domingo, 24 de julho de 2011

Política Cultural das Ruas

Dois coletivos periféricos, a Cooperifa de São Paulo e a Rede Enraizados, de Nova Iguaçu, mostram que a cultura das ruas veio para ficar.

O Portal RAIZ. vem acompanhando o trabalho desenvolvido nas periferias do país desde a sua criação em dezembro de 2005. É impossível falar de cultura popular sem falar no Samba, no Frevo, no Choro, então é impossível falar de cultura popular sem falar nos artistas urbanos e periféricos.
As comunidades periféricas sempre produziram arte. Música, artes plásticas, teatro, danças e mais recentemente, o cinema, fazem parte do cardápio cultural de vários bairros periféricos. O que os faz diferentes hoje? Porque a Periferia inspirou filmes com recordes de público, programas de TV, livros, encontros e debates? A pergunta inicial dessa reportagem era essa, mas os movimentos populares foram mais generosos e criativos quando revelaram sua produção editorial, musical e seus projetos culturais. A Fundação Avina de Investigacíon Periodística para el Desarrollo Sostenible, instituição que divulga novas relações para o desenvolvimento sustentável, e a Casa Daros, fundação suíça com a maior coleção de arte latino-americana, foram parceiras do Portal RAIZ. nessa investigação. Durante o período da investigação mantive um blog, junto com outros jornalistas latino americanos sobre o processo de construção da reportagem.

Cultura Periférica não é só ação social

São artistas plásticos, escritores, músicos, poetas, cineastas, que dão sua contribuição à cultura brasileira. Participam de coletivos, mantém políticas culturais em suas comunidades, carentes da ação do Estado, criam murais, filmes, espaços de manifestações artísticas onde expressam sua realidade. São cronistas de suas realidades. Aliás, segundo o artista multimídia Cazulo, da Cooperifa , em São Paulo, os artistas populares sempre estiveram muito presentes na cultura brasileira mas agora querem “participar do banquete, não queremos mais as migalhas”. O diferencial é que a mídia também descobriu seus nomes e endereços e eles não precisam mais descer o morro, mudar-se para o centro das cidades para serem ouvidos e entendidos. “Eu acredito na qualidade da arte da periferia. Muitos artistas saíram da periferia e hoje são clássicos, como os músicos do samba”, avalia Luis Carlos Dumontt, da Rede Enraizados, do Rio de Janeiro.
Outra grande novidade: há um público consumidor em suas comunidades. Nesse momento da política brasileira, mesmo sob o peso da crise financeira mundial, as camadas C e D estão conseguindo manter o poder de compra e ampliando o leque de consumo. Para André Torretta, proprietário da Ponte Planejamento, uma agência de pesquisa de mercado voltado exclusivamente para o consumo dessas classes, “a crise não atingiu essas classes sociais. Eles continuam consumindo e se divertindo em festas com milhares de pessoas”, afirma.
Mas o lazer agora não é só encontrado nas festas, bailes e churrascos nas lajes. Sergio Vaz, poeta e um dos fundadores da Cooperifa, admite “queremos ser descobertos e consumidos no bairro. As pessoas começam hoje a me ler, tomam gosto e vão procurar outros autores”. O processo desses novos artistas periféricos é bem diferente dos músicos que vendiam seus sambas aos grandes ídolos da época de ouro da rádio no Brasil. Os novos artistas criam livros, cds, filmes e cativam o público consumidor. “Os livros da Cooperifa custam até 10 reais. Por esse motivo se vende mais”, argumenta Vaz.

Dois exemplos de transformações

A Cooperifa, um coletivo de artistas da zona sul de São Paulo e a Rede Enraizados, no Morro Agudo, Nova Iguaçu, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, são exemplos dessas mudanças de paradigmas e o objeto da reportagem Política Cultural das Ruas. O rapper Dudu do Morro Agudo, leva na bagagem a experiência da fundação da Central Única das Favelas, a CUFA, Baixada Fluminense. Seu cd “Rolo Compressor” foi gravado e mixado na sede dos Enraizados. Outra novidade, graças à tecnologia digital e a internet: os meios de produção estão muito próximos, na verdade nas mãos dos criadores.
Os meios de produção nas mãos dos criadores, disposição para criar, falar e viver em suas comunidades, preços acessíveis e uma atividade cultural intensa que gera eventos e atrai público que acaba consumindo seus artistas, poderia soar até como política pública mas são ações desses dois coletivos “periféricos”, sinalizadores de várias ações culturais coletivas como o BlackiTude baiano de Nelson Maca e a ação musical do brasiliense GOG, que também participaram dessa reportagem.
A entrevista com o economista Luis Nassif só veio confirmar a impressão de que a arte da periferia estabeleceu, “vieram pra ficar, não se iludam”, avisa o economista. Para André Torretta, 80% da população brasileira são formadas pelas classes C e D, “se existem ilhas, elas são formadas pelas classes A e B. Nada mais natural que essa explosão dos periféricos”. Geradores de eventos, criadores de arte e consumidores, os artistas da periferia não sentem vergonha do lugar de onde vieram e vivem. Suas criações, poemas, pinturas, capas de livros e músicas, podem ser apreciadas na Galeria Enraizados e Cooperifa. Para apresentar uma produção respeitável e diversa que dialoga com seus pares não teve curador, nem especialista responsável. A vitalidade e o questionamento do modo de vida violento que tentam impor as esses espaços, é a intenção dessa reportagem.
Reportagem: Thereza Dantas
Fotos: Eduardo Toledo (SP) e Zezzynho Andrade (RJ)

LEIA REPORTAGEM COMPLETA AQUI

Um comentário:

Anônimo disse...

I was extremely pleased to discover this website. I need to to thank you for your time just for
this wonderful read!! I definitely really liked every part
of it and I have you bookmarked to check out new information in your site.


Here is my webpage :: air conditioning units miami fl