sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

"Ao Vivo" Festival de Arte de São Cristóvão (FASC) Memórias, presente e perspectivas. No dia 26, às 20 horas e 28 de novembro, às 19 horas.



A 26º "AO VIVO" da Ação Cultural será dividida em duas partes, quinta e sábado. E isso por causa da importância que o FASC tem para a cultura sergipana e brasileira.

Os convidados, advogado e jornalista Luiz Eduardo Oliva, o historiador e poeta Thiago Fragata e o agente cultural Gláuber de Souza serão os facilitadores/condutores da discussão.


A transmissão será através da página da Ação Cultural no facebook

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Quando começamos a realizar em 2010/2011  as reuniões da comissão pró retomada do Festival de Arte de São Cristóvão (PROFASC), nos deparemos com muitas situações de recordações carregadas de afeto,  alegria e saudade dos  dias em que o evento aconteceu. 

Daí então, solicitamos  as pessoas que enviassem depoimentos para serem publicados no blog. O que foi enviado e o depoimento do jornalista e poeta Araripe Coutinho, já falecido, foram publicadas no blog “Saudades do FASC”. Vale ressaltar que o depoimento de Araripe Coutinho, foi localizado em pesquisas sobre o FASC na internet.


No ano de 2017 na véspera do esperado momento  da retomada, temos o depoimento do jornalista e poeta Amaral Cavalcante, o qual vem se somar a essa lista de depoimentos produzidos e/ou publicados nos anos de 2010 e 2011.


Quem quiser enviar links de outros depoimentos acerca do FASC ou quiser enviar o seu, fique a vontade. 

O texto do final, "o que a memória ama fica eterno", é fruto de pesquisas na internet,  e resume muito bem os nossos propósitos com essa série de depoimentos. A autora é dentista e escritora diletante.

 Lembranças do FASC


O Festival de Artes de São Cristóvão – FASC começou em 1972, quando eu era ainda uma criança. Naquela mesma época meus irmãos mais velhos começaram a ingressar na UFS e a andar com colegas universitários. Foi por meio desses grupos que eu passei a ouvir as primeiras conversas sobre o FASC.

Entre os comentários que eu escutava atento, dois assuntos, especialmente, despertavam o meu interesse pelo badalado evento cultural: as narrativas sobre a ousadia e a liberdade de expressão e comportamento experimentada pela juventude durante o festival e a intensa e diversificada programação artística.

Depois de alguns anos apenas ouvindo e imaginando coisas, lá pelo início da década de 1980, finalmente, fiz minha estreia no FASC. E que começo! O grupo de teatro Cenário de Espetáculos – que eu integrava tocando flauta doce – e mais alguns artistas, alugaram uma pequena casa em uma das entradas da cidade.

O Cenário não tinha conseguido entrar na programação oficial, mas, resolveu ir por conta própria, puxar um cortejo e apresentar encenações pelas ruas da cidade. Luiz Carlos Dussantus, Vitória e Dinha Barreto, Itamar Freitas, Elíude Silva… Eram alguns dos integrantes do grupo, presentes naquela aventura.

Uma noite, fomos para a bica. Foi a primeira vez que eu vi o sol nascer. Já com o dia claro, resolvi vir a Aracaju dar notícias – celular não existia. Entrei no coletivo e apaguei. O ônibus passou na porta da minha casa, na Rua de Laranjeiras, onde eu deveria ter descido, mas, só fui acordado no ponto final, na rodoviária velha.

Nas edições seguintes continuei indo para curtir, sem estar necessariamente integrando alguma atividade artística. Certa vez eu estava na companhia de uma galera bem descolada – como se dizia na época – e rolou um show da dupla Sá e Guarabyra. Nos entrosamos com os músicos e voltamos para Aracaju de carona com eles.

Em São Cristóvão assisti espetáculos artísticos que só foram apresentados em Sergipe graças ao FASC, pois, não tinham apelo comercial suficiente para virem por outro meio, embora tivessem grande relevância estética. Desses o que de modo mais vivo continua na minha memória é o show “Suspeito”, de Arrigo Barnabé.

