Músicos e produtores vivem conectados em tecnologia e cultura.
Circuito Fora do Eixo possui até moeda social própria.
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Muitos jovens de São Carlos (SP) optaram por morar em uma casa com pessoas desconhecidas e compartilhar tudo, de roupas até dinheiro, inclusive com quem está de passagem. É o Circuito Fora do Eixo, que tem cerca de 100 casas no país.
Na entrada já dá para perceber que é uma casa diferente. Nas paredes, a arte se multiplica e logo na sala de visitas tem uma loja. Quem mora no local são jovens conectados com tecnologia e cultura. Embora pareça, isso não é uma república de estudantes, é um coletivo.
“A gente tem um modo de organização todo da casa, tanto de funcionamento, como demandas práticas do dia a dia que cada um assume aqui”, disse o músico Juliano Parreira. “Eu vejo até mais como uma empresa do que uma república em que a gente só vem pra dormir ou espaço para ficar durante um tempo, durante uma universidade”, falou.
Eles socializam tudo, inclusive os serviços. No quintal, a horta foi plantada em canos e todo dia alguém tem a responsabilidade de regar; na cozinha tem uma lousa com as tarefas diárias bem divididas. “Diz respeito principalmente à alimentação aqui na cozinha”, explicou o também músico Felipe Dorante. “Hoje quem fez o café da manhã comprou pão, pôs e tirou a mesa e a gente sabe de quem cobrar”.
Cada dia um é responsável por regar a horta (Foto: Wilson Aiello/EPTV)
A agenda também é coletiva e fica na parede, mas o curioso é outro quadro, com um mapa improvisado do Centro de São Carlos com a localização da casa. É um mapa, de onde ficam os dois carros do grupo. “Como a gente dois carros que todo mundo usa, um carro coletivo, a gente tem que identificar onde estão nas ruas, porque a gente não tem garagem”, explicou o músico Eduardo Porto.
Comandada pela arte, casa tem espaço destinado
a músicos e produtores (Foto: Wilson Aiello/EPTV)
a músicos e produtores (Foto: Wilson Aiello/EPTV)
O casarão de dois andares fica no Centro da cidade. A decoração é feita com muito grafite nas paredes e no fundo eles improvisaram um quarto para o ensaio das duas bandas da casa. São seis moradores, entre músicos e produtores culturais, mas a casa está sempre de portas abertas e sobra espaço. Por isso, quatro quartos são reservados para receber artistas que vêm de fora. “Banda do Centro-Sul, do Centro-Oeste, a gente recebe qualquer banda que entre em contato e a gente possa viabilizar qualquer coisa por aqui”, comentou Parreira.
São mais de 800 discos de vinil e filmes, tudo para ser socializado. A produtora musical Laila Manuelle é de São Paulo e mora no coletivo há oito meses. “É uma experiência realmente inovadora e inigualável”, afirmou. “A circulação de pessoas que tem por aqui é absurda e a gente entra em contato com muitas tecnologias, ideias, que não teria contato em lugar nenhum”, disse.
A casa também é habitada por viventes, moradores temporários quem vêm trabalhar no grupo. O produtor cultural Rafael Coredeiro é de São Paulo e vai ficar na cidade por alguns meses. “Acho que é a forma mais saudável pra gente construir algo muito bom pra todo mundo e a cultura tem um potencial muito grande para conectar as pessoas e fundir as ideias que possam levar uma melhor qualidade de vida para todo mundo”.
O início
Este modelo de comunidade começou em Cuiabá (MT), fora do eixo Rio-São Paulo, por isso o nome. Mas a iniciativa se espalhou. O projeto tem cinco anos e no Brasil existem 100 casas como essa, que vivem ligadas, em rede, compartilham tecnologia, cultura. E a proximidade é tão grande que eles criaram o próprio dinheiro: uma moeda social que circula entre as casas, que em São Carlos se chama Marcianus.
“Ela foi criada pra gente evitar o uso da moeda corrente em todos os casos, então a gente às vezes faz uma troca de serviços e produtos usando essa moeda”, justificou a produtora cultural Fernanda Martucci.
O caixa desta turma também é coletivo e todo mundo tem acesso. Ninguém tem salário, mas quem mora na casa e trabalha no grupo tem todas as contas pagas. Basta pegar o que precisa e justificar os gastos. Eles dividem os prejuízos e os lucros. Apostam em um mercado independente e ganham dinheiro promovendo eventos culturais, vendendo camisetas e com os shows das bandas.
As músicas são divulgadas pela internet. O coletivo também tem um programa de rádio e realiza projetos sociais na periferia da cidade. São jovens que vivem em um comunismo cultural, governado pela arte.
Modelo surgiu "fora do eixo" Rio-São Paulo, daí o nome do coletivo (Foto: Wilson Aiello/EPTV)
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