quinta-feira, 5 de abril de 2012

PROJETO SERTÃO VIVO REALIZA A 7ª JORNADA DE ARTES NA ROÇA



Nós, da Comunidade do Sítio Aroeiras, no município de Orós / CE, vivemos os dias 22 a 25 de março em clima de arte e festa, durante a realização da 7ª Jornada de Artes na Roça.
Desta vez, mesmo tendo optado por uma maneira mais interna, visando envolver o máximo as pessoas da comunidade, estiveram presentes mais de 70 pessoas das localidades vizinhas, além daquelas pessoas que participaram e nos apoiaram, enviando mensagens, compartilhando apoios em alimentos, dinheiro e dando suporte em Fortaleza.
Foram mais de oito modalidades de atividades artísticas em torno do tema-lema:

“Na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.

No primeiro dia, 22 de março, em clima de lua nova, antes da 07h00min da manhã, um grupo de meninos e meninas de Guassussê, trazido por Pedro, nosso garoto mascote e, algumas mulheres dos Sítios - Sobrado e S. Romão, chegam querendo participar das oficinas de desenhos e pinturas e da criação de hortas.
Enquanto esperam que tomemos o café, assistem o DVD de Jornadas passadas. Alguns trazem um pouco de arroz, macarrão, leite... e dizem que desejam permanecer o dia todo.
No terreiro dos ancestrais, numa roda de ciranda, brincamos e dançamos, repetindo o lema: “na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.
Em seguida, os grupos acompanharam seus monitores – para a horta, com Ciçô Inventor, vindo da cidade de Altaneira, no Cariri Cearense, um apaixonado pelas pequenas invenções que fazem diferença nos rumos da produção orgânica de alimento. Para desenhos e pinturas, precisamos dividir em dois grupos. O maior de meninos e meninas segue o artista plástico e vídeo-educador, nosso velho parceiro, Ivo Sousa, que vai espalhando, com sua turma, pelo chão e paredes, desenhos inspirados nos encantos de cada participante. O outro grupo, formado por algumas mulheres, acompanha Fabiana, a jovem monitora da comunidade local, que passam com segurança e ousadia, seus conhecimentos na pintura em tecido.
E na cozinha, Dos Anjos, Nena, Idacir e Denir, nossas artistas da culinária sertaneja, conversam animadas, criam, definem tarefas para Ézio, Moisés, Júnior e outros homens que ousamos chegar por perto. À tarde, chega o arte-educador Gilson Lucena, articulador da RECID (Rede de Educação Cidadã), na região, trazendo o apoio da entidade para nossa Jornada. Naquele primeiro dia, tratamos de sonhos e sementes que geram vida.

No dia 23, sexta feira, trouxemos as memórias que temperam a vida. Para o almoço, chega mais um grupo de artistas – Márcia Carneiro, terapeuta e focalizadora de Danças Circulares, com sua mãe, Niva, vindas de Curitiba, Paraná; Paulo Nogueira, de Fortaleza, arte-educador, para acompanhar a Oficina de Teatro e  Pedro, nosso amigo motorista, que também participa das atividades da jornada.
A partir das duas da tarde, após uma bom relaxamento,orientado por Nena, nossa cuidadora, até a noitinha,  crianças, jovens e adultos, ocupam os espaços dos terreiros, nas sombras das Tamarineiras e  Cajaraneiras, um tipo de imbu-cajá, cujos frutos maduros, vão caindo pelo chão, numa bela e  saborosa percussão.

O sábado foi o dia das boas surpresas que alimentam a vida. A mais expressiva delas, veio da  cidade de Cariús, com o grupo de três mulheres e um homem. Uma das mulheres, dona Francisca, 72 anos, louceira e artesã, com suas criações – panelas, pratos,jarros de barro, bonecas, toalhas, tudo saído de suas mãos, para admiração e uso de todos e todas, em plena sintonia com nosso tema.
Na parte da tarde o terreiro e os corações de todos vão se enchendo de  artes – exposição de canteiros ecológicos,feitos  com garrafas pet, pelo grupo com o Ciçô; saudação pela Capoeira,coordenada pelo nosso parceiro Francisco “Machado de Prata”; apresentação do grupo de  bonecos, monitorado por Mônica, da comunidade, com o tema “A cozinha da vovó”.
A expressiva e interativa  performance da  oficina de Teatro, com jovens de  Guassussê, já bem familiarizados com as ações do Projeto, monitorados por Paulo Nogueira, foi mesmo uma verdadeira mostra de potencialidade e possibilidade artística. O encerramento da mostra foi com a oficina de Danças Circulares, facilitada por Márcia Carneiro, que foi se abrindo numa grande  ciranda onde todos e todas, até os nossos três cachorrinhos entraram felizes da vida!
 Nas noites, o ritual de sempre, a celebração da tradicional novena a S. José, iniciada em março de 1952, pelo casal mãe Suzana e pai Zezinho Paraibano e que neste 2012, completa 60 anos,sem interrupção. O momento da novena é também uma forte vivencia de arte, com animadores e tocadores, compartilhando benditos, depoimentos e apreciações das realizações dos dias, orações tradicionais e  bênçãos, numa verdadeira sintonia da espiritualidade popular tradicional com as vivências históricas da comunidade atual. Antes de dormir, aquele chá de capim santo, adoçado com um papo descontraído.

A 7ª Jornada de Artes na Roça, encerrou-se no domingo, dia  25 de março, com o café da manhã, feito pelos homens presentes – cuscuz de milho, moído na hora, cozido na vasilha de barro, frutas, leite mugido, suco verde,a Caminhada Ecológica, pelo velho riacho do Saco da Onça, um afluente do Rio Salgado, saindo  pelas 06h30min, quando contemplamos as velhas  e sagradas Oiticicas, Inharés, Sabiás, Veludos e as belas Avencas e Jericós. Da caminhada trouxemos os maxixes para o almoço e um ramo de flores de Mufumbo, para o altar de S. José, em nome dos amados e amadas, que tantas vezes fizeram este gesto nos tempos passados.
A festa final, em torno da mesa, debaixo das árvores, com o brinde de caipirinha, sucos naturais e vinho, numa bela  roda da família de sangue,arte e mística. Ali todos nós compartilhamos nossas primeiras sensações do que vivemos – “ fortalecimentos das amizades, beleza da partilha, o encanto da  mãe natureza, boas surpresas de adolescentes e jovens que já mostram seus talentos e capacidade de militância artística.”
Em todos (as), a certeza de que esta Jornada foi distinta, porque envolveu mais a comunidade local com a turma que veio de longe e um inquieto desafio, sobre em que precisamos  inovar e avançar, para um novo ciclo, após o simbólico sétimo ano de Jornadas de Artes na Roça.
Após o almoço, os abraços emocionados e agradecidos e a partida dos grupos que seguiram para Fortaleza e Iguatu.
A noite veio a tão esperada chuva, com relâmpagos e trovões, sobre nossa horta e nossa semeadura de sonhos e talentos no velho e encantador sertão vivo.

Zé Vicente – poeta cantor

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JORNADA DAS ARTES

Jovens aprendem com o sertão

25.04.2010
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JOVENS FAZEM trilha ecológica pela reserva de Caatinga preservada no Sítio Aroeiras, zona rural de Orós
FOTOS: HONÓRIO BARBOSA
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JOVENS participantes do projeto Sertão Vivo, fazem uma pintura de painel na casa mãe, no Sítio Aroeiras, zona rural de Orós. Todos deixaram sua marca com tinta e arte


Orós As chuvas deixaram a Caatinga verde, a plantação renasce no solo que até então estava seco. É hora de o sertanejo renovar as esperanças no inverno, ainda que tardio. É tempo de reativar as manifestações culturais na localidade de Aroeiras, área rural deste Município.

E foi com esse espírito que crianças, adolescentes e monitores estiveram reunidos na 5ª Jornada de Artes na Roça, que neste ano teve como tema central "A arte do bem viver no sertão". As atividades fazem parte do Projeto Sertão Vivo, uma ONG criada pelo músico Zé Vicente. A programação incluiu oficinas sobre saúde e de artes, com várias manifestações.

No âmbito do Programa Cuidando da Saúde, houve vivências e atendimentos à comunidade local, com assessoria das terapeutas de Fortaleza, Ana Maria Oliveira e Lourdes Carvalho, do Espaço Holístico Santa Tereza.

Aconteceu a capacitação técnica com um grupo de jovens que cultiva hortas e inicia a atividade de apicultura. "Neste ano, enfrentamos dificuldades porque, até março, houve falta de chuvas e perda das plantações", observou Zé Vicente. "O calor quase insuportável trouxe dificuldades de animação do grupo, mas conseguimos manter o evento em seu 5º ano".

O objetivo do projeto é oferecer melhores condições de vida e convívio no semiárido, para a comunidade local. "Os moradores precisam cultivar a cultura do encantamento e do cuidado com a natureza, que é a nossa grande e sagrada matriz", defende Zé Vicente, que na letra de suas músicas assume uma postura ecológica e mística.

"A arte, em suas várias expressões, é a bandeira principal, que motiva, reúne e provoca". Antes do início das atividades, Zé Vicente e Eliane Brasileiro realizaram show na cidade de Dormentes (PE). Uma força da arte solidária, cujos recursos arrecadados foram investidos na Jornada. A dupla contou neste ano com o trabalho voluntário de Dida Tomé, artista plástica, criadora de belíssimos cartões ecológicos cujo trabalho é denominado de eco-ternura; e Carlita Souza, educadora e militante social, vindas do Espírito Santo.

Oficinas
A chegada dos artistas e organizadores do evento atrairam os adolescentes que ficam ansiosos em participar das oficinas de artes. Os vizinhos são solidários. O agricultor Zé Darlô levou presentes: jerimuns de sua vazante e uma galinha caipira. ´Seu´ Amadeu mandou feijão. José e Vegiane, da equipe "Cuidando da Saúde", fizeram uma campanha na comunidade de Guassussê, entre pequenos comerciantes e amigos. O casal arrecadou e trouxe uma sacola de cereais.

Uma voluntária de Orós ofereceu uma toalha de banho que as mulheres resolveram utilizar numa rifa, que correu no encerramento da Jornada, gerando R$ 63,00.

Durante o dia, foram realizadas oficinas de canto e de confecção de cartões, com vários momentos de dinâmicas e interação conjunta. Cerca de 30 jovens participaram inquietos e atentos. "Transformamos o tema, num refrão repetido em todas as vozes, a arte do bem viver, pro sertão vivo crescer", explicou Zé Vicente.

De Fortaleza, outros artistas como, Conceição Almeida, Ivo Sousa, Gisele e Francisca Pérsico, participaram do encontro. A casa do Sítio Aroeira acolhe a todos. O almoço é uma festa comunitária, da partilha. Parentes e vizinhos celebram a vida.

Neste ano, a novidade foi a presença do bispo da Diocese de Iguatu, dom João Costa, e do padre Lázaro Augusto, da Paróquia de Senhora Sant´Ana. Os sacerdotes ofereceram cesta de alimentos e uma partilha financeira para a jornada.

Intercâmbio
A programação incluiu também oficinas de confecção e manipulação de bonecos e canto coral. Um grupo de visitantes do Espírito Santo veio conhecer o projeto. Zé Vicente e Ivo Souza gravaram uma entrevista com o primeiro bispo da Diocese de Iguatu, dom José Mauro Ramalho, com seus quase 85 anos de idade, e apaixonado por música. "O documento sairá em breve, na série memórias do Sertão Vivo", adiantou Zé Vicente.

A jornada inclui a celebração das memórias do bispo dom Oscar Romero, no seu aniversário de martírio. Houve também homenagem a Zé Martins, cantor e animador das comunidades rurais, falecido em outubro de 2009.

O "Bando do Padim Vô", grupo de sete jovens, vindos de Camaçari (BA), participou neste ano da Jornada. Eles percorreram quase mil quilômetros, para um encontro marcante, pois o coordenador do grupo, Enoque Norberto, havia monitorado a primeira oficina de flauta-doce na primeira Jornada realizada em 2006.

A programação também incluiu trilha ecológica pela reserva de Caatinga natural, que o Projeto Sertão Vivo está preservando no Sítio Aroeiras.

Mais uma vez, a Jornada de Arte no Sertão despertou o riso em cada rosto, provocado pelo grito dos bonequeiros e bonequeiras mirins. O coro de palmas para marcar o jogo dos capoeiristas. A atenção participada nas músicas do "Bando do Padim Vô" e o encontro no palco livre, com Zé Vicente e o grupo de Canto local. O encerramento, já é tradição com a ciranda, que marca a festa das artes da Jornada na Roça, com um novo refrão, tema deste ano: "A arte do bem viver, pro Sertão Vivo crescer!".

"Temos a certeza de que o sentido especial desses eventos do projeto precisa ser mesmo um encontro informal, a leveza, o repouso e o convívio entre artistas, famílias do sertão, parceiros e a troca e partilha de nossas criações e descobertas", disse Zé Vicente. Os organizadores anunciaram a produção de um DVD mostrando a experiência de várias jornadas no sertão de Orós.

Esta é apenas uma prática que enfatiza o quanto o sertão e a convivência com o semiárido podem ajudar a pensar em novas práticas de relacionamentos entre sociedades.

Honório BarbosaRepórter

CRIATIVIDADE
Oficinas e teatro marcam encontro
Jovens do Ceará e Bahia participaram de atividades de pintura e encerraram o encontro com musical
Orós As oficinas de teatro de bonecos, feitura de cartões ecológicos, desenhos e pinturas, na parede da Casa de Artes, monitorados pelo Ivo Souza, motivam os jovens que abrem o espírito num processo de criação espontânea e coletiva.

Até o motorista, identificado apenas por Severino, que veio com o grupo baiano, surpreendeu e se destacou, deixando uma pintura em um painel para o Projeto Sertão Vivo.

A vivência musical foi assumida pelo grupo de canto Sertão Vivo, com a troca de experiência com o ´Bando do Podem Vão´. A mistura de sons da Bahia e do Ceará foi animada. A programação oferece também oficinas de produtos de limpeza, pintura em tecido e de criação de artesanato, com diversos materiais, como cipós, fitas e penas.

As atividades artísticas atraíram a visita de professoras da Escola Isaías Cândido, do distrito Guassussê, que se dividiram, acompanhando as várias oficinas. Houve retribuição. Na escola, onde cerca de 180 alunos estavam presentes, os monitores de arte fizeram desenhos e rápidas oficinas de teatro de bonecos e música.

Para encerrar as atividades, houve uma pequena exposição preparada, no alpendre da casa, com fotos das atividades do Projeto Sertão Vivo, e cartões ecológicos, criados desde 1996, na época com a presença da artista Elda Broilo. Mostra de camisetas e tecidos pintados, velas e remédios caseiros. Uma banca com produtos de limpeza foi instalada sob uma árvore.

Na varanda da casa de Ézio Barros e Denir, o cenário para os bonecos. No centro do terreiro, a roda de capoeira do grupo Água de Beber, de Guassussê. Na esquina das pinturas, o palco para a música. Foi o cenário para o encerramento da festa com um cortejo, com mais de 100 participantes, que seguiram o estandarte de São José, o padroeiro da comunidade.

MAIS INFORMAÇÕES
Projeto Sertão Vivo
Município de Orós
Zé Vicente
zvi@uol.com.br

Músicas para ouvir após e/ou durante a leitura dos textos acima: (Sugiram outras músicas nos comentários)

Luar do Sertão - Milton Nascimento e Gonzagão

Noites do Sertão - Milton Nascimento

Céu de Santo Amaro -  Caetano Veloso e Flávio Venturinni


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