Em outra edição a produção do FASC promoveu o “Rock in Bica”. Subi ao palco acompanhando Rivando Gois que fazia um excelente Raul Seixas cover. Eu era um péssimo guitarrista, fui chamado emergencialmente, devo ter errado em quase todas as músicas, mesmo assim, o show foi vibrante do começo ao fim.

Depois passei uma temporada fora de Sergipe. De longe, soube que o FASC fora interrompido. Para minha alegria e sorte, de novo na terrinha, vejo o evento reativado. Com isso, voltei a frequentar o nosso maior festival de artes. Em 2017, batuquei meu tamborim pelas ruas e becos da histórica cidade com o Burundanga.

Também em 2017, talvez pelo peso da idade, me incomodou ter ido ao FASC e, ao final das noitadas, ter que voltar para Aracaju. Agora em 2018 superei o incômodo: aluguei uma casinha em São Cristóvão e pude desfrutar o prazer de me jogar pela cidade histórica sabendo que um colchão me esperava na Ladeira da Alegria.

Nada dura para sempre, mas, torço para que o FASC tenha longa vida pela frente. Por um simples motivo: tem sido, ao longo do tempo, um dos poucos ou o único grande evento realizado em Sergipe, essencialmente voltado para a difusão das artes. Ao contrário das muitas festas de mera reprodução da cultura de massa.

Vale registrar, além dos grandes shows musicais, que alcançam maior visibilidade, nesta 35ª edição do FASC houve: Salão de Literatura, mostra de filmes, Salão de Artes Visuais, um palco para artes cênicas, cortejos de grupos populares, concertos musicais, feiras, exposições variadas... Não seria possível acompanhar tudo.

Do que participei, faço alguns destaques: o cortejo da Chegança de Santa Cruz de Itabaiana, exposições na Casa do Iphan e na Casa do Folclore, a mostra de curtas universitários, shows de Dami Doria, Samba de Coco da Ilha Grande, Joésia Ramos, Sergival, Céu, Pífano de Pife, Patrícia Polayne e Chico César.

Órgãos fiscalizadores do uso de recursos públicos têm apertado prefeituras que torram muito dinheiro em festas que dão ênfase a atrações da indústria do entretenimento, usando orçamento da cultura. O FASC tem sido diferente, pois, investe em arte – um artigo necessário e pouco difundido e apoiado. Viva o FASC!
Antônio Passos
Publicado no Jornal do Dia, em 22/11/2018.

 Viva o FASC 

 

Recebo como uma homenagem à minha geração a iniciativa da Prefeitura de São Cristóvão de reeditar o Festival de Artes, principalmente quando assistimos ao intenso besteirol de eventos ditos “culturais”que ocupam a agenda dos novos gestores, mais preocupados em promover festas para o povo oferecendo-lhe “arte” de apelo eminentemente popularesco e idiota.

A iniciativa da Prefeitura de São Cristóvão é um alento, neste momento em que Cultura vai virando show de palanque com as chamadas “estrelas” incensadas pela mídia e pelas gravadoras, impostos com estratosféricos cachês ao orçamento público onde permeiam o superfaturamento e a corrupção. Nunca imaginei que a rubrica “difusão cultural” nos orçamentos públicos fosse servir a tanta bandalheira.

O FASC histórico foi, sem dúvidas, o maior acontecimento cultural jamais realizado em Sergipe e assim o foi porque contribuíram com a sua formatação os diversos agentes culturais em atividade, naqueles tempos, em Sergipe. 

Nós todos, os artistas e produtores culturais, mesmo os alternativos e marginais participamos, convidados por seus idealizadores - Madre Albertina Brasil e Alencarzinho - de todas as etapas que o fizeram acontecer. 

Era um tempo em que a UFS era uma instituição em perfeita simbiose com a sociedade sergipana, intérprete das suas demandas e parceira das suas realizações.

