domingo, 30 de outubro de 2011

Aracaju aplaude de pé "O Dragão" da Cia. Amok


Olivia Proença


Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
29/10/2011 
 
No segundo dia do projeto palco giratório do SESC, ouvi de um jovem ator sergipano, dirigindo-se a um colega:”Vá assistir ao espetáculo “O Dragão” da Cia. AMOK, é imperdível, foi o melhor a que assisti até este momento da minha vida.” (fecha o pano)


(abre o pano
) No último dia do encerramento do palco giratório, conversando com uma jovem atriz do teatro sergipano, ela propôs nos encontrarmos antes da apresentação do “Dragão”, para conversarmos sobre um projeto que estamos empreendendo.

(depois desse diálogo, vejo no fundo da cena aberta dentro da minha mente o seguinte:
) “É incrível a força que as coisas têm para acontecer quando elas precisam acontecer.”

E, para confirmar essa afirmativa, a quarta-feira foi o dia escolhido pelos professores de todo o Brasil para realizar uma paralisação em favor de mais investimento em educação, terceira razão para motivar minha ida ao teatro naquela noite.


Dito isto, lá vou eu acompanhado da minha filha de 15 anos ao teatro Tobias Barreto para assistir a “O Dragão”.


http://www.overmundo.com.br/overblog/aracaju-aplaude-de-pe-o-dragao-da-cia-amok

Código Florestal: futuro das águas e da vida

 O texto produzido por Leonardo Boff e que contém uma análise desenvolvida por Roberto Malvezzi, que poderá ser entrevistado pelo jornalista João Neto, produtor e apresentador do programa REVISTA
APERIPÊ, na rádio Aperipê AM 630, no horário das vinte às vinte e duas horas, nas noites das segunda às quintas-feiras, da mesma forma como ocorreu com a entrevista dêste especialista em meio ambiente, quando
foi entrevistado e tratou das questões relativas à pesca, no início dêste ano, será o tema da entrevista.  A informação jornalística foi passada durante o programa, dando conta que o produtor já estava entrando em entendimentos para agendar a entrevista.  Eis uma oportunidade para todos os estudiosos e interessados nas questões diretamente ligadas ao meio ambiente e consequentemente à vida, conhecer em profundidade o tema que estará sendo debatido.  Mantenha-se alerta!..

           Os telefones são  3179-1325  e  3179-4848.


           Com abraços de

               Milton

 26/10/2011


por Leonardo Boff
Roberto Malvezzi é um dos que melhor conhece as questões ecológicas do semi-árido e tem contribuido com reflexões cientificamente bem fundadas acerca do novo Código Florestal a ser votado nos próximos dias pelo Senada e depois pelo Legislativo.As florestas são mais que um problema ecológico. Elas representmm um problema vital. Sem florestas não há água e sem água não há vida. Publico o presente texto de Malvezzi por nos dar o contexto da atual discussões,elencar os interesses que estão em jogo e nos fornecer o tópicos mais importantes do texto.LB
O CÓDIGO FLORESTAL: TEXTO E CONTEXTO
1) Contexto.
A humanidade atravessa um momento onde um bilhão de pessoas passa fome e 1,2 bilhões não tem um copo de água limpo para beber. Fome e sede continuam sendo os problemas fundamentais da humanidade.
Porém, para alguns cientistas, como James Lovelock, diante do Aquecimento Global todos os outros problemas humanos são irrelevantes. Ele tem o dom de tornar pior todas as tragédias humanas, inclusive a fome e a sede. O Aquecimento Global tem entre suas causas a emissão de CO2 na atmosfera pela derrubada e queima de florestas. Na contribuição perversa do Brasil nesse problema, o desmatamento é o fator número um.
No século XIX Malthus já debatia com seus contemporâneos o agravamento da disponibilidade mundial de alimentos diante do crescimento populacional. A humanidade cresceria de forma geométrica, enquanto a produção de alimentos cresceria de forma aritmética. Entretanto, a chamada revolução verde, a base de químicos e maquinários agrícolas, conseguiu multiplicar a produção de alimentos para além do crescimento populacional. A tese de Malthus, portanto, caiu por terra.
Entretanto, na Cúpula Mundial do Meio Ambiente em 2002, Johanesburgo, África do Sul, um documento da ONU trazia um novo olhar sobre a questão, fazendo uma interessante conexão entre água (water), saúde (Health), energia (energy), agricultura (agriculture) e biodiversidade (biodiversity). Por isso, em inglês, o documento acabou rotulado pelas iniciais WEHAB.
A constatação do documento era crucial, isto é, a produção mundial de alimentos tinha se multiplicado às custas da devastação dos solos, da contaminação e uso intensivo água, da biodiversidade, além do saqueio dos territórios das comunidades tradicionais. Apesar da produção de algumas comodities agrícolas ter se multiplicado, multidões estavam passando fome e sede, particularmente no meio rural. Portanto, não existia a mágica da revolução verde, a não ser que suas conseqüências nefastas sobre o meio ambiente e as populações fossem ocultadas. Hoje, quando se fala que temos produção agrícola para saciar toda a humanidade, sendo o problema apenas de acesso, se oculta em que bases destrutivas essa produção está acontecendo.
Para se estabilizar demograficamente, os estudos mais recentes nos dizem que a humanidade deverá chegar a nove bilhões de pessoas m 2050, dois a mais que os atuais sete bilhões. Esse é outro argumento para pressionar a produção de alimentos.
Para agravar o cenário, o documento prevê que o aumento da população iria direcionar a produção agrícola para “áreas frágeis e de risco”, piorando ainda mais a sustentabilidade ambiental da produção agrícola.
Para evitar essa insanidade o documento faz as seguintes recomendações:
. redução da degradação da terra;
. melhorar a conservação, alocação e manejo da água;
. proteção da biodiversidade;
. promover o uso sustentável das florestas;
. informações sobre o impacto da mudança climática.”
2) O Texto.
É nesse contexto mundial de degradação de solos, escasseamento da água, erosão da biodiversidade e florestas, crescimento populacional e o Aquecimento Global para agravar o que já é complexo, que se coloca a proposta de alteração do Código Florestal Brasileiro. As propostas para alteração no Código têm como argumento fundamental o aumento da produção de alimentos.
Há tempos já se sabia que o Brasil era rico em solos, água, sol e biodiversidade. Entretanto, há tempos também se sabe que os solos do Cerrado, Caatinga e Amazônia são frágeis, nem sempre aptos para a agricultura. A prova é que a pecuária e agricultura já deixaram para trás 80 milhões de hectares de terras degradados. Hoje fala-se em recuperar essas áreas, mas a verdade é que se prefere avançar sobre novas áreas “´frágeis e de risco”, como já advertia a ONU.
As mudanças no Código Florestal vêm nesse contexto de quebrar as barreiras legais para o avanço da agricultura e pecuária sobre essas áreas. As mais simbólicas são exatamente as áreas de preservação permanente, como as matas ciliares dos rios, e morros com inclinação acima de 45º. Mas, não é só. Também se quer ampliar a área de desmatamento na Amazônia para fins agrícolas.
O gatilho que disparou a reação violenta dos ruralistas é a execução das multas originadas por crimes ambientais, sobretudo o desmatamento das áreas de preservação ambiental. Acossados pela execução das multas, decidiram mudar as leis. Portanto, legislam em causa própria.
Mas, o argumento público é a produção de alimentos, fartamente repetido pelos empresários do agronegócio, mas agora também por setores dos pequenos agricultores. Nesse sentido, além de questões técnicas, existem dimensões políticas e éticas permeando essas alterações.
No contexto geral, essa agricultura brasileira baseada na ampliação do desmatamento, do avanço sobre as áreas frágeis e de risco, sobre os mananciais de água, mostra-se insustentável a médio e longo prazo. Esse modelo não tem como se sustentar – precisa de 5,2 litros de veneno por brasileiro para produzir e já consome 70% de nossa água doce – mesmo que dê respostas econômicas para a exportação imediata.
Esse é o nó da questão: o Brasil reprimarizou sua economia. Agora essas comodities agrícolas representam 36% das exportações brasileiras (www.porkworld.com.br), enquanto no regime militar a agricultura não representava muito mais que 8%. Com a demanda mundial por soja, etanol, carnes – e agora minérios para sustentar a demanda chinesa -, o Brasil tem quebrado todas as leis – vide Código Florestal, Código Minerário, etc. – para facilitar a vida do capital desses ramos econômicos, mais que nunca poderosos do ponto de vista econômico e político. Vale recordar que a produção de alimentos no Brasil, 70% vem da agricultura familiar, não da empresarial (Censo Agropecuário 2006).
Dados recentíssimos afirmam que 64% da área desmatada da Amazônia se destinaram à pecuária e apenas 5% à agricultura (F.S.Paulo 02/09/2011 – 15h13). Diante dos fatos, os argumentos em favor das mudanças perdem força.
Portanto, fechar os olhos para os interesses dos grupos envolvidos, e fechar os olhos sobre os impactos desse tipo de agricultura sobre a natureza e as comunidades, sobretudo, fechar os olhos sobre a lógica predadora e acumulativa dessa disputa, é decididamente tomar partido daqueles que criaram a crise da sustentabilidade. O que está em jogo é o solapo dos bens naturais – solos, água, biodiversidade – que sustentam a humanidade. Podemos produzir mais agora, mas, decididamente, vamos comprometer as bases naturais para as gerações futuras.
3) As Alterações no Código e os Pequenos Agricultores.
Um problema de ordem prática que se coloca é que muitos pequenos agricultores também estão entre os que depredaram suas áreas de preservação permanente e plantaram em morros com inclinação acima de 45º. Ainda mais, muitas das pequenas propriedades estão nesses morros. Portanto, estão impedidos de ampliar sua área agrícola.
Primeiro, para tratar dessa questão, não é necessário fazer as mudanças no Código Florestal que estão sendo propostas. Nesse sentido, os pequenos estão sendo bois de piranha dos grandes interesses. Há propostas de ocupar essas áreas com árvores frutíferas e outros manejos que tenham finalidade econômica e ao mesmo tempo respeitar a demanda da natureza. O Código tem base científica e, vale lembrar, que a ciência protesta contra as mudanças exatamente porque foi posta de fora dessas decisões. Os cientistas que participam foram convenientemente escolhidos pelos interessados na mudança do Código.
A simples possibilidade que agricultores com até quatro módulos sejam poupados pela mudança do Código, já fez com que áreas enormes já estejam sendo retalhadas para se enquadrarem no novo padrão legal. Portanto, mascara, mas não resolve o problema.
Além do mais, não se resolve um problema social criando mais um problema ambiental. Muitas das pequenas propriedades são inviáveis não porque respeitam as leis ambientais, mas porque são minifúndios, portanto, tecnicamente são áreas pequenas demais para viabilizar a vida de uma família naquele espaço. Portanto, a questão remete à concentração da terra no Brasil, não ao problema ambiental da preservação em si mesmo. Ele só aparece porque não há espaço outro para a expansão da atividade familiar.
4) Novas técnicas agrícolas e preservação.
Surgiram algumas técnicas para garantir a produção e evitar, por exemplo, a erosão dos solos. Uma delas é o chamado “plantio direto”. Evita-se o revolvimento do solo com máquinas, praticamente plantando sobre as palhas da cultura anterior as novas sementes. De fato, diminui em muito a erosão. Esse tipo de técnica está sendo usado como argumento para facilitar o desmatamento em função da agricultura extensiva.
Mas, é bom lembrar que o plantio direto não evita a força dos ventos, muito menos tem a capacidade de fixar carbono que as florestas têm. Além do mais, exige doses colossais de venenos. Portanto, é preciso olhar a questão no seu conjunto.
Quanto à redução das matas ciliares, evidente que ter 12 metros é melhor que não ter nenhum metro. Mas, é preciso lembrar que só na área de Minas Gerais, nascentes do São Francisco, mais de 1200 pequenos riachos foram extintos, o que vai impactando diretamente na força do rio, nesse caso o São Francisco. Quando chove há água, mas quando ele precisa de seus afluentes e aquíferos de abastecimento – aqüífero Urucúia -, então o rio mostra a fragilidade a partir do desmatamento do Cerrado. Entre vegetação e água existe uma conexão indissolúvel.
É importante pensar a partir dos biomas, mas é essencial pensar a interconexão dos biomas. Por exemplo, o grande reservatório de águas do Brasil está no Cerrado. Ele abastece as bacias do sul (Prata), Nordeste (São Francisco) e Norte (Araguaia-Tocantis) e Amazônica. Preservar os Cerrados é preservar grande parte das águas brasileiras.
O Aquecimento Global, pelos estudos já realizados, vai aumentar a temperatura do semiárido, diminuir disponibilidade de solos agrícolas em torno de 1,5% ao ano e diminuir a disponibilidade hídrica. A perda total de solos agrícolas do semiárido pode chegar a 60% em alguns estados em 50 anos (Embrapa Semiárido). A Amazônia tende a tornar-se uma savana. Acontece que grande parte das chuvas que caem no sul e sudeste do Brasil tem sua origem no rio aéreo (umidade lançada no ar e ao vento pelas plantas) que desce da Amazônia para o sul. Sem Amazônia não há, portanto, agricultura no sul e sudeste.
Portanto, modificar todo esse sistema complexo, no qual a vegetação tem influência decisiva, é mais que temerário, é uma loucura. Quebrar a legislação por interesses econômicos e corporativos, assim facilitando a quebra das leis da natureza, é ainda mais temerário.
Portanto, um interessante posicionamento da CNBB, do ponto de vista ético, é fundamental. O imperativo de vencer a fome a sede imediatamente não pode comprometer o suporte natural de vencer a fome e a sede das gerações futuras.
Outra atitude interessante da CNBB seria ouvir o mundo da ciência, particularmente aqueles que discordam das mudanças propostas, já que eles reclamam não estarem sendo ouvidos.
5) Novas atitudes.
Por outro lado, diante da Campanha da Fraternidade desse ano, muitos agricultores começaram de forma espontânea ou organizada a reagir ao desmatamento. Há agricultores na Chapada Diamantina refazendo matas ciliares, assim como a comunidade extrativista de Serra do Ramalho na região da Lapa, assim como um interessante trabalho de recuperação de rios da Cáritas em Rio dos Cochos, em Minas.
Há agricultores na caatinga cultivando as árvores nativas como a aroeira e o angico. Enfim, há uma outra linhagem de pensamento que não a imediatista, mesmo no meio dos pequenos agricultores.
Enfim, como vamos produzir comida para toda a humanidade? Essa é uma resposta em construção. Em todo caso, segundo a ONU, não será devastando solos, consumindo água além do sustentável, erodindo a biodiversidade que a humanidade encontrará uma saída para a fome, a sede, desta e das futuras gerações.
É possível vencer a fome e a sede em outro modelo agrícola e agrário, mas esse é um desafio do tamanho da humanidade.
Nesse caso, mais que nunca, cabe o princípio da precaução.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Brasil: Internet para Todos






