quinta-feira, 29 de junho de 2023

São João do nordeste e "pais do forró" . E agora? Por Romero Venâncio, Antônio da Cruz e Zezito de Oliveira.

 


TEM ALGO SE PERDENDO NAS FESTAS JUNINAS DO NORDESTE

Romero Venâncio (UFS)

Vim do interior e tenho uma relação íntima com as festas juninas. Há quem perdeu esse tipo de relação, quem se urbanizou ao ponto de não mais se sentir como do interior. Ao contrário, sempre me identifico como "vim do interior". Mas não faço disto um "dogma".

Tem outro ritmo a vida no interior; tem uma lógica muito diferente da capital. A capital é urgente, hiperbólica e com clima bipolar... Cosmopolita. 

Enquanto, no interior, o contexto é muito demarcado pelo ciclo de festas - o Natal, o Carnaval e, claro, as festas juninas. Essas últimas, particularmente, são as melhores para mim. Pois bem, significa que em mim há várias expectativas quanto ao que se ouve, ao que se come, ao que se vê, ao que se investe, etc. Eu vim de onde saía de longe para uma palhoça em um sítio há quilômetros de casa. A gente viajava de kombi pra chegar lá. Não era pouco pé-de-serra. Basicamente, a festa terminava ao raiar do dia. Era na casa de farinha onde mesmo o trio fazia todos dançarem até a poeira subir. 

E as comidas de milho eram uma atração à parte. Nunca vi canjica gourmet e nem pouca comida. Tinha quentão, bolo, canjica, pamonha. Cada um poderia levar um pouco e a mesa nunca estava vazia. É um fenômeno que ocorre quando as famílias pobres se encontram: o medo de faltar comida numa festa. Desse jeito, até sobrava e se dividia ao final. 

Não precisava de muita coisa não, uma palhoça numa casa de farinha, bebida, comida e um trio eram suficientes para alegrar as almas. 

Foi aí que aprendi as músicas da terra (algumas machistas, claro), mas a maioria tinha amor, xamego  e os contextos da vida rural. 

Era uma poeira danada, pois os chinelos em contato com a terra batida faziam sumir uma camada de pó na superfície. A luz incandescente trazia aconchego à vida dançando. Essa é minha referência de alegria. Isso pra mim é genuinamente junino. 

Não poderia faltar o Gonzaga na "playlist". Ninguém estava "louco" de não tocar Gonzaga e Jackson do Pandeiro? Tudo era motivo para formar uma quadrilha. Éramos felizes e sabíamos. Mas, também sou de uma geração que viu a vida festiva do interior se tornar mais complexa com a invasão do forró estilizado, com a elitização e com a "gourmetização"  das festas juninas. 

Na medida em que as festas foram tomadas por camarotes privados, mega estruturas e por músicas que se diferenciam (e muito!) daquele trio forrozeiro, a estética das festas juninas do interior mudou e, ao mesmo tempo, se tornou um negócio muito rentável para o empresariado.  Poucas pessoas preocupam-se com isso, na verdade. Todos vão em busca de consumir o produto "festas juninas", onde aquele pé -de-serra do passado tornou-se uma caricatura, sabe? 

Então, numa esquina ou noutra, a gente pode encontrar aquele trio, mas o som se dissolve em meio ao pancadão que toca no palco principal. Muita coisa perdeu-se nas festas juninas do interior e quanto mais pornofônica for a música, mais ela ganha projeção. 

 Nós sabemos que a tendência é essa: a tomada das festas pelo capital, sua urbanização e a venda da mercadoria "festas juninas". As festas juninas são um lugar de disputa entre a mercantilização e o popular. Eu estou no lugar do último, mesmo sabendo que tem algo se perdendo no São João e para sempre.

