segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Agenda do Bem Viver

Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
FONTE: Adital
Por toda a América Latina, existe atualmente um conceito que ganha força e plena aceitação. Embora possa concretizar-se de formas diversas formas e nem sempre seja fácil definir, em nosso continente, aumenta cada dia o número das pessoas que buscam o que os índios andinos chamam Kwasay Sumak, o Bem Viver. 

Essa proposta, vinda das comunidades Aymara e Ketchua passou a fazer parte das constituições nacionais da Bolívia e do Equador. Ali se afirma claramente: o objetivo principal do Estado é organizar a vida da sociedade, para que todos os homens e mulheres alcancem o bem viver, ou seja, uma qualidade de vida saudável, respeitadora da natureza e capaz de fortalecer os laços comunitários. Não se trata apenas de melhorar as condições de vida. Não basta viver melhor. Queremos alcançar um estilo de vida pleno, sustentável e feliz. 

Para o final de outubro, o 8º Encontro Nacional do Movimento Fé e Política tomará esse assunto como eixo principal. Esse também é o tema geral da Agenda Latino-americana Mundial 2012: "Bem viver, bem conviver”. Lançada pela primeira vez no contexto dos 500 anos da colonização da América, em 1992, a cada ano, a Agenda Latino-americana vem se firmando como uma publicação importante. Atualmente, é um dos livros mais traduzidos e vendidos no mundo. No Brasil, é editada pela Comissão dominicana de Justiça e Paz que, junto com outras entidades, a apresentará no Centro Cultural Cara Vídeo (Rua 83, n. 361, Setor Sul), às 19, 30 h dessa quarta-feira, 28.

A cada ano, mais pessoas do mundo inteiro conhecem e apreciam a Agenda, com o seu formato de livro e a grande quantidade de informações que contém. Além de ser agenda, com calendário e espaço para que cada pessoa escreva seus compromissos, a Agenda contém uma série de artigos, comentários e análises, neste ano, todos sobre o tema do bem viver, bem conviver. Na carta inicial que, a cada ano, introduz o tema geral, Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia e profeta dos povos latino-americanos, reflete que, depois de ter, no ano passado, tomado como questão o mistério de Deus, de certa forma, é natural que, neste ano, a Agenda assuma o compromisso de aprofundar o caminho da vida humana. Afinal, quanto mais nos aproximamos verdadeiramente de Deus, mais nos tornamos sensíveis à vida humana e de todo ser vivo. 

Em um tempo no qual a sociedade parece ter perdido a referência a valores, a cada ano, a Agenda Latino-americana nos ajuda a retomar e aprofundar as grandes causas em que cremos. São elas que dão sentido à nossa vida. Dom Pedro Casaldáliga chega a dizer: "Nós somos aquilo que amamos; o que fazemos e o que sonhamos. (...) Somos teimosamente sonhadores”. 

A Agenda Latino-americana Mundial 2012 nos convida a retomar a Utopia possível de uma vida libertada, digna e sustentável na convivência com todos os seres vivos do planeta. Para o mundo atual, mergulhado em profunda crise econômica e de civilização, isso implica em superar a ditadura do mercado, como deus supremo e exige organizar a sociedade de modo que nenhuma pessoa humana, nem a terra, a água e os outros seres vivos sejam maltratados e explorados como meras mercadorias. 

Para quem vive a espiritualidade, o conceito indígena do bem viver se traduz em diversas palavras sagradas que, de um modo ou de outro, todas as tradições espirituais cultivam. Os afrodescendentes chamam de axé,a energia vital, os hindus denominam de nirvana, os judeus incluem no conceito de shalom, os evangelhos cristãos usam o termo reino ou reinado de Deus. Não podemos considerar essa meta como algo muito distante e dificilmente alcançável. Ao tomar este tema para este ano, a Agenda Latino-americana 2012 o coloca no calendário e nos convoca para torná-lo real para ser vivido desde agora. No evangelho, Jesus diz: "O reino de Deus não vai chegar de forma espetacular. Não se poderá dizer: ei-lo aqui ou ali, porque, de fato, o reino de Deus já está no meio de vós. O reino de Deus está em vós” (Lc 17, 20 - 21).

8º Encontro Nacional de Fé e Política: Em Busca da Sociedade do Bem-viver
Jaime Carlos Patias, imc
Mestre em comunicação e diretor da revista Missões
Fonte: Adital



Surgido no final da década de 80 do século passado, como espaço de reflexão, o Movimento Nacional Fé e Política reúne grupos cristãos de diversas igrejas engajados na política à luz da fé. O Movimento tem cunho ecumênico e está aberto a todas as pessoas que consideram política a dimensão fundamental da vivência de sua fé. "Nós nunca nos preocupamos em ser entidade. Nós apenas animamos e fortalecemos a reflexão entre a fé e a política", esclarece Teresinha Toledo, uma das coordenadoras do Movimento. O sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, membro da Coordenação Nacional recorda que o Movimento Fé e Política "foi motivado pela preocupação de assessores das Comunidades de Base e das pastorais sociais entre os anos de 1985 e 1987 a partir de um texto do teólogo Clodovís Boff sobre os cristãos e a política. Nós já tínhamos uma preocupação sobre a questão, mas aquele artigo provocou um debate". Em junho de 1989, realizou-se no Rio de Janeiro um encontro maior com umas 30 pessoas.
Memória
O 1º Encontro aberto a todos aconteceu no ano de 2000, em Santo André, SP, com a participação de quase 3.000 pessoas. Em 2002, o 2º Encontro foi em Poços de Caldas, MG, com 4.000 participantes. O 3º Encontro em 2003, em Goiânia, GO, reuniu 6.000 pessoas. Em Londrina, PR, no 4º Encontro de 2005 participaram 5.000 pessoas. Em 2006 o 5º Encontro de Fé e Política aconteceu em Vitória, ES com 4.000 participantes, o 6º foi realizado em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, RJ, em 2007 com a participação de 5.000 pessoas, e o 7º teve lugar em Ipatinga, MG, em 2009 e registrou a presença de 5.000 pessoas.
O Bem-viver como projeto alternativo
O 8º Encontro Nacional de Fé e Política, que se realizará entre os dias 29 e 30 de outubro de 2011, em Embu das Artes, na diocese de Campo Limpo, São Paulo, tem como tema "Em Busca da Sociedade do Bem-viver: Sabedoria, Protagonismo e Política". "O Bem-viver é um conceito que visa recriar, diante do fracasso do neoliberalismo, um antigo conceito de certas culturas andinas como os Quéchua e Aymará", explica o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira. "Depois de cinco séculos de colonialismo e dominação europeia, os povos tradicionais do nosso continente buscaram em sua sabedoria ancestral uma proposta de vida que os ajudasse a construir uma nova ordem social e política". Tendo sido incorporado nas Constituições da Bolívia (2009) e do Equador (2008), o Bem-viver despertou a atenção. Não se trata de uma volta a um passado idealizado. "Os povos que viviam neste continente antes da colonização europeia tinham - e, de certa maneira ainda mantêm - modos de vida muito diferentes da moderna sociedade de mercado. Por isso, seus valores, suas leis e seus costumes eram - e ainda são - bem diferentes dos valores, leis e costumes da civilização ocidental-cristã. Sua ideia central é a vida em harmonia consigo mesmo, com outras pessoas do mesmo grupo, com grupos diferentes, com Pacha Mama - a Mãe Terra seus filhos e filhas de outras espécies, e com os espíritos".
A programação do 8º Encontro prevê três grandes conferências e 16 plenárias temáticas. Além disso, estão previstas atividades culturais e celebrações. Um ato ecumênico que contemplará uma caminhada em memória aos 32 anos do assassinato do líder operário Santo Dias, dos 90 anos de dom Paulo Evaristo Arns e pelo Dia Nacional da Juventude, encerra a programação.
Inscrições:
As inscrições para o 8° Encontro podem ser feitas até o dia 30 setembro Clicando Aqui e custam R$ 20,00; contribuição solidária R$ 50,00. Mais informações pelo telefone: (11) 5831-2612 - Secretaria do 8º Encontro ou com a Secretaria Nacional do Movimento Fé e Política (11) 2081.0294.

[Publicado na revista Missões, N. 7 - Setembro de 2011].
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