sábado, 1 de novembro de 2025

Pastoral Afro Brasileira celebra missa no Santuário de Aparecida neste dia 01 de Novembro de 2025

 


Meus irmãos e minhas irmãs, estamos celebrando a 29a Romaria da Pastoral Afro-Brasileira, que tem como Tema: " Mãe Negra Aparecida, a Esperança que Não Decepciona". E hoje , com toda a Igreja, celebramos a Solenidade de Todos os Santos. Somos convidados a olhar para esta realidade e dizer: ' Que luzes desta liturgia da Festa de Todos os Santos são lançadas sobre a realidade da Pastoral Afro-Brasileira? Primeiro elemento que gostaríamos de lembrar: Papa Francisco, em seu documento sobre a santidade no mundo atual ,nos convida a reconhecer não somente os santos já reconhecidos pela Igreja e já estão na glória dos altares, mas aquilo que ele chama " os santos de pé de porta" - aqueles que vivem perto de nós e são reflexo da presença de Deus. Quantos irmãos e irmãs são sinais em diversas culturas, inclusive na cultura afro? A primeira leitura de hoje ,do livro do Apocalipse, nos ajuda a compreender o que é santidade. João tem uma visão de uma multidão em vestes brancas. E pergunta: quem são estes? São aqueles que vieram da grande tribulação. Significa que a santidade é para todos! E hoje somos convidados a reconhecer como na história do povo negro, na sua resistência, o Espírito de Deus se manifestou. E se o Senhor não estivesse ao nosso lado, nós não estaríamos aqui neste momento. E o marco da experiência pascal do Antigo Testamento é a libertação do Egito. A páscoa de Jesus é a libertação de todas as pessoas e da pessoa em totalidade, como também de toda forma de escravidão. Por isso santidade é lutar contra toda forma de escravidão, porque foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Então crescer na consciência negra é também crescer na santidade. A segunda leitura também nos ajuda a responder o que é santo. O apóstolo João diz: " Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu, de sermos chamados filhos de Deus, e nós o somos. Nós, que somos descendentes da cultura afro, sabemos das feridas que trazemos de longa história e, por isso, precisamos curar essas feridas. Porque quando as feridas estão abertas , não estão assumidas, não estão redimidas, podemos ferir por onde fomos feridos. Por outro lado, quando as feridas são assumidas e redimidas em Cristo, elas se tornam um dom para a humanidade. Cuidado para não cairmos na síndrome de Chica da Silva - de escrava, tornar-se senhora. " Vós todos sois irmãos" - nos lembra o Senhor. Esse é o princípio para superar todo o preconceito, toda a marginalização. Diante dos trágicos acontecimentos no Rio de Janeiro esta semana, que atingiu a população pobre, tanto nos que morreram, quanto naqueles que padeceram naquele momento , e no Brasil a história dos pobres se confunde com a história dos negros; o princípio se torna mais imperativo: somos todos irmãos. Um poeta inglês no século XVII diz: " A morte de cada homem me diminui, porque eu faço parte do gênero humano". Se esse poeta pôde dizer isso, nós como cristãos temos que reafirmar que a morte de qualquer ser humano nos diminui porque somos irmãos no Senhor. A fraternidade é inegociável! Papa Francisco, no Documento Amoris Laetitia, ao falar dos conflitos dentro de uma família,cita uma passagem bonita do líder negro pacifista Martin Luther King que diz: ' Alguém deve ter bastante fé e moralidade para quebrar e injetar dentro da própria estrutura do próprio universo o elemento forte do amor". Diante de uma realidade onde, aparentemente, a morte está vencendo, somos convidados a dizer: " O amor para nós é inegociável! Não podemos ficar apáticos diante da realidade, mas não podemos responder o mal com o mal, a violência com a violência, o ódio com o ódio. É preciso uma não violência ativa! Como foi vivido por tantos irmãos, como Gandhi, Martin Luther King, Dom Helder Câmara. No Evangelho hoje temos as bem aventuranças.Papa Francisco, no documento sobre a santidade no mundo atual, nos apresentou as bem aventuranças como caminho de santidade e deu ênfase justamente à última que é conclusiva. Ele diz: " Alegrai-vos e exultai-vos, diz Jesus, a quantos são perseguidos e humilhados por causa d'Ele". O Senhor pede tudo e em troca oferece a vida verdadeira , a felicidade para a qual fomos criados. Ele quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa. Viver o imperativo do Evangelho vai nos levar a incompreensões, à perseguição, mas nós não podemos negociar o Evangelho! O amor é inegociável porque Deus é amor! No Dia de São Francisco, Papa Leão nos presenteou com um documento muito bonito sobre o amor aos pobres e disse que o amor aos pobres não significa tê-lo como objeto de caridade, mas é a própria revelação . Nós reconhecemos no pobre o rosto de Cristo Senhor. São Paulo VI já tinha dito na década de 60: " O pobre é representante de Cristo". Digo eu: o negro é representante de Cristo. A representação de Cristo no pobre é universal. Todo pobre, por sua condição de pobreza, reflete o próprio Cristo. É preciso ter esta consciência para enfrentarmos o dia a dia e vencermos o ódio com amor, a injustiça com a paz. Maria , negra Aparecida, e a esperança que não decepciona: Ela aponta para aquele que é a razão de nossa esperança. E é bonito quando vemos a primeira manifestação de Nossa Senhora, em nosso continente latino-americano, foi no México, 1531. Maria se manifesta com o rosto do povo sofrido , marginalizado e pobre. Nossa Senhora de Guadalupe tem os traços indígenas. Não seria diferente aqui no Brasil: em 1717, Nossa Senhora se manifesta com o rosto da população mais sofrida, em plena escravidão. Aquela que é toda de Deus se identifica com aquela parcela mais sofrida do povo de Deus, porque Deus se identifica com os pobres. Nossa Senhora constantemente diz para nós que somos seus servos: " fazei o que ele vos disser" ; e fala para seu filho e também para nós: "Eles não têm mais vinho". Maria nos provoca a olhar para a realidade do povo negro no nosso país, ela sempre nos aponta para Jesus, razão de nossa esperança. Portanto , nesse Santuário da Mãe Aparecida, uma casa de portas abertas em que todos se sentem acolhidos, por ser Casa da Mãe, porque casa de Deus, termino fazendo minhas as palavras de Dom Helder Câmara na oração que ele compôs para a Missa dos Quilombos, referindo-se a Maria de uma forma tão carinhosa chamando-a de Mariama. Assim como a ama era aquela que alimentava os filhos dos senhores, Maria é aquela que nos alimenta com seu filho, razão de nossa esperança:

" Mariama, Nossa Senhora, Mãe de Cristo e Mãe dos homens!

( E assim o bispo prossegue toda a oração de Dom Helder).

Dom Antonio Carlos Cruz , 01/11/2025, Santuário Nacional de Aparecida. 



Coro Edipaul - Olha que eu vim lá de longe (Entrada 1988)



O arcebispo emérito de Olinda e Recife e Servo de Deus, dom Helder Camara (1909-1999), um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), passou a integrar o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A Lei Nº 15.242, que oficializa o nome do “Dom da Paz” na publicação, foi sancionada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin, e publicada na edição de quarta-feira (29), do Diário Oficial da União.

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (também conhecido como Livro de Aço) está localizado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Na obra são registrados os nomes de personalidades históricas que tiveram atuação destacada na defesa e na construção do país.

Leia a matéria completa em nosso site: cnbb.org.br






De banzo e de esperança: contranarrativa teológica afrodiaspórica nas músicas do álbum Missa dos Quilombos

Em 1982, o cantor e compositor Milton Nascimento lançou o álbum intitulado “Missa dos Quilombos”, homônimo ao evento litúrgico ocorrido há poucos meses, em Recife, para o qual o repertório do disco foi especialmente criado. A sua temática se assenta na articulação entre um rito católico e um símbolo da organização política e social negra contra a colonização e o racismo, também remetendo a uma memória da escravidão. Nesse sentido, as músicas sugerem a existência de uma identidade negra atravessada pela religiosidade cristã e ao mesmo tempo comprometida politicamente com a luta antirracista. Partindo do pressuposto de que a obra em pauta não só reproduza, mas contribua proativamente com o imaginário social e religioso da comunidade negra cristã e antirracista, tomo como objetivo geral analisar o álbum “Missa dos Quilombos”, buscando identificar os discursos comunicados pela via musical que potencialmente produzem uma contranarrativa teológica afrodiaspórica resultante das articulações entre luta antirracista e mensagens cristãs. Para realizar a análise, primordialmente recorro ao sociólogo britânico Paul Gilroy e a sua elaboração teórica sobre o Atlântico Negro, tendo em vista a formação intercultural e transnacional da experiência social e cultural afrodiaspórica. No primeiro momento, busquei situar o disco “Missa dos Quilombos” no circuito do Atlântico Negro, conectando a obra a sujeitos e narrativas similares de variados contextos históricos, sobretudo no período pós-abolição. Em seguida, investiguei o processo de constituição do álbum em pauta, analisando a sua importância e os seus aspectos culturais e políticos afrodiaspóricos, tendo em vista a relação do seu repertório musical com o contexto social do período imediatamente anterior e a sua circulação nos anos posteriores na sociedade brasileira e no circuito transnacional. Por último, analisei as músicas da “Missa dos Quilombos”, destacando a produção de uma contranarrativa teológica afrodiaspórica, antirracista e anticolonial, antecipatória de alguns dos elementos e pressupostos da reflexão teológica negra brasileira.

Autor Andrade, Charlisson Silva de


Acesse AQUI


Essa postagem foi produzida com inspiração e colaboração de Inês Ferreira via facebook







Nenhum comentário: