Leonardo Boff
19/07/2014
O tema da festa é um fenômeno que tem desafiado grandes nomes
do pensamento como R. Caillois, J. Pieper, H. Cox, J. Motmann e o
próprio F.Nietzsche. É que a festa revela o que há ainda de mítico em
nós no meio da prevalência da fria racionalidade. Quando se realizou a
Copa de futebol no Brasil no mes de junho/julho do corrente ano de 2014
irromperam as grandes festas, em todas as classes sociais, verdadeiras
celebrações. Mesmo depois da humilhante derrota do Brasil frente à
Alemanha, as festas não esmoreceram.
Na Costa Rica, mesmo não sendo a campeã do mundo, mas mostraram excelente futebol, até o Presidente saíu à rua para celebrar. Não foi diferente na Colômbia.
Na Costa Rica, mesmo não sendo a campeã do mundo, mas mostraram excelente futebol, até o Presidente saíu à rua para celebrar. Não foi diferente na Colômbia.
A festa faz esquecer os fracassos, suspende o terrível cotidiano e o
tempo dos relógios. É como se, por um momento, participássemos da
eternidade, pois na festa não percebemos o tempo passar.
A festa, em si, está livre de interesses e finalidades, embora haja
festas para negócios onde a festa se transforma em berber, comer e
negociar. Mas na festa que é festa, todos estão juntos não para
aprenderem ou ensinarem algo uns aos outros, mas para alegrarem-se, para
estar aí, um-para-o-outro comendo e bebendo na amizade e na concórdia. A
festa reconcilia todas as coisas e nos devolve a saudade do paraíso das
delícias, que nunca se perdeu totalmente. Platão sentenciava com
razão:”os deuses fizeram as festas para que pudéssem respirar um pouco”.
A festa não é um só um dia dos homens mas também “um dia que o Senhor
fez” como diz o Salmo 117,24. Efetivamene, se a vida é uma caminhada
onerosa, precisamos, às vezes, parar para respirar e, renovados, seguir
adiante.
A festa parece um presente que já não depende de nós e que não
podemos manipular. Pode-se preparar a festa. Mas a festividade, vale
dizer, o espírito da festa, surge de graça. Ninguém a pode prever nem
simplemente produzir. Apenas nos podemos preparar interior e exteriormente
e acolhê-la.
Pertence à festa mais social (bodas, aniversário) a roupa festiva, a
ornamentação, a música e até a dança. Donde brota a alegria da festa?
Talvez Nietszche encontrou sua melhor formulação:”para alegrar-se de
alguma coisa, precisa-se dizer a todas as coisas: sejam benvindas”.
Portanto, para podermos festejar de verdade precisamos afirmar
positivamente a totalidade das coisas.:”Se pudermos dizer sim a um único
momento então teremos dito sim não só a nós mesmos mas à totalidade da
existência” ”(Der Wille zur Macht, livro IV: Zucht und Züchtigung
n.102).
Esse sim subjaz às nossas decisões cotidianas, em nosso trabalho, na
preocupação pela família, na convivência com os colegas. A festa é o
tempo forte no qual o sentido secreto da vida é vivido mesmo
inconscientemente. Da festa saimos mais fortes para enfrentar as
exigências da vida.
Em grande parte, a grandeza de uma religião, cristã ou não. reside em sua capacidade de celebrar e de festejar seus santos e mestres, os tempos sagrados, as datas fundacionais. Na festa cessam as interrogações do coração e o praticante celebra a alegria de de sua fé em companhia de irmãos e irmãs que com eles partilham das mesmas convicções, ouvem a mesma Palavra sagrada e se sentem próximos de Deus.
Vivendo desta forma, a festa religiosa, percebemos de como é
equivocado o discurso que sensacionalisticamente anuncia a morte de
Deus. Trata-se de um trágico sintoma de uma sociedade saturada de bens
materiais, que assiste lentamente não a morte de Deus, mas a morte do
homem que perdeu a capacidade de chorar, de se alegrar pela bondade da
vida, pelo nascer do sol e pela carícia entre dois namorados.
Novamente nos socorre Nietzsche que muito entendeu da verdade
essencial do Deus vivo, sepultado sob tantos elementos envelhecidos de
nossa cultura religiosa e da rigidez da ortodoxia das igrejas: a perda
da jovialidade, isto é, da graça divina (jovialidade vem de Jupter,
Jovis). É a consequência fundamental da morte de Deus (Fröhliche
Wissenschaft III, aforismo 343 e 125).
Pelo fato de havermos perdido a jovialidade, grande parte de nossa
cultura não sabe festejar. Conhece sim a frivolidade, os excessos do
comer e beber, os palavrões grosseiros, e as festas montadas como
comércio, nas quais há tudo menos alegria e jovialidade.
A festa tem que ser preparada e somente depois celebrada. Sem esta
disposição interior corre o risco de perder seu sentido alimentador da
vida onerosa que levamos. Hoje em dia vivemos em festas. Mas porque não
sabemos nos preparar nem prepará-las. saimos delas vazios ou saturados
quando seu sentido era de encher-nos de um sentido maior para levar
avante a vida, sempre desafiante e para a maioria, trabalhosa.
Para ler mais artigos de Leonardo Boff, clique aqui
Leia também: A DANÇA DA VIDA, 2º MOVIMENTO
EXERCICIO SUBVERSIVO DE BRINCAR
RODA DE DANÇAS CIRCULARES, 20 DE JULHO DE 2014,ÀS 15 horas, Anexo da Igreja São Francisco de Assis
Para ler mais artigos de Leonardo Boff, clique aqui
Leia também: A DANÇA DA VIDA, 2º MOVIMENTO
EXERCICIO SUBVERSIVO DE BRINCAR
RODA DE DANÇAS CIRCULARES, 20 DE JULHO DE 2014,ÀS 15 horas, Anexo da Igreja São Francisco de Assis
Nenhum comentário:
Postar um comentário