No caso de Jackson Barreto II espero que ele tenha mais coragem. Saudações a quem tem coragem! Como disse os rapazes do Barão Vermelho. (Zezito de Oliveira)
03/04/2014 - 09:25 - Fonte: Site Infonet
Memória e Verdade em Sergipe: questões pendentes
Outros estados avançam. Já Sergipe...
Não foram poucas as atividades realizadas (e outras que ainda
acontecerão) em Sergipe durante essa e as próximas semanas com o
objetivo de discutir a Ditadura Militar, 50 anos após o Golpe de 1 de
abril de 1964. Seminários, debates, audiências públicas, exibição de
filmes e atos públicos estão levando à população sergipana a necessidade
da permanente reflexão sobre um período que jamais deve ser esquecido
para que jamais volte a acontecer.
Da parte do Governo de Sergipe, merece ser destacado o lançamento, durante esta semana, do hotsite Memórias da Ditadura
que, por meio de entrevistas e depoimentos de pessoas que enfrentaram o
regime militar, buscará contar fatos da repressão e da resistência à
Ditadura no estado.
Porém, se a criação do portal representa um importante instrumento de
resgate da memória do período militar em Sergipe, outras iniciativas
continuam pendentes e fazem com que a população não tenha respostas para
uma série de questões. Por exemplo: Quais foram as pessoas e órgãos
públicos que colaboraram com as ações
da Ditadura em Sergipe? Que setores do empresariado apoiaram as ações de
tortura? Quais políticos, realmente, apoiaram e quais, realmente,
combateram o regime? Qual foi a postura do conjunto da imprensa? Houve
resistência dentro dos jornais? E a mídia alternativa? Qual o papel
desempenhado pela Igreja Católica nos anos de chumbo em Sergipe? Como os
órgãos da Ditadura atuaram nas escolas públicas sergipanas e nos cursos
universitários? E a nossa cultura, como foi tratada pelo regime?
Artistas foram perseguidos? Quais?
Acredito que o principal fator que contribui para o total
desconhecimento sobre as ações da Ditadura Militar no estado é, sem
dúvida, a falta de iniciativa do Governo de Sergipe em instalar a
Comissão da Verdade. Órgãos semelhantes já existem em 17 estados, além
da Comissão Nacional. Não me alongarei aqui sobre isso, já que tratei sobre esse tema em recente artigo nesta mesma coluna.
Outra iniciativa já efetivada em diversos estados, mas que ainda não
avançou em Sergipe, é a retirada de nomes de presidentes do período
militar de escolas e órgãos públicos. Em vários lugares do país,
escolas, repartições públicas e até mesmo ruas e avenidas estão deixando
de ser “Castelo Branco”, “Costa e Silva”, “Médici”, “Geisel”,
“Figueiredo” e estão virando “jornalista Vladimir Herzog”, “estudante
Edson Luís”, “Rubens Paiva”, “Frei Tito”, “Carlos Lamarca” e tantos
outros que defenderam a liberdade e a democracia no Brasil.
Em Salvador, por exemplo, no final do ano passado, uma eleição que
contou com o voto dos professores, estudantes, funcionários e pais de
estudantes aprovou a mudança do nome Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Colégio Estadual Carlos Marighella. Por que não copiar a iniciativa por essas bandas?
Além dessas medidas que continuam pendentes, Sergipe tem ainda uma
dívida histórica com o ex-governador Seixas Dória e os deputados
estaduais que tiveram os seus mandatos cassados arbitrariamente pelo
regime militar. Devolver simbolicamente esses mandatos é um gesto
necessário de reconhecimento à ação de políticos sergipanos que não se
subordinaram ao regime militar e, por isso, foram depostos. Gesto que
também já foi feito em outros estados.
Em sua biografia, Jackson Barreto tem uma reconhecida trajetória de
resistência à Ditadura Militar e de luta em favor da democracia e da
liberdade. Então, por que, como Governador de Sergipe, não implantar
essas medidas e ajudar o povo de Sergipe a conhecer a verdade e resgatar
a sua memória?
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