Mudanças no programa VAI devem ampliar iniciativa cultural na periferia de São Paulo
Em 10 anos programa municipal já
financiou mais de mil projetos. Agora, há mais recursos e mais tempo de
incentivo público a iniciativas, com novo edital em dezembro
por Gisele Brito, da RBA
publicado
23/10/2013 12:08,
última modificação
23/10/2013 12:40
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CC / A Banca - Produtora Cultural Social
Projetos culturais promovem soberania das comunidades da periferia paulistana e podem ter novo impulso com o VAI 2
São Paulo – Criado há dez anos, o Programa de
Valorização de Iniciativas Culturais (VAI) em São Paulo terá novo edital
em dezembro, ampliado por mudanças recém-aprovadas pela Câmara
Municipal. A partir de agora, o projeto da prefeitura terá dois tipos de
fomento.
Um voltado para iniciantes, que terão acesso a até R$ 30 mil, nos
mesmos moldes do atual, e outro para grupos que tenham mais de dois
anos de experiência comprovada, e que poderão acessar até R$ 60 mil. A
expectativa de ativistas e produtores culturais é de que as mudanças
consolidem a “primavera periférica” que tem afirmado a cada dia uma
estética política e social.
Até sofrer mudanças, na última quarta-feira, o VAI encaminhava R$ 24 mil para cada proposta aprovada. As
alterações promovidas pelo vereador Nabil Bonduki (PT) são
consideradas fundamentais para atender a grupos que, depois de dar os
primeiros passos com ajuda do programa, não conseguem acesso a outras
fontes de financiamento público.
“O VAI, sem dúvida, é o mais bem executado programa de apoio à
cultura popular, comunitária, negra e periférica do país. Ele teve – e
deverá ter cada vez mais com o VAI 2 – uma importância crucial no
fomento direto, sem grandes burocracias, à produção cultural autônoma
dos coletivos de artistas, contribuindo bastante para ampliar,
aprofundar e qualificar essa produção recente, hoje amplamente
reconhecida no país afora e mesmo no mundo”, avalia Danilo Dara, que
participou, entre outros, da proposta "Cine Bijou – Cinema e Memória",
projeto que pretendia resgatar a memória do próprio cinema, um espaço de
resistência à ditadura (1964-85). O projeto foi contemplado com o VAI
em 2011 e, mesmo após o fim dos recursos do programa, continua a pleno
vapor.
Apenas este ano, 176 projetos foram selecionados entre grupos de
dança, coletivos de midiativismo, saraus, grupos de grafite, escritores e
cantores, entre outros, mas quase mil se candidataram.
Para o coordenador do programa, Renato Almeida, o VAI se diferencia
pela própria concepção que se faz do jovem e da periferia. “O jovem
historicamente no Brasil é visto como um problema social, algo que
perturba a ordem. E aí as políticas estão sempre no âmbito do controle,
da tutela. Mas o programa parte da premissa que os jovens precisam de
autonomia”, explica. “Quando esse jovem é da periferia, então, isso se
intensifica ainda mais. E o VAI é voltado para ele. Reconhece a produção
dele. Não é o Estado levando cultura para ele, mas o Estado fomentando o
que ele já desenvolve. O Estado reconhecendo que ele é um sujeito de
direito”, detalha Almeida.
“O programa sempre teve uma preocupação que não é só cultural, mas é
territorial e de classe. Por isso é extremamente importante”, avalia
Rafael Mesquita, um dos coordenadores da Agência Cultural Solano
Trindade, que surgiu no Campo Limpo, extremo sul de São Paulo, com o
fomento do VAI e agora ajuda a dar visibilidade a outros projetos
contemplados.
No VAI 1, cada grupo só pode ser beneficiado pelos recursos duas
vezes. No VAI 2, essa trava não existe, assim como a que limitava a
idade máxima dos proponentes a 29 anos. “Isso é um ganho considerável
porque em algumas regiões em que há pouco movimento cultural, os que
existem passavam a não receber”, explica Vitor Hugo da Silva Ramos, da
Pastoral da Juventude.
“O exemplo do Programa VAI 1, e agora do Programa VAI 2, deveria ser
seguido, fortalecido e ampliado para outros municípios, estados e para o
próprio nível federal. É preciso se pensar em políticas ainda mais
profundas, como a Lei de Fomento à Produção Cultural Periférica, nos
moldes da Lei de Fomento ao Teatro e à Dança, para efetivar a
democratização das políticas culturais, que ainda hoje seguem
priorizando muito mais a produção artística mais elitizada – como o alto
mercado editorial, a grande indústria do cinema, os grandes shows e
concertos eruditos”, enfatiza Dara.
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