Não sei bem quando, nem por que, a Universidade Federal de Sergipe se afastou tanto de nós, mas o fosso se agiganta a cada dia. E ela lá na sua torre de sapiências acumuladas e nós cá, tendo que aplaudir o seu agigantamento inconsistente – como cresce e se espalha! – como um grande pé de elefantíase a nos pisar doente.

Pois o atual prefeito de São Cristóvão - afirma-se que com algum apoio da UFS - veio em boa hora apontar caminhos para promover o ansiado reencontro dos programas de extensão da nossa universidade com a cultura sergipana.

Que este FASC inaugure um novo tempo.

Amaral Cavalcante – 29/11/2017

A programação e outras noticias do FASC redivivo podem ser conferidas  aqui

Todos os depoimentos abaixo foram publicados pela primeira vez no blog "Saudades do FASC".



MEMÓRIAS DO FASC (1) O FASC EM MINHA VIDA

 

Em meados da década de 80, um pai de família sergipano, que residia no Rio de Janeiro, decidiu retornar com a família ao seu Estado de origem. O seu filho mais velho, um menino que amava os Beatles, Chico Buarque/Caetano Veloso e a Cor do Som, sentiu-se muito inquieto em retornar para um “deserto cultural” onde prevalecia um modo de fazer política fundamentado nos valores e atitudes  típicos do mau e velho sistema do coronelismo.

Para chegar a estas conclusões, o menino partiu dos assuntos dominantes nas rodas de conversas das tias e tios, que às vezes visitavam seus pais, das leituras dos jornais alternativos, a exemplo do Pasquim e outros, e ainda dos jornalões (O Globo e o JB).

Mas, quando tudo está ou parece perdido, sempre existe uma luz, como disse pouco depois um jovem compositor, e o menino se deparou com o Festival de Arte de São Cristóvão, conhecido também como FASC, e aí, quando era tempo do festival, o menino se sentia bastante iluminado culturalmente.

Isso ocorria pelo fato de o FASC lhe recordar as temporadas populares de teatro (vamos comer teatro), os projetos de acesso à música popular (seis e meia), a música clássica (projeto aquarius), os cineclubes da zona sul, eventos e ambientes culturais frequentados pelo ousado menino suburbano

E no FASC o menino pode encontrar um pouco de tudo isso, e ainda melhor, concentrado em um mesmo local, em dias consecutivos, e na antiga cidade onde o menino nasceu, cenário bem propício para uma ação cultural comprometida com a qualidade, a diversidade e a democratização do acesso da população as mais diversas manifestações culturais e artísticas.

Além de curtir as atrações artísticas, nessa ocasião o menino era hóspede da sua querida vó Nanã (Sara), que residia em um casarão próximo à igreja do Rosário, local onde o menino viveu até os sete anos, quando se mudou com a família para Aracaju e, logo depois, para o Rio de Janeiro.

Das atrações artísticas do FASC, o menino tinha uma especial predileção pelas apresentações dos grupos de teatro no auditório do Colégio Paulo Sarazate, em razão da temática regionalista que predominava nos textos encenados. Por ter vivido distante do nordeste por  longos anos, precisava disso para se banhar e mergulhar nas fontes culturais de sua terra natal.

Outro momento inesquecível eram os cortejos dos grupos folclóricos, trazendo-lhe uma das poucas recordações que o tempo não apagou: a homenagem aos Santos Reis, cuja data é celebrada em janeiro.

Neste ano de 2011, o menino, agora homem feito, colabora com um grupo de moradores da cidade com o objetivo de obter dos poderes públicos o compromisso efetivo com a retomada e continuidade do FASC, suspenso em 1993 por decisão da Universidade Federal de Sergipe e retomado, de forma descontínua e em proporção reduzida, pelas administrações municipais que se sucederam desde então.

 O menino, e agora homem feito, sou eu, que depois de tantas andanças por outros lugares, sempre buscando contribuir “para a felicidade geral da nação”, agora acrescenta sua experiência de agente e educador cultural em favor da cidade que o viu nascer.


José “Zezito” de Oliveira Santos

filho de Maria Marlene e de José de Deus


MEMÓRIAS DO FASC (2) 



Os dias em que se realizava o Festival de Artes de São Cristovão, o FASC, eram marcados por  um clima de liberdade e magia que decorriam da união de artistas e visitantes na procura da beleza estética nas suas mais diferentes manifestações populares, nascidas das entranhas do povo simples de nossa terra. 

Entretanto, a beleza que marcava o FASC não estava apenas nas apresentações artísticas e culturais, mas também na multifacetada aparência do público que para lá afluía de todo o Estado de Sergipe e além fronteiras: eram “bichos-grilos”, hippies, estudantes de “aparência comportada”, intelectuais, artistas consagrados e outros em busca de seu lugar ao sol, artesões e vendedores de doces e petiscos. 

Como nunca fui de hábitos noturnos, voltava cedo para casa, em Aracaju, o que me fazia perder os espetáculos e atrações que iam noite a dentro. Mas, pela manhã, logo cedo,  no sábado e no domingo, retornava à quarta cidade mais antiga do Brasil para respirar aquele ar de alegria e beleza, apreciando as barracas de dormir armadas nas praças ou  próximo às igrejas. 

Completava o cenário as barracas dos vendedores montadas no passeio que circundava as praças e mesmo em um dos lados de algumas  ruas mais largas.

Sentia-me culturalmente iluminado, na feliz expressão cunhada pelo professor Zezito. Violência, se havia, nunca presenciei. Mas via a solicitude com que a população local acolhia os visitantes e artistas populares. 

No começa da tarde, os grupos folclóricos começavam seu desfile pelas ruas estreitas da velha capital. 

Os brincantes, muitos deles idosos, esbanjavam uma vitalidade de nos dar inveja, a nós, os jovens de então: dançar samba de coco, de pareia, naquelas centenárias ruas de calçamento irregular,  sob um sol escaldante e  trajes que muitas vezes aumentava o calor, não era para qualquer um. Só quem via sentido para sua vida naquelas brincadeiras era capaz de suportar o cansaço com um sorriso de satisfação estampado no rosto: era um momento de glória ser visto  por milhares de visitantes que apreciavam o espetáculo proporcionado por aquelas pessoas simples, do povo de São Cristovão, e de outras cidades sergipanas e nordestinas. 

Havia muito mais a ser visto, mas a lente de meu interesse mirou apenas o que havia de mais popular naquele que foi um dos maiores festivais de artes do País. 

Que o FASC retorne, “para o bem de todos e felicidade geral da nação”


Jussione Hora Reis


MEMÓRIAS DO FASC (3 )

Viva o FASC, viva São Cristóvão, viva João Bebe Água.



Marcos Santana disse... (*)


Eu tinha apenas 12 anos de idade quando aconteceu o 1º Festival de Arte de São Cristóvão - FASC. A nossa pequena cidade ficou cheia de gente. De repente uma trupe invadiu nossas ruas e vielas; homens e mulheres, muitos cabeludos, armaram suas barracas nas nossas praças. Foram três dias de magia. Depois deste primeiro FASC, muitos outros aconteceram. Até alguns que se apoderaram dessa denominação (FASC) mas que da idéia original nada tinham. O último FASC aconteceu em 2005 e eu já tinha 46 anos e pude reviver deliciosamente os dias de magia que vivi na minha adolescência. Que venha de novo o FASC. E que venha pra nunca mais ir embora. Viva o FASC, viva São Cristóvão, viva João Bebe Água.

(*)Atualmente é o prefeito da cidade de São Cristóvão, eleito em 2016 e reeleito para o próximo quadriênio.


MEMÓRIAS DO FASC (4) Araripe Coutinho :: Do Festival de Arte a Ceci e Peri de Horário Hora 

 


3/8/2010


A emoção é sempre algo vacilante, faz-nos sentir crianças e ao mesmo tempo grandes. Emoção está cada vez mais rara nos dias de hoje. "Tempo  de partido, tempo de homens partidos" - diria nosso poeta de Itabira, Drummond.
 
