"O Movimento Indígena Pachakutik no Equador pode chegar ao poder.
O resultado espetacular do candidato indígena nas eleições do Equador
devem nos fazer debruçar sobre a história andina e a importância do
indigenismo.
Em geral, todos já ouviram falar de Alexandre o Grande, de Otávio
Augusto ou de Carlos Magno, mas pouca gente sabe quem foi Pachacuti.
O nono e mais importante de todos os incas, que unificou o Tawantinsuyo,
foi Pachacuti (em espanhol) ou Pachakutik (em quíchua), (1408-1471) que
significa o transformador da Terra.
Os Andes possuem um campesinato com identidade étnica e linguística, que
mantém elementos do comunitarismo (mingas) e da propriedade comunal (ayllus)
até hoje.
Sua emergência política tem dois pólos na América, nos países de maio
presença indígena, que são o Equador e a Bolívia.
Em cada um deles, surgiu um partido indígena com o nome de Pachacuti,
mas independentes entre si. No Equador primeiro, o Movimento de Unidade
Plurinacional Pachacutik, em 1995 e, depois, na Bolívia, em 2000, o Movimento
Indígena Pachacuti.
Não vou analisar aqui o caso boliviano. Mas, no caso equatoriano, há
alguns traços destacados.
O primeiro é desse partido ser uma espécie de braço político da Conaie
(Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador).
O segundo traço é de ser um partido de pequena representação parlamentar,
mas de decisiva presença nas lutas sociais. Foi com sua participação que
venceram todas as insurreições do Equador recente.
Curiosamente, ajudaram a eleger cada uma das expressões do populismo que
desafiavam as oligarquias tradicionais de burguesia equatoriana e, em seguida,
decepcionados protestaram até serem derrubados.
Ajudaram a eleger o louco Bukaram, e o derrubaram em 1996.
Foi eleito Mahuad, que estivera nos protestos contra Bukaram, e seis
meses de depois ele dolariza a economia equatoriana e é derrubado nos protestos
que projetam o coronel rebelde Lucio Gutierres, que participa da rebelião, é
preso, mas foi eleito em 2002, para trair todas as suas promessas e ser
derrubado também em fortes protestos.
Com Rafael Correa, um católico conservador que aprendeu quíchua durante
um ano em Zumbahua, o movimento indígena acredita finalmente ter encontrado um
representante dos interesses do povo.
Ele toma posse na cidadezinha de Zumbahua, em 2007, onde leva Chávez,
Lula, Evo e o iraniano Ahmadinejad, para anunciar o "socialismo do século
XXI", que iria respeita o Bem Viver (sumak kausay), aprovado depois como
princípio da constituição aprovada em 2008.
Logo em seguida, no entanto, Correa rompe com suas promessas, com o
presidente da Constiutinte, Alberto Acosta, e com o movimento indígena,
passando a defender a exploração de petróleo na área do Parque Nacional Yasuní.
Ao invés das alternativas como obter créditos de carbono pela manutenção
da área intocada, aceita que multinacionais (inclusive a Petrobrás) passem a
atuar na área.
Isso leva a um longo conflito, no qual surgem diversas lideranças
indígenas. Um deles, Yaku Peres, ligado à defesa dos manaciais de Cuenca contra
a mineração metálica se destaca. Muda seu antigo nome Carlos, para o quíchua
Yaku, que significa "água".
Ele é preso diversas vezes pelo governo de Correa, sua esposa, a
antropológa brasileira Manuela Picq é espancada e deportada, separando o casal
por mais de um ano.
Após o segundo mandato, Correa escolhe seu ex-vice, Lenin Moreno, para
sucedê-lo. Lênin o trai, expulsa Assange da embaixada em Londres, se alia aos
EUA e ao neoliberalismo mais descarado e Correa vai para o exílio.
Ao tentar retirar os subsídios dos combustíveis, em outubro de 2019,
enfrenta uma rebelião popular, encabeçada pela Conaie, que toma a capital,
levando-o a transferir o governo para Guayaquil, região litorânea da oligarquia
bananeira.
Hoje, Yaku Perez, com 20% dos votos, vai ao segundo turno, ameaçando o
Equador racista, capitalista e colonial com o primeiro indígena no poder.
Diferente de Evo, que vinha de uma economia de mineração, Yaku é
anti-mineração, ecossocialista e defensor dos oprimidos.
