terça-feira, 5 de abril de 2022

Dom Orani Tempesta um cardeal católico ao lado de uma besta fera. ARREPENDEI-VOS (Mt 4,17)

 SOBRE UM ERRO ESTRATÉGICO-TEOLÓGICO E UMA APOSTA. NOTA

Não é segredo para ninguém e menos ainda para quem estuda o catolicismo romano no Brasil que a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro tem sido um real problema na ação pastoral urbana. Desde a década de 70, os Bispos/Cardeais que governam a Igreja no estado, alimentam uma postura conservadora que beira ao anacronismo em termos de prática pastoral e leitura teológica do mundo. Sempre tem as exceções, mas a regra é um distanciamento do mundo dos mais pobres e das imensas periferias que definem o Rio de Janeiro real. Esses prelados que atuam no Rio acreditam piamente que a administração dos sacramentos nas periferias é a forma mais certeira de evangelização. Tendo as missas diariamente e outras práticas sacramentais, o catolicismo tem seu lugar garantido na vida das pessoas. As classes médias católicas têm suas “confrarias conservadoras” propaladas em redes sociais e criando confusões teológicas sempre que possível. Não precisamos prosseguir mais nestes equívocos lamentáveis numa “pastoral urbana”. A prova disto? O rio de Janeiro é hoje o estado mais “pentecostal” do Brasil. Com isto, não queremos aqui fazer apenas uma crítica ao movimento pentecostal (mais complexo do que imaginamos) ou demonstrar alguma superioridade do catolicismo em relação a eles. Não se trata disto. Se trata de identificar uma prática pastoral profundamente equivocada e sem uma estratégia eficiente num mundo urbano, periférico e em constante mutação. O capitalismo numa cidade como o Rio de Janeiro tem peculiaridades e que foram dinamizadas cada vez mais no Século XX. Era preciso ter uma atividade pastoral moderna e antenada com as mudanças nas periferias de uma cidade que cresce desordenadamente e exclui constantemente os mais pobres.

A história das práticas dos cardeais e bispos do Rio de Janeiro desde Dom Sebastião Leme é acreditar e implementar uma política de aproximação com os ricos e os políticos no poder de plantão. Se a Igreja evangeliza os poderosos e mantém bom relação com eles, estaria ela fazendo a política pastoral correta. Evitar a todo custo conflitos e embates passa a ser a missão da Igreja (ver as pesquisas de Riolando Azzi). Nunca defendemos que Igreja deva ter um partido político ou fazer campanha para candidato algum. Essa não pode ser a tarefa da Igreja. Mas jamais deveria se afastar da luta contra a pobreza ou por ações sociais efetivas que beneficiem os mais vulneráveis. Não se constrói uma efetiva pastoral urbana sem uma profunda sensibilidade social coletiva. A atitude dos últimos cardeais do Rio de Janeiro tem demostrado exatamente o contrário: uma insensibilidade social e uma aposta em defesa de temas morais como prática pastoral. A pobreza e seu combate têm bem menos importância do que coisas sem sentido como “ideologia de gênero”. Cada vez mais fraca e desatualizada a formação teológica dos seminaristas em seminários católicos no Rio. Uma formação teológica fechada, afastada do povo, com uma cultura pré-Vaticano II. Com essas práticas, não tem catolicismo sério que resista. Estão à anos luz dos objetivos do Papa Francisco. Sinodalidade e “Igreja em saída” não fazem parte das ações pastorais da Arquidiocese do Rio. Não temos nenhuma possibilidade de diálogo entre a Igreja católica no Rio e a cultura intelectual consolidada na cidade, nas universidades ou nos meios de comunicação. Uma Igreja à deriva se achando no melhor dos mundos possíveis.

Uma aposta. Espero que o Papa Francisco tenha vida longa em seu pontificado para conseguir emplacar um bispo/cardeal antenado com uma pastoral urbana eficiente e justa no Rio de Janeiro quando gente como Dom Orani Tempesta chegar ao fim. Temos até um nome que seria ideal nesta atual conjuntura para ser pastor-bispo na terra de São Sebastião: Dom Vicente Ferreira. O bispo mais inteligente que conhecemos e ligado à vida urbana que vemos na Igreja do Brasil. Atualmente, Dom Vicente é bispo auxiliar na cidade de Belo Horizonte. Acabei de ler suas reflexões no livro: “Brumadinho. 25 é todo dia” publicado pela editora Expressão popular (2020). O livro é o resultado do envolvimento de Dom Vicente com a comunidade, depois da destruição de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2018. Uma espécie de crônica poética que expressa o pensamento, o sentimento, a dor e a revolta daqueles que perderam seus parentes e amigos com o rompimento da barragem de rejeitos pela mineradora Vale. Em alguns momentos, o autor nos faz ouvir as vozes daqueles que foram levados pela lama tóxica, com a reconstrução dos fatos do crime ambiental e social. Os católicos do Rio de Janeiro precisam de um pastor como Dom Vicente.

Romero Venâncio (UFS)



CARTA ABERTA A DOM ORANI TEMPESTA: ARREPENDEI-VOS (Mt 4,17)



Exmo Sr.

Dom Orani Tempesta

Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro 

 Exmo Sr Arcebispo, 

 estivesse eu me dirigindo a um bispo identificado com o povo pobre – tal como nasceu, viveu e morreu aquele que confessam por mestre, Jesus Nazareno –, eu me sentiria mal usando esse tratamento formal, e meu interlocutor certamente também se sentiria constrangido. Esse certamente não parece ser o seu caso; portanto, Excelência, não posso dirigir-me a vós senão por essa formalidade do mundo, que agrada aos que são do mundo.

 Escrevo para fazer o que, provavelmente, muitíssimos fiéis do seu arcebispado e muitos padres sob sua autoridade gostariam de fazer: alertá-lo para o descaminho em que se meteu, fazendo ouvido mouco às palavras do próprio Cristo. Pior que isso: fazendo ouvidos de mercador, porque se tratou mesmo de comércio de um “príncipe da Igreja” com os vendilhões do templo, o seu encontro, neste 4 de abril, com o presidente Bolsonaro e seu filho senador. 

 Não me venha com a desculpa de que Cristo comia com os pecadores, ou com aquela teologia manca e falaciosa, pela qual se afirma condenar o pecado, mas não o pecador. Seu mestre (será mesmo?) alertou, sem meias palavras: Eu os estou enviando como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas (Mt 10, 16). 

 Será possível que, em mais de 50 anos de vida religiosa, jamais meditou sobre essas palavras? Será que um homem da Igreja, com 25 anos de vida episcopal, cai em uma armadilha dessas, sem saber que está se prestando como (falso) inocente útil para os fascistas? 

 Será que alguém que, como sacerdote, acompanha de perto a trajetória da CNBB há mais de quatro décadas, não foi capaz, até hoje, de entender que Bolsonaro, seus filhos e seus maiores apoiadores são nazi-fascistas?

 Desconhece, Vossa Excelência, que esse ex-capitão, com quem se congraçou, assim como seus filhos, é um defensor da tortura? Desconhece que Bolsonaro é um defensor dos atos mais vis praticados pelos militares durante a última Ditadura em nosso país, contra presas e presos políticos? Desconhece que esse homem favorece conscientemente o crime organizado e as milícias, facilitando a venda de armas e munições, praticamente sem controle? Desconhece o que esse sujeito disse e fez com respeito à pandemia do Coronavírus em nosso país? Desconhece os atos e os pronunciamentos anti-democráticos do homem com quem se deixou fotografar? 

