sábado, 12 de novembro de 2011

Vaticano II: O Concílio da mudança

Pe. José Soares
Igreja São Pio X - Mestrando em Ciências da Religião - UNICAP - (PE)

O Concílio Vaticano II foi convocado pelo Patriarca de Veneza, Cardeal Ângelo Roncalli. Mas não é o papa que o faz? Sim, é porque esse nome nos enche de alegria e esperança. Esse homem de fé, brilho incomensurável e muita fidelidade ao Cristo Bom Pastor, tornou-se o João XXIII, o papa mais destemido do século XX.

Sua atitude corajosa foi capaz de desbloquear alguns entraves que desde o Vaticano I (séc. XIX), a Igreja Católica sentia na sua relação com a sociedade civil e com as outras religiões.
João XXIII (1958-1963) soube auscultar o sinais dos tempos e deu a Igreja o rumo eficaz para dialogar sem medo com as problemáticas da modernidade na metade do século das grandes descobertas. "A Igreja assiste, hoje, à grave crise da sociedade. Enquanto para a humanidade surge uma era nova, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como nas épocas mais trágicas da sua história. Trata-se, na verdade, de pôr em contacto com as energias vivificadoras e perenes do evangelho o mundo moderno: mundo que se exalta por suas conquistas no campo da técnica e da ciência, mas que carrega também as conseqüências de uma ordem temporal que alguns quiseram reorganizar prescindindo de Deus" (Humanae Salutis, 3).
Sem medo das mudanças oriundas de uma mentalidade modernista o "papa bom" soube abrir as janelas da instituição para o mundo sem condenar, sem excluir, sem atemorizar "os diferentes" e sem oferecer palavras de concessão ambígua. Colocou a Igreja de Cristo no caminho da Tradição e do amor, abrindo o evangelho de Jesus para todos e todas.

A concepção eclesiológica que prevaleceu no Concílio das Mudanças foi a de colocar a Igreja Esposa de Cristo no lugar e no coração da humanidade, fazendo-a absolver as aspirações e os reclames de homens e . mulheres que não se sentiam incluídos na sua missão.

Tanto é assim que na Lumen Gentium, sua primeira constituição por ordem de abertura, o segundo capítulo fala sobre o "Povo de Deus". Uma inovação eclesiológica que custou o sono, a luta e a persistência de muitos padres conciliares. Quem poderia imaginar que a "Constituição Hierárquica da Igreja" ficaria no capítulo posterior? Um avanço muito relevante. Sinal de mudança e mais de transição. Uma Igreja que "só ensinava", agora se abre para ouvir, compreender, dialogar e dispor aos cristãos um espaço privilegiado de pertença eclesial. Pena que muitos (as) ainda não conhecem tamanha riqueza histórica.

As idéias restritivas do passado, foram superadas pela necessária adequação da Igreja ao tempo presente. “O conceito de Igreja “sociedade perfeita” estava já implícito nas afirmações de Gregório VII, o papa que ligou o seu nome a uma das mais poderosas reformas da Igreja, realizadas no século XI” (ZAGHENI, 1999, p. 59). Essa imagem que perpassou o período moderno alimentou uma concepção notadamente hierárquica. O Vaticano II, agiu como uma "dobradiça" e permitiu que as janelas da "Eklessia" se abrissem para incutir os ventos da liberdade, do amor, do perdão e da acolhida. 

Salve o Vaticano II. São 46 anos de desafios e precisamos insistir para que ele reoriente os caminhos da Igreja de Cristo.

REFERÊNCIAS 

HUMANAE SALUTIS. cONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO XXIII.


ZAGHENI, GUIDO. A Idade Contemporânea: curso de história da igreja. São Paulo: Paulus, 1999.

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