Isto foi um depoimento pedido por um jornal do Sul. A forma deveria ser em tom pessoal

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Acendendo a fogueira da discussão

28 de Jun de 2023, 19h14

Antônio da Cruz

Afinal, o espetacular das quadrilhas virou espetaculoso? (Tela de Joel Dantas)

A cultura é viva e constantemente se bate na paradoxal situação da modernização e da manutenção das tradições, o refinamento e a deturpação grosseira.

Ninguém fica indiferente às mudanças de toda ordem nos diversos campos de atividade humana. Quando o assunto, porém, são as novidades que surgem canibalizando as tradições culturais, aí é preocupante.

Para quem viveu e vive imerso, que assimila os valores da cultura popular e tem visão analítica, assume posição crítica, pois a sensação de orfandade se inicia antes do desaparecimento por completo da manifestação engolida por tais novidades.

Em um país de tamanha pluralidade cultural como o Brasil, quando acontece tal fato é difícil passar ao largo da discussão. Assim como é difícil aceitar a ideia de que pasteurizar, uniformizar, fundir e até forçar a supressão de manifestações culturais das regiões é sinônimo de evolução cultural.

Alguém da faixa de idade dos 60 anos poderá dizer: “É, pelo jeito, nós estamos ficando velhos, companheiro. O novo sempre vem, e temos de aceitar as modificações inexoravelmente”.

As experiências apontam que aquilo que não despareceu foi porque houve quem persistisse como resistência proposital. No Nordeste temos como exemplo a literatura de cordel que, de uma situação de quase extinção, emergiu com tamanha força que hoje é impensável a sua ausência no universo cultural brasileiro.

Já o caso das mudanças nas quadrilhas juninas, que em todos os anos os concursos trazem à baila as discussões acaloradas sobre a validade das suas mudanças, é uma questão que envolve muita gente.

A quadrilha nasceu inglesa por volta do século XIII. Os franceses a adotaram e espalharam pela Europa durante o século XVIII e os portugueses as trouxeram para o Brasil.

Na nossa juventude eram marcadas em francês, mas aqui nós nordestinos, que também as adotamos, resolvemos além de aportuguesar a marcação, também emprestar o nosso sotaque e as nossas feições.

De dança airosa dos salões aristocráticos, a quadrilha veio a se converter em dança comunitária praticada em um período de festa religiosa popular, que é o São João, celebrando a fartura do milho. Esta migração e aspectos foram operadas graças ao sentimento de coletividade nas comunidades, nos bairros e cidades do interior.

Ao que tudo indica, é neste ponto em que a quadrilha junina se configura prática cultural peculiar da região, com seus elementos bem nordestinos, a exemplo da indumentária, coreografia e ritmos. Pode-se apontar como marco temporal para essa conformação a década de 1980 do século XX.

As mudanças ora vistas fazem parte do mesmo fluxo e da sua existência. Difícil é aceitar tais mudanças, porque elas são impactantes. Pode-se imaginar o que foi a aristocracia ter de aceitar que algo tão sublime para a classe de repente fosse apoderada pelo “populacho ignaro”.

Enquanto manifestação espontânea com formação das rodas para dançar com marcação improvisada nas festas juninas, isto seja no terreiro de uma casa, qualquer pátio ou arraial, a quadrilha continua mantendo suas características tipicamente nordestinas assumidas e incorporadas.

A questão se torna polêmica nos regulamentos dos concursos.  Neles se encontra a possibilidade de fazer avançar ou frear as mudanças da quadrilha. Existem critérios nos regulamentos que estimulam a inovação, a tradição e a originalidade. A depender também do júri, o que for mais inovador pode ganhar do tradicional.

Observadores imersos nesse universo, como Irineu Fontes, afirmam que, aos invés de cuidar dos ritmos e da coreografias, as quadrilhas introduziram e priorizaram a dramatização. Esta novidade se deve, em grande monta, aos concursos realizados por redes de emissoras de televisão. 

As preocupações aumentam quando a dramatização se excede e concorre em demasia com a coreografia. Quando tratando de temas sensíveis, como raciais, de gênero, algumas cenas que, por exemplo, deveriam ser de celebração, invertem seus efeitos e produzem constrangimento e repulsa que até nota de protesto tem provocado.

