sexta-feira, 12 de abril de 2019

A união da religião, da ciência e da arte como apoio terapêutico preventivo às neuroses e às paranoias.

 "Pintando  o sete" em uma manhã de domingo na década de 1990. Praça dos Capuchinhos. Bairro América.  A coordenação da atividade esteve a cargo do professor de história e artista plástico Antônio Wanderley. Na época integrante do JUCES, um dos grupos de jovens católicos parceiros.
 Oficina de sisal em um dia comum nos anos de 1990. Sala na Igreja São Judas Tadeu, Bairro América. A coordenação da atividade esteve a cargo do instrutor e irmão da igreja Assembléia de Deus, Gerson Vilas Boas
 Brincadeira tradicional, "quebra pote", no festival infantil na década de 1990. Praça dos Capuchinhos. Bairro América.

Circulo de cultura terapêutico com  a facilitação da psicologa Cibele Ramalho, referência sergipana em psicodrama. Em um final de semana dos anos de 1990, na chácara dos frades franciscanos no povoado Mosqueiro.

A religião na AMABA/Projeto Reculturarte.

À guisa de introdução

A religião muitas vezes pode ser fonte de cura, mas pode ser também fonte de neurose e de perdição. Os exemplos são tantos que nem precisa muito esforço para pesquisar no google. Basta procurar noticias sobre a campanha de pressão em favor de Bolsonaro, que muitos pastores doidos e/ou mercenários desenvolveram. No caso da igreja católica também, porém com mais discrição.

Mas assim como pode ser o que citei, a religião pode ser fonte de cura e de libertação, libertação do preconceito, da discriminação, da solidão, da depressão, do racismo, do machismo,  do desejo de acumular bens e de explorar o semelhante.

Ontem, 23 de janeiro de 2019, entrevistando uma mulher que conheci menina, participante do projeto Reculturarte do inicio até meados da década de 1990, percebi que a devoção e um milagre de Nossa Senhora na vida dela, não significou retrocesso e recuo em matéria do que ele aprendeu e vivenciou no convívio com o grupo de educadores e dirigentes da AMABA que participaram da formação humana integral que ela recebeu durante este tempo.

Uma das passagens em que ela me chamou a atenção foi quando disse que, mesmo sendo muito devota, não frequenta a igreja com muita regularidade, por razões cujas descrições dada, remete ao que falei sobre um ambiente que favorece a criação e reprodução de gente neurótica.

E até mesmo o Papa Francisco tem chamado a atenção acerca disso. E a propósito da dimensão religiosa ou espiritual no seio do projeto Reculturarte, os momentos de oração e os estudos bíblicos eram componentes importantes dos retiros/acampamentos do Reculturarte.

Fora as conversas constantes nestes momentos e nas oficinas artísticas regulares, sobre valores humanos, defendidos no Evangelho e em outros livros bíblicos, como respeito, dignidade, solidariedade, união, transparência, diálogo, respeito às diferenças e etc...Assim como uma busca em tentar viver isso nas relações, embora como bem disse ela, por parte de alguns educadores , se ficava a desejar em alguns pontos.

Em um outro pequeno texto escrevi que o que éramos mesmos, ou que formávamos no fundo mesmo, uma comunidade terapêutica de base. Que as palavras e exemplos do querido Papa Francisco e de pastores como Henrique Vieira, Odja Barros, que recentemente esteve no curso deverão do Ceseep/PUC-SP, uma das escolas que ajudou a formar educadores do Reculturarte,  e tantos (as) outras, possam inspirar o cuidado que precisamos ter com a formação de pessoas seguras, maduras, conscientes, alegres, solidárias e centradas.

A formação de quem estava a frente do processo educativo e cultural na AMABA/Projeto Reculturarte, esteve bastante influenciada pela Teologia da Libertação. Já os protestantes que faziam parte das duas agências de fomento que patrocinaram o trabalho,a CESE e a Visão Mundial,  estavam influenciados tanto por essa, como pela Teologia da Missão Integral.

E foi graças a isso, que também as referencias da nossa herança cultural e espiritual, indígena e africana, sempre foram respeitadas e até incorporadas em nosso processo educativo e cultural, como no caso da banda e da dança afro e da belíssima festa Kizomba realizada em 1995, quando a sede da AMABA foi transformada literalmente em um barracão ou terreiro de candomblé.

Reiterando, comunidades terapêuticas de base, como uma das possibilidades de saída para um Brasil em transe.


P.S.: O pequeno texto que escrevi e onde citei pela primeira vez o termo “comunidade terapêutica de base”  “No decorrer da caminhada matinal do dia 15/01/2019, a lembrança de um país cheio de gente pirada, de gente maluca, inclusive ocupando a presidência e alguns ministérios.

Daí me ocorre a idéia de comunidades terapêuticas de base, como podemos definir  o que foi a AMABA/Projeto Reculturarte.

Nas entrevistas com os que participaram dessa iniciativa sociocultural nos anos de 1990 no bairro américa, periferia de Aracaju, salta aos olhos o quanto as ações culturais, esportivas e de reforço escolar, colaboraram com a auto estima, o sentido de pertencimento e coesão, o centramento, a construção de sentido e projeto de vida, a consciência cidadã, a alegria, o bem viver.

Portanto, precisamos ir além da discussão sobre o investimento em comunidades terapêuticas para tratar de dependentes químicos, assim como da discussão sobre a redução da maioridade penal, o que fará entupir os presídios e empurrar mais jovens para os braços do crime organizado.

O mais necessário é evitarmos a necessidade disso, de gente pirada, de gente maluca, elegendo gente igual. E para tal, precisamos de mais comunidades terapêuticas de base. O que pode também prevenir a quantidade de adolescente e jovens enredados no crime e na violência.”
Zezito de Oliveira - educador e agente cultural

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