cartaz do 35º FASC 2018
Lembranças do FASC
O Festival de Artes de São Cristóvão – FASC começou em 1972, quando eu
era ainda uma criança. Naquela mesma época meus irmãos mais velhos
começaram a ingressar na UFS e a andar com colegas universitários. Foi
por meio desses grupos que eu passei a ouvir as primeiras conversas
sobre o FASC.
Entre os comentários que eu escutava atento, dois assuntos, especialmente, despertavam o meu interesse pelo badalado evento cultural: as narrativas sobre a ousadia e a liberdade de expressão e comportamento experimentada pela juventude durante o festival e a intensa e diversificada programação artística.
Depois de alguns anos apenas ouvindo e imaginando coisas, lá pelo início da década de 1980, finalmente, fiz minha estreia no FASC. E que começo! O grupo de teatro Cenário de Espetáculos – que eu integrava tocando flauta doce – e mais alguns artistas, alugaram uma pequena casa em uma das entradas da cidade.
O Cenário não tinha conseguido entrar na programação oficial, mas, resolveu ir por conta própria, puxar um cortejo e apresentar encenações pelas ruas da cidade. Luiz Carlos Dussantus, Vitória e Dinha Barreto, Itamar Freitas, Elíude Silva… Eram alguns dos integrantes do grupo, presentes naquela aventura.
Uma noite, fomos para a bica. Foi a primeira vez que eu vi o sol nascer. Já com o dia claro, resolvi vir a Aracaju dar notícias – celular não existia. Entrei no coletivo e apaguei. O ônibus passou na porta da minha casa, na Rua de Laranjeiras, onde eu deveria ter descido, mas, só fui acordado no ponto final, na rodoviária velha.
Nas edições seguintes continuei indo para curtir, sem estar necessariamente integrando alguma atividade artística. Certa vez eu estava na companhia de uma galera bem descolada – como se dizia na época – e rolou um show da dupla Sá e Guarabyra. Nos entrosamos com os músicos e voltamos para Aracaju de carona com eles.
Em São Cristóvão assisti espetáculos artísticos que só foram apresentados em Sergipe graças ao FASC, pois, não tinham apelo comercial suficiente para virem por outro meio, embora tivessem grande relevância estética. Desses o que de modo mais vivo continua na minha memória é o show “Suspeito”, de Arrigo Barnabé.
Em outra edição a produção do FASC promoveu o “Rock in Bica”. Subi ao palco acompanhando Rivando Gois que fazia um excelente Raul Seixas cover. Eu era um péssimo guitarrista, fui chamado emergencialmente, devo ter errado em quase todas as músicas, mesmo assim, o show foi vibrante do começo ao fim.
Depois passei uma temporada fora de Sergipe. De longe, soube que o FASC fora interrompido. Para minha alegria e sorte, de novo na terrinha, vejo o evento reativado. Com isso, voltei a frequentar o nosso maior festival de artes. Em 2017, batuquei meu tamborim pelas ruas e becos da histórica cidade com o Burundanga.
Também em 2017, talvez pelo peso da idade, me incomodou ter ido ao FASC e, ao final das noitadas, ter que voltar para Aracaju. Agora em 2018 superei o incômodo: aluguei uma casinha em São Cristóvão e pude desfrutar o prazer de me jogar pela cidade histórica sabendo que um colchão me esperava na Ladeira da Alegria.
Nada dura para sempre, mas, torço para que o FASC tenha longa vida pela frente. Por um simples motivo: tem sido, ao longo do tempo, um dos poucos ou o único grande evento realizado em Sergipe, essencialmente voltado para a difusão das artes. Ao contrário das muitas festas de mera reprodução da cultura de massa.
Vale registrar, além dos grandes shows musicais, que alcançam maior visibilidade, nesta 35ª edição do FASC houve: Salão de Literatura, mostra de filmes, Salão de Artes Visuais, um palco para artes cênicas, cortejos de grupos populares, concertos musicais, feiras, exposições variadas... Não seria possível acompanhar tudo.
Do que participei, faço alguns destaques: o cortejo da Chegança de Santa Cruz de Itabaiana, exposições na Casa do Iphan e na Casa do Folclore, a mostra de curtas universitários, shows de Dami Doria, Samba de Coco da Ilha Grande, Joésia Ramos, Sergival, Céu, Pífano de Pife, Patrícia Polayne e Chico César.
Órgãos fiscalizadores do uso de recursos públicos têm apertado prefeituras que torram muito dinheiro em festas que dão ênfase a atrações da indústria do entretenimento, usando orçamento da cultura. O FASC tem sido diferente, pois, investe em arte – um artigo necessário e pouco difundido e apoiado. Viva o FASC!
Antônio Passos
Publicado no Jornal do Dia, em 22/11/2018.
Fotos: Alexandra Dumas (no 35º FASC).
Leia também: O FASC COMO LEMBRANÇA DE QUEM BEM VIVEU.
Entre os comentários que eu escutava atento, dois assuntos, especialmente, despertavam o meu interesse pelo badalado evento cultural: as narrativas sobre a ousadia e a liberdade de expressão e comportamento experimentada pela juventude durante o festival e a intensa e diversificada programação artística.
Depois de alguns anos apenas ouvindo e imaginando coisas, lá pelo início da década de 1980, finalmente, fiz minha estreia no FASC. E que começo! O grupo de teatro Cenário de Espetáculos – que eu integrava tocando flauta doce – e mais alguns artistas, alugaram uma pequena casa em uma das entradas da cidade.
O Cenário não tinha conseguido entrar na programação oficial, mas, resolveu ir por conta própria, puxar um cortejo e apresentar encenações pelas ruas da cidade. Luiz Carlos Dussantus, Vitória e Dinha Barreto, Itamar Freitas, Elíude Silva… Eram alguns dos integrantes do grupo, presentes naquela aventura.
Uma noite, fomos para a bica. Foi a primeira vez que eu vi o sol nascer. Já com o dia claro, resolvi vir a Aracaju dar notícias – celular não existia. Entrei no coletivo e apaguei. O ônibus passou na porta da minha casa, na Rua de Laranjeiras, onde eu deveria ter descido, mas, só fui acordado no ponto final, na rodoviária velha.
Nas edições seguintes continuei indo para curtir, sem estar necessariamente integrando alguma atividade artística. Certa vez eu estava na companhia de uma galera bem descolada – como se dizia na época – e rolou um show da dupla Sá e Guarabyra. Nos entrosamos com os músicos e voltamos para Aracaju de carona com eles.
Em São Cristóvão assisti espetáculos artísticos que só foram apresentados em Sergipe graças ao FASC, pois, não tinham apelo comercial suficiente para virem por outro meio, embora tivessem grande relevância estética. Desses o que de modo mais vivo continua na minha memória é o show “Suspeito”, de Arrigo Barnabé.
Em outra edição a produção do FASC promoveu o “Rock in Bica”. Subi ao palco acompanhando Rivando Gois que fazia um excelente Raul Seixas cover. Eu era um péssimo guitarrista, fui chamado emergencialmente, devo ter errado em quase todas as músicas, mesmo assim, o show foi vibrante do começo ao fim.
Depois passei uma temporada fora de Sergipe. De longe, soube que o FASC fora interrompido. Para minha alegria e sorte, de novo na terrinha, vejo o evento reativado. Com isso, voltei a frequentar o nosso maior festival de artes. Em 2017, batuquei meu tamborim pelas ruas e becos da histórica cidade com o Burundanga.
Também em 2017, talvez pelo peso da idade, me incomodou ter ido ao FASC e, ao final das noitadas, ter que voltar para Aracaju. Agora em 2018 superei o incômodo: aluguei uma casinha em São Cristóvão e pude desfrutar o prazer de me jogar pela cidade histórica sabendo que um colchão me esperava na Ladeira da Alegria.
Nada dura para sempre, mas, torço para que o FASC tenha longa vida pela frente. Por um simples motivo: tem sido, ao longo do tempo, um dos poucos ou o único grande evento realizado em Sergipe, essencialmente voltado para a difusão das artes. Ao contrário das muitas festas de mera reprodução da cultura de massa.
Vale registrar, além dos grandes shows musicais, que alcançam maior visibilidade, nesta 35ª edição do FASC houve: Salão de Literatura, mostra de filmes, Salão de Artes Visuais, um palco para artes cênicas, cortejos de grupos populares, concertos musicais, feiras, exposições variadas... Não seria possível acompanhar tudo.
Do que participei, faço alguns destaques: o cortejo da Chegança de Santa Cruz de Itabaiana, exposições na Casa do Iphan e na Casa do Folclore, a mostra de curtas universitários, shows de Dami Doria, Samba de Coco da Ilha Grande, Joésia Ramos, Sergival, Céu, Pífano de Pife, Patrícia Polayne e Chico César.
Órgãos fiscalizadores do uso de recursos públicos têm apertado prefeituras que torram muito dinheiro em festas que dão ênfase a atrações da indústria do entretenimento, usando orçamento da cultura. O FASC tem sido diferente, pois, investe em arte – um artigo necessário e pouco difundido e apoiado. Viva o FASC!
Antônio Passos
Publicado no Jornal do Dia, em 22/11/2018.
Fotos: Alexandra Dumas (no 35º FASC).
Leia também: O FASC COMO LEMBRANÇA DE QUEM BEM VIVEU.
Confira a cobertura do 35º FASC na página oficial do facebook. AQUI.
Sob o FASCínio da arte e à luz da razão
Por Marcos Santana (*)
A trigésima quinta edição do Festival de
Artes de São Cristóvão (FASC), ocorrida no período de 15 a 18 de
novembro de 2018, para muitos, proporcionou uma verdadeira sensação de
encantamento, de deslumbramento mesmo, com tamanha riqueza e variedade
de manifestações artísticas autênticas. Pude constatar isso no brilho do
olhar de inúmeras pessoas, e até em algumas lágrimas que teimavam em
correr pelos rostos, como aconteceu comigo, por mais que tentasse
contê-las.
Nas várias caminhadas que fiz pelas ruas
do Centro Histórico da cidade, em diferentes horários, circulando entre
grupos folclóricos que realizavam cortejos em meio aos casarões
centenários, ouvi relatos emocionados, tanto de visitantes quanto de
moradores. Muitos me explicaram sobre como aquela experiência os havia
remetido a momentos felizes vividos há décadas.
Todavia, é preciso registrar, também,
todo o trabalho árduo que é feito silenciosamente, iniciado muitos meses
antes da realização do evento em si. Me refiro, por exemplo, às várias
reuniões com os empreendedores locais, na tentativa de conscientizá-los a
respeito da necessidade de aperfeiçoarem seus processos produtivos e de
atendimento. Ao árduo trabalho de captação de recursos, por meio do
convencimento dos patrocinadores quanto à viabilidade do investimento.
Da mesma forma, em relação aos moradores
que puderam alugar suas residências para hospedar os turistas. E para
nossa felicidade, neste ano já tivemos em funcionamento o primeiro
empreendimento de hotelaria no formato hostel, uma modalidade muito
utilizada atualmente em todo o mundo.
Em suma, o que considero fundamental
ressaltar, apesar de todas as dificuldades inerentes a um evento de
grande porte, é o fato de que existe uma dimensão socioeconômica a ser
considerada no tocante ao FASC. Algo que vai muito além de todos os
benefícios subjetivos ligados à valorização da nossa cultura, à
preservação das nossas tradições, ao resgate da nossa identidade. Ou
seja, há um legado que é concreto, que é objetivo: o festival movimentou
diretamente a vida de muitas pessoas, garantindo-lhes um ganho
econômico efetivo, obtido com dignidade.
E é exatamente a partir da consciência
que tenho a respeito dessa linha tênue que existe entre o sonho de
recuperar a autoestima do meu povo, tendo a promoção da sua cultura como
elemento fundamental, de um lado; e as responsabilidades com a garantia
do exercício dos direitos e do acesso às políticas públicas, de outro;
que me coloquei, ainda quando elaborava o meu programa de governo, um
desafio: resgatar o FASC, sem jamais comprometer o andamento das obras e
serviços públicos, nem o pagamento aos servidores dentro do mês
trabalhado, como tenho feito desde janeiro de 2017. Como ponderou Max
Weber, na política, há que se nortear pela ética da convicção, sem
jamais perder de vista a ética da responsabilidade.
Assim, determinei à comissão organizadora do 35º FASC,
assim como o fiz no ano anterior, que fossem tomadas todas as medidas
necessárias para que a integridade do conjunto arquitetônico fosse
preservada, especialmente a Praça São Francisco, este patrimônio mundial
do qual tanto nos orgulhamos. E cuja importância, para mim, vem de
muito antes do reconhecimento oficial pela Unesco. Nasceu junto com a
minha formação como ser humano, como cidadão sancristovense, ou seja,
está na essência da minha identidade.
E assim foi feito, nas duas versões do
evento, com a contratação de empresas e profissionais qualificados e
reconhecidos pela experiência e competência com que atuam no mercado.
Cada prego colocado, cada estrutura montada, obedeceu aos mais rígidos
critérios técnicos, de forma que, ao final do evento, os locais ficassem
exatamente como eram anteriormente.
Quero agradecer, do fundo do meu
coração, a todos os patrocinadores e apoiadores que acreditaram nesse
projeto, destinando recursos financeiros e agregando suas marcas ao
FASC. Da mesma forma em relação aos servidores que se empenharam na sua
construção, a todos os voluntários que contribuíram individualmente para
que tudo acontecesse com primazia.
Agradecer ao governador Belivaldo
Chagas, que com sua discrição característica, prestigiou a abertura
oficial. À Polícia Militar, que garantiu, mais uma vez, que nenhuma
ocorrência grave acontecesse, num evento de quatro dias, que contou com
um público de dezenas de milhares de pessoas. Aos veículos de
comunicação que divulgaram e transmitiram as atividades.
Enquanto eu estiver à frente da gestão de São Cristóvão, a Cidade Mãe de Sergipe,
o FASC será realizado com amor, dedicação e responsabilidade. Os
protagonistas serão sempre os artistas, nas suas mais diferentes
expressões, e sobretudo o público, que é a própria razão da sua
existência. Jamais cederemos a pressões de qualquer natureza, seja da
indústria cultural, seja de caprichos individualistas ávidos por
efêmeros minutos de notoriedade.
Como bem disse o genial Lenine: “A gente espera do mundo, e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência”.
(*) Prefeito do Município de São Cristóvão.
NOTICIAS DE SERGIPE - OS PÁSSAROS TRAZEM, parafraseando o titulo da
canção abaixo. Percebam como o Festival de Arte de São Cristóvão (FASC)
se encaixa nas palavras e nos versos
"Uma notícia está chegando lá do Maranhão
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Veio no vento que soprava lá no litoral
De Fortaleza, de Recife e de Natal
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus
João Pessoa, Teresina e Aracaju
E lá do Norte foi descendo pro Brasil Central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no Sul
Aqui vive um povo que merece mais respeito
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor
Aqui vive um povo que é mar e que é rio
E seu destino é um dia se juntar
O canto mais belo será sempre mais sincero
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais é muito mais que qualquer Zona Sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais é muito mais que qualquer Zona Sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país."
Compositores: Milton Nascimento / Fernando Brant
João Pessoa, Teresina e Aracaju
E lá do Norte foi descendo pro Brasil Central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no Sul
Aqui vive um povo que merece mais respeito
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor
Aqui vive um povo que é mar e que é rio
E seu destino é um dia se juntar
O canto mais belo será sempre mais sincero
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais é muito mais que qualquer Zona Sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais é muito mais que qualquer Zona Sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país."
Compositores: Milton Nascimento / Fernando Brant
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"eu e meus companheiros queremos cumplicidade pra brincar de liberdade no terreiro da alegria." Chico César in estado de FASC. |
--------------------------------------- Há tempos Sergipe e São Cristóvão foi manchete em razão do escândalo do roubo da merenda escolar. O que fazer para se tornar manchete nacional em razão da realização do Festival de Arte de São Cristóvão? Falemos bem do FASC, assim São Cristóvão pode ter manchete positiva. Em especial, por causa de um país que parece estar repetindo a tragédia política que São Cristóvão viveu durante alguns anos recentes. 19 de Novembro de 2018.
Imagine a prefeitura de São Cristóvão e a UFS, apresentando em um
seminário aberto, os resultados das pesquisas sobre a opinião do
público que frequentou o 35º Festival de Arte de São Cristóvão neste
último final de semana em São Cristóvão (SE), e anotando as novas
sugestões que podem surgir nos debates. 19 de novembro de 2018
Ana Carolina Westrup
A Dimensão Cultural do FASC
Em dezembro de 72, sob a batuta do regime militar, nascia o Festival de Arte de São Cristovão, o nosso conhecido FASC. Uma arquitetura que já se iniciou no flerte com os movimentos culturais de vanguarda, sabotando o projeto ditatorial que na verdade buscava criar uma coesão/identidade nacional, a partir de eventos organizados pelas Universidades Federais em comemoração ao Sesquicentenário da Independência do Brasil.
Na
sua 35ª edição, tão importante quanto a sua dimensão histórica, o FASC
traz uma grande interrogação para o que se costumeiramente se constituiu
como políticas culturais nas municipalidades sergipanas, em que a busca
pelo retorno eleitoral define como entrada, prato principal e a
sobremesa o entreterimento, quase sempre baseado naquilo que o “público
quer”.
Muitas vezes, reféns dos conhecidos detentores do cardápio exclusivo de artistas do mainstream, os gestores municipais repetem a sistemática limitação histórica quando o assunto é cultura, ou melhor, políticas culturais: festas grandiosas, caríssimas e com pouco ou quase nenhum retorno identitário ou de acesso a bens culturais fora do que o mercado cultural disponibiliza a peso de ouro. A 35ª edição do Fasc mostrou que a dimensão cultural deve ser encarada de forma muito mais ampla, uma dimensão que o economista Celso Furtado, ainda na década de 70, já revelava: "o desenvolvimento seria menos o resultado da acumulação material do que um processo de invenção de valores, comportamentos, estilos de vida, em suma, de criatividade"¹. O desenvolvimento de uma sociedade precisa se alimentar da criatividade do povo, como princípio da cidadania e da emancipação. Para isso, o acesso aos bens culturais que pouco estão aos olhos nus da maioria da população brasileira, nos mais diferentes estilos e segmentos, é fundamental, não pelo provável gosto refinado ou cult, mas pela necessidade de gerar um ciclo de reflexão, de pertencimento e de apropriação de conhecimento. Claro que esse olhar multidimensional para cultura é extremamente arriscado para qualquer gestor que está sob o julgo de uma parcela da sociedade que espera o mais do mesmo, fruto exatamente desse ciclo vicioso que já foi indicado no texto, mas o homem público e mulher pública que quer deixar marcas para além da cédula eleitoral precisa encarar esse dilema de forma acolhedora à população que ainda é refratária a espaços como esses, mas também potencializando experiências exitosas. Ao andar nas ruas da cidade-mãe convivi com essas duas realidades, obviamente. De Julico da The Baggios afirmando a importância das outras edições do FASC na sua formação cidadã e artística, como também de uma senhora que apesar de não gostar dos estilos musicais, artísticos e da invasão do “povo de fora”, estava feliz com o retorno financeiro da sua banquinha de bobó de camarão. De denominador comum entre essas duas personagens estava, exatamente, a atuação da Prefeitura. The Baggios foi uma das bandas mais aclamadas do festival, fazendo parte do horário nobre da segunda noite de apresentação do FASC, e a senhora do bobó, entre tantos outros moradores, foram cadastrados para fazer parte de uma feirinha localizada de forma estratégica no meio do evento, com a proposta de aquecer a economia local. Que nessa dialética e coragem, São Cristovão continue como um prisma de diversidade cultural e um farol que nos clareia para caminhos possíveis. 1 –FURTADO, Celso. 1978. Criatividade e dependência na civilização industrial. 19 de novembro de 2018 -------------------------------------------------
Lembrando
um momento emocionante do show do Chico César no Festival de Arte de
São Cristóvão, entre outros, ontem, domingo, 18/11/2018. A emoção por
ser uma canção composta com os sentidos e sentimentos do autor voltados
para Bárbara, musa e esposa do autor que estava em Aracaju, ao tempo
em que ele estava em Caracas. Daí o nome de canção Caracajus.
E a emoção de Chico César ao cantar a canção, foi maior ainda, porque foi a primeira vez que ele cantou a canção em Sergipe.
youtube.com
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Festival de Arte de São Cristóvão! Programação TOP. Mais que 10, mais que 100. Segundo a minha filha Maíra Ramos é TOP 1000. O caráter reflexivo e formação politico cultural, talvez
ainda dependa de mais tempo para compreensão e amadurecimento. Como
acontece com Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e outras
cidades, no caso de eventos de natureza semelhante.
Parabéns ao prefeito de São Cristóvão Marcos Santana e ao secretário de cultura, Gaspeu Fontes.
01 de Outubro de 2018
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O Festival de Arte de São Cristóvão (FASC), pode servir como um espaço
e ambiente virtuoso para estimular um movimento cultural
potencialmente autônomo e independente.
A ser realizado por artistas e grupos culturais da cidade e do entorno, que poderão produzir com mais qualidade em termos artisticos e de produção, dentro de condições mais favoráveis e sustentáveis. Isso nos dias em que não há FASC, assim como em um futuro não esperado ou aguardado, quando houver gestões da prefeitura de São Cristóvão sem compromisso com a realização do FASC. Cheguei a essa conclusão, quando integrei o grupo de ativistas culturais que se mobilizaram em 2011 para clamar ou bradar pelo retorno do FASC. Os instrumentos que podem realizar a estratégia proposta acima é o processo de construção coletiva do seminário "Pensar o FASC", assim como os temas e metodologia das rodas de conversas e oficinas. Cantando a mesma toada do ano passado e ao mesmo tempo celebrando o que foi e está sendo conquistado. Na vibe da canção "se muito vale o já feito, mais vale o que será." 01 de Outubro de 2018 O primeiro artigo que escrevi defendendo isso, foi esse abaixo: FASC: A participação da comunidade é fundamentalAqui tem mais....sábado, 13 de maio de 2017O FASC está voltando! Que comece com uma audiência pública para a cidade poder dizer como quer.Para entrar no espírito que move e alegra a publicação de um conjunto de textos, fotos e referências como está realizado acima, recomendamos a canção abaixo.
Confira também a versão de estúdio.
5 a seco - síntese - lua cheia [OFICIAL] -----------------------------------
Todos os textos acima foram postados no facebook. Os escritos assinados sem referência de autoria, foram escritos por Zezito de Oliveira.
Praça São Francisco em São Cristóvão. Patrimônio cultural da humanidade. Foto retirada do site do IPHAN |
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