A edição do jornal Cinform que circular na segunda-feira,
1º de dezembro, trouxe artigo assinado pela secretária de Estado da
Cultura, Eloísa Galdino, sobre política cultural. Confira a íntegra
abaixo:
Sobre cultura, mudanças e desafios
Já faz algum tempo que a Cultura passou a ter um tratamento
diferenciado no âmbito das políticas públicas. Tempo também faz que
gestores, agentes e sociedade discutem, elaboram e lutam pela criação de
ferramentas de gestão e modernização capazes de fornecer à Cultura a
primazia que ela já tem naturalmente em nosso processo de inserção no
ambiente social. Deste conjunto de ferramentas fazem parte o Sistema
Nacional de Cultura, o Plano Nacional de Cultura e a criação do Conselho
Nacional de Políticas de Cultura. Pra cada uma delas, uma versão
estadual.
Na essência, todas as transformações possuem relação direta com a
forma do brasileiro se enxergar, democratizando o acesso aos bens
culturais, revirando a estrutura, trabalhando com a ideia de sistema, e
criando a concepção de que as políticas para a área precisariam ser
trabalhadas em três dimensões: a simbólica, a econômica e a cidadã. Uma
mudança grande, estrutural. Implementar o que chamamos de “Marco
Regulatório da Cultura” virou algo perseguido por estados e municípios
Brasil afora.
Defender o marco é fazer gestão associada a uma militância cotidiana,
compartilhada com os agentes da cultura e com tudo decorre disso:
debate de idéias, conflitos e consensos. Essa postura tem relação com
uma quebra de paradigma, afinal, significa o convite pra sair do
“preciso de apoio para o meu projeto” e trabalhar intentos maiores e
coletivos, inclusive tendo como foco a inserção da Cultura como uma área
fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Neste ponto, assim
como em muitos outros, ainda temos uma longa caminhada pela frente.
Porque a riqueza que a Cultura representa do ponto vista simbólico
para a nossa formação ainda não conseguiu fazê-la protagonizar este
papel nos orçamentos públicos, e esta é uma questão emblemática. Ela
tem relação com a demanda da sociedade, que muitas vezes precisa de
serviços públicos tão básicos que vai ser difícil aparecer o pleito por
um teatro, biblioteca ou museu. Mas seguimos acreditando que isso é uma
construção social, quanto mais a vida melhora, mais ampliamos o
repertório de necessidades. É isso que faz a Cultura sair do cenário
onde sempre esteve, de subfinanciamento.
O trabalho da Secretaria de Cultura de Sergipe nos últimos anos
percorreu este caminho. A elaboração do nosso planejamento e a execução
da nossa política buscou avançar e incluir Sergipe nas discussões e
decisões contemporâneas capitaneadas pelo Ministério da Cultura. O nosso
objetivo sempre foi promover uma maior articulação entre os agentes
culturais e a Secult. Para isso, passamos a atuar em consonância com a
política nacional de cultura, tentando avançar na validação de novos
mecanismos de gestão, na legislação sobre cultura, ampliando a
intersetorialidade e a transversalidade.
Além disso, as ações empreendidas dialogaram com o fortalecimento da
nossa identidade, a valorização do nosso patrimônio material e imaterial
e elevação da nossa autoestima. Podemos dizer, sem medo de errar ou
exagerar, que o nosso governo foi o que mais investiu na recuperação e
na preservação no nosso patrimônio histórico, tendo como maiores
exemplares disso o Palácio Museu Olímpio Campos, o Museu da Gente
Sergipana, O Campus da Cultura, em Laranjeiras, e a Praça São Francisco,
em São Cristóvão.
Os projetos das mais diferentes linguagens tiveram relação direta com
o tripé que alicerça as políticas de Cultura na atualidade, as
dimensões simbólica, econômica e cidadã. Assim, todas as ações tiveram e
tem relação com capacitação, democratização do acesso e formação de
plateia. Traços que, em se tratando de Sergipe, dialogam com a
necessidade de permitir que os agentes culturais sejam protagonistas dos
projetos da área.
Hoje já percebemos uma maior relação entre a produção cultural
sergipana e a população. Editais de produção e circulação, festivais de
teatro e semanas de dança contribuem para essa mudança. O sergipano está
aprendendo a olhar e admirar o que produzimos aqui. É autoestima,
sergipanidade em alta. Uma vitória, portanto.
Sim, ainda há muito por fazer. O processo de institucionalização das
práticas de gestão na área da Cultura ainda caminha em quase todas as
unidades federativas do Brasil. Mas já avançamos muito. As ações
culturais chegaram ao interior através dos editais, pontos de cultura
foram instalados em todos os territórios, novos grupos de teatro, dança,
música e de outras linguagens surgiram, demandando mais editais, mais
capacitação, mais fomento. É uma mudança também na forma de se enxergar
como agente cultural.
Encerraremos este ano com apresentações da Orquestra Jovem de
Sergipe. Crianças e jovens da comunidade do Santa Maria que passaram o
ano estudando música clássica, num projeto que permite a interação entre
cultura e inclusão social, o simbólico da linguagem da música a serviço
da cidadania. Mudança, a palavra da vez.
Espero que os sorrisos dos meninos do Santa Maria se multipliquem e
consigam chegar em outro plano, como uma homenagem ao homem que começou
todo esse movimento de mudança, Marcelo Déda, o governador que ficou
conhecido como “O Semeador de Sorrisos” e que nesta terça-feira, 2,
completa um ano de ausência física entre nós.
Eloisa Galdino
Secretária de Estado da Cultura desde 2009
Secretária de Estado da Cultura desde 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário