"O historiador não é aquele que fala do passado. Ele se serve do que sabe do passado para falar do presente, para compreender o que se passa hoje".
Marc Ferro
Por Zezito de Oliveira
Na semana passada, uma noticia bem positiva com relação a forma como a periferia está enfrentando o coronavirus nos chamou a atenção.
Na semana passada, uma noticia bem positiva com relação a forma como a periferia está enfrentando o coronavirus nos chamou a atenção.
O motivo principal foi a criação da figura dos “ presidentes de rua” , estratégia que o movimento comunitário em Paraisopólis encontrou para não depender do estado, o que na prática significa evitar a morte de mais gente nas periferias por causa da pandemia.
Os presidentes de rua, tem como função de acordo com a matéria que está no link abaixo:
Logo após a leitura, foram acionadas lembranças acerca de informações e documentos do período cronológico (1990 a 1993), referente a pesquisa que estamos realizando. Estas trazem a relação do trabalho de base realizado por meio da AMABA e, inspirado pela forma descentralizada e colegiada como a Arquidiocese de São Paulo organizava o trabalho pastoral, isso refletiu na adesão a ideia de dividir o bairro em regiões, com os representantes eleitos, chamados de conselheiros, escolhidos em eleições por moradores de cada região.
Vale ressaltar, isso foi facilitado pela vitória da chapa 1, através do qual fui eleito para presidente no ano de 1989. Em que pese algumas tentativas de descentralização em anos anteriores, porém sem êxito. Já essa tentativa bem sucedida durou até o ano de 1993.
Esses conselheiros reunidos depois de escolhidos nas regiões, elegiam dentre eles o presidente, o secretário e o tesoureiro. Essa proposta buscava uma maneira de combater o personalismo na figura do presidente, a centralização, buscávamos fazer com que houvesse processo de organização que facilitasse o trabalho com as bases e a participação dessas nas decisões da entidade.
Isso ajuda a explicar, porque três pessoas com quem conversei recentemente tem boas recordações do trabalho da AMABA a partir de 1990, mas não se recordavam da minha pessoa como presidente. Dois por morarem nas imediações do bairro América e não participar do cotidiano da associação, e o outro por ter começado a participar da AMABA através de atividades do Projeto Reculturarte.
Acerca deste último, acontecia uma questão interessante e que confundia a cabeça de muitas crianças e adolescentes que participavam do Reculturarte,
Tratava-se do papel do coordenador do projeto e o papel de presidente da AMABA, o que para muitos eram a mesma pessoa, já que somente o coordenador do projeto podia ser remunerado para ficar a disposição do projeto, logo, permanecendo por mais tempo na sede da entidade e circulando pelo bairro. O contrário do presidente da AMABA, que trabalhava e fazia universidade durante o dia, e que era proibido de receber remuneração por conta da legislação da época, mesmo com o trabalho especializado a serviço do projeto sociocultural que muitas vezes realizava. Trabalho que misturava competências de educador popular com assistente social.
Isso ajuda a explicar, porque três pessoas com quem conversei recentemente tem boas recordações do trabalho da AMABA a partir de 1990, mas não se recordavam da minha pessoa como presidente. Dois por morarem nas imediações do bairro América e não participar do cotidiano da associação, e o outro por ter começado a participar da AMABA através de atividades do Projeto Reculturarte.
Acerca deste último, acontecia uma questão interessante e que confundia a cabeça de muitas crianças e adolescentes que participavam do Reculturarte,
Tratava-se do papel do coordenador do projeto e o papel de presidente da AMABA, o que para muitos eram a mesma pessoa, já que somente o coordenador do projeto podia ser remunerado para ficar a disposição do projeto, logo, permanecendo por mais tempo na sede da entidade e circulando pelo bairro. O contrário do presidente da AMABA, que trabalhava e fazia universidade durante o dia, e que era proibido de receber remuneração por conta da legislação da época, mesmo com o trabalho especializado a serviço do projeto sociocultural que muitas vezes realizava. Trabalho que misturava competências de educador popular com assistente social.
Quanto aos bons resultados das regiões e grupos de rua, o experimento avançou muito mais na região do Campo do Vidro. Por coincidência, área de nascimento da associação e bastante abandonada pelo poder público.
Foram coordenadores dessas regiões os jovens, éramos todos jovens, Luis Fernando e Antônio Wanderley, este último também artista plástico e desenhista. Todos os dois prestaram inestimáveis contribuição a população do bairro América.
Luiz Fernando - Em pé de óculos e bigode. De frente Aparecida e de costas Paulo Sérgio. Essa cena é uma dramatização, possivelmente como parte de um exercicio de psicodrama. A foto tem como local o Recanto Franciscano, casa de retiros localizada no bairro Mosqueiro em Aracaju. O ano é 1992.
Luiz Fernando - Em pé de óculos e bigode. De frente Aparecida e de costas Paulo Sérgio. Essa cena é uma dramatização, possivelmente como parte de um exercicio de psicodrama. A foto tem como local o Recanto Franciscano, casa de retiros localizada no bairro Mosqueiro em Aracaju. O ano é 1992.
Wanderley, de cocóras e Antônio Luiz, olhando para a câmera.
No capitulo do livro que dedicaremos a esse desenho ou redesenho de gestão, traremos mais detalhes sobre o sucesso parcial da proposta e sobre as dificuldades para conseguirmos avançar, dificuldades que deita raízes em nosso passado colonial, escravocrata, e que nos deixou marcas profundas de autoritarismo, paternalismo, passividade, acomodação, conformismo, apego exagerado a tradição e ao estabelecido, falta de hábito pelo estudo, preguiça ou dificuldades em pensar, medo de inovar.
Isso também ajuda a explicar o retrocesso violento que o nosso país está sofrendo na atualidade, depois das avançadas gestões de Lula e primeiro governo da presidenta Dilma Roussef, mesmo com os limites e contradições que acabaram por provocar o colapso "programado" do seu segundo mandato, o que contaminou os demais poderes da república, além de amplos setores da iniciativa privada e da sociedade civil que embarcaram na canoa furada ou no titanic do golpe de 2016, motivos do afundamento do Brasil desde então.
No capitulo do livro que dedicaremos a esse desenho ou redesenho de gestão, traremos mais detalhes sobre o sucesso parcial da proposta e sobre as dificuldades para conseguirmos avançar, dificuldades que deita raízes em nosso passado colonial, escravocrata, e que nos deixou marcas profundas de autoritarismo, paternalismo, passividade, acomodação, conformismo, apego exagerado a tradição e ao estabelecido, falta de hábito pelo estudo, preguiça ou dificuldades em pensar, medo de inovar.
Isso também ajuda a explicar o retrocesso violento que o nosso país está sofrendo na atualidade, depois das avançadas gestões de Lula e primeiro governo da presidenta Dilma Roussef, mesmo com os limites e contradições que acabaram por provocar o colapso "programado" do seu segundo mandato, o que contaminou os demais poderes da república, além de amplos setores da iniciativa privada e da sociedade civil que embarcaram na canoa furada ou no titanic do golpe de 2016, motivos do afundamento do Brasil desde então.
E em se tratando de epidemia, entre os anos de 1990 a 1993, o país é sacudido por uma epidemia de varíola e a AIDS ainda uma doença recente, estava levando muitas pessoas a óbito. A forma como a AMABA se engajou no esforço de educação preventiva também merece ser relembrado. Aqui vale ressaltar a participação de Antônio Luís, secretário executivo da AMABA, o qual visitava escolas e outras associações de moradores para levar filmes, slides e folhetos de orientação visando a proteção contra a coléra, contra o vírus da AIDS e contra o uso de drogas, essa última campanha em parceria com o setor educativo da policia federal, o qual liberava folhetos e às vezes um agente especializado para palestras.
Antônio Luis também prestou inestimável contribuição para o desenvolvimento atual do Bairro América. Tendo a sua contribuição se ampliado, ainda no tempo da AMABA, para a cidade de Aracaju como um todo. Considerando o seu engagamento posterior no movimento sindical dos aposentados e atualmente na federação dos conselhos comunitários de segurança.
Antônio Luis também prestou inestimável contribuição para o desenvolvimento atual do Bairro América. Tendo a sua contribuição se ampliado, ainda no tempo da AMABA, para a cidade de Aracaju como um todo. Considerando o seu engagamento posterior no movimento sindical dos aposentados e atualmente na federação dos conselhos comunitários de segurança.
Antônio Luis e o autor desse artigo. Sede da AMABA - foto de 1993.
Por último, voltando mais uma vez para a periferia de São Paulo encontro uma noticia negativa, aqui trata-se de uma área conhecida como Brasilândia, nessa região, segundo o blog de uma rádio comunitária da região, a Cantareira, apesar de ser uma área com o maior número de caso de coronavirus, a população residente, em sua maioria, não reage com os cuidados que a gravidade da situação requer.
Por último, voltando mais uma vez para a periferia de São Paulo encontro uma noticia negativa, aqui trata-se de uma área conhecida como Brasilândia, nessa região, segundo o blog de uma rádio comunitária da região, a Cantareira, apesar de ser uma área com o maior número de caso de coronavirus, a população residente, em sua maioria, não reage com os cuidados que a gravidade da situação requer.
Logo me lembrei de uma situação que essa região viveu nas décadas de 1980 e 1990, quando teve como bispo D. Angélico Sandalo Bernardino. A esse respeito escrevi e postei no facebook.
“A Brasilândia foi um território com grande quantidade de comunidades de base quando o Cardeal Arns foi arcebispo de SP. Em razão da redivisão da arquidocese, politica do Vaticano visando enfraquecer esse trabalho, a região Brasilândia que continuou sob a jurisdição do Cardeal Arns, ganhou Dom Angelo Sandalo Bernardino como bispo auxiliar. Ele que foi bispo auxiliar da região episcopal de São Miguel Paulista. A pergunta que não quer calar.. Caso o trabalho com comunidades eclesais de base não tivesse sido enfraquecido pelo Papa João Paulo II, em favor do fortalecimento da renovação carismática entre outros tipos de movimentos neoconservadores, a Brasilandia não estaria em situação melhor? Quanto a essa e outras questões que requer mais consciência cidadã, compromisso social e solidariedade pró ativa.”
Uma das pessoas que comentou a minha postagem em um grupo de adeptos da teologia da libertação fez uma afirmação e eu respondi. Essa resposta ajuda a entender um pouco mais como se deu a influência do pensamento e da ação pastoral de Dom Paulo Evaristo Arns, quando foi arcebispo da maior arquidiocese da América Latina, inclusive por meio do jornal "O São Paulo", o qual chegou na sede da AMABA durante alguns anos por meio de assinatura anual.
Afirmação : Você acertou na sua dissertiva sobre o bairro da brasilandia.
Resposta: E só estive na região Brasilândia apenas uma vez. Mas acompanhei bastante o que aconteceu na periferia de SP nas décadas de 1980/1990, por meio da assinatura do Jornal "O SÃO PAULO" e do Jornal Grita Povo da Região Episcopal São Miguel Paulista. Além dos cursos de verão do CESEEP e dos materiais escritos, que alimentaram o meu trabalho de base nesse periodo, aqui em Aracaju.Estes eram distribuídos pelo então Centro de Pastoral Vergueiro (CPV). Aqui em Aracaju foi um trabalho pastoral e laico ao mesmo tempo. Depois explico com mais detalhes.
E para concluir: Fundamental pensarmos esse momento para fortalecermos redes politicas de solidariedade, politicas porque não se faz solidariedade apenas prestando assistência ou alivio imediato. Mas pensando o agora e o depois. Bem na linha do que afirmou Dom Hélder: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista."
E para concluir: Fundamental pensarmos esse momento para fortalecermos redes politicas de solidariedade, politicas porque não se faz solidariedade apenas prestando assistência ou alivio imediato. Mas pensando o agora e o depois. Bem na linha do que afirmou Dom Hélder: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista."
P.S.: O trabalho social educativo com arte e cultura realizado pela AMABA, foi financiado de forma permanente pela Visão Mundial, desde 1989 até 1999. E de forma intermitente pela Coordenadoria Ecumênica de Servico (CESE). O Unicef fez repasse de pequeno repasse uma vez e o então deputado Renatinho Brandão (PT) fez repasse razoável uma ou duas vezes, não temos certeza. O Centro Sergipano de Educação Popular prestou assessoria fundamental nos dois primeiros anos e depois esporadicamente. O Centro Nordestino de Animação Popular , localizado em Pernambuco e especializado em arte-educação popular, prestou assessoria a distância, presencial e significativa, em especial de 1992 à 1995. O Centro Ecumênico de Serviços a Evangelização e a Educação localizado em São Paulo, colaborou de forma indireta por meio dos cursos de verão em 1990 e 1991. Inclusive por meio deste chegamos ao CENAP.
O serviço voluntário permanente por parte de alguns dirigentes foi imprescindivel,
assim como por parte de alguns sócios, de forma esporádica.
A parceria com a Igreja São Judas Tadeu foi muito importante,
em especial no período compreendido entre 1983 e 1991 na pessoa do Frei Florêncio Pecorari.
Assim como a Escola Estadual Souza Porto, na pessoa do diretor Carlos, entre 1986 e 1991.
Alguns comerciantes do bairro foram parceiros importantes.
A todos, o nosso mais sincero e afetuoso agradecimento.
A todos, o nosso mais sincero e afetuoso agradecimento.
DOCUMENTOS SOBRE A REFORMA NO ESTATUTO QUE DESCENTRALIZOU E DEMOCRATIZOU A AMABA.
DOCUMENTOS SOBRE O TRABALHO EDUCATIVO E PREVENTIVO CONTRA A COLÉRA E CONTRA A AIDS.
Jornal Popular - Nº 19 - Junho de 1991
Jornal de Sergipe - 17 de julho de 1991
O texto a esquerda no recorte acima, foi extraído do Jornal "O São Paulo" da Arquidiocese de São Paulo. Não encontramos mais detalhes acerca da edição ou ano de publicação. Provavelmente é do ano de 1991.
DOCUMENTOS RELATIVOS A PARTICIPAÇÃO DE REPRESENTANTES DA AMABA NO CURSO DE VERÃO PROMOVIDO PELO CESEEP NAS DEPENDENCIAS DA PUC-SP.
Jornal Popular - Nº 06 - Fevereiro de 1990
Zezito de Oliveira e Paulo Sérgio no Curso de Verão de 1992 . Teatro da PUC/SP. Em destaque, saindo do palco por um dos corredores, após uma fala de boas vindas, o saudoso Arcebispo de São Pauo, Dom Paulo Evaristo Arns.
Cardeal Arns, personagem emblemático da história do Brasil contemporâneo se foi, mas o Curso de Verão prossegue.
Até uma parte do mesmo, pode ser visto aqui na net.. Vale a pena participar de maneira presencial..
Sugestões bibliográficas:
Livro conta a história do Bairro América
Dom Paulo Evaristo Arns – um homem amado e perseguido
A censura ao jornal O São Paulo durante a ditadura militar (1964-1985): desafio à evangelização na cidade de São Paulo
artigos,monografias, dissertação e teses..
artigos,monografias, dissertação e teses..
ESTIGMAS NA EDUCAÇÃO: O ENCARCERAMENTO SIMBÓLICO DAS JUVENTUDES DO
BAIRRO AMÉRICA EM ARACAJU/SERGIPE
UMA FONTE PARA A HISTÓRIA DO CATOLICISMO EM SERGIPE: O PRIMEIRO LIVRO TOMBO DA PARÓQUIA SÃO JUDAS TADEU – ARACAJU/SE (1961 – 2016)
Do MEB ao CESEP : uma análise da educação popular em Sergipe
Os princípios políticos e a prática educativa do CESEP: processos formativos de uma ONG em Sergipe: 1988/1998
BOLETIM DA AMABA DEZEMBRO DE 1984 - ARQUIVO DIGITAL DO CENTRO PASTORAL VERGUEIRO.
CURSO DE VERÃO: UM PROJETO DE EDUCAÇÃO POPULAR FEITO EM MUTIRÃO.
METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO POPULAR: CONCEITOS, PRÁTICAS E APRENDIZAGENS NO CURSO DE VERÃO 2018
BAIRRO AMÉRICA EM ARACAJU/SERGIPE
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AMABA/PROJETO RECULTURARTE – O ESQUECIDO CÍRCULO DE CULTURA DA ARACAJU DOS ANOS DE 1980 E 1990
RESUMO
Este artigo apresenta o Projeto Reculturarte (Reeducação, Cultura e Arte), realizado nos anos de 1990 em Aracaju, proposta pioneira e inovadora de arte-educação popular, atual e necessária nestes tempos de fake news, individualismo exacerbado e falta de espaços para a socialização criativa e crítica de crianças, jovens e adultos. Os resultados preliminares da pesquisa iniciada em 2018 mostram avanços no campo da construção de sentido, protagonismo cidadão e preenchimento do tempo livre de forma construtiva.
Palavras-chave: adolescentes; arte; comunidade; cultura de paz; educação popular.
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Leia também: acrescido em 24/04/2020, às 22:00
SAÍDA DE MORO INDICA NECESSIDADE DE GOVERNOS PARALELOS NO BRASIL
acrescido em 25/04/2020 às 19:15
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