um espetáculo a parte! Vcs precisavam ver como mexeu com a criançada! Os palhaços do trem tinha uma mística com as crianças, tinha um cumplicidade..Por onde a gente passava..diexava uma inquitação, uma curiosidade...me realizei".
Anderson Antonio, estdante, ator e animador do trem

"Um festa para ficar nas lembranças... Eu me orgulho de fazer parte desta resistência. Mesmo com tanto sacrifício e com tanta luta. Ave Maria! Não deixo de brincar , nunca!".
Dona Vilma, brincante

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