 Sinceramente, não consigo acreditar nisso. Na verdade, é mesmo impossível acreditar nisso. Só me resta entender que os Bolsonaros compraram o apoio do Arcebispo do Rio de Janeiro, oferecendo dinheiro arrecadado no Cristo Redentor, ao preço altíssimo de Vossa Excelência trair seu mestre, cuspir no seu Evangelho, e dar aval para que católicos votem mais uma vez naquele que é a negação de tudo o que se pode aprender com Jesus de Nazaré. 

 Hoje, a imagem de Cristo entre dois ladrões já corre nas redes sociais. Mas não é Jesus – simbolizado, ali, por um crucifixo pendurado na parede – quem abençoa os dois criminosos impenitentes e incorrigíveis. Quem os abençoa e lhes presta o serviço de afiançar os crimes, é Vossa Excelência, Dom Orani, que sequer se envergonha de instrumentalizar a imagem do Cristo martirizado para dar apoio ao que de pior já se gestou na política brasileira. 

No facebook de Flavio Bolsonaro a foto está lá, com essa mensagem: “Estivemos hoje com Dom Orani Tempesta ...para reafirmar o compromisso com os valores da família e do respeito à vida!” Que sacrilégio! Vossa Excelência acredita que os Bolsonaros, como Jesus, vieram para que todos tenham vida, e vida em abundância (Jo 10, 10) ?

Dom Orani, o grande pecador, nesse episódio, foi Vossa Excelência, já que os Bolsonaros não crêem em uma palavra sequer dos Evangelhos. E lhe digo mais: eles sabiam que não o estavam enganando; que sua escolha foi consciente, que V. Excia escolheu o erro. Diferente de Jesus, que levado ao alto de um monte pelo demônio, para ser tentado, o repeliu (Mt 4, 8ss), Vossa Excia se colocou, por vontade própria, no alto do Corcovado, aceitou a oferta dos representantes de Satanás, e ajoelhou-se diante deles. 

Alguns religiosos sonham com o martírio, um momento de provação extrema em que provariam ou provarão seu amor incondicional à sua causa e ao seu Deus. O seu momento de martírio, Dom Orani, está sendo ofertado agora; está em suas mãos. Publicamente peça desculpas a Deus e às suas ovelhas, pelo grande pecado cometido hoje, ao prestigiar o anti-Cristo e favorecer seus planos de morte. 

Faça isso, antes que chegue o dia em que seja chamado a renunciar, pelo escândalo causado aos fiéis. São palavras de Jesus: Qualquer que escandalize um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar. (Mt 18, 6).

Atenciosamente

 Wilmar da Rocha D’Angelis

    Indigenista e Linguista

 Nota de repúdio e indignação  

“O mercenário, que não é pastor [...], 

vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge” (Jo 10, 12) 

Mais uma vez, expressamos nossa indignação com a presença do Sr. Presidente da República em um templo católico: no dia 04 de abril, acompanhado por diversas autoridades, visitou o Santuário do Cristo Redentor na cidade do Rio de Janeiro para acompanhar a assinatura dos termos de um protocolo de intenções e de um acordo de convivência entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. 

Ainda insistindo em ser reconhecido como “católico”, o Sr. Jair Messias Bolsonaro declarou: “Um protocolo de grande simbolismo para nós, católicos de todo o Brasil. Um governo que acredita em Deus e defende a família. A fé que nos elegeu, nos salvou no passado. Sem a fé, como resistiríamos com tantas adversidades, com grande parte da imprensa contra nós”. 

Essa declaração é extremamente vergonhosa! Como tantas vezes, o que ele disse aos pés da estátua do Redentor é um deboche: como ele ainda pode se dizer católico? Ou melhor, como ele ainda pode querer ser reconhecido como cristão? O Sr. Presidente da República despreza o maior dom de Deus: a vida, como mostrou inúmeras vezes durante a pandemia de COVID-19. Ele desrespeita o meio ambiente e os habitantes originários de nossas terras, é racista, misógino e homofóbico e não esconde sua aversão aos pobres, aquelas e aqueles que sempre foram centrais para Jesus, o Redentor. Todos sabemos que não foi a fé que o elegeu, mas a criminosa fábrica de fake news liderada por seus filhos e pelo “Gabinete do Ódio”. 