Ao receber o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a Praça de São Francisco na cidade de São Cristóvão, 4ª cidade mais antiga do Brasil, é elevada ao grau de importância para o mundo que ela sempre, na verdade, teve, independente do título ou não. Agora, evidente, de fato e de direito.

A Praça de São Francisco está  localizada no centro da cidade e é cercada pelas também históricas igreja de São Francisco, Convento de  São Francisco, Capela da Ordem Terceira - atualmente sede do Museu de  Arte Sacra -, Santa Casa, Igreja da Misericórdia e Palácio  Provincial.

A praça é a única no Brasil com um traçado urbanístico de origem tipicamente da colônia espanhola. Sua construção é do período  conhecido como União Ibérica (1580-1640), quando os reinos de Portugal e Espanha tiveram como único soberano os reis Felipe II, Felipe III e  Felipe IV da Casa da Áustria.

Tirando os dados históricos , a Praça São Francisco, na verdade, guarda uma peculiaridade belíssima para o povo de Sergipe. Foi nela que vi mais de dez festivais de Arte de São Cristóvão, organizados  pela Universidade Federal de Sergipe, quando não era, como hoje, oficiosa. 

Ali, se apresentaram centenas de grupos nacionais e internacionais sob a batuta de intelectuais e mestres como Albertina Brasil, João Cardoso do Nascimento, então reitor e Luiz Bispo que fora nomeado pelo Presidente Médici para ser o novo magnífico, sob a idéia de Núbia Marques, já professora da UFS e poeta consagrada. 

Isso em 1972. De la pra cá a Praça São Francisco, hoje patrimônio da Humanidade, recebeu vários grupos do Brasil inteiro, alunos e artistas consagrados que fizeram aquele espaço se imortalizar. Foram emoções  grandes, espetáculos inesquecíveis de balé, dança contemporânea,  música, circo, folclore, literatura e cinema, oficinas de artesanato, mostra de livros, recitais, teatro, gastronomia e festa, muita festa.

Da formação do Fasc até quando ele conseguiu resistir, porque o atual reitor, Josué Modesto dos Passos Subrinho, fez a proeza de enterrá-lo,  passaram nomes gloriosos da UFS.


O Fasc mais rico foi sem dúvida, o que tinha Maria da Glória Santana de Almeida, a professora Glorinha, à  frente.

Ela era Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários e  conseguiu junto aos Ministérios uma fábula em dinheiro, prestigiando todos os artistas e grupos importantes. Foi a glória! De vários  reitores me lembro de Aloísio de Campos, Gilson Cajueiro de Holanda, Eduardo Antonio Conde Garcia, Clodoaldo Alencar Filho (um apaixonado  pelo Fasc), além de nomes como José Carlos Teixeira, Thétis Nunes, Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, Lu Spinelli, Maria Nely dos Santos,  Terezinha Oliva, Francisco José Alves, Luiz Antônio Barreto e Aglaé  Fontes de Alencar, Luiz Eduardo Oliva, João Costa, Tereza Prado, Eluzia Carvalho, Gizelda Moraes, José Costa, Fernando Lins, Jorge lins e tantos outros.

Ali naquela praça não está faltando ele, porque passaram Grupos como Corpo, Balé de Belo Horizonte, Ilê Ayê (Salvador), Companhia dos Homens(Recife), Alejandro Moro jazz Quarteto (Buenos Aires), Wagner Tiso, Nando Reis, Paulinho da Viola, Alceu Valença, Otto e tantos  inesquecíveis nomes.

A arte de Sergipe na música também foi destaque sempre, ali na praça, de Nino Karva à reação, de Amorosa à Joésia Ramos, Naurea ao quinteto de cordas, orquestras, Antonio Carlos Du Aracaju a Chico e Antonio Rogério, Patrícia Polayne e Crys Emmel, além de tantos que incendiaram o palco com seus talentos. 

