terça-feira, 8 de julho de 2025

EMERGÊNCIA CULTURAL: Por uma Revolução Sementeira. Célio Turino

 


É tempo de levantar, de cantar, de sonhar com os pés no chão. O mundo desaba sob as lógicas do extrativismo, da ganância, do medo e da indiferença. Mas é justamente na fresta, na beira, no canto e na roda, no pé ante o abismo do colapso, que nasce o novo. E o novo vem da Cultura. Vem das mãos que criam, das vozes que narram, dos corpos que celebram. 

EMERGÊNCIA CULTURAL como semente, como raiz, como horizonte.

Chega de tratar cultura como adorno. Cultura é o primeiro passo da dignidade. Antes de comer vem o ato de coletar, a estratégia de caçar, o plantio, a criação dos bichos. Antes de plantar vem o ato de semear, de lavrar a terra ou domesticar os bichos. Extrair, desmatar, explorar, cultivar, criar, isso tudo é Cultura. É o processo antes do alimento. Vem antes do prato de comida porque é o modo de cozinhar e temperar. Antes da casa vem o jeito de morar. Antes da escola, a vontade de aprender. É o que vem antes e o que surge depois.

Cultura é o solo onde tudo se semeia: solidariedade, consciência, revolução. Também o contrário disso. Depende da semente cultivada, da semente que se espalha.

Nenhuma transformação será sustentável se não for cultural. Não basta trocar governos ou sistemas econômicos. Nem basta protestar. Cultura é mais que poder, é potência. Potência, substantiva feminina, distribuída, assim como a Cultura. Diferente de Poder, patriarcal, fálico, concentrador. Para realizar a Potência é preciso complementar, o oposto de Poder que para ter é preciso tirar. Transformar pela Cultura é trocar o que nos move por dentro. Ressignificar o tempo, o encontro, o comum. Recuperar o fio da história e revolucionar o imaginário.

EMERGÊNCIA CULTURAL é revolução que vai emergir das bordas e vai brotar como flor entre os muros do capitalismo. Sistema apodrecido, ainda mais nesse tempo de ganância exponencial sob as manipulações e censuras algorítmicas, armamentismo, guerras, ódios, mentiras, tecnofeudalismo e Inteligência Artificial. 

Cultura é o tambor de dentro que ninguém cala. O grafite que fura o cinza. O sarau que desafia a solidão. A reza no quilombo. A voz na quebrada. A dança nas aldeias. O cortejo dos invisíveis. A criatividade. É a sabedoria dos povos que resistem, que insistem, que existem. É a força da eterna desconhecida, a energia da ciranda dos que juntam mãos com mãos.

EMERGÊNCIA CULTURAL é também a recusa ao monocromático, ao monocultivo, ao pensamento único. É a singularidade na multidão, a celebração do diverso, do contraditório, do plural. É o reconhecimento das epistemologias de raiz. É luta de Classes e desafio civilizatório que bate à porta mesmo quando abafado. Das lutas sociais às cosmologias originárias, o fio da história está em tudo, por isso emerge.

Fazer revolução pela EMERGÊNCIA CULTURAL é partir do ancestral, mas não parar nele, é inventar o que nem se sabe, o que nunca se viu. Movimento em espiral, a Cultura cavouca lá no fundo, gira e dá o salto para cavoucar de novo, e saltar novamente, com mais força. É arte! 

Arte que está presente na descoberta dos sentidos do Bem Viver, do Ubuntu, nas lutas antirracistas, anticoloniais, na emancipação das mulheres, na coragem dos LGBTQIA+, na generosidade e abundância da agroecologia e agroflorestas. Arte que deve seguir no inconformismo dos jovens. 

“Jovens: Sejam revolucionários!”, clamou Papa Francisco. Vamos dizer agora, todos nós: Jovens, não percam a esperança e o rumo, sejam revolucionários! Nada menos que isso. Não se conformem. Não se amoldem. Mesmo que sejamos poucos, estaremos aqui para dizer que a chama da revolução não se apaga. Explorados e humilhados do mundo, gente de todos os cantos, gente que se recusa a ser coisa: Sejamos revolucionários! 

É a Arte e a literatura que nos transporta ao Outro. Assim nos move no tempo, no espaço, ativando percepções, sensações, emoções, reflexões. Arte é movimento. 

Emerjam! 

Movam-se!

Revoltem-se! 

Politizem a Cultura. 

Culturalizem a Política.

Cultura é luta proletária, é a indignação contra a opressão e a lucidez da revolta. Está nos significados e sentidos das trabalhadoras e trabalhadores, dos que batalham para ganhar a vida, dos que empreendem com seus sonhos e corpos, dos periféricos, ofendidos e abandonados. 

Cultura atravessa tudo. Vive na chama dos imprescindíveis, dos que lutam por toda uma vida, não por necessidade, mas por consciência. 

É socialismo que se reinventa em Ecossocialismo. 

É a força dos que não se rendem. 

É a potência da multidão e a ousadia da revolução.  

Cultura como imaginação, potência simbólica, ferramenta de emancipação. O Brasil é solo fértil para essa revolução profunda, diversa, biocultural. Há um país subterrâneo que pulsa nos terreiros, nos Pontos de Cultura, nas cozinhas solidárias, nas bibliotecas comunitárias, nas festas populares, nos saberes esquecidos e na invenção da cultura digital. Nos Mutirões, no Motirô. Há um povo que não se rendeu. Que canta. Que luta. Que sonha junto. 

Quando esse povo emergir o Brasil será um país bom, belo e justo para todo mundo. Quiçá essa emergência venha junto com nossos irmãos da América Latina; mais que isso, junto aos povos de todo mundo. Que venha logo esse dia. É urgente e emergente. Povos a darem mãos à humanidade estilhaçada em Gaza e em todos os cantos do planeta em que se mata, se destroça, se despreza, se descarta. Quando essa emergência acontecer, todos dirão em coro: Já basta!

Já basta. A cultura é o início da mudança profunda. E toda revolução começa por um ponto, com um canto, um encontro, com uma ideia que se compartilha e vira fio a tecer outros fios até compor um tecido, um pensamento, um sonho comum. Cultura viva, cultura forte, cultura para transformar de verdade.

A quem acredita na vida antes do lucro, na poesia antes do protocolo, na dignidade antes da mercadoria, faço esse chamado. Urgente sem ser apressado. Histórico sem ser saudosista. Popular sem ser populista. Radical porque vai à raiz. De futuro porque semeia. É tempo de:

URGÊNCIA HISTÓRICA, 

EMERGÊNCIA CULTURAL, 

REVOLUÇÃO!

A paciência do mundo esgotou. Os colapsos do clima e da civilização estão aí a demonstrar. Quem vem junto? Ainda há tempo, mas o tempo não espera. 





















E tem mais:
Muito boa essa aula pública. Um verdadeiro "aulão" sobre cultura digital. Vale para iniciantes e iniciados....

transmissão completa abaixo:


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