sábado, 22 de março de 2008

Carta Cultural da Periferia

Aracaju – SE
31 de Julho de 2005

“Somos mestiços. Não apenas etnicamente mestiços. Somos culturalmente mestiços. Dançando o Toré sob a lua; rezando numa igreja barroca de São Cristóvão; curvadas sobre a almofada da renda de bilros; trocando objetos e valores nas feiras das periferias e do interior; depositando ex-votos aos pés dos nossos santos; dançando um gostoso forró pé de serra no Forrocaju; contemplando o mar e os coqueirais do alto da colina de Santo Antônio; dobrando o fole de uma sanfona numa noite de frio, no mês de junho; tocados pela décima corda da viola sertaneja; possuídos pelo samba de pareia da mussuca e pela dança de São Gonçalo; enfileirados nas Romarias da Terra e de Divina Pastora; o coração de tambores percutindo nos desfiles de 7 de Setembro; girando a cor e a vertigem das danças dos orixás; digerindo antropofagicamente o hip hop no caldo da embolada ou do repente. Somos irremediavelmente mestiços. A lógica da homogeneização nos oprime. Por isso gingamos o corpo, damos um passo e seguimos adiante como num drible de futebol ou numa roda de capoeira que, sem deixar de ser luta, tem alma de dança e de alegria. Como formular um projeto de Políticas Públicas de Cultura que contemple esse mosaico imperfeito? Como abrir janelas e portas e dizer: “Sergipe, mostra a tua cara!”, como na canção de Cazuza?”
Adaptação para a nossa realidade do texto introdutório do documento “A imaginação a serviço do Brasil” produzido em 2002 por artistas, intelectuais e gestores culturais e que serve de texto guia para os programas e projetos da gestão do Ministro Gilberto Gil a frente do Ministério da Cultura.

1) Somos artistas de teatro, dança, música, poesia, videastas/documentaristas, fotográfos, artistas plásticos, educadores, produtores culturais e líderes comunitários. Viemos de Aracaju, Pirambu, São Cristóvão, Socorro, Barra dos Coqueiros, Glória e trazemos no corpo e no imaginário a grande riqueza cultural que herdamos de nossos antepassados.
Para que o avanço da indústria cultural de massa não destrua essas tradições, alguns de nós, como a Organização Veredas da Cultura, o Projeto Ponto de Encontro Cultural e a Companhia teatral Pró-Cena priorizam a realização de um trabalho de conscientização da juventude e da comunidade através de simpósios, oficinas, recitais de poesia, montagens de textos teatrais etc...
Para nós a arte é um meio poderoso de crescimento pessoal, pois resgata valores morais como amizade, responsabilidade, solidariedade; preenche o tempo ocioso, possibilita mudança de comportamento oferecendo novas perspectivas de vida e, em termos mais amplos, possibilita que crianças e jovens tomem conhecimento de seus direitos, além de levantar a auto-estima da comunidade e combater a marginalização e a violência.
Para melhorar a qualidade da produção cultural, promovemos capacitações e temos viajado bastante ,o que nos tem possibilitado adquirir experiências, ampliar currículo e até obter premiações. Percebemos o crescimento da consciência dos políticos em relação à importância da arte para o desenvolvimento, com destaque para o apoio do governo federal aos artistas emergentes através do programa Cultura Viva . Outro destaque é a iniciativa do Ministério da Cultura através da criação do Fundo de Previdência da Cultura (CulturaPrev) que garante uma aposentadoria digna para o artista.
No plano estadual e municipal as mudanças estão começando a acontecer com o inicio da articulação e organização dos artistas e grupos culturais de todas as áreas, como exemplo entre vários, podemos citar o projeto Ponto de Encontro Cultural, voltado para a divulgação das artes plásticas, música e literatura sergipana, notadamente a cultura popular através da literatura de cordel e a criação da ONG Ação Cultural a partir da Rede PROVAI. Percebemos também a ampliação do espaço na imprensa sergipana para a divulgação da produção artística local e o crescimento do interesse do público, o que sinaliza a possibilidade de se poder viver da arte. Há ainda alguns agentes culturais engajados como Zezito, que traz conhecimentos e experiências de outras cidades e os repassa para os artistas e produtores culturais emergentes.
Realizamos eventos de baixo custo, com muito esforço pessoal e sem depender do poder público e através deles mostramos cada vez mais um trabalho melhor e surpreendemos a comunidade mostrando do que somos capaz. Podemos destacar entre os mais recentes a Mostra Arte e Cidadania que reuniu grupos de teatro e dança de diversas comunidades no Teatro Juca Barreto (Cultart) e o Aplausart que trouxe para o Teatro Lourival Batista a Companhia teatral Pró Cena e a Companhia de dança Rick di Karllo do Conjunto Eduardo Gomes.
Um aspecto novo e positivo é a arte musical sergipana ocupar espaço na cena cultural internacional através das apresentações da dupla Chico Queiroga & Antônio Rogério no exterior.
2) Mesmo com essas conquistas e avanços ainda temos muitas dificuldades para vencer e muitos desafios para enfrentar. Os destaques são os seguintes:
2.1 - É preciso ampliar o trabalho de conscientização da juventude na perspectiva de valorização da cultura popular;
2.2 - É necessário produzir com qualidade e fortalecer a identidade cultural de nosso povo, atingindo uma população com a mente massificada pela cultura de consumo imediato (a pasteurização cultural);
2.3 - O poder público não conhece a riqueza da diversidade cultural e nem a valoriza, o que torna necessário o planejamento cultural e políticas públicas para promover as artes em geral;
2.4 - É preciso ampliar a quantidade de grupos articulados, através de fóruns e redes para possibilitar maior intercomunicação;
2.5 - É necessário democratizar as escolhas de vagas para viagens evitando não privilegiar sempre as mesmas pessoas ou os mesmos grupos. É necessário que os escolhidos para as viagens façam o repasse das informações contribuindo assim para socializar idéias e conhecimentos;
2.6 - É preciso superar o estrelismo e o individualismo existente no meio artístico;
2.7 - Falta amor próprio e auto respeito por parte dos artistas e produtores. Um exemplo é a falta de iniciativa de muitos artistas e grupos populares que ficam esperando o financiamento de projetos por parte do governo;
2.8 - Sofremos muito com o imediatismo do próprio artista, reconhecemos que precisamos nos organizar mais, e o fórum é o caminho para essa perspectiva de um futuro melhor;
2.9 - Há necessidade de unir os grupos para fortalecer as ações culturais;
2.10 - A dificuldade principal é buscar pessoas competentes para trabalhar com cultura junto a crianças e jovens;
2.11 - É necessário ampliar os espaços e oportunidade para obter formação;
2.12 - É necessária a discussão sobre os pré-requisitos para se ter acesso ao registro profissional como artista (DRT) de forma a torná-lo mais acessível;
2.13 - Há falta de espaços físicos;
2.14 - As escolas precisam cooperar mais;
2.15 - As comunidades precisam cooperar mais;
2.16 - É necessária maior abertura dos meios de comunicação para o artista emergente;
2.17 - Há necessidade de patrocínio;
2.18 - Há muito preconceito;
2.19 - É necessário incluir mais jovens nas ações culturais com o apoio da sociedade;
2.20 - Como conseguir incrementar projetos num ambiente avesso ao patrocínio cultural?
2.21 - Como enfrentar o descaso e a desvalorização dos órgãos culturais governamentais que valorizam mais o trabalho dos artistas de fora?
2.22 - O que mais nos deixa indignado é o não reconhecimento dos nossos trabalhos aos olhos da comunidade burguesa, da “Elite”. Produzir arte na periferia é complicado;
2.23 - Ha dificuldade em conseguir o apoio e firmar parcerias com o poder público, privado e terceiro setor, onde muitas vezes os projetos nem sequer são avaliados;
2.24 - É necessário dar continuidade e expandir os projetos existentes;
3) Para superarmos as dificuldades e desafios elencados acima desejamos contar com o apoio efetivo do poder público, da sociedade civil e das empresas, da seguinte forma:
3.1 - É fundamental que os recursos estatais destinados a cultura sejam liberados mediante editais de concursos públicos, com o mínimo de burocracia e com divulgação de forma mais ampla a fim de combater o apadrinhamento; e os recursos liberados devem ser bem fiscalizados afim de evitar possíveis desvios;
3.2 - Do poder público esperamos a criação de políticas de fomento à cultura popular que facilitem o envolvimento da iniciativa privada como patrocinador;
3.3 - Do poder público e da iniciativa privada esperamos o aumento da quantidade de recursos para a continuação dos trabalhos e atuações;
3.4 - Esperamos que sejam construídos e/ou disponibilizados espaços para a realização dos projetos de iniciativa da comunidade;
3.5 - É necessário diminuição da burocracia para se obter patrocínio. O Programa Cultura Viva (Pontos de Cultura) é um incentivo ou um desestímulo cultural? (Para as ações comunitárias e populares é inviável tamanha burocracia)
3.6 - É necessária uma maior divulgação da Lei de Incentivo à Cultura e maior abertura para o patrocínio por parte da iniciativa privada.
3.7 - Da Iniciativa privada, esperamos a participação na promoção cultural como contribuição para com a sociedade em que a empresa está inserida não deturpando os valores culturais que fortalecem a identidade cultural do nosso povo em favor de interesses comerciais imediatistas.
3.8 - Em relação às ONGs, a expectativa é que estas não se tornem, enquanto parceiras da produção cultural, apenas um meio de aparição política ou de perpetuação da mendicância, mas sim contribuintes para o desenvolvimento de nossa identidade cultural.
3.9 - As ONGs devem facilitar a aproximação do poder público e as iniciativas populares com ações sistemáticas, não ocasionais. Um exemplo é promover oficinas e cursos para melhorar a capacidade de criar projetos.


ORGANIZAÇÕES E GRUPOS PARTICIPANTES.
Sessenta e oito pessoas assinaram a lista de presença, desse total aproximadamente vinte e um dos presentes estiveram apenas como pessoa física, os demais estiveram representando as organizações e grupos culturais listados abaixo.

ONG AÇÃO CULTURAL (ARACAJU)
ORGANIZAÇÃO VEREDAS DA CULTURA (PIRAMBU)
INSTITUIÇÃO CULTURAL GAJEFPE (ARACAJU)
GRUPO DE DANÇA ECARTE (SOCORRO)
GRUPO DE CAPOEIRA NINHO DOS CARCARÁS (ARACAJU)
GRUPO DE TEATRO FOCO (ARACAJU)
GRUPO TEATRAL ARTES (SOCORRO)
COMPANHIA DE ARTES PRÓ-CENA DE ESPETÁCULOS (SÃO CRISTÓVÃO)
COMPANHIA DE DANÇA RICK DI KARLLO (SÃO CRISTÓVÃO)
COMPANHIA DE DANÇA CRIAÇÃO DE MOVIMENTOS (ARACAJU)
ANS COMPANHIA DE DANÇA (SÃO CRISTÓVÃO)
SINDICATO DOS ARTISTAS E TÉCNICOS EM DIVERSÕES E ESPETÁCULOS - (SERGIPE)
SECRETARIA NACIONAL DE CULTURA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES (SERGIPE/BRASIL)
FUNDAÇÃO DE CULTURA, ESPORTES E TURISMO DE ARACAJU (ARACAJU)
COMPANHIA TEATRAL VOZ DA VIDA (ARACAJU)
JUVENTUDE FRANCISCANA (SERGIPE)
PROJETO PONTO DE ENCONTRO CULTURAL (ARACAJU)
GRUPO COMUNITÁRIO CONEXÃO COM A VIDA (ARACAJU)
CRILIBER (ARACAJU)
COMUNIDADE BOM PASTOR (ARACAJU)
FEDERAÇÃO DAS COMUNIDADES INDEPENDENTES (SERGIPE)
PEPELÉGUAS PRODUÇÕES ARTÍSTICAS (ARACAJU)
CENTRO SERGIPANO DE EDUCAÇÃO POPULAR (SERGIPE)
ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS PLÁSTICOS (SERGIPE)
ONG INSTITUTO DE ARTES CÊNICAS (SERGIPE)


ANEXO

– CONTRIBUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO AÇÃO CULTURAL PARA QUE O GOVERNO FEDERAL, GOVERNO DE SERGIPE, PREFEITURAS, EMPRESAS E ONGs IMPLEMENTEM ALGUMAS DAS SUGESTÕES DOS AGENTES CULTURAIS (CF. ITENS 2 e 3 DO RELATÓRIO) COM BASE EM EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS DE OUTROS.

1) ASSINAR O PROTOCOLO DE ADESÃO AO SISTEMA NACIONAL DE CULTURA QUE TEM OS SEGUINTES OBJETIVOS:

• Implementar uma política pública de cultura democrática e permanente, pactuada entre os entes da federação, e com a participação da sociedade civil, de modo a estabelecer e efetivar o Plano Nacional de Cultura, promovendo desenvolvimento com pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional.
• Promover a articulação entre os setores público e privado: gestão e promoção pública da cultura; Entre entes federados: coordenação para a estruturação do SNC, formação, circulação e estruturação de bens e serviços culturais.
• Possibilitar a participação da sociedade civil - produtores e usuários - nas definições de políticas e investimentos públicos;
• Tornar mais eficiente a gestão da cultura: capacitar, avaliar e acompanhar o desenvolvimento dos diferentes setores e das instituições públicas e privadas da cultura.
• Criar o Sistema Nacional de Informações Culturais: dados sobre bens, serviços, programas, instituições e execução orçamentária; Promover mapeamentos culturais, para o conhecimento da diversidade cultural brasileira; Aumentar a transparência dos investimentos em cultura.
• Difundir e fomentar as artes e o patrimônio cultural brasileiro e universal; Promover a circulação nacional e inter-regional de projetos; Promover a transversalidade da política cultural; Promover a integração entre a criação, a preservação e a indústria cultural. (fonte: www.cultura.gov.br)

2) DESTINAR NO MÍNIMO 1% DO ORÇAMENTO DO MUNICÍPIO PARA O INVESTIMENTO EM CULTURA.

“Mais investimento em cultura para que o verbo se faça carne!”
O orçamento cultural é o menor de todas as áreas, o valor é tão baixo que, se dobrar, não acontece nada com o orçamento da cidade, e haverá uma revolução nas artes, na proteção do patrimônio, no turismo, no cotidiano e na vida da cidade.
A criação do Fundo Municipal de Cultura, Projeto de Lei que se encontra em fase de discussão na Câmara de Vereadores de Aracaju , apresentado pela ECOS (Entidades Culturais Organizadas), é um passo importante e sinalizará a disposição das autoridades municipais em caminhar no sentido de mostrar a real prioridade do Município, porque é através da quantidade das verbas (e não dos verbos) que se mede o verdadeiro compromisso do poder público com a cultura e com o cidadão. Grupos de Teatro, de Música, experimentos de cinema, novas linguagens e pesquisas artísticas, Grupos de Dança, artesanato, com possibilidades no Brasil e no exterior, enfim, segmentos e manifestações que o mercado não irá patrocinar, pois este quer patrocinar o sucesso, e não o novo, o consolidado, e não a ruptura, o tradicional, e não a nova linguagem. Estas manifestações têm que ser garantidas por dinheiro de fundo com a contrapartida de se apresentarem para escolas, hospitais, promoverem oficinas, etc.
Projeto semelhante pode e deve ser apresentado na Assembléia Legislativa e em outras câmaras municipais.
.
3 - DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AOS MEIOS DE PRODUÇÃO CULTURAL PARA A POPULAÇÃO DA PERIFERIA.

Trata-se de implantar, reformar equipamentos culturais ou adaptar espaços existentes, como também disponibilizar profissionais qualificados para melhorar a produção cultural da periferia e criar uma linha de financiamento para apoiar as iniciativas culturais destas regiões.
É importante ressaltar que em todo o Estado existem artistas, educadores e produtores culturais que fazem cultura e refletem sobre o que produz. Portanto, não se trata de levar pacotes prontos de projetos para o povo, mas fortalecer as iniciativas já existentes. Nesta direção defendemos para a Aracaju a implementação da lei 3.173, de 10 de março de 2004, aprovada pela Câmara de Vereadores, que autoriza o executivo municipal a instituir o Programa para a VALORIZAÇÃO DE INICIATIVAS CULTURAIS – VAI. Esta lei pode e deve ser apresentada na Assembléia Legislativa e nas câmaras municipais de outros municípios.

4 – REALIZAÇÃO DE PARCERIAS PARA PRODUZIR ESTUDOS E PESQUISAS RELACIONADOS À ECONOMIA DA CULTURA.

Para isso se faz necessário investimento com recursos próprios e\ou em parceria para a realização de pesquisas e estudos visando justificar o investimento em cultura, considerando que os recursos financeiros são escassos para atender as demandas por mais verbas para educação, saúde, meio ambiente, transportes, geração de emprego e renda etc. Através destas pesquisas e estudos poderá ser comprovado o potencial da cultura para melhorar a educação, a saúde, as relações interpessoais e com o meio ambiente, a auto-estima o sentimento de pertencimento a cidade, a geração de empregos e renda etc.
Em Aracaju, conforme o Jornal da Cidade, de junho de 2004, as atividades promovidas pelos 64 grupos que integram a Liga das Quadrilhas Juninas do Estado de Sergipe geram de março até a primeira semana de julho quase mil empregos para músicos, cantores, costureiras, maquiadoras, estilistas etc.
As empresas e bancos estatais podem ajudar financiando um programa de concursos para bolsas de pesquisa sobre este tema em cooperação com o Ministério da Cultura e universidades públicas. O governo do estado e até mesmo algumas prefeituras podem propor parceria nesta área, contribuindo com uma parte do financiamento.

5 - INCENTIVO AO EMPREENDEDORISMO CULTURAL.

Um evento artístico-cultural envolve também técnicos e produtores. Nas comunidades da periferia diversas pessoas e grupos estão se mobilizando para preparar além de futuros artistas, aqueles que estarão na retaguarda da produção cultural. Com o crescimento do mercado cultural, alguns estão entrando no mercado de trabalho, através destas iniciativas. Por isso, faz-se necessário o investimento em oficinas, cursos e seminários voltados à área de formação de agentes culturais, produtores e técnicos. O Sebrae de alguns estados tem experiência acumulada nesta área. O Sebrae de Sergipe promoveu um programa desse tipo há alguns anos, mas que no momento encontra-se inativo. A prefeitura da cidade do Recife inclui esta formação no programa denominado MULTICULTURAL que é direcionado para os moradores da periferia.

6 - REALIZAÇÃO DO CADASTRO CULTURAL

Nenhuma política de cultura séria e eficaz pode ser realizada sem o conhecimento de informações atualizadas. O investimento público e privado encontrará no cadastro cultural segurança para ampliar a participação no segmento cultural. Trata-se de definir quantos, o que fazem e quem são os artistas, os técnicos e os produtores culturais; quantos equipamentos culturais existem, e como são utilizados; quais as empresas potencialmente patrocinadoras localizadas em Sergipe e outros dados fundamentais ligados à produção cultural em toda a cidade.
É importante ressaltar que estas informações devem ser disponibilizadas através da Internet, cd-rom e impressos para que todos os interessados possam incorporá-las ao seu planejamento, estudos e pesquisas.

7 - REALIZAÇÃO DE FESTIVAIS E MOSTRAS DE TEATRO, DANÇA, MÚSICA ETC..

Sergipe é um dos poucos estados do Nordeste ( talvez o único) que não promove festivais ou mostras artísticas, nem de cunho exclusivamente local e\ou com atrações de outros estados. A exceção são os festivais e mostras de cultura popular, isso compromete a qualidade da produção local, da seguinte forma:
a) Pouca renovação da cena artística local em virtude da ausência de uma aproximação mais direta com a produção de outras regiões.
b) Pouco incentivo à freqüência do público aos espaços culturais.
c) Isolamento de Aracaju do cenário artístico-cultural regional e nacional.

8 – PROMOÇÃO DE EVENTOS LIGADOS ÀS MANIFESTAÇÕES DO CICLO CARNAVALESCO E NATALINO.

Sergipe também tem seus blocos de carnaval e escolas de samba, embora a invasão massiva dos blocos baianos a partir do Pré-caju tenha diminuído bastante o ímpeto daqueles que fazem o carnaval da cidade.
O ciclo natalino, embora tenha perdido a maioria dos seus folguedos e brincantes, ainda resiste em alguns locais do interior e da periferia, mesmo que não seja de forma real, pelo menos na memória daqueles (as) que fizeram parte de grupos de reisado, guerreiros, pastoril etc.
Para revigorar aquilo que está escondido e\ou esquecido faz-se necessário algumas ações como se seguem :
a) Realização de pesquisas, estudos, seminários e oficinas relacionados às manifestações dos ciclos carnavalesco e natalino.
b) Discussão com a Secretaria de Educação sobre um planejamento conjunto visando inserir professores e alunos das redes municipal e estadual em um conjunto de atividades que ajude no resgate e disseminação das manifestações do ciclo carnavalesco e natalino, especialmente no caso de Aracaju revitalizar o clube do povo e o carnaval nos bairros.
c) E também especialmente no caso de Aracaju realizar a Feirinha de Natal com apresentações do auto de natal nordestino, concertos de música erudita, apresentações de folguedos ligados ao ciclo natalino, carrossel etc.



9 - APOIAR FINANCEIRAMENTE EDUCADORES JUVENIS QUE TRABALHAM COM ARTE NAS COMUNIDADES.

Sugestão apresentada pelo jornalista Gilberto Dimenstein, coordenador da ONG Cidade Escola Aprendiz, através da internet aos candidatos a Presidência da República em 2002. A proposta inspirada nos programas Bolsa Escola e Pet é destinar um salário mínimo para os adolescentes e jovens estudantes que estejam envolvidos com a promoção de atividades artísticas e desportivas.
Esta proposta busca evitar que os coordenadores dos grupos desistam do trabalho com arte e cultura em virtude da necessidade de buscar trabalho no mercado formal e informal.
O principal argumento de defesa da idéia é o fato de que o trabalho desenvolvido pelos grupos representa um beneficio para toda a sociedade, na medida em que evita o envolvimento de muitos adolescentes com drogas, com furtos e assaltos, previne a gravidez precoce, aumenta a auto estima etc.. Por isso, é justo que o poder público colabore desta forma.
Obs.: O governo federal, em parceria com prefeituras, desenvolve o programa Agente Jovem, e o governo do estado, o programa Jovens em Ação. Nos bairros em que os agentes culturais da Ação Cultural estão presentes estes programas praticamente não existem, salvo engano, e naquele de que temos notícia (Conjunto Jardim), quando existe, incorpora um número inexpressivo de jovens protagonistas de ações culturais.

10 - ABRIR AS ESCOLAS PÚBLICAS PARA A COMUNIDADE NOS FINAIS DE SEMANA.

Este programa da UNESCO, intitulado Escola da Paz, testado e aprovado no Rio de Janeiro, já estendido para outros Estados e Municípios, tem como objetivo oferecer oportunidades de acesso à cultura, esporte, arte e lazer para jovens em situação de “vulnerabilidade social”, utilizando a estratégia de abrir escolas nos finais de semana – período de maior incidência de atos violentos envolvendo a juventude. Esta proposta amplia o trabalho desenvolvido pelos grupos em termos de quantidade de crianças e adolescentes atendidos, disponibiliza profissionais qualificados para dar suporte técnico às atividades, elabora um planejamento integrado, melhora os espaços físicos para a realização das atividades etc..
A idéia foi incorporada pelo governo federal em parcerias com estados e municípios com o nome de Escola Aberta e não chegou a Sergipe via governo federal, mas foi incorporada pelo governo estadual com o nome Abrindo Caminhos. No entanto, esta ação não contempla regiões da periferia que deveriam ser priorizadas, como é o caso do Conjunto Jardim, onde há poucos espaços físicos e falta apoio e incentivo para as práticas culturais.
Um problema sério das escolas é a falta de espaços físicos apropriados para a prática de atividades culturais. É raro as que dispõem de auditório e mais raro ainda aquelas que destinam uma sala de aula exclusivamente para a prática de atividades artísticas. É urgente que verbas do MEC , dos estados e das prefeituras sejam destinadas para esta finalidade.


11 – PROMOÇÃO DE CONCURSOS DE PROJETOS PARA FINANCIAMENTO DE PROJETOS CULTURAIS.

O governo federal foi muito feliz quando concebeu o Programa CULTURA VIVA – Pontos de Cultura - que propõe uma maneira bem original e criativa de parceria público-privada em termos de apoio à produção cultural da periferia. O problema são as exigências burocráticas. O Banco do Nordeste criou um programa de fomento do acesso mais simples e que favorece uma participação mais ampla – o Programa BNB DE CULTURA. O programa VAI, criado na administração da Prefeita Marta Suplicy (SP), segue nessa mesma direção.
Esperamos que o Ministério da Cultura, Petrobrás e outras empresas estatais que financiam projetos culturais mediante o uso de editais repensem o seu modus operandi. Uma das possibilidades seria financiar projetos de custos mais baixos e com exigências mais simples.

Um comentário:

Unknown disse...

Admirável este Trabalho do Mestre Zezito de Oliveira, verdadeira contribuicáo para formar a consciéncia das pessoas para elas adquirirem e construirem a própria cidadania.
Para todos estarem aptos e poderem fazer o mundo e as coisas melhorarem para todos.
Um Mundo Melhor para todos é construido por todos em irmandade onde todos ganham em comunháo e, ninguem lucra individualmente nas costas do seu irmáo.
Azuir do Overmundo