domingo, 6 de agosto de 2023

Gente é pra brilhar e não pra morrer de fome.

 https://www.youtube.com/watch?v=uJEgtD_0tgE


Um CD que consagra Pretinho da Serrinha como um dos grandes músicos e produtores musicais da atualidade

6 de agosto de 2023, 14:39 h

Se nos últimos tempos a música popular brasileira andou caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento e com quase nada de poesia no bolso ou nas mãos, Xande de Pilares e Pretinho da Serrinha resolveram resgatar a nossa essência musical através da obra de Caetano Veloso. Djavan diria que eles "caetanearam", mas eu digo que eles swingaram o que há de bom. Como se isso fosse possível, em se tratando da ecleticidade presente no trabalho de um dos criadores do Tropicalismo. Um movimento artístico e musical que deu o tom ao que hoje conhecemos como MPB. 

A primeira música que me tocou nesse brilhante trabalho de Xande e Pretinho, foi "Alegria, Alegria", que também é uma das primeiras músicas que eu tentava tocar ao violão, quando começava a aprender o instrumento. Uma canção que havia sido gravada há mais de  20 anos do tempo em que eu, ainda moleque, penava para executar os seus acordes. Mais uma prova da atemporalidade da obra de Caetano, revisitada agora por dois expoentes do samba atual brasileiro, que revestiram um dos grandes hinos da Tropicália com um arranjo maravilhoso de Ijexá, com direito a um clarone (clarinete-baixo) acompanhando o violão na inesquecível introdução. 

Outro ponto alto do trabalho, é a autenticidade da interpretação de Xande que, em nenhuma das faixas, fugiu de sua personalidade vocal e da característica do seu canto. O que fica bem registrado em "Tigresa", originalmente uma balada setentista, que virou um samba clássico com uma percussão exemplarmente executada por Pretinho da Serrinha, e cujos arranjos e a interpretação de Xande, nos remete a exaltação de uma musa do subúrbio carioca.

As reinvenções da moda e da roda, seguem surpreendentemente positivas e musicais em "Diamante Verdadeiro" e "Muito Romântico". Embora a primeira, que foi gravada em 1979, no disco Pipoca Moderna,  mantenha a rítmica original, com uma levada meio samba de breque e samba canção que lembra o saudoso Moreira da Silva, a voz de Xande se apropria tão musicalmente da canção, que não é exagero dizer que a música foi composta sob medida para ele.   Eu não tenho nada com isso e nem me venham falar, mas acho que a segunda nasceu para ser um samba muito romântico. E, possivelmente, o próprio Caetano, que nunca dourou pílula, já sabia disso. 

Eu já estava pra lá de Marraquexe ouvindo o CD, quando me deparo com um bolero que "Qualquer Coisa" doida dentro mexe. Berra-se mais ainda pelo desterro, ao ouvir o bandolim de Hamilton de Holanda desfilando pela canção, como se nos mostrasse os passos de um casal bailando pelo salão ao som daquela obra prima. Um arranjo pra lá de Teerã, que carimba a figura de Pretinho da Serrinha como um dos grandes produtores musicais da atualidade. 

https://www.brasil247.com/blog/xande-encanta-caetano?fbclid=IwAR2Zk7aJDVSHQsT-cU5vZFYa5XJwiGXrVeH9NASgFKJoXengvfT8M3S2DbE

https://www.youtube.com/watch?v=6CFpJpAT30o


Tenho duas lembranças fortes de GENTE, quando a ouvia emocionado e encantado lá pelos anos de 1980 ou fins dos 1970 e recentemente com a Live de natal do Caetano (2021), ainda no período da pandemia e agora surpreso  com a bela gravação por Xandy de Pilares e a emoção do mano Caetano ao ouvir a gravação... 
Precisamos ouvir mais e cantá-la. Quem sabe agora não entre em nossos cancioneiros de CEBs, PJ, CEBI e etc...
No decorrer do tempo percebi que GENTE ficou um tanto esquecida.. Por outro lado, quando o Brasil da era Temer/Bolsonaro voltou ao mapa da fome e a arte e os artistas passaram a ser tão duramente atacados pelo governo de então passei a lembrar de GENTE.
Quando nos dias que antecederam a live de natal , a produção fez uma chamada pública pelas redes virtuais para sugestões a play list da mesma, sugeri via facebook, GENTE.. 
No dia da realização, aguardei que a mesma fosse cantada, até utilizei como argumento o momento politico que estávamos vivendo naquele momento. O tempo ia passando, várias canções da autoria de Caetano desfilava pela mesma, até que ao final para encerrar, GENTE, que alegria...
Zezito de Oliveira







Chico Alencar  

LÁ VEM O MANO, O MANO CAETANO...

cantou Jorge Benjor. Caetano Veloso - que também é Emanuel (Deus conosco) e Viana Teles - está sempre vindo. Não passa, não para. "Antena da raça humana", criador sem fim, espalha benefícios há 81 anos, completados hoje. 

Seu trabalho é traduzir Santo Amaro da Purificação, o torrão natal (de doce cana, gosto raro) e a Terra, distante e imerso navegante. Sua devoção é à sua gente, "espelho de estrelas, reflexos do esplendor", que ele sabe que "quer ser feliz, respirar ar pelo nariz, quer  brilhar, quer crescer, quer luzir".

Toda a obra de Caetano é um ofertório a quem tem sensibilidade, a quem ama a vida e o/as outro/as, nas suas diferenças.

Tudo que Caetano cria é resposta - provisória e linda, terna e eterna - à indagação fundamental, que ele próprio fez: "existirmos, a que será que se destina?".

Nosso destino, Caê, é existimos em plenitude, como a sua música e boa palavra indicam. Com direitos para todo(a)s, sobretudo o(a)s que sofrem nas "vilas, filas, favelas".

Você acredita que é possível, ao final da jornada, "reunirmo-nos, num outro nível de vínculo", superadas as amarras do Tempo, esse "senhor tão bonito como cara do meu filho".

Não tem onde caiba: nós te amamos. E juntos com seu José, dona Canô, Joões, Torquato, Wally, Gal e tanto(a)s outro(a)s que partiram fora do combinado, cantamos, afinados e fraternados, as suas canções. Como um beijo!

PS: quis Deus, ou todos os orixás, ou a Energia Primeira, ou as forças cósmicas, ou melhor, o Todo Poderoso Amor, que também nesse 7 de agosto viesse ao mundo, há seis anos, meu netinho Bento Alencar Prado ( bendito fruto de Ana e Gu) - querubim, curumim.

Arte de Elifas Andreato (1946-2022)


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