segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

“Sobre cultura, mudanças e desafios” – artigo de Eloísa Galdino


A edição do jornal Cinform que circular na segunda-feira, 1º de dezembro, trouxe  artigo assinado pela secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, sobre política cultural. Confira a íntegra abaixo:

Sobre cultura, mudanças e desafios

Já faz algum tempo que a Cultura passou a ter um tratamento diferenciado no âmbito das políticas públicas. Tempo também faz que gestores, agentes e sociedade discutem, elaboram e lutam pela criação de ferramentas de gestão e modernização capazes de fornecer à Cultura a primazia que ela já tem naturalmente em nosso processo de inserção no ambiente social. Deste conjunto de ferramentas fazem parte o Sistema Nacional de Cultura, o Plano Nacional de Cultura e a criação do Conselho Nacional de Políticas de Cultura. Pra cada uma delas, uma versão estadual.

Na essência, todas as transformações possuem relação direta com a forma do brasileiro se enxergar, democratizando o acesso aos bens culturais, revirando a estrutura, trabalhando com a ideia de sistema, e criando a concepção de que as políticas para a área precisariam ser trabalhadas em três dimensões: a simbólica, a econômica e a cidadã. Uma mudança grande, estrutural. Implementar o que chamamos  de “Marco Regulatório da Cultura” virou algo perseguido por estados e municípios Brasil afora.

Defender o marco é fazer gestão associada a uma militância cotidiana, compartilhada com os agentes da cultura e com tudo decorre disso: debate de idéias, conflitos e consensos. Essa postura tem relação com uma quebra de paradigma, afinal, significa o convite pra sair do “preciso de apoio para o meu projeto” e trabalhar intentos maiores e coletivos, inclusive tendo como foco a inserção da Cultura como uma área fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Neste ponto, assim como em muitos outros, ainda temos uma longa caminhada pela frente.

Porque a riqueza que a Cultura representa do ponto vista simbólico para a nossa formação ainda não conseguiu fazê-la protagonizar este papel nos orçamentos públicos, e esta é uma questão emblemática.  Ela tem relação com a demanda da sociedade, que muitas vezes precisa de serviços públicos tão básicos que vai ser difícil aparecer o pleito por um teatro, biblioteca ou museu. Mas seguimos acreditando que isso é uma construção social, quanto mais a vida melhora,  mais ampliamos o repertório de necessidades. É isso que faz a Cultura sair do cenário onde sempre esteve, de subfinanciamento.

O trabalho da Secretaria de Cultura de Sergipe nos últimos anos percorreu este caminho. A elaboração do nosso planejamento e a execução da nossa política buscou avançar e incluir Sergipe nas discussões e decisões contemporâneas capitaneadas pelo Ministério da Cultura. O nosso objetivo sempre foi promover uma maior articulação entre os agentes culturais e a Secult. Para isso, passamos a atuar em consonância com a política nacional de cultura, tentando avançar na validação de novos mecanismos de gestão, na legislação sobre cultura, ampliando a intersetorialidade e a transversalidade.

Além disso, as ações empreendidas dialogaram com o fortalecimento da nossa identidade, a valorização do nosso patrimônio material e imaterial e elevação da nossa autoestima. Podemos dizer, sem medo de errar ou exagerar, que o nosso governo foi o que mais investiu na recuperação e na preservação no nosso patrimônio histórico, tendo como maiores exemplares disso o Palácio Museu Olímpio Campos, o Museu da Gente Sergipana, O Campus da Cultura, em Laranjeiras, e a Praça São Francisco, em São Cristóvão.

Os projetos das mais diferentes linguagens tiveram relação direta com o tripé que alicerça as políticas de Cultura na atualidade, as dimensões simbólica, econômica e cidadã. Assim, todas as ações tiveram e tem relação com capacitação, democratização do acesso e formação de plateia. Traços que, em se tratando de Sergipe, dialogam com a necessidade de permitir que os agentes culturais sejam protagonistas dos projetos da área.

Hoje já percebemos uma maior relação entre a produção cultural sergipana e a população. Editais de produção e circulação, festivais de teatro e semanas de dança contribuem para essa mudança. O sergipano está aprendendo a olhar e admirar o que produzimos aqui. É autoestima, sergipanidade em alta. Uma vitória, portanto.

Sim, ainda há muito por fazer. O processo de institucionalização das práticas de gestão na área da Cultura ainda caminha em quase todas as unidades federativas do Brasil. Mas já avançamos muito. As ações culturais chegaram ao interior através dos editais, pontos de cultura foram instalados em todos os territórios, novos grupos de teatro, dança, música e de outras linguagens surgiram, demandando mais editais, mais capacitação, mais fomento. É uma mudança também na forma de se enxergar como agente cultural.

Encerraremos este ano com apresentações da Orquestra Jovem de Sergipe. Crianças e jovens da comunidade do Santa Maria que passaram o ano estudando música clássica, num projeto que permite a interação entre cultura e inclusão social, o simbólico da linguagem da música a serviço da cidadania. Mudança, a palavra da vez.

Espero que os sorrisos dos meninos do Santa Maria se multipliquem e  consigam chegar em outro plano, como uma homenagem ao homem que começou todo esse movimento de mudança, Marcelo Déda, o governador que ficou conhecido como “O Semeador de Sorrisos” e que nesta terça-feira, 2, completa um ano de ausência física entre nós.
Eloisa Galdino
Secretária de Estado da Cultura desde 2009

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