Por Tatiana de Mello Dias
Em encontro de três horas, a ministra da Cultura falou em internet, mas diz não ter ainda planos concretos para áreas como os direitos autorais
Marta, ao centro, cercada por representantes de vários movimentos – como Beatriz Tibiriçá (Coletivo Digital), o ex-coordenador de Políticas Digitais do MinC Cláudio Prado, Pablo Capilé (Fora do Eixo), Ivana Bentes (UFRJ) e Paulo Rená (Partido Pirata do Brasil) –, que ela chamou de ‘minha turma’. FOTO: Divulgação
SÃO PAULO – Recém-assumida, a nova ministra da Cultura, Marta Suplicy, se reuniu na tarde de quinta-feira, 20, com quase duzentos ativistas, representantes de movimentos culturais, pesquisadores e pessoas ligadas ao ativismo na internet. Em resumo: passou a tarde envolvida com os maiores opositores de sua antecessora, a ex-ministra Ana de Hollanda.
E adotou também um novo discurso: diz que quer “fazer uma revolução com a internet”, deixando claro que percebeu o que ficou de lado durante a gestão anterior, e a urgência que os grupos presentes na reunião tinham em retomar a agenda da cultura digital.
Como fazer uma “revolução com a internet”? A reunião de três horas, cheia de discursos otimistas e troca de elogios, não trouxe nenhuma resposta concreta. Marta afirmou que quer fazer um governo ousado e marcante, mas reconheceu que ainda não sabe o caminho que seguirá.
“A ministra está sentada no ministério que está na centralidade do século 21”, disse Ivana Bentes, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, à ministra. Ivana disse que o Brasil foi pioneiro em projetos como o Marco Civil da Internet, a Reforma da Lei de Direitos Autorais e o programa Cultura Viva. Mas alguns projetos estão parados. “Como podemos estar na retaguarda de nossa própria vanguarda?”, perguntou.
Mas quando o membro do Partido Pirata do Brasil, Paulo Rená, mencionou a reforma da lei de direitos autorais, Marta apenas acenou com a cabeça. O Ministério da Cultura havia proposto em 2010 uma reforma ampla para a área, mas o projeto foi deixado de lado pela ministra Ana de Hollanda. Não houve nenhuma menção maior ao tema.
“A única coisa que eu quero deixar claro é que não tenho nada pronto. A não ser isso: tem que ser marcante e muito ousado, muito novo. E vocês têm que me ajudar nisso tudo”, disse a ministra. Para ela, estamos em um período com grandes mudanças cujos resultados ainda são incertos. “Daqui a 20 anos o mundo não vai ser mais igual. As pessoas vão trabalhar mais em casa, não sabemos o que vai ser disponibilizado na internet”, disse.
Vem aí alguém que compartilha as mesmas ideias de Gilberto Gil e Juca Ferreira? Não é para tanto. Alguns presentes na reunião afirmam que Marta é uma “hacker” – mas, exageros à parte, o único fato concreto até agora é que a ministra se abriu para o diálogo com setores que haviam sido deixados de lado durante a gestão anterior.
“Ela tem boa vontade e está disposta a entender. Mas não, ela não tem a visão do Gil nem do Juca. Não existe a Marta Hacker, se não como um desejo da sociedade alimentada por uma promessa”, diz Paulo Rená. “Agora é cobrar para virar realidade, aproveitando que o canal para essa demanda está aberto, depois de um ano e meio fechado”.
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