quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE PACATUBA LEMBRAM O DIA DE SANTOS REIS

Foto - Raoni Smith

Pacatuba, é uma cidade sergipana, localizada  no Baixo São Francisco, litoral norte sergipano, distante setenta quilometros de Aracaju. É conhecida por suas belezas naturais, sendo uma delas o pantanal nordestino.

É neste município que reside Delson Nascimento da Silva Júnior, 36 anos, conhecido como Professor Júnior, com formação em Geografia e Direito. Em 2015 foi nomeado coordenador geral da Secretaria de Educação de Pacatuba.

Em 03 de janeiro de 2021, fizemos a entrevista que segue abaixo, o local foi o  mosteiro da fraternidade do discípulo amado em Alagoas  e sede da associação dos missionários do campo, organização de missionários leigos católicos da qual Junior é integrante.

Como começa o trabalho de retomada da cultura popular?

Em Pacatuba, a gente percebeu que nas escolas não haviam grupos folclóricos, não se trabalhava a questão da cultura local das crianças. Então foi ai que, a partir do programa Mais Educação pelo qual fiquei responsável,  nós fizemos as oficinas próprias para trabalhar a questão da cultura. Então foi pedido que cada escola, tivesse um grupo cultural,  tínhamos  vinte e duas escolas a principio,  e depois ficou em vinte,  e todas elas passaram a ter seu próprio grupo próprio cultural -  reisado, maculelê, pastoril, capoeira e etc..

E sobre o atual momento das comemorações em homenagem  aos  Santos Reis em Pacatuba?

No caso da festa de Santo Reis o grupo do reisado e do pastoril  faz a apresentação na inauguração do presépio, como  no encerramento no dia 06 de janeiro, quando o presépio é desmontado. Estes grupos são os que mais se afinam com a proposta do natal. Mas este ano não está tendo por causa da pandemia.

A festa de  Santo Reis  vem muito antes de mim. Quando eu era criança, tinha reisado, tinha pastoril, mas eram de pessoas  adultas, tinha banda de pífanos, tinham  as novenas de reis, também chamada  gruta em referência a  Nossa Senhora de Lourdes.

E essa  manifestação cultural se encerrava com a missa e com a procissão de São Benedito, porque não era reis. A procissão era de São Benedito, porque é forte a questão de São Benedito nessas festas, porque  São Benedito representaria na cultura afro, o rei mago negro.

Por isso, se você for na festa de reis desses lugares é São Benedito que é sempre o festejado. Então eu alcancei isso, só que depois de um determinado tempo acabou-se, ficou só na missa e depois da missa acabou tudo, por fim nem missa mais tinha.

E depois que fizemos os grupos folclóricos foi que retomou essa questão do presépio, agora se monta um presépio. Um presépio com figuras grandes de barro. Tem esse presépio que é armado todo o ano e tem  essa inauguração do presépio que é feita nesse período de dezembro e depois o final do presépio que é feito no dia 06 de janeiro.

Como foi feito  a  redescoberta das  tradições esquecidas?

A retomada da tradição foi através da procura dos idosos que fizeram parte da brincadeira. As professoras que nasceram nesse meio, com os pais dançando e elas  mesmos quando criança,  também participaram.

Então,  elas  sabiam as músicas e todo o trajeto das danças, assim   foram eles mesmo que ensaiaram com as crianças, ou àquelas  que não sabiam, chamavam alguém da comunidade que já participou e essas pessoas vinham e ensinavam para as crianças.

Os grupos folclóricos antes da pandemia, não paravam mais (risos ) iam sempre a toda festa de padroeiro nos povoados para se apresentar. Movimentavam  o povoado, geralmente bem pacato,  e aí toda festinha de padroeiro, lá estavam os grupos das escolas. Eles chamavam os  grupos desde o primeiro dia de novena até o último dia. Sempre uma escola ia apresentar com o seu grupo para animar a novena, dançando antes ou depois.  Eles andaram muito, de inicio eles eram convidados por todos os povoados.

Como a igreja local se relacionou com essa retomada?

A minha comunidade é de CEBs, a minha paróquia tem essa característica. Como ela tem essa característica de CEBs, é muito mais fácil essa questão do apoio a cultura, de inculturação da própria igreja na cultura local

A raiz cultural do povo e a religiosidade popular,  já tem introduzido essas questões de dança, de grupos folclóricos dentro da própria novena, então para o povo não é algo extraordinário é algo que faz parte da vida dele, do cotidiano da arte de celebrar, da liturgia e etc..

Como os mais velhos reagiram a essa iniciativa de retomada da tradição da cultura popular?

Os mais velhos ficaram muito feliz porque retoma as raízes, a sua história. Temos também os grupos formados por idosos. Não é só nas escolas, a assistência social também começou a fazer nos grupos de convivência esse resgate, assim,  eles tem samba de roda, tem reisado dos idosos e então,  quando tem novenas ou qualquer festa, geralmente intercala, um dia vai os idosos e no outro as crianças.

Por que esse trabalho de retomada da tradição com crianças e adolescentes é importante?

È importante que a gente tenha a nossa cultura, que resgate aquilo que realmente é nosso. A gente vive numa cultura de funk,  e de não sei o que, não sei  o que, que tem o seu valor cultural lá, onde ele nasceu, mas pra nós pode não dizer nada e aí você acaba fugindo daquilo que é a sua identidade própria. E uma pessoa sem identidade não tem referência nenhuma.

Eu sinto que em em muitos municípios as pessoas tem vergonha de se assumirem como cultura local. Mesmo nas escolas é nítido, quanto mais urbanizado aquele povo ou quando tem a mentalidade urbana, mesmo que não morem na cidade, eles aderem mais a cultura vigente, a que vem de fora. E aí é complexo, porque às vezes soa como vergonhoso assumir-se.

Aconteceu um caso com a gente, em um  grupo de professores que faziam curso e aí tinha uma professora  que era de outra cidade, ela é negra, de uma comunidade  remanescente de quilombo.

Ela tinha problema  de aceitação da sua raça e aí nós da nossa escola quando começamos a apresentar o reisado nosso , ela disse: Mas no meu povoado tinha e acabou. E depois no outro mês que era o outro encontro de formação, ela apresentou a cultura negra, a cultura especifica do povoado dela e todo mundo ficou abismado porque ela era uma das que renegavam sua cultura, mas a partir da revalorização da nossa,  ela percebeu que também precisava valorizar a dela.

 segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

 domingo, 23 de dezembro de 2018

 Zezito de Oliveira 

Educador, agente cultural e pesquisador com área de interesse em cultura e sociedade. 

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