Não obstante, o que mais nos leva a expressar nossa indignação é a presença de autoridades católicas, especialmente Dom Orani Cardeal Tempesta, na ocasião. No ano de sua eleição, durante a celebração da Missa Crismal, o Papa exortou aos bispos e aos presbíteros: “Sede pastores com o ‘cheiro das ovelhas’”. Não é possível conceber um Bispo com “cheiro das ovelhas” ao lado do lobo. 

Na cidade do Rio de Janeiro, as vítimas do poder abusivo do Estado e das milícias se multiplicam todos os anos. Quantas crianças perdem sua vida por terem sido atingidas por balas perdidas? Quantos moradores de comunidades periféricas vivem constantemente com medo entre as armas dos policiais e dos milicianos? As vítimas da violência sistêmica e dos abusos do poder são as “ovelhas”, cujo cheiro deveria impregnar a vida e a ação de todos os fiéis ordenados, 

a começar pelo Arcebispo Metropolitano. Mas no lugar de estar com as “ovelhas”, o que assistimos estarrecidos, no último dia 04 de abril, foi um Bispo ao lado do lobo. 

Se não bastasse esse fato escandaloso, o Sr. Jair Messias Bolsonaro, em claro aceno eleitoreiro, participará de uma missa, no dia 09 de abril, no Santuário de São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes/ PR. Novamente, sua presença em um templo católico causa indignação porque bem sabemos que ele é qualquer coisa menos cristão. Seus atos e seu ódio constantemente dirigidos contra tudo e contra todos estão muito longe da bondade e da misericórdia de Jesus de Nazaré. 

Mas nossa indignação é novamente maior com aqueles que estão à frente do Santuário e deveriam ter “cheiro de ovelhas”. Mas eles se reúnem com o lobo. Lembramo-nos do capítulo 10 do Evangelho segundo João: o lobo aproxima-se, arrebata e dispersa as ovelhas porque aqueles que estão à frente do rebanho não são pastores, mas mercenários (Jo 10, 12-13). Em um ano de eleições, ver mercenários simplesmente abrindo seus templos para que o lobo arrebate as ovelhas é um escândalo! 

O Sr. Jair Messias Bolsonaro escandaliza ao pisar templos católicos, porque de cristão ele não tem nada. Do mesmo modo, escandalizam aqueles que permitem que ele o faça. Fazemos nossas as palavras de Wilmar da Rocha D’Angelis, indigenista e linguista: “Alguns religiosos sonham com o martírio, um momento de provação extrema em que provariam ou provarão seu amor incondicional à sua causa e ao seu Deus. O seu momento de martírio, Dom Orani, está sendo ofertado agora; está em suas mãos. Publicamente peça desculpas a Deus e às suas ovelhas, pelo pecado cometido hoje, ao prestigiar o anti-Cristo e favorecer seus planos de morte. Faça isso, antes que chegue o dia em que seja chamado a renunciar, pelo escândalo causado aos fiéis. São palavra de Jesus: ‘Qualquer que escandalize um destes pequeninos, que creem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar’ (Mt 18,6)”. 

Sim! É hora de pedir perdão pelo acontecido no Rio de Janeiro e evitar que um novo escândalo aconteça no estado do Paraná. 

Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo 

06 de abril de 2022.

(acrescido nessa postagem em 07/04/2022)

Acesse a carta acima e/ou compartilhe com o link abaixo:

https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/617657-padres-repudiam-presenca-do-presidente-bolsonaro-em-santuarios?fbclid=IwAR2_Np5mf4aH0IxAQL6364ZLA_JvX41JBYin7h0Ijc1mxHN9YZxpm5Nk8NI


CENTRO DOM BOSCO: PADRE É AMEAÇADO POR GRUPO DE EXTREMA-DIREITA CATÓLICA NO RIO DE JANEIRO, CARDEAL ORANI CONTINUA DE "BRAÇOS CRUZADOS" 

"Os ataques vêm do Centro Dom Bosco (CDB), grupo católico fundamentalista. O pároco avisou a polícia que o grupo estaria se organizando, por meio do Telegram, para impedir a missa que ele realizará na quinta-feira de Páscoa, no próximo dia 17. 'Depois de dois anos parados, vamos voltar com nossa Semana Santa, seguindo os moldes das semanas santas mineiras. Haverá  procissões e cerimônias litúrgicas diversificadas. Porém, depois da cruzada dos componentes do CDB, temos sempre sofrido ataques. Aliás, eles já estão se organizando pelo Telegram', diz o padre Wanderson. O religioso é conhecido por incoporar elementos do Seder de Pessach, considerada a última ceia celebrada por Jesus na liturgia normal. As mulheres também participam ativamente da missa, que tem, inclusive, o ritual de lava-pés realizado pelo padre em fiéis católicos. Trata-se alusão ao mesmo ato praticado por Jesus na Última Ceia". 

Padre é ameaçado por grupo de extrema-direita católica no Rio

(acrescido nessa postagem em 07/04/2022)

Assista também:

Concílio Vaticano II e a Extrema-Direita Católica - com Prof Romero Venâncio (UFS)




 


Analisando os 9 anos do Papado de Francisco - com Pe Leonardo L. Dall Osto | @Leonardo Dall Osto




 

Mais Católicos que o Papa - com Prof Dr. Fábio Py Murta




 
Dauro Machado: O radicalismo de grupos tradicionalistas católicos no Brasil divide a Igreja, afronta e difama

'Acompanhando os passos da Igreja Católica Apostólica Romana, venho assistindo estarrecido a algumas posições tradicionalistas e radicais de mentes, a meu sentir, patológica e espiritualmente comprometidas'

PorDauro Machado -5 de dezembro de 2021

Acompanhando os passos da Igreja Católica Apostólica Romana, venho assistindo estarrecido a algumas posições tradicionalistas e radicais de mentes, a meu sentir, patológica e espiritualmente comprometidas. O expoente destes que classifico como “impostores” é o Arcebispo italiano Carlo Maria Viganò, que com seus ataques ao Papa Francisco e com seus delírios tradicionalistas envergonha a dignidade episcopal e a Academia Pontifícia. Viganò foi do corpo diplomático da Santa Sé.

Viganò, no entanto, está em lugar incerto e não sabido e a Santa Sé, o Romano Pontífice, o Código de Direito Canônico e a autoridade estabelecida da Igreja que cuidem dele. O que de fato me causa verdadeira espanto são alguns grupos que se juntam no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, para com seus delírios radicais tradicionalistas começarem a passar dos limites aceitáveis.

Vejamos, por exemplo, o caso da Associação Civil Centro Dom Bosco. Essa instituição não pertence à Igreja Católica. Canonicamente, nunca teve seus estatutos sequer apresentados ou aprovados pelo Bispo local, menos ainda pela Santa Sé. Trata-se, pois, de um grupo de pessoas que usam da liberdade civil de se associarem, como se associam todos aqueles que assim o querem e com o respaldo constitucional.


O problema dessa instituição é o pensamento nada cristão e tampouco caridoso que coloca em prática numa suposta e inexistente “Guerra Santa” contra as legítimas autoridades da Igreja Católica Apostólica Romana, fundada por Cristo e que tem o Papa como cabeça. Uma vez que não tem qualquer reconhecimento diocesano ou pontifício, não pertence canonicamente enquanto instituição, à estrutura da Igreja. Ainda bem.

