quarta-feira, 10 de julho de 2019

CAMINHOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA SUPERAR ESSE ESTADO ATUAL DE COISAS.



 I - CAMINHOS PERCORRIDOS E A PERCORRER.
“Se muito vale o já feito, mais vale o que será.” Como é afirmado na canção “O que foi feito devera” da autoria de  Fernando Brant / Milton  Nascimento / Marcio  Borges (1978).

Porém o caminho está fechado, como diz  uma  outra  canção “Como nossos pais” de Belchior (1976) , mas não apenas para os jovens, também  para    todos os que desejam um  Brasil mais justo, democrático, plural, diverso, ambientalmente sustentável, tolerante e criativo.

E pelo fato do caminho estar  fechado,  minado, é preciso caminhar  lentamente, às  vezes com recuos, às vezes parando para nos fortalecermos, para retornamos o caminho virtuoso da construção de uma nação solidária. Como cantou Alceu Valença  no inicio da década de 1980.
II - DIALOGANDO COM VALTER BENJAMIN
Assim,  a partir da  busca em olhar ou reolhar o passado,  precisamos retornar  aos caminhos  tortuosos da construção de uma  nação solidária. Uma nação partida,  que organizou  para se defender da outra parte, quilombos, canudos, contestado, caldeirão, irmandades de negros e de pardos, associações de auxilio mútuo, sindicatos, grupos culturais, ligas camponesas, movimentos de alfabetização, guerrilhas urbanas e no Araguaia,  associações de negros, associações de mulheres, associações de  bairros e comunidades eclesiais de base  e etc..

Olhar ou reolhar o passado  significa a tarefa de “escovar a história a contrapelo”, como proposto por Valter  Benjamin,  filosofo e critico literário alemão que suicidou-se pressionado pelo nazismo alemão. O que na definição da  professora   Juliana Araújo Meato, que escreveu o artigo “Ensinando História a Contrapelo: Reflexões Benjaminianas” significa:

“Escovar a história a contrapelo, ou seja, escovar a história em sentido contrário, “às avessas”, significa buscar a contranarrativa dos vencidos, isto é, dos indígenas, dos negros, das mulheres, dos pobres, daqueles cuja existência fora marcada pela violência e exploração, mas também pela resistência ao longo da História. Resgatar sua tradição, aliás, arrancá-la do conformismo, é um desafio para o professor/historiador empático aos vencidos, que deve, na sugestão de Konder, farejar os sonhos e aspirações que nem chegaram a se expressar em realidades duradouras, mas que contém a faísca necessária de agitação e vínculo entre passado e presente. Uma sugestão que, sem dúvida, por ser ameaçadora de privilégios, não é vista com bons olhos pelas frações da classe dominante.”

Ainda mais , porque o presente está suspenso, é como se estivesse travado, interrompendo um ciclo progressista iniciado com a eleição do presidente Lula em 2002, podendo ser comparado a um relógio com o ponteiro mudando sempre em direção ao passado, a partir de determinado ponto e  sob a liderança de um bando de verdadeiros  exterminadores  do futuro. Como pode ser  depreendido por meio da noticia abaixo:

“ Num jantar com lideranças conservadoras ontem à noite, em Washington (EUA), o presidente Jair Bolsonaro disse aos presentes que o sentido de seu governo não é construir coisas para o povo brasileiro, mas desconstruir. " (Site Valor Econômico, 18/03/2019)

Uma desconstrução ou destruição,  a serviço de um "progresso" insano, inconsequente , excludente e predatório,  como na icônica metáfora elaborada por Valter Benjamin, a partir de um desenho de Paul Klee , adquirido em 1821 e  descrita na  nona tese do seu ensaio "Sobre o Conceito de História".  

“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.”

 
III - UM CENTRO DE MEMÓRIA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA TALVEZ?
Em termos bem objetivos, os caminhos da economia solidária pode ser trazer o que de melhor foi produzido no passado no campo das relações humanas e sociais que envolveram economia solidária, incluindo o passado recente, o que parece estar sendo feito, mas intensificado ainda mais. Incluindo os relatos e aprendizados adquiridos com os erros, desvios e equívocos dos empreendimentos e dos agentes de apoio a organização e fomento.

Utilizar meios escritos, como também os meios imagéticos e digitais para documentar e tornar  estas informações bem acessíveis a um grupo maior de pessoas.

A formação semi presencial e a distância, como no caso desse curso deve ser ainda mais fortalecida, tendo em vista a redução de custos, o alcance mais amplo em termos quantitativos e os fatores impeditivos das distâncias de nosso país continente.

Outro aspecto fundamental é a busca de diálogo com atores juvenis que praticam economia solidária, notadamente os ligados as atividades de cultura,  comunicação  e novas tecnologias.
Zezito de Oliveira - Educador e agente/produtor/assessor de iniciativas culturais de base comunitária.

Referências
BENJAMIN, Walter. "Sobre o Conceito de História" (1940). In: Obras Escolhidas, v. I, Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 226.
MEATO, Juliana Araujo. ENSINANDO A HISTÓRIA A CONTRAPELO: reflexões benjaminianas. Revista Encontros, v.16, 2018, p. 04.

O texto acima foi escrito para responder a seguinte tarefa proposta no Curso EAD de Economia Solidária, promovido pela ABONG - Organização em defesa dos direitos e bens comuns.

 Considerando que estamos vivendo um momento de desmonte de direitos que já tinham sido conquistados no Brasil, grave um pequeno vídeo ou um podcast apontando caminhos que a Economia Solidária pode trilhar ou já está trilhando para ajudar na superação das desigualdades sociais. Se preferir, pode expressar suas ideias de outra forma.

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