quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Quem está preparado para fazer avançar a revolução cultural emancipadora?

 Luiz Checchia

Creio que todos os nossos problemas tem apenas um único responsável: nós mesmos. Explico:

Há décadas deixamos de lado o caminho da auto-organização. Nossos sindicatos, cooperativas e associações estão à míngua. Optamos por ser MEIs, termos nossas pequenas empresas etc. Achamos  sindicatos importantes mas... achamos que já nos reunimos demais, estamos cansados demais e... bom depois vemos isso.

E quando conseguimos algum grau de organização, acabamos pondo na mesa de debates outros assuntos importantes mas que não são de fato o cerne do ofício. 

E aí, o que acontece? quando precisamos ter peso político, capacidade de pressão etc, não temos nada. Somos traço, somos zero-à-esquerda. 

De décadas pra cá começamos a acreditar em um Estado que nunca existiu. Acreditamos em conselhos de cultura (são importantes, claro, eu já fui conselheiro, mas quando questionamos o governo de nossa cidade o conselho foi destituído, afinal, ele é um instrumento estatal), em planos municipais/estaduais/nacional, mas sejamos sinceros, apesar de importantes, são muito limitados. Passamos a acreditar na institucionalidade da "democracia participativa" criada pelo PT que a história tem demonstrado que não passa de ideologia: quando o governo é de direita ela não tem forma, quando é de "esquerda" é ignorado... Acreditamos nessa panacéia toda, mas quando precisamos de nossas organizações autônomas e independentes, elas estão abandonadas.

Sated estaduais hoje quase não têm forças para lidar com a situação, as cooperativas tbm não. Não creio que individualmente alguém tenha força pra impedir o estrago dos editais da LPG. Se alguém falasse para mim: "entra com um processo, tente impugnar", eu responderia: "pra que?", sozinho não há força. Entrei no MP contra a destituição do conselho em minha cidade, conseguimos um ótimo advogado mas ele foi sincero, disse: "vamos para cima, mas saiba, só com meia dúzia abrindo o processo, a chance é mínima".

Nossos problemas são imensos, e não creio que conseguiremos vitórias substanciais no momento. Talvez uma conquista pontual ou outra aqui, que mais servem para manter as coisas como estão do que para mudá-las de fato.

Acredito de coração que a solução dos nossos problemas começa indubitavelmente com ações que são lentas, mas imprescindíveis. A primeira delas tem a ver com nossa auto-organização autônoma e independente, desatrelada das estruturas de Estado. 

Precisamos retomar a força de nossos sindicatos, de nossas cooperativas, associações e afins. Focadas, centralizadas, organizadas, auto-financiadas etc.

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Zezito  de Oliveira

Galera! O caminho é organização, educação politica e mobilização... Na educação politica, incluo memória histórica e embora não me considere anarquista, fazendo o trabalho de base na comunidade em que vivi quando mais jovem, me deparei com dois livros tratando da ação educativa e cultural dos camaradas anarco-sindicalistas no inicio do século XX no Brasil, entre outras questões da luta de classes,  e depois com a ação cultural nas comunidades eclesiais de base, fonte em que bebi, próximo, quando morei em São João de eriti (RJ) e à distância quando retornei a Aracaju. E se é verdade que nestes anos, desde a década de 1980, crescemos em organização, educação politica e mobilização, ainda estamos bem aquém do que precisamos e merecemos. Sem contar os reveses que sofremos a direita e a esquerda. Tanto que quando veio o golpe de 2016, me lembrei dos pequenos golpes ou "golpinhos"  que certos camaradas gostavam de aplicar, isso dentro do próprio movimento, lá na base... E aí quando chegam aos governos dão e levam golpes a torto e a direita....

Debate acima realizado no grupo SOS LAB2


Três canções para ajudar na reflexão acima e relaxar também, porque ninguém é de ferro..

https://www.youtube.com/watch?v=eXtk1W-5oIs

https://www.youtube.com/watch?v=XzEJdfDbkZE


https://www.youtube.com/watch?v=uvz9G3VbrIk


DESABAFO DE UM ARTISTA CANSADO

Por Luiz Carlos Checchia, historiador, dramaturgo e diretor teatral.

Depois de muito tempo, a Lei Aldir Blanc entra em tramitação no Congresso Nacional. Todos devem se lembrar dela, surgiu durante a pandemia como forma de atender o setor da produção artístico-cultural, um dos mais atingidos pela catástrofe do COVID-19.