Para Joel Dantas, artista que tem como motivo frequente das suas telas os festejos juninos, “as quadrilhas há muito já se transformaram em escolas de samba”. Ele diz que vivemos um carnaval no São João. “Os integrantes ficam com aquele sorriso baço de um falso glamour”.

No bojo das mudanças dos festejos juninos, as músicas também têm mudado. Os ritmos tradicionais do Nordeste como xaxado, xote e baião têm resistido ao axé, ao funk e ao “sertanejo” em desigualdade, porque os artistas nordestinos não têm o dinheiro do agronegócio como têm os cantores “sertanejos”.

Por força do famigerado jabá - dinheiro pago pelos produtores para que as emissoras de rádio toquem as músicas de determinado cantor e até deixem de tocar a de muitos outros -, a população é forçada a ouvir durante todo o ano nas rádios esses estilos musicais.

O sucesso do “sertanejo” não se dá tão somente por vontade espontânea dos ouvintes, mas principalmente porque eles são induzidos a gostar, dada à massificação por força do dinheiro derramado sobre as emissoras comerciais.

Nem no São João os gestores dos municípios dão uma oportunidade para os ouvidos dos seus eleitores descansarem e contratam os nomes mais expressivos do arrocha e do “sertanejo de asfalto” por preços estratosféricos no lugar dos artistas locais.

É recorrente afirmar que fazer arte e cultura é ato de resistência. Não precisamos formar guetos para a cultura. Que todos tenham trânsito por todo o território nacional, mas é bom que, em festas e manifestações decisivas para mantermos a pluralidade cultural do país, os convidados sejam convidados, mas os donos da casa continuem sendo os donos da casa e nela mandando.

Da mesma forma, é preciso avaliar até que ponto, no afã de evolução, a novidade que incorporamos nos torna uma caricatura do que não queremos ser.


 Viva São Pedro!

Que saibamos aproveitar cada noite de forró com tranquilidade, paz e muita alegria! Que seja uma verdadeira festa da família, onde todos possam ir para se divertir de verdade, sem problemas, sem brigas, sem confusões.

A partir de amanhã começa nosso Forró Siri e eu peço que São Pedro olhe por nós e, junto a Jesus, nos conceda uma excelente festa!

São Pedro, rogai por nós!

¨Colabore com São Pedro também prefeito. Olhe o que está sendo dito a respeito da programação dos grandes "arraiais" de Sergipe e do nordeste.. As leis de fomento, Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, podem nos ajudar."
Zezito de Oliveira na página do prefeito padre Inaldo no facebook. Quem chega lá para reforçar este tok? 


O Gonzagão em noites de gala

Quadrilha Junina Asa Branca
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
22/7/2009 
Brincantes e mestres da cultura popular tratados como super stars. Tudo conforme manda o figurino, com cobertura da televisão, inclusive com flashes ao vivo, instalação de telões, chegada antecipada do público e com presença massiva, torcidas organizadas, serviço gratuito de alimentação e assistência médica preventiva.

Se você pensou nos bois do Festival de Parintins ou nas escolas de samba do Rio de Janeiro, nos maracatus de Olinda e Recife ou nos afoxés de Salvador, errou! No texto abaixo, você ficará sabendo que isto começa a se consolidar em Sergipe.

Trata-se do IV Concurso de Quadrilhas Juninas Levanta a Poeira, realizado no Gonzagão, nas noites dos dias 29 e 30 de maio, organizado pela TV Sergipe, afiliada local da Rede Globo. A parceria foi realizada com a Federação das Quadrilhas Juninas de Sergipe e contou com o apoio do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura.

O público presente era só alegria! E da parte daqueles que freqüentam o Gonzagão regularmente, então! Situação semelhante a esta também percebida em alguns momentos, como nos festejos juninos, III Noite Cultural e 3º Mostra Arte e Cidadania, no ano de 2007, no Festival de Talentos do Programa Abrindo Espaços, e na Mostra Regional do Teatro do Oprimido, realizados no ano de 2008.

