segunda-feira, 26 de junho de 2023

Festa de São João e o vale tudo do neoliberalismo. Treta Prioli X Astrid e mais além......

 

publicado na página face do jornal do commércio (PE)

https://www.youtube.com/watch?v=LLILvhFnVc8

A apresentadora Gabriela Prioli se envolveu em mais uma polêmica nas redes sociais. Tudo começou com uma reclamação da também apresentadora Astrid Fontenelle sobre axé nas festas de São João e acabou em tal de “marco temporal da festa junina”.




Viva Astrid, Viva São João e a Cultura Brasileira! Gabriela Prioli e o mercado que se danem
A discussão entre as duas sobre o São João aculturado resgatou uma necessidade tão urgente quanto ignorada: a preservação de nossas tradições

Festa de São João.
Créditos: Pixabay/eduardops93
Por Julinho Bittencourt
Escrito en OPINIÃO el 26/6/2023 · 13:19 hs
Uma discussão da advogada Gabriela Prioli com a apresentadora Astrid Fontenelle na semana passada foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter. Entre mortos e feridos, a conversa sobre as festas juninas no Brasil terminou com a internet curiosamente desabando em críticas sobre Prioli, por sua defesa do mercado e da “modernização” dos eventos, provocando a sua aculturação.

A advogada foi pra cima da apresentadora, que se dizia indignada e frustrada com as festas modernas, onde não se ouve mais forró nem se come amendoim cozido. Prioli retrucou com uma justificativa lapidar do pensamento neoliberal: “tanto a iniciativa privada quanto a iniciativa pública, quando vão fazer um investimento em uma festa, estão pensando em retorno”.

A frase traz de saída dois problemas sérios. O maior deles é que a iniciativa pública, lê-se o Estado, não pensa ou não deveria pensar, em retorno, ao menos financeiro. O papel do poder público é justamente o contrário, ou seja, o de fomentar a cultura, a identidade de seu povo, tentar manter financeiramente manifestações que a inciativa privada, por uma série de distorções, abandonou.

E o outro problema da frase de Prioli é justamente este. Não é de hoje que empresas modernas começam a rever conceitos devastadores de que o dinheiro pode tudo, sobretudo dilacerar e adulterar a produção cultural do país em que estão instaladas, normalmente de passagem.

O apelo de Astrid é tão simples quanto óbvio. O que restará das nossas festas populares após a invasão da cultura de massa? Um artista como Gusttavo Lima, sem entrar em nenhum juízo de valor, domina o mercado de shows durante o ano todo. Vários outros, mais ligados à tradição, cantores de forró, baião e outros gêneros que sempre compuseram a festa, estão praticamente relegados a ela e devem sucumbir porque o mercado assim o quer?

E, o que é pior ainda, o Brasil, um país de cultura tão rica e diversa, fica condenado a ouvir e dançar a obra de Gusttavo Lima de janeiro a janeiro? Ele e seus pares irão desfilar no Sambódromo também porque é mais vendável do que o samba? Sertanejos e sofrentes vão tomar de assalto o Boi de Parintins? O Galo da Madrugada no Recife e o circuito Barra-Ondina dos trios elétricos de Salvador?

É esse o inferno que nos resta, segundo o raciocínio de Gabriela Prioli e quem mais acreditar nele? A hegemonia cultural total de ponta a ponta? Vamos, enfim, deixar de ser o Brasil diverso e múltiplo, deixar de ter a música nativista do Rio Grande, a canção caipira de Pena Branca & Xavantinho e Renato Teixeira, a pantaneira de Almir Sater, o rock paulistano dos Titãs e Rita Lee, os experimentos de Arrigo Barnabé, a maravilhosa canção mineira de Milton Nascimento e o Clube da Esquina, a Bossa Nova, nossa maior expressão cultural em todo o planeta, só porque o mercado assim o quer? Por que ele investe e precisa de retorno?

Tomara que a Gabriela Prioli, com a tamanha bobagem que falou, consiga despertar o amor próprio do brasileiro por sua herança cultural, suas tradições mais ricas e soberanas. Que ela, com as suas besteiras e arrogâncias, tenha mexido no calo e consiga nos devolver com força e indignação o amor próprio e o sentido da nossa existência.

ANNÁ - Daqui (Pesada)

https://www.youtube.com/watch?v=q_BI7t3CEdo


Mamãe, agora eu quero ser prefeito

Garanto que vou me candidatar

Do jeito que já sei mentir bastante

Acho que de hoje em diante minha vida vai mudar


Pra quem me apoiar eu dou abraço

Se fala mal de mim eu dou dinheiro e ele muda

E vai ficar tudo do mesmo jeito

Se eu ganhar para prefeito

É o mesmo Deus nos acuda


(e vai ficar tudo do mesmo jeito)

(se eu ganhar para prefeito)

(é o mesmo Deus nos acuda)


É a cidade esburacada (ai ai ai)

E o povo vivendo mal (ui ui ui)

Mas quando a coisa ficar preta

Eu invento uma micareta

E faço aquele carnaval


Trago um conjunto da bahia (ai ai ai)

Pago mais do que ele merece (ui ui ui)

Se pagar 100 digo é 500

Desviando os 400 meu saldo bancário cresce


Ai o povo esquece tudo (ai ai ai)

E no embalo desse som (ui ui ui)

A cidade fica feliz

E ainda tem gente que diz:

eita, que prefeito bom!


(a cidade fica feliz)

(e ainda tem gente que diz:)

(eita, que prefeito bom!)

A pergunta e o gráfico abaixo chega na esteira do debate que estamos realizando há vários dias neste blog.

O que esse dado nos diz sobre o consumo musical da população negra do país?


https://www.youtube.com/watch?v=D7a613szFFY


Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa

Estão matando a tradição no São João do Nordeste
É essencial discutir seriamente se devemos assistir em silêncio a essa invasão e destruição de um patrimônio nacional

A tradição das festas de São João no Nordeste está enfrentando um desafio significativo este ano, com a invasão de ritmos diferentes durante os festejos juninos. A reclamação inicial veio do cantor Flávio José, no dia 02 de junho, e desde então a discussão tem ganhado destaque na imprensa. Essa mudança tem levantado questionamentos sobre a preservação da cultura regional e o impacto negativo que ela pode causar nas festividades. 

Segundo informações da imprensa local, os produtores do evento solicitaram a Flávio José que diminuísse o tempo de sua apresentação para privilegiar o show de Gusttavo Lima, um renomado cantor sertanejo do Villa Mix. Durante sua própria apresentação, Flávio José expressou sua insatisfação, afirmando que nunca havia recebido um pedido para reduzir sua performance, especialmente em 30 minutos, como ocorreu nesse caso. 

Vídeos que circulam na internet mostram o esvaziamento do show de Gusttavo Lima na cidade de Caruaru, em 22 de junho. Com um cachê de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), o valor pago a esse artista supera o de qualquer outro renomado no cenário do Forró. Esses altos cachês pagos a artistas que não fazem parte da tradição forrozeira têm sido contestados pela população. Em muitas das cidades que recebem esses shows, a infraestrutura é precária, com sistemas educacionais deficientes e dificuldades até mesmo no recolhimento do lixo, contrastam os montantes astronômicos pagos para atrair essas "grandes atrações". 

Nos últimos anos, as festas de São João têm sido marcadas pela interferência de ritmos antes desconhecidos para o período, resultando da saída do forró autêntico e a entrada do chamado "forró de plastificado". Atualmente, o cantor Wesley Safadão é um dos principais representantes desse novo estilo. Embora a mudança de estilo e som agrade às massas, ela acaba descaracterizando a cultura regional, prejudicando a identidade das festividades juninas. 

Além da substituição de gêneros musicais tradicionais, prefeitos nordestinos estão buscando atrair artistas com grande apelo popular, mesmo que suas músicas não tenham qualquer relação com o período junino. Artistas de Axé Music, Arrocha, Pop Rock e Pagode têm ajustado seus repertórios e invadido a maior festa popular do Brasil, sem que medidas sejam tomadas para preservar a tradição do forró. 

É possível que continuemos a testemunhar reclamações por parte de forrozeiros nos próximos anos, diante dessa invasão de outros ritmos. Prefeitos ainda contratarão artistas sem nenhuma relação com o forró, a fim de atrair grandes multidões às praças públicas, com pessoas em busca de uma satisfação momentânea. No entanto, é essencial discutir seriamente se devemos assistir em silêncio a essa invasão e destruição de um patrimônio nacional, como as festas de São João no Nordeste. Certamente, o velho Luiz Gonzaga, grande ícone do forró, não ficaria nada satisfeito ao ver o que estão fazendo com essa tradição regional. 

Destacar a preocupação com a preservação da tradição do forró nas festas de São João do Nordeste não é uma defesa de mercado, é mais para enfatizar a descaracterização cultural causada pela invasão de outros gêneros musicais. Além disso, ressaltar o impacto financeiro e social dessa mudança, é para questionar mesmo o uso de altos cachês para atrações que não fazem parte da identidade junina. É fundamental refletirmos sobre as consequências a longo prazo e buscarmos soluções que preservem o patrimônio cultural e musical da região nordestina. 

LEIA TAMBÉM OUTRO EXCELENTE TEXTO NO PORTAL UOL

Astrid, Prioli e o São João: por que é erro congelar a cultura no formol


Nenhum comentário: