Imyra, Tayra, Ipy
Taiguara
Taiguara é dono de uma das trajetórias mais inusitadas da música brasileira. Nascido por acaso em Montevideo, terra de Lautreamont - a maior referência dos surrealistas no início do século XX-, o filho do maestro e bandoneonista Ubirajara Silva e da cantora Olga Chalar incorporou elementos do surrealismo europeu e da literatura fantástica latino americana não só na sua inacreditável obra, mas na sua vida de uma forma bela e trágica.
O nascimento no Uruguai é somente mais um dado biográfico improvável que torna tudo mais curioso ainda na história desse que foi um dos compositores mais brasileiros no sentido dialógico e transgressor dentro de uma tradição musical que se consolidou no decorrer do século passado. O nascimento no Uruguai guarda a mesma ironia que cerca o birmanês Nick Drake, num acaso do destino que escolheu o longíquo país asiático para ver nascer um dos compositores mais influentes na música inglesa a partir dos anos 70.
Pra começar é preciso dizer que Taiguara foi dos artistas mais censurados do país durante a ditadura e isso, como não poderia deixar de ser, marcou profundamente sua vida e sua obra. Foram mais de cem canções vetadas pelos censores. Esse número dá conta de toda uma obra e seria motivo suficiente para qualquer pessoa sensata no mínimo pensar em mudar de ramo, antes de tomar atitude, digamos, mais radical. Ao invés disso o uruguaio partiu pra cima e acirrou o discurso. Exasperado com a perseguição e impedido de continuar trabalhando no Brasil ele se auto-exilou na África - destino incomum para exilados políticos - seguindo depois para a Europa. Nesse período aprofundou seus vínculos com a resistência cultural incorporando elementos de outras culturas que dialogam em sua obra com a tradição musical brasileira. Suas canções passaram a assumir um sentido agudo de liberdade ao mesmo tempo em que incorporava uma urgência na transgressão dos limites estéticos da canção, numa relação orgânica e indissociável entre letra, música e posicionamento político.
Essa opção radical fica clara no disco "Imyra, Tayra, Ipy", gravado ao longo de 75 e 'lançado' no ano seguinte, no retorno do exílio. Um dos discos mais instigastes e exuberantes da vasta e rica discografia setentista, para esse trabalho Taiguara convocou uma orquestra com nada menos que 80 integrantes e chamou o endiabrado maestro Hermeto Paschoal para auxiliar nos arranjos e na direção musical, num período em que o bruxo albino ainda se interessava por e colaborava com cancionistas. Entre os músicos convocados constavam ainda nomes como o de Wagner Tiso, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Jacques Morelenbaum, Novelli, Zé Eduardo Nazário e seu pai Ubirajara Silva entre outros. O disco que radicalizou o discurso contra a repressão sem abrir mão do experimentalismo musical e do esgarçamento dos limites da canção foi recolhido em tempo recorde por uma ditadura atônita, num período em que a dita já era supostamente mais branda. Menos de 72 horas após ser distribuído o disco foi recolhido das lojas, para nunca mais ser lançado oficialmente no mercado nacional.
Sem fazer concessões, o compositor espeta com lâmina afiada a ferida aberta em versos duros e pungentes como "como é que você vai me dar o que já é meu / como é que você vai criar o que já nasceu / como é que você resolveu que sou livre agora / você esqueceu que só quem pode me libertar sou eu? ".
Ou ainda nos sintomáticos versos onde trata explicitamente dos percalços com a repressão e a censura, a relação ambígua com o país como exilado/ estrangeiro, o prenúncio da condição de mártir incompreendido:
"Minha amada amordaçada / de amor forçado a se calar / meu peito guarda o sangue brando / que ainda por ti vou derramar"
A mais bela e enigmática do disco no entanto me parece ser essa "Sete cenas de Imira", que disponibilizo aqui e que não pára de rodar na minha cabeça há dias. A engenharia de construção dessa canção formidável, que remete a um moto-contínuo, evocando uma mitologia indígena tão familiar e ao mesmo tempo tão estranha, o contraponto das vozes, toda a complexidade a serviço de uma canção aparentemente simples do ponto de vista formal, me lembra de um lado a falsa simplicidade de clássicos como "Àguas de Março", mas lembra também o destino trágico de obras que ousaram desafiar seu tempo como o "Guesa Errante" de Sousândrade:
Imyra, Tayra, Ipy ;Primeira cena: o nascer ;/ Do beijo de Ara rendy ;Jemopotyr - florecer ;/ ;É gema, é germe, é gen-luz ;/ Imyra brilha no ar ;/ Corou vermelho e azul ;/ Por sobre o virgem rosar ;/ É rosa gente, é razão ;/ É rosa umbilical ;Jukira, sal, criação ;/ Potyra, flor-animal ; / ;Imyra Tayra, Ipy ;/ Segunda cena: crescer ;/ Ferir o espaço e abrir ;/ A flor primal de mulher ; ;/ Figura, cor, rotação ;/ Calor, janela, pombal ;/ Palmeira, morro, capim ;/ Moreno, ponte, areal ;/ Retina, boca, prazer ;/ Compasso, ventre, casal ;/ Descanso, livre lazer ;/ Loucura, vida real ; ;Imyra, Tayra, Ipy ;/ Terceira cena: saber ;/ Que o índio que vive em ti ;/ É o lado mago em teu ser ; ;/ Se vim dos Camaiurá ;/ Ou das missões, guarani ;/ Nasci pr'a ti meu lugar ;/ Nação doente, Tupi ;/ Por isso vou me curar ;/ Da algema dentro de mim ;/ Por isso vou encontrar ;/ A gema dentro de mim ; ;/ Imyra, Tayra, Ipy ;/ A quarta cena é mostrar ;/ O que há de pedra no chão ; / O que há de podre no ar ; ;/ Criança em frente ao pilar ;/ Imaginando seu mar ;/ O mastro imenso, o navio ;/ A vela, o vento, o assobio ;/ É caravela, é alto-mar ;/ Até de novo acordar ;/ Pr'o que há de podre no chão ;/ Pr'o que há de pedra no ar ; ;/ Imyra, Tayra, Ipy ;/ A quinta cena é sofrer ;/ Cunhã curvada a chorar ;/ Tayra tensa a temer ; ;/ Fui companheira dos sós ;/ Fui protetora das leis ;/ Fui braço amigo de avós ;/ Até o rei perdoei ;/ Hoje faminta sou ré ;/ Como um cachorro vadio ;/ Arrasto inchado o meu pé ;/ Por chãos de fogo e de frio ;/ ; ;Imyra, Tayra, Ipy ;A sexta cena é esperar ;/ No céu branqueia Jacy ;/ Tatá verdeja no mar ; ;/ Vislumbre claro, visão ;/ Valei-me, meu pai! Que luz! ;/ Como se um trecho de chão ;/ Se erguesse em asas azuis ;/ Dobrando a curva do céu ;/ Pr'a mergulhar sobre o mal ;/ E o justo império de Ipy ;/ Chegasse ao mundo, afinal! ; ;/ Imyra, Tayra, Ipy ;/ A cena sete é um saci ;/ Pé dentro do ano dois mil ;/ No centro - sol do Brasil ; ;/ Aos sete dias do mês ;/ Um dia azul de leão ;/ Me deram vida vocês ;/ Dou vida hoje à expressão ;/ Quero essa língua outra vez ;/ Quero esse palco, esse chão ;/ Brinca Tupi-português ;/ Dentro do meu coração”
Um último detalhe que torna tudo ainda mais insólito: os direitos do disco foram comprados por produtores japoneses que lançaram no país uma versão em CD. Uma cópia dessa edição japonesa pode ser encontrada à venda no mercado livre por módicos R$ 599,00. Quem acha que um CD não vale tanto pode baixar o arquivo no UQT, digitalizado a partir do original em vinil.
Há ainda uma campanha na internet capitaneada pela filha do compositor, Imira, para repatriar a obra. A situação deixa a impressão que se naquela época o impedimento eram as forças ditatoriais, hoje o entrave é provavelmente um dos efeitos colaterais da repressão: o descaso e o desinteresse!
O nascimento no Uruguai é somente mais um dado biográfico improvável que torna tudo mais curioso ainda na história desse que foi um dos compositores mais brasileiros no sentido dialógico e transgressor dentro de uma tradição musical que se consolidou no decorrer do século passado. O nascimento no Uruguai guarda a mesma ironia que cerca o birmanês Nick Drake, num acaso do destino que escolheu o longíquo país asiático para ver nascer um dos compositores mais influentes na música inglesa a partir dos anos 70.
Pra começar é preciso dizer que Taiguara foi dos artistas mais censurados do país durante a ditadura e isso, como não poderia deixar de ser, marcou profundamente sua vida e sua obra. Foram mais de cem canções vetadas pelos censores. Esse número dá conta de toda uma obra e seria motivo suficiente para qualquer pessoa sensata no mínimo pensar em mudar de ramo, antes de tomar atitude, digamos, mais radical. Ao invés disso o uruguaio partiu pra cima e acirrou o discurso. Exasperado com a perseguição e impedido de continuar trabalhando no Brasil ele se auto-exilou na África - destino incomum para exilados políticos - seguindo depois para a Europa. Nesse período aprofundou seus vínculos com a resistência cultural incorporando elementos de outras culturas que dialogam em sua obra com a tradição musical brasileira. Suas canções passaram a assumir um sentido agudo de liberdade ao mesmo tempo em que incorporava uma urgência na transgressão dos limites estéticos da canção, numa relação orgânica e indissociável entre letra, música e posicionamento político.
Essa opção radical fica clara no disco "Imyra, Tayra, Ipy", gravado ao longo de 75 e 'lançado' no ano seguinte, no retorno do exílio. Um dos discos mais instigastes e exuberantes da vasta e rica discografia setentista, para esse trabalho Taiguara convocou uma orquestra com nada menos que 80 integrantes e chamou o endiabrado maestro Hermeto Paschoal para auxiliar nos arranjos e na direção musical, num período em que o bruxo albino ainda se interessava por e colaborava com cancionistas. Entre os músicos convocados constavam ainda nomes como o de Wagner Tiso, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Jacques Morelenbaum, Novelli, Zé Eduardo Nazário e seu pai Ubirajara Silva entre outros. O disco que radicalizou o discurso contra a repressão sem abrir mão do experimentalismo musical e do esgarçamento dos limites da canção foi recolhido em tempo recorde por uma ditadura atônita, num período em que a dita já era supostamente mais branda. Menos de 72 horas após ser distribuído o disco foi recolhido das lojas, para nunca mais ser lançado oficialmente no mercado nacional.
Sem fazer concessões, o compositor espeta com lâmina afiada a ferida aberta em versos duros e pungentes como "como é que você vai me dar o que já é meu / como é que você vai criar o que já nasceu / como é que você resolveu que sou livre agora / você esqueceu que só quem pode me libertar sou eu? ".
Ou ainda nos sintomáticos versos onde trata explicitamente dos percalços com a repressão e a censura, a relação ambígua com o país como exilado/ estrangeiro, o prenúncio da condição de mártir incompreendido:
"Minha amada amordaçada / de amor forçado a se calar / meu peito guarda o sangue brando / que ainda por ti vou derramar"
A mais bela e enigmática do disco no entanto me parece ser essa "Sete cenas de Imira", que disponibilizo aqui e que não pára de rodar na minha cabeça há dias. A engenharia de construção dessa canção formidável, que remete a um moto-contínuo, evocando uma mitologia indígena tão familiar e ao mesmo tempo tão estranha, o contraponto das vozes, toda a complexidade a serviço de uma canção aparentemente simples do ponto de vista formal, me lembra de um lado a falsa simplicidade de clássicos como "Àguas de Março", mas lembra também o destino trágico de obras que ousaram desafiar seu tempo como o "Guesa Errante" de Sousândrade:
Imyra, Tayra, Ipy ;Primeira cena: o nascer ;/ Do beijo de Ara rendy ;Jemopotyr - florecer ;/ ;É gema, é germe, é gen-luz ;/ Imyra brilha no ar ;/ Corou vermelho e azul ;/ Por sobre o virgem rosar ;/ É rosa gente, é razão ;/ É rosa umbilical ;Jukira, sal, criação ;/ Potyra, flor-animal ; / ;Imyra Tayra, Ipy ;/ Segunda cena: crescer ;/ Ferir o espaço e abrir ;/ A flor primal de mulher ; ;/ Figura, cor, rotação ;/ Calor, janela, pombal ;/ Palmeira, morro, capim ;/ Moreno, ponte, areal ;/ Retina, boca, prazer ;/ Compasso, ventre, casal ;/ Descanso, livre lazer ;/ Loucura, vida real ; ;Imyra, Tayra, Ipy ;/ Terceira cena: saber ;/ Que o índio que vive em ti ;/ É o lado mago em teu ser ; ;/ Se vim dos Camaiurá ;/ Ou das missões, guarani ;/ Nasci pr'a ti meu lugar ;/ Nação doente, Tupi ;/ Por isso vou me curar ;/ Da algema dentro de mim ;/ Por isso vou encontrar ;/ A gema dentro de mim ; ;/ Imyra, Tayra, Ipy ;/ A quarta cena é mostrar ;/ O que há de pedra no chão ; / O que há de podre no ar ; ;/ Criança em frente ao pilar ;/ Imaginando seu mar ;/ O mastro imenso, o navio ;/ A vela, o vento, o assobio ;/ É caravela, é alto-mar ;/ Até de novo acordar ;/ Pr'o que há de podre no chão ;/ Pr'o que há de pedra no ar ; ;/ Imyra, Tayra, Ipy ;/ A quinta cena é sofrer ;/ Cunhã curvada a chorar ;/ Tayra tensa a temer ; ;/ Fui companheira dos sós ;/ Fui protetora das leis ;/ Fui braço amigo de avós ;/ Até o rei perdoei ;/ Hoje faminta sou ré ;/ Como um cachorro vadio ;/ Arrasto inchado o meu pé ;/ Por chãos de fogo e de frio ;/ ; ;Imyra, Tayra, Ipy ;A sexta cena é esperar ;/ No céu branqueia Jacy ;/ Tatá verdeja no mar ; ;/ Vislumbre claro, visão ;/ Valei-me, meu pai! Que luz! ;/ Como se um trecho de chão ;/ Se erguesse em asas azuis ;/ Dobrando a curva do céu ;/ Pr'a mergulhar sobre o mal ;/ E o justo império de Ipy ;/ Chegasse ao mundo, afinal! ; ;/ Imyra, Tayra, Ipy ;/ A cena sete é um saci ;/ Pé dentro do ano dois mil ;/ No centro - sol do Brasil ; ;/ Aos sete dias do mês ;/ Um dia azul de leão ;/ Me deram vida vocês ;/ Dou vida hoje à expressão ;/ Quero essa língua outra vez ;/ Quero esse palco, esse chão ;/ Brinca Tupi-português ;/ Dentro do meu coração”
Um último detalhe que torna tudo ainda mais insólito: os direitos do disco foram comprados por produtores japoneses que lançaram no país uma versão em CD. Uma cópia dessa edição japonesa pode ser encontrada à venda no mercado livre por módicos R$ 599,00. Quem acha que um CD não vale tanto pode baixar o arquivo no UQT, digitalizado a partir do original em vinil.
Há ainda uma campanha na internet capitaneada pela filha do compositor, Imira, para repatriar a obra. A situação deixa a impressão que se naquela época o impedimento eram as forças ditatoriais, hoje o entrave é provavelmente um dos efeitos colaterais da repressão: o descaso e o desinteresse!
| HOMENAGEM TAIGUARA - Entrevista com Moína , filha do compositor (por Sergio K. Augusto) |
FB : Moína, primeiramente gostaria de te agradecer a gentileza do papo. Falar de Taiguara é sempre um prazer. O Taiguara sempre foi um artista a frente do seu tempo. Gostaria que nos falasse um pouco de suas lembranças ao lado dele, mais precisamente na infância e adolescência, coisas do convívio familiar e quando você despertou para a importância de seu pai dentro do cenário artístico . Moína : Meu relacionamento com meu pai surgiu quando eu tinha 2 anos de idade. Ele se apaixonou pela minha mãe, a escritora e professora Eliane Potiguara e casaram-se, tiveram mais dois filhos juntos: Tajira Kilima e Samora Potiguara e me assumiu desde que casou-se com minha mãe como pai. E eu a ele também..rs Minhas lembranças ao lado do meu pai, são fortes..Ele foi uma pessoa muito presente na minha vida. Dormi muito escutando seus ensaios sozinho na casa onde morávamos em Santa Teresa. Brinquei muito no piano dele tentando tirar algumas coisas e quando ele começou a perceber que eu já tirava notas de ouvido no piano, começou a me incentivar, me mostrando alguns acordes básicos que eu poderia fazer com a melodia que eu retirava. Eu cantarolava muito pela casa, mas nunca pensei em ser cantora, estudei ballet clássico e dança moderna por 10 anos e me empenhava muito nisso. Mas, fui crescendo, a vontade de cantar começou a despertar. Aos 13 anos de idade, levei uma turma de amigos meus, eram uns 10..rs..Tínhamos acabado de sair da praia de Ipanema, meu pai na época morava no Leblon, fiz o povo todo andar até o Leblon pra me ver cantar com meu pai a música “Wave” de Tom Jobim. Ele tocou pra mim, eu cantei ao lado dele, foi importante aquele momento, pois além de estar cantando para os meus amiguinhos, estava ao lado de uma pessoa super importante na minha vida, que estava tendo o prazer de fazer a performance comigo..Dar um show para uma penca de adolescentes..rs Aos 15 anos de idade, recebi mais um incentivo à música. Meu presente de aniversário foi um teclado quase profissional..Até hoje eu componho nele...rs..Não dou, não vendo...Sei que já está desatualizado, mas foi um presente muito especial pra mim... Quando tive meu primeiro filho em 1994, outro incentivo da parte dele. Ele queria que eu fosse todos os finais de semana em sua casa em Santa Teresa (a mesma que morei com ele enquanto ele era casado com minha mãe, durante 8 anos) para me ajudar no canto, na expressão corporal, vocal. Fui umas duas vezes, mas como estava com um bebê muito pequeno, não dei seqüência a coisa. Hoje me lembro da última música que meu pai tocou na minha frente. Foi “Samba de Uma Nota Só” de Tom Jobim, em dezembro de 1995, quando ele estava presenteando meu irmão também com um teclado. Quando pequena, ele era presente nos meus trabalhos escolares, eu tinha muita dificuldade na escola, ele sempre sentava comigo para estudar, principalmente quando eu tirava notas baixas. Ele dizia: “Quer ver como não é tão difícil e você vai acertar quando eu passar uma provinha de brincadeira pra você?”. Daí, ele ensinava a matéria, fazia uma exercícios comigo, depois passava um exercício para eu fazer sozinha, e depois uma provinha...Daí, no final de tudo, me dava a mesma prova que tinha tirado nota baixa para eu refazer. Então, eu acertava..rs. Esteve presente nos meus melhores momentos de vida, como o dia do nascimento de Luan (meu filho de 11 anos), onde segurou a minha mão na hora do meu parto. E ainda deu opinião para eu colocar o nome do meu filho de Luan Sepé Tiaraju..em homenagem ao líder indígena, mas não aceitei a sugestão dele não..rs Meu pai, era um cara que eu podia falar de tudo. Não escondia nada a ele. Ele soube quando eu perdi a minha virgindade, quando eu beijei na boca a primeira vez, quando eu engravidei. Claro, sempre houve aquelas preocupações de todo pai com os filhos, mas nunca foi um cara moralista. Eu sentia muita segurança em expor as coisas que eu aprontava a ele, ou de contar algum segredo. Ele era meu amigo. FB : O Taiguara teve algumas passagens pelos grandes festivais de música. Você poderia falar um pouco sobre isso e da importância desses eventos para a vida profissional dele. Moína : Os grandes festivais tiveram uma grande importância na vida dele como artista, pois alavancou sua carreira. No I FIC em 1966, Taiguara interpretou a música de Reginaldo Bessa "NÃO SE MORRE DE MAL DE AMOR" na 1ª eliminatória, no dia 22/10/1966 (sábado). Na 2ª eliminatória realizada no dia 23/10/1966 (domingo), Taiguara interpretou a música "CHORA CORAÇÃO" de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Já na 3ª eliminatória (FINAL), no dia 24/10/1966, Taiguara chegou à final com a música "NÃO SE MORRE DE MAL DE AMOR" NO II FIC, Taiguara subiu ao palco do Festival defendendo na 1ª eliminatória realizada no dia 19/10/1967 (quinta-feira) a música "EU QUIS VIVER" de Taiguara e Cido Bianchi. Na 2ª eliminatória, no dia 21/10/1967 (sábado). Taiguara interpretou "CANTA", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. No III FESTIVAL NACIONAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, o festival tinha duas fases: fase regional e fase nacional. Taiguara chegou à final na Fase Nacional interpretando no dia 21/07/1968 (sábado) a canção "A VEZ É A VOZ DA PAZ" de Paulo Barros e Paulo Sérgio Valle e "MODINHA" de Sérgio Bittencourt.. A vencedora foi "MODINHA". No IV FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, Taiguara entrou para defender "A GRANDE AUSENTE" de Francis Hime, e Paulo César Pinheiro, na 1ª eliminatória no dia 18/11/1968 (segunda- feira). Começou a cantar sob vaias agressivas, mas numa prova de sua ascendência, dominou a rebeldia. Parou tudo no meio da apresentação e disse: "Escute, minha gente, não consigo ouvir a orquestra. Silêncio, porque aqui tem gente que quer ouvir música". Um suspense surgiu no ar e ele recomeçou a cantar, terminando com muitos aplausos. Na 3ª eliminatória, realizada em 02/12/1968 (segunda-feira), Taiguara defendeu "O VIANDANTE" de Novelli e Wagner Tiso, tirando o 6º lugar com "A GRANDE AUSENTE" de Francis Hime e Paulo César Pinheiro, recebendo 1.404 votos. Enfim, foram muitos festivais. A partir disso, ele teve um reconhecimento enorme do público. FB : Seu pai sempre foi muito perseguido pela ditadura militar e sempre enfrentou essa pressão com dignidade e resistência. Você tem lembrança de algum fato importante sobre esse momento na vida do Taiguara? Moína :Sim, as ameaças que sofríamos, que ele chamava de terrorismo. Invasão da nossa casa para revirar papéis, telefonemas anônimos com ameaças de morte. Perseguições. Pessoas se passando pela família para pegar meus irmãos na escola e seqüestrar...Dava medo, mas resistimos. FB : A obra musical de seu pai é sem dúvida imensa e de uma importância ímpar para a musica brasileira. O que se tem feito, seja por parte das gravadoras onde Taiguara gravou, seja por parte da família, a fim de divulgar esse enorme legado deixado por ele e quais os planos, projetos, etc, que na sua opinião poderiam ser criados para chamar a atenção das novas gerações para esse importante trabalho deixado por Taiguara ? Moína : Bem, estamos numa fase de resgate da obra de Taiguara. Já conseguimos reunir raridades, músicas inéditas, interpretações de outros artistas e estamos tentando transpor isso tudo para cd´s e dvd´s. Temos um projeto chamado Taiguara – 60 Outubros, em fase de captação para shows-tributo em homenagem aos 60 anos de Taiguara no RJ, SP, RS e PR, mas ainda estamos buscando recursos com patrocinadores para a execução do mesmo. Meus dois irmãos (filhos de sangue dele – Tajira e Samora Potiguara) estão de frente deste projeto também. Se não conseguirmos fazer este ano, faremos em fevereiro de 2006 outro projeto pelos 10 anos de passagem dele para o plano astral.. Temos vontade de fazer um SongBook..Já estivemos conversando com a EMI-Music para lançar no mercados os LP´S originais em forma digital.. Temos um Grupo na internet, chamado Grupo Taiguara: http://br.groups.yahoo.com/group/taiguara/ onde reunimos os fãs e trocamos informações, arquivos. FB : Quais os locais (sites , livros , etc ..) onde os interessados podem adquirir trabalhos de Taiguara , ou mesmo saber informações sobre sua obra e carreira ? No Grupo Taiguara – Yahoo Grupos - http://br.groups.yahoo.com/group/taiguara/ No Fotolog Taiguara “Que As Crianças Cantem Livres” - http://fotolog.terra.com.br/taiguarachalardasilva Na Comunidade Taiguara no Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=72305 FB : O site festivais do Brasil completa agora seis anos de existência e neste aniversário resolvemos prestar essa merecida homenagem a esse gênio da musica brasileira que foi e sempre será Taiguara. Gostaria de te agradecer pela entrevista e que ficasse a vontade para fazer suas considerações finais e deixar aí qualquer recado para os fãs do nosso mestre Taiguara . Valeu! Moína : Sérgio ,eu quem agradeço pela homenagem à Taiguara num site de grande importância como Festivais do Brasil...Um abraço a todos. |
2 comentários:
Importantíssima entrevista,pois enriquece a figura maravilhosa, aguerrida, do homem Taiguara e do artista musical,genial, que ele foi!!
Parabéns! Notícias sobre o trabalho iniciado? Orkut não mais; os contatos indicam page not found 404
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