sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Lembrando a Campanha da Fraternidade de outras épocas

Esse texto é o inicio de um dos capítulos do segundo volume do livro AMABA/Projeto Reculturarte. Com previsão de lançamento no segundo semestre de 2022. 


 A foto acima foi tirada no Curso de Verão realizado pelo CESEEP nas dependências da PUC em São Paulo. Inicio da década de 1990. A esquerda o autor destas linha e a direita o companheiro educador Paulo Sérgio...

A ideia de fascismo na igreja me soava como algo bem estranho, em  tempos de uma igreja no Brasil  comprometida com mais corpos e  almas, com as grandes causas que mobilizavam as melhores mentes e corações brasileiros, 

Naquele tempo, meados de 1970 até a década de 1980, tinha informações da existência de cristãos fascistas no Libano, algo bem distante...

 Com o tempo, com a progressão dos estudos cheguei a  Espanha de Franco e ao Portugal de Salazar, os quais  conseguiram permanecer um bom tempo no poder, até 1970, mesmo fascistas,  contando com  apoio da Igreja Católica,  mas foi pouco, não foi suficiente para perceber os estragos que a ligação igreja católica e fascismo fez na Europa, com reflexos para o resto do mundo, inclusive o Brasil.

Em decorrência do Concilio Vaticano II e das Conferências Episcopais de Medellin e Publa, cresci em um ambiente eclesial que buscava uma atualização e enraizamento  do pensamento social católico, assim, não fazíamos ideia do  que o retrocesso iniciado por João Paulo II iria  causar.

Em termos mais diretos e didáticos, a  Campanha da Fraternidade, foi uma das formas mais eficazes que a igreja católica no Brasil encontrou para atualizar e arejar a cabeça e o coração dos milhões de católicos Brasil afora de acordo com as orientações do concilio e das conferências citadas.

A primeira Campanha da Fraternidade que me marcou foi a de 1983, ano de criação da AMABA e recém chegado a Aracaju, em especial pelo tema e pelo cartaz, assim como por uma ou outra canção, depois se sucederam  uma série de  campanhas inesqueciveis. 

O cartaz me atraía pela graça  e alegria das crianças, beleza das cores e pelo cenário...




Quando retornei a Aracaju em meados do  ano de 1982, depois de morar treze anos no Rio de Janeiro, me deparei  com uma igreja local cujo arcebispo, Dom Luciano José Cabral Duarte, era um dos principais expoentes do clero conservador no Brasil, o que não era novidade para mim, porque leitor do Jornal do Brasil, encontrava  religioso sergipano tinha uma coluna esporádica,  assim como   outro expoente do clero conservador, Dom Eugênio Salles, arcebispo do Rio de Janeiro e paradoxalmente um dos criadores da Campanha da Fraternidade  no inicio da década de 1960, quando  arcebispo de Natal, RN.  Dom Eugênio contava com uma coluna semanal, por ser a liderança religiosa católica do lugar onde o Jornal do Brasil tinha sede, no caso o Rio de Janeiro.

Quando cheguei a Aracaju no ano de  1982, fui morar no bairro Novo Paraíso, bem próximo ao bairro América,  daí comecei a frequentar a igreja São Judas Tadeu, fundada e mantida por frades franciscanos capuchinhos, mas antes conheci no Partido dos Trabalhadores um morador do bairro América, Francisco Alves, com residência em um local um pouco distante de onde eu morava, mas com disposição para organizar os moradores em uma associação, afim de lutar por melhorias no bairro.

A principal melhoria era representada pela saída da fábrica de cimento, Francisco Alves morava próximo a mesma, uma luta antiga encampada pelos frades capuchinhos. 

Assim podemos nos aproximar ainda mais da igreja local, onde fomos bem recebidos pelo Frei Florêncio Pecorari, o pároco naquele momento  e que alguns anos depois foi meu professor no curso de História na Universidade Federal de Sergipe. 

Se o arcebispo de Aracaju era conservador, bem ao estilo de um modo de ser católico que voltou a sobressair no Brasil a partir dos anos 1990, quando as mudanças iniciadas por João Paulo II começaram a dar seus frutos, Frei Florêncio poderia ser considerado um representante do clero  moderado,  quase conservador e eu,  um leigo progressista. Logo sob o ponto de vista do ideário cristão dos dois religiosos citados teria pouco o que absorver, embora com Frei Florência ao menos podia conversar, menos sob questões ligadas a teologia, religião e etc., e mais sobre educação, comunidade, doutrina social da igreja...