Mas como a vida de artista no Brasil não é mole, 30% do valor destinado à lei foi, por ordem do governo, destinada para o PAC, que é o Programa de Aceleração do Crescimento. Trata-se de um conjunto de ações que visam, como o nome diz, induzir mais velocidade ao crescimento econômico, sendo um de seus pilares a construção civil. E é assim que a Lei Aldir Blanc viu parte de seus recursos serem destinados à construção de prédios.

Alguém poderia pensar que seria algo bacana, mas o fato é que essa subtração distorce completamente o sentido da Aldir Blanc. Além disso, a Lei Aldir Blanc colocará para circular 3 bilhões de reais, o que parece muito, mas lembrem-se que só para agradar o centrão, o governo Lula já liberou mais de 20 bilhões em emendas parlamentares. E isso sem contar a distribuição de ministérios e secretarias. Enfim, há muito mais de onde o governo poderia tirar essa verba para o PAC, ao invés de o fazer dos recursos que iriam diretamente para a produção artística.

Pois bem, com mentiras contadas, tais como dizer que houve “amplos diálogos com os artistas”, “que foi decisão tomada democraticamente” etc, o governo e seus aliados, como a deputada Jandira Feghali, fizeram a proeza de diminuir mais ainda os poucos recursos da Lei Aldir Blanc. A nós, artistas, pouco restou senão reclamarmos o quanto foi possível, mas sem qualquer efetividade.

Mas essa situação tem como elemento de fundo um ponto pouco debatido: a falta de qualquer peso político por parte de artistas, técnicos e produtos culturais. Para explicar o que quero dizer, sugiro que deem uma olhada no que ocorre nos EUA, nesse momento. A precarização do setor fez com que os sindicatos de atores e de roteiristas parassem a produção no país. Filmes e séries estão cada vez mais comprometidos e a indústria cultural a cada dia vê suas “máquinas” parando. Sempre imaginamos que os artistas nos EUA ganham muito dinheiro, mas a verdade é que o número de “astros de Hollywood” é minúsculo se comparado ao número de artistas e técnicos envolvidos. Mas o que é impressionante é que lá, mesmo os “astros” que assinam contratos milionários, estão nas ruas, nas passeatas e nos ato, Susan Sarandon, Daniel Radcliffe e outros estão em manifestações, segurando placas e usando camisetas com dizeres de protestos, todos lutando pelo bem comum das categorias.

Mas aqui, no Brasil… Ah, que lástima. Nosso SATED, atravessa uma luta fratricida, a SBAT quase não opera, a Cooperativa Paulista bambeia, as demais organizações associações, movimentos etc, nenhuma expressa força política capaz de fazer qualquer pressão. Infelizmente, apesar de sermos um país que adora assistir televisão com suas novelas, minisséries, séries etc, com tantos atores e atrizes famosos, não conseguimos organizar todos esses trabalhadores. Particularmente, sou sindicalizado e integro a SBAT, imaginando que um dia, quem sabe, um estalo acontece, uma epifania, um surto de bom senso, sei lá, e então toda essa massa de artistas e técnicos irá compor suas organizações, fortalece-las, impulsioná-las para frente e para cima.

Mas isso passa também por, aqueles que atualmente dirigem tais entidades ou as disputam com unhas e dentes estabelecerem entre si algum tipo de pacto, acordo, armistício para que elas possam canalizar suas forças para seu motivo de existência: serem o instrumento político de categorias profissionais.

Muita gente, como eu, gostaria que tais entidades fossem a ponta de lança da revolução, outros, que se tornassem espaços de novos valores identitários, mas o fato é que sequer conseguem fazer o básico, que é defender os trabalhadores e trabalhadoras que abrigam.

Enquanto isso, os patrões, as emissoras, as produtoras, os governos e tantos mais dilapidam uma lei aqui, um trabalho ali, um cachê acolá, sobrando unicamente aos pobres trabalhadores a certeza de ficarem um tanto mais pobres.

A Lei Aldir Blanc, assim dilapidada, irá agora para o Senado, alguns ainda sonham em reverter essa situação lá, mas o fato é que é praticamente impossível, pois o acordo entre governo e congressistas parece já bastante firmado. E convenhamos, esses 30% para construção civil, num ano que antecede eleições, significa diversas obras acontecendo pelo Brasil que serão utilizadas como propaganda de diversos candidatos.

Eu, em minhas esperanças mais ingênuas, espero pelo dia em que artistas possam deixar de lado suas diferenças para passarem a lutar organizadamente pelos seus direitos. Num país em que novelas, séries e programas de TV são o pilar da cultura nacional, é impossível que unidos não possamos fazer valer algo.





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