quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Cicatrizes indeléveis na pele da memória!

Acima de tudo, a liberdade

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Adiberto lembrou a nódoa, na coluna da Infonet. Há quase 40 anos, no dia 20 de fevereiro de 1976, a Operação Cajueiro deixaria uma marca indelével na história política de Sergipe. Para alguns militantes da liberdade, no entanto, as cicatrizes seriam ainda mais dolorosas e acompanhariam o corpo maltratado pelos carrascos do golpe de 64 vida afora, pelo menos nos episódios em que restou vida. É o caso de Milton Coelho, que denuncia no passo claudicante que ofereceu a intimidade de sua casa, nos interstícios da memória, uma geração de mutilados.

O encontro foi mediado há um bom par de janeiros pelo Professor Dudu, presidente da Central Única dos Trabalhadores, então empenhado na construção de um Memorial dedicado às atrocidades perpetradas pelo Regime Militar em Sergipe. O sindicalista enxergava no exemplo de Milton Coelho muito mais do que o personagem esmaecido nas páginas de uma história que ainda está para ser contada. Coberto de razão, Dudu não subtrai ao símbolo as feridas do homem de carne e osso.

Milton Coelho concorda com o jornalista Zuenir Ventura quando ele afirma que o ano de 64 ainda não acabou. Segundo ele, não é possível admitir mácula de sombra sobre a História. “Eu sou partidário de que é preciso identificar todas as ocorrências. É preciso identificar todos os que participaram daquelas atrocidades para que as novas gerações sejam municiadas e não permitam que tudo se repita”.

As atrocidades que Milton Coelho menciona eram praticadas com método. Ele conta que os jagunços envolvidos no desbaratamento da célula sergipana do Partido Comunista Brasileiro (PCB), objetivo maior da Operação Cajueiro, se esmeravam numa espécie de ritual.

“Quando levados pelos sequestradores e entregues aos responsáveis pela fase que antecedeu a formalização do Inquérito Policial Militar, os presos políticos, que na maioria já tinha uma borracha circulando os olhos, receberam “tratamento” de impacto, começando pela troca da roupa que vestiam por um macacão com um número no peito e um capuz. Aqueles que eram considerados mais comprometidos na organização da resistência à ditadura militar receberam o que era chamado de “tratamento especial”, incluindo torturas com a cabeça submergida em depósito com água, por várias vezes, pontapés nas costelas em ambos os lados, choques elétricos nas mãos e no pênis, além da ameaça de assassinato, quando, circulando uma corda nos tornozelos do preso, afirmavam que iriam suicidá-lo”.

O próprio Milton Coelho foi objeto do ritual macabro, e carrega na carne as marcas da violência. Além de cicatrizes e uma costela quebrada, ele foi condenado a tatear o mundo pelo resto de seus dias. A retina deslocada, responsável por uma deficiência visual que até hoje não conheceu cura, lhe impôs prejuízos econômicos e dificuldades pessoais, mas não abateram seu interesse pela vida.
 
Atento e forte, Milton Coelho acompanha as transformações da conjuntura política e acredita que, a despeito de incoerências pontuais, o campo político da esquerda precisa se manter unido para garantir os avanços necessários à manutenção da democracia.
Nas palavras do próprio Milton: “Nós temos uma população que, infelizmente, ainda não tem consciência política. Isso pode facilitar o retrocesso. A minha preocupação consiste em não dar chance aos inimigos dos trabalhadores e da liberdade”.
Acima de tudo, a liberdade

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Adiberto lembrou a nódoa, na coluna da Infonet. Há quase 40 anos, no dia 20 de fevereiro de 1976, a Operação Cajueiro deixaria uma marca indelével na história política de Sergipe. Para alguns militantes da liberdade, no entanto, as cicatrizes seriam ainda mais dolorosas e acompanhariam o corpo maltratado pelos carrascos do golpe de 64 vida afora, pelo menos nos episódios em que restou vida. É o caso de Milton Coelho, que denuncia no passo claudicante que ofereceu a intimidade de sua casa, nos interstícios da memória, uma geração de mutilados.

O encontro foi mediado há um bom par de janeiros pelo Professor Dudu, presidente da Central Única dos Trabalhadores, então empenhado na construção de um Memorial dedicado às atrocidades perpetradas pelo Regime Militar em Sergipe. O sindicalista enxergava no exemplo de Milton Coelho muito mais do que o personagem esmaecido nas páginas de uma história que ainda está para ser contada. Coberto de razão, Dudu não subtrai ao símbolo as feridas do homem de carne e osso.

Milton Coelho concorda com o jornalista Zuenir Ventura quando ele afirma que o ano de 64 ainda não acabou. Segundo ele, não é possível admitir mácula de sombra sobre a História. “Eu sou partidário de que é preciso identificar todas as ocorrências. É preciso identificar todos os que participaram daquelas atrocidades para que as novas gerações sejam municiadas e não permitam que tudo se repita”.

As atrocidades que Milton Coelho menciona eram praticadas com método. Ele conta que os jagunços envolvidos no desbaratamento da célula sergipana do Partido Comunista Brasileiro (PCB), objetivo maior da Operação Cajueiro, se esmeravam numa espécie de ritual.

“Quando levados pelos sequestradores e entregues aos responsáveis pela fase que antecedeu a formalização do Inquérito Policial Militar, os presos políticos, que na maioria já tinha uma borracha circulando os olhos, receberam “tratamento” de impacto, começando pela troca da roupa que vestiam por um macacão com um número no peito e um capuz. Aqueles que eram considerados mais comprometidos na organização da resistência à ditadura militar receberam o que era chamado de “tratamento especial”, incluindo torturas com a cabeça submergida em depósito com água, por várias vezes, pontapés nas costelas em ambos os lados, choques elétricos nas mãos e no pênis, além da ameaça de assassinato, quando, circulando uma corda nos tornozelos do preso, afirmavam que iriam suicidá-lo”.

O próprio Milton Coelho foi objeto do ritual macabro, e carrega na carne as marcas da violência. Além de cicatrizes e uma costela quebrada, ele foi condenado a tatear o mundo pelo resto de seus dias. A retina deslocada, responsável por uma deficiência visual que até hoje não conheceu cura, lhe impôs prejuízos econômicos e dificuldades pessoais, mas não abateram seu interesse pela vida.

Atento e forte, Milton Coelho acompanha as transformações da conjuntura política e acredita que, a despeito de incoerências pontuais, o campo político da esquerda precisa se manter unido para garantir os avanços necessários à manutenção da democracia.
Nas palavras do próprio Milton: “Nós temos uma população que, infelizmente, ainda não tem consciência política. Isso pode facilitar o retrocesso. A minha preocupação consiste em não dar chance aos inimigos dos trabalhadores e da liberdade”.
 

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