domingo, 15 de junho de 2025

Morre Maria Angelina de Oliveira, liderança histórica da JOC

 Faleceu Maria Angelina de Oliveira, uma das mais importantes lideranças da Juventude Operária Católica (JOC) no Brasil e no mundo, cuja trajetória foi marcada por uma vida inteira dedicada à luta da classe trabalhadora, dos movimentos populares e da economia solidária. Sua partida enche de pesar familiares, amigos, militantes e organizações sociais que conviveram e aprenderam com seu exemplo.

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Angelina teve seu primeiro contato com a JOC em 1955, aos 21 anos, na cidade de João Pessoa, na Paraíba, dando início a uma caminhada que ultrapassaria fronteiras. Dois anos depois, em 1957, assumiu a Coordenação Regional da JOC no Nordeste, e, em 1960, passou a integrar a Coordenação Nacional da JOC Brasileira (JOC-B).

Com um olhar sempre voltado para a formação e a organização da juventude operária, Angelina expandiu sua militância além das fronteiras nacionais. Em 1964, assumiu o trabalho de extensão da JOC na Colômbia e, em 1966, foi responsável pelo Serviço de Formação e Extensão do movimento, atuando na Ásia, África e América Latina. No Conselho Mundial da JOC, realizado no Líbano em 1969, foi eleita vice-presidente  da JOC Internacional, função que consolidou sua relevância no movimento operário mundial.

De volta ao Brasil em 1971, Angelina se estabeleceu em Recife (PE), onde trabalhou na fábrica de tecidos Tacaruna. Foi presa pela Ditadura Civil-Militar, e após sua libertação, passou sete meses em Crateús (CE), até retornar à sua terra natal, João Pessoa.

Sua trajetória seguiu marcada pelo engajamento social. Em 1976, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, acolhida por Sila e pelo padre Agostinho, integrou-se à Pastoral Operária, à Central de Favelas e a Associações de Moradores. Três anos depois, em 1979, ajudou a fundar o Centro de Ação Comunitária (CEDAC), voltado para a formação de jovens, apoio a organizações populares, movimentos sociais, povos indígenas e comunidades marginalizadas.

Angelina também foi uma das articuladoras da construção da economia solidária no Brasil. Participou, em 2000, dos debates que resultaram na criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e do 1º Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES).

Em 2011, retornou a João Pessoa e, pouco depois do falecimento de sua mãe, se estabeleceu em Recife, onde seguiu ativa na militância. Mesmo com idade avançada, seguiu participando de eventos nacionais e internacionais. Esteve no II Colóquio Internacional da JOC, em 2016, na Alemanha, e, em 2018, ajudou na organização do Encontro Nacional de Militantes e Antigos Militantes da JOC-B (ENAJOCISTA), realizado em Nova Lima (MG).

Até seus últimos dias, vivendo em Camaragibe (PE) com as irmãs Nena e Gorette, Angelina manteve seu apoio político e financeiro à JOC em nível local, regional e nacional, com especial atenção aos adultos extensionistas no Nordeste.

Sua trajetória permanece como exemplo de coragem, dedicação e compromisso com a classe trabalhadora e os movimentos populares. Sua Páscoa, como dizem seus companheiros e companheiras de caminhada, não representa um fim, mas a continuidade de sua inspiração viva nas lutas presentes e futuras.

A Coordenação Nacional da JOC Brasileira manifestou, em nota, solidariedade à família, destacando: “Nosso coração e nossa memória guardam lembranças das suas palavras, do seu testemunho de vida e militância na JOC. Seguirá presente, inspirando nossa caminhada militante e o trabalho contínuo da JOC.”

JOC significa "Juventude Operária Católica". É um movimento internacional de jovens trabalhadores, inspirado nos princípios da Igreja Católica, que busca promover a justiça social e a dignidade humana no ambiente de trabalho e na sociedade em geral. 

A JOC surgiu na Bélgica, fundada pelo padre Joseph Cardijn, e se espalhou por diversos países, incluindo Portugal, onde chegou em 1935. No Brasil, a JOC também teve um papel importante, especialmente durante a ditadura militar, quando seus membros enfrentaram perseguições e prisões. 

O movimento da JOC se baseia no método "Ver, Julgar, Agir", que incentiva os jovens a observar a realidade em que vivem (Ver), analisar os problemas à luz da fé (Julgar) e agir para transformá-la (Agir). A JOC busca construir uma sociedade mais justa e fraterna, onde a dignidade de cada pessoa seja respeitada e valorizada, especialmente a dos jovens trabalhadores. 

Em resumo, a JOC é um movimento de jovens católicos que se dedicam à ação social e à transformação da realidade, buscando a justiça e a dignidade humana no mundo do trabalho e além. 


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