A Praça São Francisco guarda em si a grande glória de tudo isso. Dos  bracelets, que as freiras fazem iguais na suissa, à queijada de dona Geninha que, quando viva, enrolava-as em papel cor de rosa e verde, aquele velho papel de pão; de Vesta Viana endeusada por Jorge Amado e  Zelia Gati por sua obra - tudo ali é mágico, é poético, é deslumbrante.

Mas o mais divino e ambicioso prêmio da Praça São Francisco, além de sua gente, sua arte e seu significado, é o Museu Histórico de São Cristóvão, localizado ali, na Praça São Francisco, que guarda a mais bela obra "Ceci e Peri",de Horácio Hora, o pintor sergipano que morreu  em Paris, enterrado no Père-Lachaise, onde estão nomes como Honoré de Balzac, Paul Éluard, Oscar Wilde, La Fontaine, Piaf, Chopin, Allan Cardec, Molière, Marcel Proust, Raymond Roussel e foi erroneamente transladado para Laranjeiras, sua terra natal, estando servindo de esterco para cavalos amarrados ao seu monumento. 


Ele que estava  enterrado no mais nobre cemitério da França ao lado também de Victor Hugo. Mas nada disso tira a imagem de Ceci e Peri, imortalizada por Horácio, inspirada na obra de José de Alencar, uma das mais belas  páginas da literatura mundial. Ceci e Peri, por si só, já remete à Praça São Francisco ao título de patrimônio da humanidade. Isso falo porque é impossível não chorar diante da tela. A moça branca deitada no barco, protegida pelo índio, como num filme de Visconti, uma ópera de Villa Lobos. 

Atentamos também para o Museu de Arte e Sacra que guarda as mais belas imagens já vistas no país, depois de Ouro Preto, onde um dia, Clodovil, chorou ao visitar.

Por tudo isso, diante da janela do museu, que dá para o pátio do convento, vendo as folhas verdes dos antúrios entremear o espaço cortando a tarde, cujo sol é lilás e a brisa verde, é que a Praça São Francisco, tão bem cultuada pelo historiador Thiago Fragata, é hoje um portal vivo de lágrimas e riqueza. Riqueza eterna, essa que o tempo não corrói.

Araripe Coutinho Poeta e escritor. Dentre suas poesias estão: O Amor Jaz, Face Morta e De avelãs e Mortes. Autor de vários livros, Coutinho é conhecido no Estado por sua produção cultural e pelo seu programa de entrevistas, quando apresentou novos e antigos talentos da literatura sergipana.


 O FASC (Festival de Arte de São Cristovão), jamais deveria ter sofrido solução de continuidade. Foi, enquanto durou, um dos maiores encontros de arte e cultura do nordeste brasileiro. Participei de 03 festivais na categoria arte musical, cantando ao lado do saudoso Hilton Lopes, e tocando/cantando com o grupo Repente. Torço pelo retorno do Festival, neste momento em que a juventude necessita rever valores, e nada melhor do que a arte, para servir de instrumento neste sentido. Sucesso ao pessoal da comissão pró-FASC. Um abraço! 
Antônio Vieira 

“O que a memória ama, fica eterno”

 O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender.


O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.


É que a memória é contrária ao tempo. Nós temos pressa, mas é preciso aprender que a memória obedece ao próprio compasso e traz de volta o que realmente importou, eternizando momentos.


A frase do título é de Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno”. Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente.


Quando nos damos conta, nossos baús secretos_  porque a memória é dada a segredos _ estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.


Dizem que o tempo cura tudo, mas talvez ele só tire a dor do centro das atenções. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na ferida. Mas aquilo que amamos tem disposição para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando.


Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que nos tocou pode ser facilmente reativado por novos gatilhos _ uma canção cala nossos sentidos; um cheiro nos paralisa lembrando alguém; um sabor nos remete à infância.


(Recorte de um texto também publicado no jornal “A Folha de São Carlos”, edição 13.723, 12 e 13/10/2012, pág 02) de  Fabíola Simões


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