Leandro Melito - Portal EBC 22.09.2013 - 17h22 | Atualizado em 22.09.2013 - 20h56
O mundo lembra, nesta segunda-feira (23/9), a perda de Pablo Neruda.
Ocorrida há 40 anos, em 23 de setembro de 1973 - 12 dias após o golpe
de Estado no Chile - a causa da morte do poeta ainda é motivo de
dúvidas.
A versão oficial de que o poeta teria morrido em consequência de um
câncer de próstata sempre foi alvo de dúvidas, mas um novo elemento
sobre o caso surgiu a partir da denúncia feita pelo antigo chofer do
poeta, Manuel Araya, em maio de 2011: segundo ele, Neruda teria recebido
uma injeção letal na clínica Santa Maria em Santiago, onde foi
internado no dia 19 de setembro de 1973 por conta do um câncer que o
afastou da vida pública - oito dias após o golpe que derrubou o governo
do presidente socialista Salvador Allende.
O motorista foi enviado por um médico para buscar outro medicamento,
mas no caminho foi sequestrado e torturado por agentes da ditadura.
Araya acabou sendo preso no Estádio Nacional do Chile depois de passar
por um interrogatório sobre suas ligações com o Partido Comunista.
O poeta morreu no dia 23, seis horas após deixar a clínica, o que gerou
a suspeita de que ele poderia ter sido assassinado pelo regime do
general Augusto Pinochet.
Araya relata que suas suspeitas se baseiam no fato de que Neruda, que
até aquele momento estava lúcido e estável, chegou à Ilha Negra com
febre e disse à sua esposa Matilde Urrutia que haviam lhe aplicado uma
injeção no estômago que teria piorado seu quadro.
Com base na revelação feita por Araya, o Partido Comunista do Chile -
do qual Neruda integrava o comitê central – apresentou uma denúncia
formal à Justiça chilena e um processo foi aberto pelo juiz Mario
Carroza. Em dezembro do ano passado, Carroza solicitou novas perícias a
especialistas da Universidade do Chile para determinar a causa da morte.
No último mês de abril, por meio de uma decisão judicial, peritos do
Serviço Médico Legal do Chile iniciaram a exumação do corpo do poeta
para descobrir a causa de sua morte. Os restos mortais de Neruda foram
retirados do jardim de sua casa-museu em Ilha Negra, uma pequena cidade
chilena na costa do Pacífico, e enviados para a Espanha e os Estados
Unidos, onde passarão por análises para determinar a causa de sua morte.
O advogado do PC, Eduardo Contreras, sustenta a tese de que o poeta foi
envenenado com uma dose excessiva de dipirona. Ex-deputado chileno,
Contreras processou centenas de repressores no Chile e considera que os
militares não permitiriam que Neruda liderasse a resistência democrática
do México, onde pensava em exilar-se.
Entre as contradições do caso, o advogado aponta a desaparição da ficha
médica do poeta e a ausência de uma lista completa dos trabalhadores da
clínica Santa Maria, onde ele estava internado. Em 1982 nesse mesmo
centro médico faleceu o ex-presidente chileno, da Democracia Cristã,
Eduardo Frei. Investigações judiciais comprovaram em 2006 que Frei foi
envenenado com gás mostaza e toxina botulínica.
A vida de Neruda
Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basolato nasceu em Parral, no Sul do
Chile, em 12 de julho de 1904. Aos 17 anos adotou o pseudônimo Pablo
Neruda para se dedicar à poesia sem o conhecimento de seu pai.
Neruda participou ativamente do Partido Comunista chileno e foi eleito
senador pelas províncias do norte de Tarapacá e Antofagasta em 1945. Em
1948 o poeta foi exilado sob acusação de injúria pelo presidente Gabriel
González Videla, que colocou o Partido Comunista na ilegalidade.
Em 1970, de volta ao Chile, após passar pela Argentina e pela Europa,
Neruda teve seu nome escolhido como pré-candidato para a eleição
presidencial no país. O poeta porém usou a indicação para apoiar a
candidatura do socialista Salvador Allende, que foi eleito presidente em
1971 e nomeou Neruda embaixador na França. O poeta também teve uma
extensa carreira diplomática e foi cônsul em Yangum (Birmânia, atual
Mianmar), Cingapura, México e Espanha.
Em outubro de 1971, Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Entre
suas principais obras estão “Residência na terra”, “Canto Geral”, “Odes
Elementares”, “Confesso que vivi”, “20 poemas de Amor e uma Canção
Desesperada” e “Versos do Capitão”.
Poeta apaixonado, Pablo Neruda provou os prazeres da vida, amou as
mulheres e se comprometeu com o socialismo no Chile, onde morreu poucos
dias depois de seu amigo Salvador Allende.
Em 11 de dezembro de 1992, os corpos de Neruda e de sua esposa, Matilde
Urrutia, foram exumados e levados para um velório cerimonial no Salão
de Honra do antigo Congresso Nacional. No dia seguinte, o desejo do
poeta foi cumprido: seus restos mortais foram enterrados no jardim de
sua casa em Ilha Negra.
Confira imagens da vida do poeta:
http://www.ebc.com.br/cultura/2013/09/40-anos-da-morte-de-pablo-neruda
http://www.ebc.com.br/cultura/2013/09/40-anos-da-morte-de-pablo-neruda
Nenhum comentário:
Postar um comentário