Falar em Frei Florêncio como moderado com tendência conservadora, certamente é lembrar dos seus tradicionais colegas da comunidade franciscana capuchinha  e do arcebispo Dom Luciano Duarte, não fosse isso, quem sabe não poderia ser um moderado com tendência progressista. 

Daí começei a buscar referenciais em livros, cartilhas e jornais inspirados pela teologia da libertação e/ou educação popular. Foi assim que passamos a assinar algumas publicações, seja enquanto pessoa fisica , seja como pessoa juridica, via AMABA, neste caso a partir do inicio da década de 1990.

Foram eles, jornal O Sâo Paulo, ligado a Arquidiocese de São Paulo, um dos mais importantes jornais da imprensa alternativa, um pequeno “detalhe” às vezes esquecido nos  estudos de nossos pesquisadores do tema e do período, e último jornal a ter a censura prévia suspensa.

Este jornal teve a censura suspensa em 1978 e passei  a ter contato com este quando cheguei em Aracaju, e o motivo de sido o último jornal alternativo a ter a censura suspensa  e estar em circulação, foi uma das razões para fazer a assinatura, assim como o fato da Arquidiocese de São Paulo ser uma grande referência na época com que lidava com educação popular e direitos humanos,. (1)

Também assinamos o boletim da Comissão Pastoral da Terra (CPT) , o jornal Porantim ligado ao Centro Indigenista Missionário, o Grita Povo ligado ao Centro de Comunicação Popular de São MIguel. A revista Sem Fronteiras e Alô Mundo, que era produzida e distribuída pela congregação dos missionários combonianos.  (2)

Assinei também durante um tempo a revista Familia Cristã das Edições Paulinas, tachada por Dom Luciano Duarte como  revista comunista, em um dos programas que apresentava nos dias de domingos na rádio da Arquidiocese de Aracau, a Rádio Cultura.

Voltando a Campanha da Fraternidade,  esta conseguiu atingir um maior número de católicos, a depender da orientação do bispo, dos padres e das irmãs. Onde havia um clero mais progressista , mais a campanha era realizada por  meio da formação de equipes diocesanas e paroquiais, o que ocasionava a realização de melhores homilias abordando a temática e uma compra maior para a distribuição dos materiais produzidos pela equipe nacional, os mais utilizados eram os roteiros das novenas, da via sacra, o texto base, em especial para os lideres de grupos, pastorais e movimentos eclesiais, os slides, mais na frente as fitas VHS e DVDs, os roteiros para a catequese e grupos de jovens.

Para preparar os lideranças leigas, assim como os próprios padres e irmãs, eram realizados  os encontros de formação, durante um ou dois dias. Em Aracaju a Pastoral de Juventude tinha uma manhã de estudo mensal e durante alguns anos o mês de janeiro e fevereiro o tema escolhido era o da campanha da fraternidade.

Vale ressaltar que o Projeto Reculturarte, um das mais importantes iniciativas educativas, culturais e esportivas de base comunitária realizada em Aracaju, se não a mais importante, pelo investimento , diversidade e tempo de existência,  teve como um dos principais textos de sensibilização e aprofundamento sobre a questão do "menor abandonado" o texto base da Campanha da Fraternidade de 1987.

Zezito de Oliveira

1) O São Paulo - O jornal O São Paulo, da Cúria Metropolitana de São Paulo, comandado pelo arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, se destacou na denúncia dos atentados aos direitos humanos no Brasil e em países vizinhos. O veículo tinha grande capilaridade, por ser distribuído nas igrejas e comunidades eclesiais de base (CEBs) da região. Também foi submetido à censura prévia, suspensa em junho de 1978.  Fonte: https://memoriasdaditadura.org.br/imprensa-alternativa/

2) Sem Fronteiras foi uma revista brasileira fundada em maio de 1972.  Durante os trinta anos de sua existência, foi um instrumento de evangelização no Brasil. Dirigida pelos Missionários Combonianos, fundamentava-se na Teologia da Libertação, defendendo movimentos sociais diversos, como, por exemplo, o da Reforma Agrária. A revista se centralizava nas questões sociais, nos debates acerca da discriminação, no apoio aos processos democráticos e na difusão da cultura. Fonte: wikipédia, acesso em 12 de fevereiro de 2022.

Outro capitulo já escrito e que será desdobrado em dois no segundo volume do livro AMABA/Projeto Reculturarte. Além de algumas modificações...

SE A PANDEMIA DE CORONAVIRUS TIVESSE ACONTECIDO NOS TEMPOS DA AMABA, NA ARACAJU DOS ANOS DE 1980/1990?

Outros capitulos, a serem publicado com adaptações...

A união da religião, da ciência e da arte como apoio terapêutico preventivo às neuroses e às paranoias.


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