Alguns de seus integrantes são também simpatizantes de movimentos como a TFP (Tradição, Família e Propriedade) ou de sua nova roupagem, o chamado “Instituto Plínio Corrêa de Oliveira”. Encontra-se também no Centro Dom Bosco monarquistas delirantes, que sonham com títulos nobiliárquicos e com a volta de um Império que não ocorrerá num país que rechaçou a Monarquia num plebiscito – goste-se ou não, somos uma República.

Atualmente esse Centro Dom Bosco? Usa o nome do santo católico italiano, símbolos glamourosos como brasões e espadas para parecerem integrantes institucionalmente da Igreja. E a que serve Não o são. São tradicionalistas, julgam-se salvos e perfeitos e prontos para usar veneno, injúrias, distorções da verdade e “fake news” para difamar a Igreja e seus ungidos. Sonham com o retorno da Missa antiga em latim em todas as paróquias, mesmo sabendo que a maioria do povo não entendia grande parte do que era dito. Deveriam ser adeptos do hinduísmo, já que para eles a Igreja verdadeira deveria ser aquela dividida em castas. Eles, é claro, seriam de casta superior.


Espanta-me, por exemplo, a forma grosseira, agressiva, radical e intolerante ao criticarem decisões do governo episcopal. São desrespeitosos com cardeais e bispos, sucessores dos Apóstolos, a quem canonicamente devem obediência. Quem está debaixo de autoridade – e todos os católicos estão – deve em regra acatar as decisões de seus líderes, ou, no máximo, expor de modo respeitoso, veraz e com espírito de comunhão as razões de suas discordâncias.

Chegam a absurdos de, por exemplo, não se poder nem mais nomear em paz um Bispo Auxiliar para o Rio de Janeiro, sem que tais movimentos tradicionalistas usem de ferramentas digitais não transparentes, executadas de forma descaradamente disfarçada para difamar, criticar, atribuir até mesmo crimes e pecados.

São contrários ao Concílio Vaticano II e favoráveis a uma Igreja afastada dos pobres e da realidade do mundo. Julgam-se, quiçá, da própria linhagem de Jesus ou, ao que parece, superiores. Afirmam que a Igreja atual é falsa, chamam-na de “A Outra”, a “anti-Igreja”, pois em suas ensandecidas teses de manicômio, a Igreja Verdadeira não é a governada por Francisco, mas sim a Pré- Conciliar.

Às vezes me pergunto por que as autoridades eclesiásticas constituídas não tomam medidas canônicas possíveis contra esses reativos. Refletindo bem, cheguei à conclusão  de fato, que o melhor é o desprezo. Não fazem parte canonicamente enquanto instituições, da Igreja, não falam por ela, não têm Estatutos reconhecidos ou aprovados pelas esferas eclesiásticas. Na verdade, são rebeldes, desaglutinadores, plantadores da discórdia e da dúvida principalmente naqueles menos informados que acreditam em sua falsa santidade ou pureza. A Santa Sé e as Dioceses estão praticando o certo, perdoando e ignorando aqueles que são contrários à misericórdia de Cristo, à vocação da Igreja de abertura a todos os homens e mulheres e voltada com atenção especial aos pobres e à caridade.


De minha parte, não tive a paciência esta semana de calar-me mais. Este Centro Dom Bosco, assim como outras correntes tradicionalistas que conspiram contra o Ministério Petrino e a Igreja Católica, são apenas reacionários passadistas. Não estão em comunhão com a barca de Pedro. Tentar dialogar com eles? Para que, se não têm nenhum reconhecimento formal junto à Igreja? Quanto a este e a outros institutos semelhantes, pomposos, preconceituosos, o melhor a fazer é silenciar ante ao barulho visto como circense que às vezes fazem.

Afinal, do que adianta tentar dar palavras aos cães e pérolas aos porcos?

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.






Eduardo Brasileiro
depois da vergonhosa acolhida de um padre no Paraná ao presidente da república, uma posição fundamental de Dom Reginaldo Andrietta, bispo de Jales, da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB.
Acrescentado a essa postagem em 11/04/2022

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