Diversas razões concorreram para o alto grau de satisfação das cerca de quatro mil pessoas (estimativa) — recorde de público na atual gestão, iniciada em maio de 2007. Dentre elas, destacamos: a colocação de telões para possibilitar aqueles que não conseguiram chegar a tempo de ocupar as arquibancadas e os degraus que circundam a área da pista de dança assistir às apresentações; a atitude de reverência ao velho Lua, por parte do cantor e compositor sergipano Rogério, na reportagem especial apresentada no telejornal local; demonstração do carinho pelo espaço que recebe o nome do mestre através das palavras de todos os repórteres e, finalmente, o destaque nas reportagens para o trabalho cotidiano das quadrilhas, cujas potencialidades em termos de ajuda ao desenvolvimento humano, social e econômico das comunidades precisa ser melhor dimensionado e incentivado.

Dentre as quadrilhas escolhidas através de sorteio para participar do concurso, encontram-se duas que representam a comunidade onde o Gonzagão está situado (conjunto Augusto Franco) cujos ensaios são realizados neste espaço cultural, a Quadrilha Junina Luiz Gonzaga e a Quadrilha Asa Branca, cujo nome também faz referência a música mais conhecida do Velho Lua.

No caso desta última, o crescimento tem se dado a olhos vistos, a partir da liderança firme e terna de Dona Genilda, que desde 2007 acolheu de braços e coração abertos a presença do coreógrafo, aderecista, músico e bailarino Rogério Valença, como também a proposta de capacitação de agentes culturais através da bandeira Consórcio Cultural.

Neste ano de 2008 a Quadrilha Asa Branca surpreendeu a todos os presentes no concurso Levanta a Poeira no Gonzagão com um tema em sintonia com a realização do ano da França no Brasil, apresentando a trajetória da quadrilha junina, desde os palácios das cortes européias até as festas no interior do Brasil, onde essa tradição, após ter sido abandonada pela nobreza, foi adotada e ressignificada, assegurando a sua permanência até os dias atuais.

O impacto que a abertura causou com um cenário de fundo composto pela fachada de um palácio real e local de onde adentrava a pista de dança, os componentes da quadrilha Asa Branca, vestidos nos moldes do estilo Luis XVI, dançando uma canção clássica, deram o tom do que viria a seguir. E o mais importante: em nenhum momento o público ficou entediado. A mudança de figurino (do padrão europeu do século XVIII ao caipira chic), os passos coreográficos, a seleção musical e a qualidade dos músicos, a narração de alguns fatos históricos relacionados a esta influência da França (que deixou as suas marcas na cultura do ciclo junino), além da salva de fogos em alguns momentos, tudo isso manteve a atenção do público em todos os momentos da apresentação.

Assistir novamente a esta apresentação, como a de outras quadrilhas juninas que participaram do Levanta Poeira (ou mesmo as que não foram selecionadas para estar presentes nos dias 29 e 30 de maio), era a expectativa aguardada pelo público que, novamente, voltou a lotar o Gonzagão no período compreendido entre os dias 19 de junho e 4 de julho.

Esta programação denominada Festejos Juninos – Gonzagão 2009, é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura/Governo de Sergipe, e ofereceu uma opção para muitas pessoas que não puderam ou não quiseram ir para o Forrocaju, local de concentração dos principais artistas e bandas de forró, que arrastam milhares de pessoas por noite(estima-se que, em algumas noites, chegue a quase 100 mil pessoas).

Com isso, fica comprovado que os festejos juninos são a festa do sergipano por excelência, já que basta uma quadrilha junina, nem que seja improvisada, um espaço decorado com bandeirolas, palhas de coqueiro, fogueira, uma mesa farta com delícias a base do milho e um trio pé de serra ao vivo (ou por meio eletrônico) para juntar um bocado de gente para festejar, dançar, brincar... mesmo que isso aconteça simultaneamente em diversos locais.

Está aí uma idéia que circula na cabeça de muitos aracajuanos: descentralizar os festejos juninos da capital, nos moldes do que acontece com o carnaval do Recife, o qual além de instalar a mega estrutura que concentra milhares de pessoas na área central, realiza extensa programação em diferentes locais, incluindo a periferia da cidade.

P.S.: O Gonzagão sediou na noite do dia 08 de junho, uma das eliminatórias do Concurso de Quadrilhas da TV Atalaia, afiliada local da Rede Record. Em plena segunda-feira, cerca de duas mil pessoas, prestigiaram o evento, que trouxe cinco quadrilhas juninas, filiadas a Liga de Quadrilhas Juninas do Estado de Sergipe.

Além da Asa Branca, outra quadrilha que atrai uma grande quantidade de público é a quadrilha Unidos em Asa Branca, campeã do Concurso Levanta Poeira deste ano e que também trouxe para Sergipe o titulo de quadrilha campeã do concurso da Rede Globo Nordeste (edição 2009), realizado na cidade de Fortaleza (CE).

Já a quadrilha Asa Branca, estará se apresentando no encerramento do Ano da França no Brasil, a se realizar em Brasília, no mês de setembro.

A trajetória destas duas quadrilhas juninas e a da Luiz Gonzaga, será focalizada em outro texto que será postado no próximo mês, aqui no Overmundo.

Uma questão importante é o distanciamento das quadrilhas juninas dos padrões caipiras tradicionais (para insatisfação dos folcloristas) e a incorporação de inovações ao escolher temas, criar cenários, passos coreográficos mais complexos e utilizar tecidos mais sofisticados nos figurinos (para deleite do público).

Particularmente, defendo a existência de espaço para os dois modelos. O estilo tradicional poderia ser reforçado junto às quadrilhas juninas mirins e/ou através de uma (várias) quadrilha (s) junina (s) subvencionada pelo estado e/ou pelo (s) município (s) para se apresentar em momentos especiais, podendo estar vinculada a um grupo de danças populares tradicionais.

Já de outro lado, considero urgente a necessidade de enfrentamento do problema da sustentabilidade econômica. Em conversas com algumas lideranças, temos tratado desse assunto e temos recomendado o seguinte:

a) Capacitação em gestão e produção cultural para aqueles líderes que assumem papéis de coordenação administrativa e/ou de produção, assim como para aqueles que tem potencial para assumir este papel. Com isso, pretende-se diversificar as fontes de patrocínio que, na maior parte das vezes, depende da subordinação do grupo cultural às estratégias de campanha eleitoral de candidatos a cargos eletivos. Embora, em muitos casos, mesmo com esta capacitação a situação venha a ser mantida, pelo menos mostrará outras perspectivas para a captação de recursos que não a dependência a este modelo tradicional e que já começa incomodar a alguns quadrilheiros.

b) Elaboração de projetos para que o(s) tema(s) seja(m) explorado como conteúdo para realizar um trabalho educativo junto aos adolescentes e jovens que compõem as quadrilhas juninas, considerado o fato que os temas em geral tratam de aspectos históricos, culturais e sociais e podem dar um bom “caldo” pedagógico, se devidamente tratados por pessoas que saibam fazer uso de metodologias dinâmicas e interativas.

c) Elaboração de projetos para a capacitação de jovens e adultos nas áreas da música, dança, figurino e adereços, corte e costura, maquiagem etc. Com isso, será rompido o círculo de dependência com relação a alguns profissionais que, em função da relação procura/oferta, cobram caro para realizar estes serviços.

Mas tudo isso depende de uma ação articulada das Secretarias de Cultura, ou órgão similares dos estados e municípios com as instituições do sistema S, universidades, ONGs, entidades que representam as quadrilhas juninas e Ministério da Cultura.

As ações desses agentes públicos podem ser iniciadas pelo mapeamento das quadrilhas juninas existentes em todos os municípios, elaboração de um programa de capacitação de agentes culturais específicos e a organização de editais para o financiamento de projetos das quadrilhas juninas, condicionados à necessidade de investimento em atividades pedagógicas, em parceria com educadores e/ou escolas públicas e/ou de capacitação nas áreas artística e técnica.

Sobre o potencial econômico das quadrilhas juninas, afirmei em um artigo, aqui no overmundo:
"Aqui em Sergipe, um jornal local publicou em junho de 2004 alguns dados interessantes referentes à quantidade de empregos que são gerados pelos 64 grupos que integram a Liga das Quadrilhas Juninas do Estado de Sergipe. Segundo a reportagem, de março até a primeira semana de julho, são gerados quase mil empregos para músicos, cantores, costureiras, maquiadoras, estilistas e muitos outros profissionais."

Já em relação a questão Tradição X Inovação, também em outro texto, aqui no overmundo, teci as seguintes considerações:
"Aqui em Sergipe ocorre, todos os anos, uma discussão acadêmica envolvendo a mudança de perspectiva das quadrilhas juninas que aos poucos vão perdendo a simplicidade e a ludicidade dos passos tradicionais para dar lugar a outros mais complexos e que se caracterizam pela inovação e pelo hibridismo. Com isso, a maioria das quadrilhas acaba se transformando em grupos populares de dança ou em balés populares. Da nossa parte, entendo que é um movimento que não tem volta, em função daquilo que alguns intelectuais chamam de “sociedade do espetáculo”, que é uma marca da cultura atual. Entretanto, como considero que a quadrilha tradicional tem o seu lugar, a sua razão para continuar a existir, penso que é incorporando ao movimento das danças circulares sagradas que isso estará garantido.
Já experimentamos os efeitos de integração, socialização, quebra do gelo, “distensionamento”, satisfação e etc. que os movimentos coreográficos da quadrilha tradicional podem nos proporcionar. Em alguns eventos realizados recentemente no Complexo Cultural “O Gonzagão”, como na celebração de 1 ano da atual gestão, na festa junina de confraternização dos funcionários da Secretaria da Cultura e também após a apresentação espetacular de algumas quadrilhas juninas durante o forró mensal, que é realizado naquele local, os presentes foram convidados para adentrar o salão principal e através dos passos da quadrilha tradicional celebrar a alegria de estarem juntos."

VAMOS DANÇAR QUADRILHA !

Zezito de Oliveira

"Não me convidem para certas festas pobres". Essa frase, baseado no primeiro verso da música Brasil do Cazuza, foi citada por mim em um dos momentos em que estive realizando o trabalho de divulgação da oficina de quadrilha junina em uma emissora de rádio em Aracaju.

Este tipo de “pobreza” a que me referi, não diz respeito as condições econômicas, porque em alguns casos, alguma festas juninas “pobres” até dispõem de uma boa estrutura material, fartura de comes e bebes e grandes atrações artísticas.

A questão fundamental a que me refiro é que a alegria e o calor humano espontâneo, sem depender do álcool e de outras substâncias químicas, e a criatividade em especial, são fatores imprescindíveis para o enriquecimento estético, afetivo e ético de nossas existências.

Por exemplo, se fizermos um exercício de memória dificilmente nos lembraremos de uma festa junina da atualidade em que o cenário e adereços não sejam baseados no mesmo padrão de outras, como as bandeirolas de plásticos e réplicas de balões de cartolina, algumas comidas típicas misturadas com cachorro quente, churrasco e sanduíche, refrigerante e cerveja, a bebida que ocupa o lugar do velho e bom licor e do quentão e outras padronizações ou descaracterizações mais.

Por isso, a relevância da oficina de quadrilha junina realizada sob a chancela da ong Ação Cultural, no dia 17 de abril, na comunidade bom pastor, em Aracaju. Ué! Oficina de quadrilha junina foi esta a indagação de um dos radialistas, e então respondi: Com o processo de urbanização acelerada ocorrido no Brasil nos últimos anos e com a falta de percepção dos cursos de formação de professores, de psicólogos, serviço social e áreas afins, com relação ao potencial educativo, estético, lúdico e terapêutico da nossa cultura popular, faz-se necessário um trabalho como este.

E a avaliação dos participantes ao final da oficina, confirmou o que dissemos acima. A maioria dos presentes, estudantes e profissionais das áreas da educação, psicologia, terapias holisticas e comunicação revelaram ter tido contato com a quadrilha tradicional, somente em escolas, nos tempos da infância e pré-adolescência.

Também demonstraram muito contentamento em poder se reportar a este tempo, através do movimento corporal e da música, como por terem se conectado aos antepassados através dessa experiência lúdica e social muito presente nas vidas deles, por ocasião das festas de junho.

Outros três depoimentos que deixou a coordenação da oficina bastante satisfeitos, foi de uma participante que disse ter se inscrito na oficina para sentir alguns momentos de alegria, e isso ficou confirmado pelo brilho nos olhos dela ao final do dia.

Já outra participante, “quadrilheira dos nossos tempos” e integrante dos quadros da quadrilha Asa Branca, disse que há muito tempo não dançava quadrilha no estilo das antigas e se sentiu muito feliz em fazer esta viagem ao passado.

O outro depoimento refere-se a uma pessoa que tinha ficado chateado por ter um curso, cuja data marcada, foi a semana de São João, “nem precisa dizer que o local é a região sudeste, onde os festejos juninos não tem a mesma força cultural que tem aqui em nossa região” e ele, “só pra contrariar” e na base “d’eu vou mostrar pra vocês como é bom dançar quadrilha” estava programando a organização de uma quadrilha junina tradicional, só não sabia antes como fazer, pois a sua aprendizagem com dança, se deu com relação ao estilo flamenco e circulares.

Quem não pode participar confira o que dissemos acima, participando do baile de danças circulares nordestinas, no dia 28 de maio, a partir das 19h30, na comunidade bom pastor. Na ocasião será aplicado o que foi aprendido nesta oficina e em outras promovidas pela Ação Cultural desde 2005.

Por último, vale a pena replicar a idéia da oficina de danças populares em outros locais, não trata-se de formar dançarinos/bailarinos, mas trazer a dança como um componente permanente de nossas vidas, como era no principio e deva ser agora e para sempre.

Assim com nem todos que aprendem a ler e a escrever necessitam tornar-se escritores, assim também nem todos que participam dessas oficinas precisam tornar-se dançarinos.

Por isso, venham todos dançar !

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OFICINA DE QUADRILHA JUNINA DAS “ANTIGAS”

17/4 · AracajuSE

 

No tempo em que a maioria da população brasileira morava no campo, as pessoas organizavam quadrilhas juninas para fortalecer o convívio social, com a dança popular funcionando como um potente canal de inserção de um número grande de indivíduos nestes processos de socialização e coesão social.
Nos dias de hoje, um grupo de pessoas se preparam com coreografias, cada vez mais complexas e estilizadas, para se apresentarem para um grupo de espectadores, pessoas que apenas veem, mas não participam da “brincadeira”.

Mesmo assim, há um grupo grande de pessoas que desejam celebrar o São João de forma mais comunitária, com alegria e participação de mais gente na folia, como no tempo das “antigas”.

É por este motivo que a Ong Ação Cultural estará organizando a Oficina de Quadrilha Junina Tradicional em 17 de abril , tendo como objetivo preparar focalizadores de danças circulares, educadores, arte-educadores, profissionais da área social e da saúde e ativistas sociais para marcar quadrilhas “improvisadas” ou “caipiras” em seus espaços de atuação.

Esta iniciativa está inserida em torno de um movimento oriundo da Inglaterra e que chegou ao Brasil (São Paulo) no inicio da década de 80, ao nordeste (Recife) no final da década de 90 e, finalmente, em Aracaju, no inicio do ano 2000.

As suas origens se devem à iniciativa do alemão Bernhard Wosien, bailarino e pedagogo da dança, que no decorrer dos anos sessenta do século XX, iniciou o registro e a difusão de muitas danças folclóricas e étnicas da Europa Central e Oriental, incluindo depois regiões de outros continentes.

Wosien fez isso ao perceber que o acelerado processo de urbanização estava ocasionando a perda do patrimônio cultural dançante das gerações mais antigas e, como consequência, a perda das práticas comunitárias de dança popular.

Nas observações sobre os efeitos proporcionados pela prática da dança de roda em comunidades tradicionais, Wosien percebeu, de um lado, o fortalecimento dos laços identitários e sentido de pertencimento e, do outro, o estado de alegria e paz.

Com isso, ele passou a considerar as danças populares como um importante canal de re(vitalização), de interação e coesão social, bastante necessário para as populações residentes nas cidades, as quais se deparam com sérios problemas decorrentes da perda dessa tradição.

Resumo biográfico do oficineiro

Giovane Reis da Silva, 47 anos. Atua como marcador de quadrilha junina há 30 anos, tendo começado na Apaga a Fogueira, prosseguindo na Arrasta Pé, Pisa Milho, Xodó da Vila, Pula Fogueira e por último na quadrilha junina Asa Branca (Conj. A Franco), onde se encontra atualmente. Foi campeão em concursos na rua de São João, centro de criatividade, tri campeão no concurso do bairro 18 de Forte, bi campeão no bairro Agamenon Magalhães e vice campeão em concurso promovido pela Sociedade Comunitária do bairro Siqueira Campos.
No ano de 2008 marcou uma quadrilha infantil em escola particular no conjunto Augusto Franco.
Representou Sergipe em concursos de quadrilhas juninas nas cidades de Recife, Salvador e Maceió.
Participou no ano 2000, de um seminário de formação para marcadores e coreógrafos promovido pela Liga Sergipana de Quadrilhas Juninas.

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onde fica
Comunidade Bom Pastor -- Rua Efrem Fernandes Fontes, 65- Bairro Santos

Dumont (Próximo ao Terminal Rodoviário Maracaju), Aracaju-SE.

quando ir
17/4/2011, ás 08:00h
quanto custa
o valor da inscrição é de R$ 40,00 até o dia 07 de abril e R$50.00 após essa data e o depósito pode ser efetuado na conta BRADESCO - AG 3162-3 C/P 3908493-7
website
http://acaoculturalse.blogspot.com
contato
Maxivel (8815-1116), Irene (3044-8186), Zezito (9993-4483)

SÃO JOÃO NO MARANHÃO E SUA SINGULARIDADE - Chegou via whatsapp

São João no Reino do Boi do Maranhão. Coisa mais maravilíndia, gente!
Fotografia: Márcio Vasconcelos
Poema: Celso Borges
Música: "Catirina e o Mar", de César Nascimento





4 comentários:

Anônimo disse...

Fiéis e excelentes abordagens sobre as tendências "modernizantes" das tradições juninas. Há algum tempo já percebia e me incomodava, me recusando a aceitar passivamente a influência

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Falo de Curitiba PR

AÇÃO CULTURAL disse...

Grato pela leitura e participação. Seja sempre bem vindo! Inclusive ao São João do nordeste. Em meio as contradições e incoerências ainda é possível celebrar o São João mais autêntico. O desafio é não deixarmos isso esmaecer a tal ponto que as singularidades desapareçam. Em que pese não termos medos de inovação, como por exemplo, a incorporação de outros instrumentos acústicos, além da sanfona, ao nosso boa e tradicional formação do trio pé de serra. Diga-se de passagem, criação do nosso Luiz Gonzaga. Mas, como afirma Paulinho da Viola em criticas a chamada "modernização" que chega as raias da descaracterização das escolas de samba."Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim."