Vou ser simples e direto pois já são anos repetindo as mesmas coisas: fake news não é causa, não é origem, é antes de tudo um sintoma. As notícias circulam, se espalham, se fixam no imaginário por conta de algo que as antecede. Mas o que que seria esse algo? Isso depende de alguns fatores, podem ser afetos, como o medo ou a esperança dos receptores, mas também as relações pré-estabelecidas entre os receptores e o emissores ou sujeitos/objetos da “fake news”.
Dito de outra forma: as pessoas acreditam (ou desacreditam) em algo por conta do que sentem quando se deparam com a informação, seja pelo próprio conteúdo da notícia, seja por aqueles que a enunciam.
Com efeito, a mais nova crise de comunicação do governo Lula, os desvios do INSS, é um exemplo cristalino desse cenário: “fake news” a respeito da corrupção no INSS - sobre a qual já se sabia algo desde pelo menos 2019 -, estão se espalhando como fogo em mato seco. Milhares de pessoas revoltadas, assustadas, acreditando que não se aposentarão por conta da corrupção. Efeito amplificado - e não iniciado - pelo vídeo do Níkolas Ferreira.
Tratam-se de notícias que se espalham pelo medo.
Medo que rapidamente se converte em revolta, transformando os receptores dessas mensagens, eles próprios, em enunciadores. Mas, ao contrário das notícias apócrifas ou do vídeo do deputado celebridade, estas pessoas são o “povo’, são gente comum com relações concretas com outras pessoas “comuns”. Pessoas que são mães, pais, irmãos, amigos…etc.
E é por meio, justamente, dessa cadeia de relações que as notícias se espalham, cada um dos elementos dessa turbamulta virtual se tornam, eles próprios, em agentes multiplicadores da desinformação.
E esse é justamente o maior problema, não o vídeo do Nikolas Ferreira, os números de visualizações. O problema é COMO as pessoas estão chegando ao vídeo, como e por onde ele está circulando.
E acreditem, ele está e MUITO.
E não se enganem, da mesma maneira que as doenças, essa cadeia de desinformação se mantém ativa, apenas oscilando entre momentos de maior e menor atividade, infectando mais ou menos pessoas. Formando um mapa, onde os que estão mais próximos do pontos originais da desinformação, ganham mais ou menos poder de infectar outros com suas notícias.
E o que fazer diante disso? Em tese, cada caso seria um caso, mas nesse em específico, o governo poderia ter atuado previamente, construindo uma certa imunidade diante de operações de desinformação. Aumentando a sua proximidade com a população, investindo em redes proativas de comunicação segmentada e, sobretudo, descentralizada - isto é, que não se resumam a replicar falas do Presidente Lula e ou de órgãos oficiais -, visando, justamente, esses momentos de crise e tendo em vista, sempre, que o governo passa por uma crise aguda de confiança.
Uma crise de confiança que, diga-se de passagem, se originou pelas próprias ações do governo, como ocorreu no caso da “taxa das blusinhas”. É importante que se tenha isso em mente para que se construa algo na direção contrária.
O governo tem algo nessa direção? Não. Os tomadores de decisão parecem confiar em estratégias mofadas de comunicação, que já mostravam o peso de sua idade na década passada. Pior, ativamente rejeitam estratégias que não passem pela exaltação da imagem de Lula e/ou de seus aliados mais próximos. Abdicando, assim, de se comunicar com pessoas que tenham ressalvas com o presidente e políticos alinhados.
Ainda, o governo poderia ter atuado de forma mais proativa nesse caso em específico, com Lula agindo rapidamente não apenas para limar os responsáveis, como vindo a público para falar do caso. No entanto, isso implicaria em assumir certas responsabilidades, como o fato de que um esquema de corrupção sobre o qual se sabia desde pelo menos 2019, seguiu ativo durante o seu governo. Nesse caso, pelo menos, haveria uma responsabilidade compartilhada com o governo anterior.
Tivemos algo nessa direção? Não. Pior, o governo parece ter agido em nome de um cálculo político obtuso, em especial, na esperança do assunto não repercutir e na manutenção de sua relação com Carlos Lupi e o PDT.
Resultado? Tudo que resta ao governo é inutilmente correr atrás dos prejuízos e amargar mais uma crise de confiança. Uma crise que ofusca, inclusive, as conquistas do próprio governo, como a diminuição da desigualdade de renda e do desemprego. Nesse cenário de desinformação generalizada, mesmo a devolução de quase 300 milhões de reais para aposentados acaba soando mais como uma admissão de culpa, um “estamos devolvendo o que roubamos”, do que como uma luta contra a corrupção.
Mais uma derrota, mais uma crise, não é a primeira e, certamente, não será a última. Derrotas que se empilham. Que talvez (ainda) não inviabilizem a reeleição de Lula (ainda!), mas que certamente inviabilizam a renovação e a expansão do campo progressista, especialmente no cenário da política institucional, projetando um cenário tenebroso para 2026.
Especialmente pelo fato de que tudo indica que este governo e talvez o próprio campo progressista sejam imunes ao aprendizado.
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