A transmissão na tarde do sábado, 31/07/2021, do encontro musical de celebração dos trinta anos do lançamento do LP Em Canto, reavivou a memória de muita gente espalhada Brasil a fora que tiveram contato com esta obra, além de alguns países do exterior.
O trabalho de Zé Vicente e Babi Fonteles foi lançado em um
momento bem difícil para nós
brasileiros, com muitas semelhanças com o momento atual. Lembro de ter
visto o LP pela primeira vez em uma manhã de segunda feira na sede da
Associação dos Moradores do Bairro América (AMABA).
Naquele tempo, ano de 1993 , a AMABA era o cenário e palco
principal de um intenso trabalho de arte-educação popular, um trabalho
social-educativo com linguagens artísticas realizado com crianças e
adolescentes de um importante bairro da periferia de Aracaju.
O LP me foi apresentado por Emanuel Rocha, então coordenador
geral do Projeto Reculturarte (Reeducação, Cultura e Arte), o qual foi
acompanhado até a cidade de Propriá, por sete pessoas,
entre jovens como ele e adolescentes, todos educadores do Reculturarte, além de educadores e militantes de organizações e movimentos sociais de Aracaju, alguns nascidos em Propriá, e um amigo residente
na cidade baiana de Camaçari, Francisco Glória, educador popular que veio se
encontrar com a caravana de Aracaju rumo ao show Em Canto em Propriá.
Nessa cidade havia um
bispo católico progressista, Dom José Brandão de Castro, em atuação desde a década de 1960, isso favoreceu
bastante a presença de Zé Vicente, Babi
Fonteles e as canções do Em Canto.
Quando soube da disposição dos educadores do Reculturarte em
participar do show de lançamento em Propriá fiquei muito feliz, porque como um dos
fundadores e dirigente da AMABA, assim como um dos principais idealizadores do Projeto
Reculturarte, sempre busquei conhecer pessoas e iniciativas socioculturais
semelhante a proposta do Reculturarte, assim como favorecer o mesmo aos
educadores do Reculturarte. O que não era tão fácil em nosso entorno, tendo em vista não haver iniciativas semelhantes em
Aracaju e cidades próximas, salvo por um
período curto de tempo no inicio dos anos de 1960 com o trabalho desenvolvido
pelo Movimento de Educação de Base (MEB), mas que as perseguições da ditadura civil-militar de 1964 e as disputas
ideológicas internas da igreja católica levaram
ao fim no final dos anos de 1960 e apagamento de uma parte significativa da memória.
Clique em cima das frases em azul para ter acesso a mais informações.
Zé Vicente. Quem é este cantor
Livro AMABA/Projeto Reculturarte no facebook
No ano de 2020 recolhendo material documental para a escrita do livro sobre a AMABA/Projeto Reculturarte, chegou até minhas mãos um conjunto de fotografias que avivou a memória pessoal acerca do lançamento de Em Canto em Propriá. Estas fotografias chegaram em minhas mãos por intermédio de Crécia Paixão, uma das adolescentes que estiveram presentes ao acontecimento.
Também vieram fotografias da participação de Emanuel Rocha e Maria Cleia no Curso de Inverno em João Pessoa na Paraíba. Cleia veio a ser sua
namorada e esposa. Fez parte da equipe de educadores do Reculturarte, tendo infelizmente falecido no ano de 2005, após ter dado importante
contribuição para o sucesso das oficinas culturais, atividades educativas e
mostras culturais do projeto.
Foi no Curso de Inverno no inicio da década de 1990,
destinado a formação integral de educadores, agentes culturais e religiosos
ligados a teologia da libertação, todos com atuação em comunidades que Emanuel
e Cleia tiveram o primeiro contato com Zé Vicente e sua arte, assim como a arte
de outros artistas populares ligados as comunidades eclesiais de base e a
iniciativas culturais de base comunitária.
Em meados da década
de 1990, também me recordo em Recife ,
ter participado com imenso prazer de uma coreografia com uma das músicas
emblemáticas de EnCanto, “Companheira”, organizada por um grupo de mulheres
residentes em Fortaleza, tratava-se de um seminário/oficina acerca da questão de gênero, organizado para
um publico misto de educadores (as) populares na linha do mesmo espirito dos
Cursos de Inverno na Paraíba. A promoção foi do Centro Nordestino de Animação
Popular (CENAP).
Ouça aqui as canções de Em Canto
Em 23 de setembro de 2005, cantei “Companheira” junto com
Rosângela Souza, ex-educadora do Reculturarte, na missa de sétimo dia do falecimento
de Maria Cleia.
Junho de 91.
Era inverno no litoral
A banda juvenil “Flor da Pele”
Meninos lindos, plenos de audácia e alegria!
Ana Diniz, a Bisquí, presente
A vocês, cambada querida,
Noite adentro,
Coisas da vida!
Tem mais gente se “em cantando”
Luis Carlos Fonteles e tantos outros
Nossos queridos Zé Maria, Lúcia, Durval, Geosa
E sussurramos ao coração:
A hora exige
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