É anti-imperialista, mas não se alinha com o castro-chavismo nem com a
exaltação de um suposto comunismo chinês que hoje saqueia riquezas naturais no
país de forma predatória.
Se aliou com o maior partido marxista equatoriano, o Movimento de
Unidade Popular.
Seu adversário, Andrés Arauz, um ex-diretor do banco central, jovem
economista correista, está aliado com o partido Centro Democrático, que tinha
ministérios no governo de Correia.
A disputa será entre o já conhecido e fracassado bolivarianismo cor de
rosa, mas autoritário, repressivo e aliado ao modelo extrativista, que se
intitula de esquerda, mas é conservador nos costumes e timidamente reformista
na economia, e uma nova esquerda ecossocialista, feminista, indigenista, ligada
aos movimentos sociais.
Se Yaku não cumprir, a Conaie estará de prontidão, não se trata de um
novo caudilho, como Correa, mas de um líder orgânico de seu povo.
Os indígenas do Equador que são, entre as diversas etnias e os mestiços
mais de 80% da população, cansaram de eleger e derrubar políticos brancos que
falavam em seu nome.
Resolveram eleger um dos seus."
texto de Henrique Carneiro publicado pelo historiador Célio Turino no facebook.
MAS.....
LM
"Em completo desacordo... não por acaso, o autor do artigo acima, é antigo e conhecido trotskista."
VF
"Yaku apoiou todos os golpes mais recentes nas Américas, principalmente o violento levante miliciano contra Evo Morales."
EA
" basta uma pesquisa, foram posicionamentos públicos. Isso, além de defender aproximação com EUA via acordo bi-lateral, se colocando do lado yankee na guerra com a China."
JS
"Alinhamento com EUA via acordos bilaterais, cumprimento da agenda internacional para a América Latina de transforma-la (ou mante-la) em mera fonte de materias primas para o primeiro mundo, por meio de politicas antidesenvolvimento disfarçadas de ambientalistas/indigenistas, defesa da manutenção da dolarização da economia equatoriana... Correa, de todos esse erros, pelo menos so comete o último."
No Twitter
No blog da Editora Elefante
Yaku Pérez e outra esquerda possível
Candidato ecossocialista do Equador: indígena e apoiador dos golpes na América Latina
Yaku Pérez, que possivelmente disputará 2º turno no Equador, comemorou impeachment de Dilma e golpe contra Evo Morales
O primeiro turno da eleição presidencial no Equador, realizado nesse domingo (07), indicou uma possível surpresa para o segundo turno. Embora as pesquisas de intenção de voto apontassem um possível segundo turno entre o candidato correísta Andrés Arauz e o influente empresário de direita Guillermo Lasso, a apuração (ainda em andamento) pode levar o terceiro candidato, o indígena Yaku Pérez, ao segundo turno contra Arauz.
Este possível segundo turno seria marcado, então, pela disputa entre Andrés Arauz, um jovem economista de esquerda, que segue os passos do ex-presidente Rafael Correa e quer trazer de volta sua Revolução Cidadã, e Yaku Pérez, que se apresenta como uma alternativa progressista e ambientalista ao país.
No entanto, diversos setores da esquerda têm considerado que tanto Pérez, quanto seu partido, o Pachakutik, podem atuar como um “cavalo de tróia” para a direita em seus ataques à esquerda e ao progressismo latino-americano.
Leia mais: Quem é quem na disputa pela presidência do Equador?
Em um artigo publicado no portal The Grayzone, o jornalista Benjamin Norton, levanta extensamente alguns pontos contraditórios da trajetória de Pérez. Entre eles, está o tom elogioso das declarações do indígena à perseguição política contra lideranças progressistas na região, incluindo o impeachment contra Dilma Rousseff, no Brasil, o lawfare contra Cristina Kirchner, na Argentina, e o recente golpe de Estado na Bolívia em 2019.
Na análise do jornalista, a visão política de Pérez combina críticas à esquerda dos governos progressistas “com uma agenda política objetivamente de direita”. Já o partido de Yaku Pérez, o Pachaktik, se identifica como "ecossocialista" e afirma representar as comunidades indígenas do Equador. No entanto, seu candidato presidencial parece empregar “uma retórica de esquerda que está repleta de metas regressivas”.
Abaixo, apresentamos alguns dos temas em que as declarações de Pérez parecem ir na contramão de um caminho progressista, sobretudo no que diz respeito à política externa e integração latino-americana.
Artigo | Eleições no Equador: entre a esquerda e o projeto neoliberal
Declaração polêmica sobre auxílio a famílias pobres equatorianas: “gastariam tudo em cerveja”.
Ao comentar a proposta de criação de um auxílio às famílias mais pobres do país, apresentada por Arauz como forma de aliviar a atual crise econômica, social e sanitária e dinamizar a economia, Pérez atacou o argumento de seu concorrente dizendo que as famílias pobres “gastariam todo o dinheiro em cerveja no mesmo dia”.
Apoio do direitista Lasso
O principal candidato da direita nas eleições de 2021, o milionário banqueiro Lasso, não se sentiu ameaçado pela retórica "ecossocialista" de Pérez e seu partido Pachakutik. Segundo o artigo do The Grayzone, “ele parece estar bem ciente de que o rótulo é apenas um estratagema de marketing”, pois declarou publicamente que, se Pérez de alguma forma chegasse ao segundo turno, o apoiaria de bom grado para derrotar o correísmo.
No entanto, o apoio do banqueiro não representa necessariamente uma surpresa já que, em 2017, antes de mudar o seu nome de Carlos para Yaku, o próprio Pérez apoiou a candidatura de Lasso.
Ambientalismo x desenvolvimentismo
Yaku Pérez Guartambel diz querer que os equatorianos usem menos carros e plantem mais árvores. Ele propõe o fim da mineração no país e uma restrição à extração de petróleo. O candidato do Pachakutik critica o movimento correísta por sua dependência do extrativismo.
O analista Ben Norton ressalta que o Equador é um antigo país colonizado e em desenvolvimento e, portanto, relativamente pobre em comparação com as nações imperialistas do Norte Global. Mas tem uma vantagem: grandes reservas de petróleo e minerais.
Segundo ele, estes recursos foram fundamentais para os programas políticos e econômicos impulsionados por Correa e retomado agora por seus seguidores, defendendo seu uso para o desenvolvimento do país, financiamento de programas sociais e investimento de bilhões de dólares no acesso universal à saúde, educação de alta qualidade e infraestrutura avançada.
Apoio "de esquerda" ao golpe na Bolívia e fratura do movimento indígena no país
Na análise do jornalista responsável pelo levantamento, a suposta aparência progressista do programa político de Pérez termina em suas políticas ambientais. Quando se trata de política externa, “ele tem se mostrado profundamente de direita”.
Norton expõe que enquanto Pérez usa sua herança indígena para reivindicar representar as comunidades indígenas do Equador, muitos de seus integrantes estão contra o candidato e seu partido.
Esta divergência teria aumentado após as declarações de Pérez em apoio ao golpe de Estado na Bolívia em novembro de 2019.
Em outubro de 2020, o Movimento ao Socialismo (MAS) venceu as eleições. Vários líderes indígenas equatorianos foram convidados para a posse do Presidente Luis Arce, mas Pérez não foi um deles. E o motivo para isto está nas suas críticas ao ex-presidente Evo Morales.
Mesmo antes da violenta operação de mudança de regime, Pérez acusava a Morales, na Bolívia, e Correa, no Equador, de "autoritarismo, machismo, extrativismo e populismo" e se recusou terminantemente a reconhecer a legitimidade do governo de Evo.
Após declarar-se a favor do golpe de Estado encabeçado por Jeanine Áñez, segundo o artigo, Pérez “permaneceu em silêncio sobre a Bolívia, não dizendo uma palavra sobre a junta, liderada por extremistas cristãos racistas que massacraram os manifestantes indígenas”.
Apoio a outros golpes na América Latina
O golpe na Bolívia não é a única campanha de mudança de regime na região que o candidato presidencial equatoriano apoiou.
Em novembro de 2016, Pérez elogiou impeachment contra Dilma Roussef e o fim do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil, ao mesmo tempo em que se colocou do lado da campanha de direita que atacava a então presidenta progressista da Argentina, Cristina Kirchner.
Sua crítica, nessa ocasião, se estendeu ainda ao então governo do Equador, de Rafael Correa, e Nicolás Maduro, na Venezuela: "A corrupção derrubou o governo de Dilma Rousseff e Cristina", disse Yaku Pérez. "Agora só falta que Correa e Maduro caiam". É apenas uma questão de tempo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário