Antônio Lindvaldo
O
historiador não tem poder de polícia. O professor de História não é
membro do conselho de cultura ou do IPHAN (apesar de alguns serem). Ele
provoca a conscientização por vários meios: em aula, em textos e nas
redes sociais...
Diante
dessa nossa função, volto a me posicionar sobre a destruição de um bem
material coletivo (pois apesar de ser particular, de uma família, de
empresários, é, sobretudo, bem público pelo sentido histórico coletivo
que ele se encerra). Refiro-me a destruição da Fábrica Sergipe
Industrial que vai virá um centro comercial da zona norte (central,
melhor dizendo) de Aracaju.
A
relação da fábrica SI é muito estreita com a história de Aracaju do
final do século XIX ao século passado. O apito da fábrica, a chaminé da
mesma, foram, por muito tempo, símbolos marcantes do cotidiano dessa
capital sergipana que surgiu e se ergueu , em parte, por meio de
preceitos liberais de ordem e progresso de meados do século XIX... Do
apito da fábrica operários e operárias tinham uma ideia do seu turno de
trabalho (quando iria começar ou terminar sua jornada na fábrica) Idem o
cidadão comum que acordava com o barulho da mesma ou passava a
determinar sua história com essa sonoridade. Esse simbolo se fazia
presente em Aracaju, mesmo havendo o soar dos sinos das igrejas (do
Santo Antonio, de São Salvador e depois a Matriz – hoje catedral) Ele
adentrava, com muita propriedade, no cotidiano da capital sergipana,
como um novo medidor do tempo, vinculado ao trabalho de uma nova fase da
história da humanidade. O
apito das fábricas torva-se quase soberano. A Sergipe Industrial era
uma das fábricas a impor esse novo simbolo na capital sergipana.
Também
existiam as chaminés. Destas saiam a fumaça negra que poluía o ar ou o
esgoto que sangrava o rio Sergipe. Todos os dia dejetos (a química do
tecido) adentravam o rio dos aracajuano. Nossa ar e rio foram
contaminados. A sociedade cedeu a fábrica espaços. Em nome do lucro
(parte dos objetivos da fábrica) nem se pensou no prejuízo que estava
sendo dados a todos.
E por que os seus donos, não devolvem a sociedade um memorial, um museu, um lugar de lazer, de cultura....?
Mas pensar isto é ir além do desejo do lucro, de um espaço somente para o comércio...
Assim, nessa pequena reflexão,
pensemos o quanto essa destruição da fábrica é mais um uso da sociedade
ou uma cuspida nela mesma. Depois de tantos anos que a fábrica sugou a
sociedade não seria justo que a mesma desse em troca algo em beneficio
da sociedade.. ? Não podemos usar seus espaços para contar parte dessa
memória e História? De transformarmos ela em espaços de mais lazer
cultural? A alternativa é só um lazer vinculado a lojas comerciais, a um
shopping???
A gente (a cidade) não precisa
somente de comida. Necessita de diversão e arte. De igual forma, diria:
memória e história são ingredientes que corroboram com a saúde
espiritual do cidadão. Devolvam a sociedade aquilo que ela deu tanto aos
donos da fábrica SI.
Leia também:
Como é dificil ser Sergipano AQUI
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