Pré-Caju: sete razões para melhorar a alegria
cordeiros concentrados nas imediações do Pré-caju, momentos antes do inicio do desfile de blocos. Foto: Thiago Paulino
Thiago Paulino
E se no
meu bairro eu fechasse uma rua central e colocasse um som muuuito alto?
Não faz mal, pessoal. Seria uma festa de muita alegria! Eu poderia até
deixar metade da rua para passar alguns
carros. E se eu decidisse que somente poderia brincar na minha festa quem
pudesse pagar? (sim.. posso chamar de "minha" porque a rua é pública,
mas a festa é particular). Festona.. tenho certeza que vem gente de
outros bairros, pois boa parte da grana vem daquele vereador que sempre
"ajuda" meu bairro.
Agora transfira a lógica dessa história e aumente sua dimensão...
Sim estou falando do Pré-Caju. Pode me chamar de ranzinza e admito que
na minha adolescência já saltitei na pipoca, já acompanhei a Timbalada
com a turma do bairro. No meio da folia.. batia o maior medo quando
começava o corre-corre por causa de uma briga feia. Mas a idade chegou
e, com ela, a maturidade. A maturidade veio acompanhada de um mosquito
que fica zunindo no meu ouvido: "alguma coisa está fora da ordem". Por
isso resolvi postar aqui alguns motivos pelos quais o Pré-Caju não
deveria mais existir nesse formato que aí está:
1) CAIXA
PRETA E APARTHEID - Dinheiro público (Ministério do Turismo, Banese,
emendas de parlamentares, etc), mega-estrutura, profissionais
(segurança, saúde, conselheiros) do serviço público para a festa de
iniciativa privada cujo o fim é o lucro de poucos grupos.. Como se faz a
prestação de contas daquilo que é gasto direta ou indiretamente na
festa? Essa verdadeira caixa preta que nunca é aberta. Onde de fato são
pesados custos e benefícios para a população de uma forma geral? Festa
em que existe um verdadeiro apartheid cultural. Quem paga brinca
dentro, quem não paga se expõe fora. Sim.. eu sei.. o volume do som
excessivamente alto alcança a turma da pipoca. Mas a violência
simbólica dessa separação provoca outras violências.
2) Mas o
Pré- Caju gera empregos (temporários) e os hotéis estão lotados? Um
segredo: lucro real não vai para população geral. Por que não utilizar a
verba pública para construção de centros culturais e /ou esportivos na
periferia para ocupar de forma criativa e sadia jovens em busca de
ocupações construtivas? Pão e circo substitui a cultura que forma e
informa.
3) SEGREGAÇÃO NO IR E VIR. Pré-Caju e Rolezinho:.duas
facetas uma mesma realidade. Uma segregação social gritante diante da
qual muitos fazem ouvido de mercador. Tirar de pessoas o direito de
circular em vias públicas é uma contradição quando se procura levar a
sério a palavras cidadania e democracia.
4) CORDEIROS- Segurar
uma corda, sendo exposto a um som extremamente alto e fazer um muro
humano para separar pessoas que tem dinheiro daquelas que não tem é
algo cruel e desumano. Não acho essa uma função digna. É possível
encontrar outras formas de gerar emprego e remunerar quem precisa.
5) APELANDO ATÉ EM BAIXO -Comerciante e ambulantes ganham uma grana
importante para fazer a diferença em um orçamento apertado? Sim.... e
isto é bom. Pessoas se divertem? Sim.. isso. também é bom. Não sou
contra o divertimento,a festa. Mas precisa ser dessa forma? Pouco se
fala que a diversão descontraída também acontecer com música que não
faça tanto apelo ao corpo como objeto de consumo.. Uma excessiva
erotização permeia essa folia. Naturalmente existe musica que não são
apelativas e até tecnicamente são bem tocadas.
6) BARRANDO
OUTRAS MUSICALIDADES - O gosto é algo construído socialmente. Você
gosta daquela música porque você teve oportunidade de ouvi-la. E
muitas vezes foi privado de conhecer outras e, assim, poder fazer uma
escolha. Não há problema em gostar de axé ou pagode, ou outros estilos
tocados.. O problema é quando uma industria predatória tira a
oportunidade de se escutar uma rica produção sonora de bom nível
produzido por artistas da sua própria cidade. Isso sem falar nas
maravilhas musicais da musica universal e atemporal.
7)
AFETANDO O COTIDIANO DA CIDADE - Álcool em excesso das marcas
patrocinadoras da festa, toneladas de lixo e transtorno no trânsito
central afetando a vida cotidiana - três aspectos que por si só já
chamam a atenção para se repensar no formato dessa festa.
Em meio a tanta propaganda... um pouco de contra-informação não faz mal a ninguém.
O que foi publicado neste blog sobre o PRECAJU. AQUI
Um comentário:
Thiago Paulino,
O artigo está republicado no blog da Ação Cultural e com outros links publicados sobre o tema.
Em termos de contribuição para a qualificação do debate, penso que outros colegas da academia podem escolher o tema PRECAJU para pesquises e análises nos campos da economia, das ciências sociais, da comunicação e etc..
Da parte do Fórum em Defesa da Grande Aracaju já sugeri, para fortalecer argumentos, que buscassem conhecer outras experiências de transferências de local de festas como essa, citei o exemplo da cidade do Recife.
Importante lembrar que, a redução para três dias de festa já é um grande avanço e fruto também da luta da sociedade civil, além de questões inerentes ao próprio negócio. Embora o tempo para instalação e desinstalação da estrutura, seja um problema bastante reclamado.
Por último, eu também já fui ao PRECAJU em especial no tempo da realização dos grandes shows na concentração final do desfile dos blocos e não sou contra a festa em si, a questão fundamental para mim, além do transtorno para a cidade, é o uso de recursos públicos sem uma grande contrapartida cultural e social, salvo as migalhas que você e outros tão bem relatam.
Por final, a questão é politica também, se o grupo que estivesse a frente do PRECAJU não “trabalhasse” esse aspecto, não conseguiria sustentar um negócio tão cheio de contradições e incoerências.
No mais, o papel da cidadania ativa é este mesmo. Me lembra o movimento “Não vai ter copa” , claro que haverá, porém não será como antes.. Nem no Brasil e nem em outro lugar.
Zezito de Oliveira
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