Caros amigos do Brasil,



As empresas de Internet estão fazendo altos lucros, mas enganando seus clientes em relação a uma Internet rápida e confiável. O governo finalmente quer intervir e regulamentar, mas ele precisa de um protesto em massa do público para abafar o lobby das telecoms que são contra a regulação. Temos apenas 24 horas até o voto decisivo -- envie uma mensagem de apoio pelos novos padrões de Internet urgent e encaminhe para todos:

As empresas de Internet estão fazendo lucros imensos, mas enganando seus clientes em relação a uma Internet rápida e confiável. Finalmente o governo quer intervir e regulamentar, mas ele precisa de um protesto em massa do público para abafar o lobby das telecoms que são contra a regulação.

O serviço de internet é como um faroeste virtual - um mercado sem regulamentação do governo, onde o serviço é lento ou muitas vezes inexistente. Aqueles de nós que vivem no Norte do Brasil pagam três vezes mais pela Internet do que aqueles em São Paulo, mas o nosso serviço é quatro vezes mais lento. Enquanto isso, a Telefonica, sozinha, fez 4,3 bilhões de reais em lucros no ano passado.

Temos 24 horas até a votação crucial
para o acesso à Internet rápida e confiável para todos - envie uma mensagem para a Anatel, a agência responsável por estabelecer os regulamentos, e em seguida, encaminhe este email para seus amigos e familiares:

http://www.avaaz.org/po/internet_para_todos/?vl


Neste momento, nosso governo está planejando uma expansão maciça dos serviços de Internet por todo o país, trazendo o acesso à informação a todos e até mais lucros para as empresas privadas de telecomunicações. Mas essa expansão é inútil se não existirem normas que garantam o bom serviço de Internet para os cidadãos mais pobres e as comunidades rurais. Normas de qualidade da Internet são o primeiro passo importante para um Brasil completamente conectado.

A ANATEL tem o poder de regulamentar as comunicações no Brasil
, mas fontes dizem que o conselho diretor está sendo pressionado por grandes empresas a adiar ou abandonar estes regulamentos - protegendo grandes lucros ao invés do direito à informação para os brasileiros.

Se enviarmos uma enxurrada de mensagens de apoio a ANATEL apoiando a regulamentação do acesso à Internet, poderemos dominar o lobby de telecomunicações e garantir um futuro com Internet confiável e justa para todos os brasileiros. Envie uma mensagem agora, e depois encaminhe para todos:

http://www.avaaz.org/po/internet_para_todos/?vl


Nossos direitos enquanto usuários da Internet estão em perigo constante, mas juntos podemos vencer mesmo as maiores ameaças. Em agosto, o poder do povo ajudou a adiar um projeto de leis de crimes digitais altamente restritivo no Congresso abrindo o caminho para o Marco Civil, um projeto de lei pelos direitos do usuário da Internet. Agora vamos nos unir mais uma vez e levantar um coro enorme a nível nacional para melhorar a qualidade de nosso acesso à Web e alcançar o direito de Internet para todos.

Com esperança,

Luis, Diego, Carol, Emma, Ricken, Alex, Alice e o resto do time da Avaaz

Mais informações:

Saiba mais sobre a Campanha Banda Larga para pressionar a Anatel e garantir a Internet para todos:
http://campanhabandalarga.org.br/


Conselheira da Anatel sugere redução das taxas de interconexão (Folha de S. Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/992494-conselheira-da-anatel-sugere-reducao-das-taxas-de-interconexao.shtml


Idec convoca consumidores para pressionar Anatel por qualidade da internet (Portal do Consumidor)
http://www.portaldoconsumidor.gov.br/noticia.asp?busca=sim&id=19900


Fatos sobre as operadoras de telefonia no Brasil (Teleco)
http://www.teleco.com.br/operadoras/grupos.asp


Campanha "Toda quinta é dia de pressão na Anatel" tem participação do Procon (UOL)
http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/infomoney/2011/10/20/campanha-toda-quinta-e-dia-de-pressao-na-anatel-tem-participacao-do-procon.jhtm

sábado, 22 de outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Mobilização Social e Prevenção ao Uso de Drogas

Mobilização Social e Prevenção ao Uso de Drogas

O projeto Refletir, desenvolvido pelo Instituto Recriando com o patrocínio do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Aracaju e apoio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Aracaju, sugere, através das pautas que seguem, propostas de abordagem referentes à prevenção ao uso de drogas entre crianças e adolescentes. As pautas são lançadas para a imprensa na perspectiva de mobilizar a sociedade e fomentar um debate público aprofundado sobre o tema, levando ao conhecimento das pessoas que a problemática da drogadição e suas consequencias não se detêm ao consumo de drogas em locais públicos, ao tráfico e a atos violentos decorridos do uso de substâncias psicoativas.

Diante disso, é fundamental tratar o uso de drogas como um fenômeno social que repercute em diversos setores da sociedade, a exemplo da saúde, trabalho infantil, rendimento e evasão escolar, e convívio familiar. Sem esquecer a importância de apontar meios para resolver a problemática e de sensibilizar a família, a sociedade e o poder público para exercerem seu papel na prevenção e no enfrentamento ao uso de drogas.   




Trabalho infantil: uma grave conseqüência do uso de drogas

A utilização da mão-de-obra de crianças e adolescentes no narcoplantio e no tráfico de drogas constitui uma das piores formas de trabalho infantil, segundo relatório da Organização Internacional do trabalho (OIT)

Diversas constatações são feitas diariamente a partir dos problemas causados pelo uso e pelo tráfico de drogas, uma realidade que gera dependência, dor, violência, crimes, prisões e mortes. Neste panorama, entretanto, dificilmente o consumo de substâncias psicoativas é associado à violação dos direitos de crianças e adolescentes. Não só o consumo, mas a produção e o tráfico de drogas ferem direitos fundamentais para o desenvolvimento saudável de meninos e meninas, além de causar danos muitas vezes irreparáveis em suas vidas.

O direito à saúde, à dignidade, ao respeito, à convivência familiar e comunitária e até mesmo à vida é violado não só pelo consumo da droga, mas também quando meninos e meninas são submetidos ao trabalho infantil, ao serem seduzidos ou obrigados a trabalhar no sistema de produção (narcoplantio) e no tráfico de entorpecentes. De acordo com a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma das piores formas de trabalho infantil é a utilização da criança e do adolescente em atividades ilícitas, particularmente na produção e no tráfico de drogas. Além de terem a saúde prejudicada e de serem obrigadas a deixar a escola, muitas crianças e adolescentes perdem a liberdade e todos os dias correm riscos de serem violentadas e mortas por causa da violência que permeia o tráfico de drogas.   
As diversas etapas do processo de produção das drogas e a atuação desses meninos e meninas no tráfico comprovam o quanto esse tipo de trabalho é prejudicial. Um exemplo é apresentado pela coordenadora do Instituto Nacional de Estatística e Informática (IDEI), Sandra Namihas, alerta sobre os perigos do envolvimento de crianças e adolescentes no narcotráfico. “Crianças que participam da colheita da folha usam objetos cortantes afiados, como facões, pás, ganchos e ancinhos para trabalhar o solo ou abrir fossas”, diz. O mercado das drogas é cruel e submete essas crianças e adolescentes a um universo que o afasta cada vez mais da infância, jogando-os precocemente numa vida adulta e na maioria das vezes curta.

Causas - Um estudo realizado em 2002 pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), sob encomenda da OIT, entrevistou 100 pessoas, entre julho e dezembro daquele ano, sendo 50 delas empregadas no tráfico em 21 favelas – entre estas 40 crianças e adolescentes e dez adultos. O intuito do estudo foi obter conclusões sobre o que leva crianças e adolescentes a entrarem no tráfico de drogas. Este estudo reforça uma proposta que, muitas vezes, não é compreendida pela sociedade ao analisar o fenômeno do narcotráfico: a concepção de redes sociais. Dentro das periferias existe uma imensa teia de relações interpessoais e simbólicas que constroem a forma como esta atividade e outras tantas são desenvolvidas. Esta concepção aliada a uma situação de exclusão e estereotipação social, alimenta uma série de tabus e falsas realidades no entorno do tema do tráfico de drogas.

Dentro do aspecto financeiro, que é uma das molas motrizes tanto do tráfico como de uma série de outras violações, a relação do consumo e a sociedade do materialismo conduzem e seduzem estas crianças e adolescentes a buscar bens de consumo que elas visualizam através das vitrines, dos meios de comunicação e em seu próprio entorno. O desejo por estes bens e a possibilidade do acesso rápido servem de fundamento para o ingresso ao tráfico. A busca pelo respeito e reconhecimento também pode ser encarada como razão para a entrada no tráfico de drogas, porém esta justificativa precisa ser analisada com o olhar de quem faz parte do universo periférico, de um ambiente marginalizado e excluído, tanto pela mídia quanto pela própria sociedade.

É preciso, entretanto, destacar que esta prática é extremamente degradante aos meninos e meninas que se envolvem. Primeiro porque muitas delas entram no tráfico não por prestígio ou pela questão financeira, mas pela dependência. Trabalhar para sustentar a dependência é um ciclo comum e que revela uma teia de envolvimento muito mais cruel do que se imagina. Dessa forma, neste leque de fatores que leva crianças e adolescentes ao tráfico de drogas a própria dependência química ou simplesmente o fato dos pais entenderem a atividade como uma forma de incrementar a renda familiar ainda são as causas que mais persistem e levam meninos e meninas a esse tipo de trabalho infantil.



Contatos
Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente do Estado de Sergipe (FEPETI/SE)
Verônica Passos Rocha Oliveira - coordenadora do FEPETI
Tel.: (79) 3213-0385

Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRT/SE)
Tel.: (79) 3211-1434 / 3211-1435
Fax: (79) 3211-3053

Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Severino Goes, Oficial de Comunicação e Imprensa
Tel.: (61) 2106-4600
Fax: (61) 3322-4352

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA)
Robson Anselmo, presidente
Tel.: (79) 3179-1341/1349

Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA)
Danival Falcão, presidente
Tel.: (79) 3246-1395


Família e escola são importantes agentes de prevenção ao uso de drogas
                   

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 4º, preconiza que ‘É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Considerando-se que a dependência química pode levar o indivíduo a perder sua liberdade, afastar-se da família e em casos mais extremos colocar em risco a própria vida, é importante que os diversos segmentos da sociedade, em especial a família e a escola, contribuam com a prevenção do uso de drogas entre a parcela infanto-juvenil da população.

A infância e a adolescência são momentos especiais na vida do indivíduo. O adolescente, em especial, não aceita orientações, pois está testando a possibilidade de ser adulto, de ter controle sobre si mesmo. É um momento de diferenciação em que ‘naturalmente’ afasta-se da família e adere a um determinado grupo, do qual acaba absorvendo valores. Nesse período de vulnerabilidade, o contato com a droga torna-se ainda mais preocupante porque expõe a criança e o adolescente a uma série de riscos. Esse contato do adolescente com a droga é um fenômeno muito mais freqüente do que se pensa e, por sua complexidade, difícil de ser abordado.

Contudo, a família não pode fugir da responsabilidade de orientar e de promover o diálogo dentro do ambiente doméstico, visto que é dever dos pais transmitir informações qualificadas para seus filhos principalmente quando a questão é prevenir o uso de drogas e suas perigosas conseqüências. Mas nem sempre a conversa com eles conseguirá evitar o contato com substâncias psicoativas. Dessa forma, a família precisa compreender que a prevenção é mais ampla que apenas uma conversa com o filho sobre drogas.

Outras ações são fundamentais para a prevenção, a exemplo de dar amor e respeito, transmitir valores, estabelecer limites e um diálogo permanente. Além disso, é importante que os pais incentivem seus filhos a realizarem atividades prazerosas e interessantes, estimulem a criatividade deles para buscarem alternativas saudáveis em suas vidas, nas quais eles possam encontrar prazer e satisfação. Os pais também precisam ter o hábito de aproximarem-se de seu filho para elogiá-lo, valorizá-lo e reconhecer seus méritos e sucessos sem excluir a importância dos limites, da repreensão ou mesmo da punição. O mais importante é que o jovem possa confiar em seus pais, sinta-se amado mesmo tendo imperfeições e dificuldades. Demonstrar interesse pela vida, amigos, atividades escolares e diversão também é uma atitude preventiva ao uso de drogas. Porém, é preciso ter cuidado para que o interesse natural não se torne um interrogatório no qual o jovem sinta-se vigiado e controlado.

Outro ambiente propício para promover a prevenção ao uso de entorpecentes é a escola. O espaço onde as crianças e os adolescentes passam a maior parte do tempo é apontado como um dos mais vulneráveis ao contato com as drogas. Pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 2004, revela que jovens experimentam drogas cada vez mais cedo e que a escola é o lugar mais associado ao seu consumo. O estudo aponta que o uso indevido de bebidas alcoólicas faz parte da vida de mais da metade dos jovens brasileiros. Já o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) indica o álcool como a grande preferência dos jovens, sendo usado em 68,4% dos casos. Esta realidade não está distante da cidade de Aracaju, que figura entre as 22 cidades da região com alto índice de uso de álcool e outras drogas, de acordo com a mesma pesquisa.

Ainda segundo a pesquisa da UNESCO, o consumo começa entre os primeiros anos da adolescência. O primeiro contato com as substâncias psicoativas acontece geralmente aos 13 anos, período em que o indivíduo acaba de chegar à adolescência, enquanto que o consumo de substâncias ilícitas só costuma ocorrer, em média, um ano e meio após a primeira tragada de cigarro ou o primeiro gole de bebida alcoólica. Os estudos concluem que existe possibilidade de combater o agravamento da dependência química dos adolescentes enquanto os mesmos ainda não foram expostos aos riscos do uso contínuo de substâncias psicotrópicas ilícitas. Coincidentemente, nessa faixa etária da vida um dos ambiente mais freqüentados pelos meninos e meninas é a escola, portanto, além da família, é imprescindível que a instituição educacional assuma seu papel enquanto formadores de cidadãos livres de qualquer tipo de dependência.
Dessa forma, é importante ressaltar que além de transmitir conhecimentos previstos na grade curricular, a escola precisa resgatar a sua função de preparar crianças e jovens para lidarem com questões sociais e emocionais, ajudá-las a desenvolver a própria identidade, além de incentivar a cidadania e a responsabilidade social. No que diz respeito ao uso de drogas, é necessário que a escola assuma sua ação protetiva em relação ao adolescente e não permaneça apenas em uma atitude defensiva por não se sentir em condições de lidar com essa questão. Apenas assim, a escola deixará de ser o ambiente mais vulnerável ao uso de drogas e passará a ser o mais protetor e protegido.

ECA garante tratamento diferenciado para crianças e adolescentes dependentes químicos
                                                     

Por estarem em fase de desenvolvimento físico e mental peculiar à faixa etária, crianças e adolescentes estão expostos a variados riscos decorrentes da dependência química. Da mesma forma com que esses meninos e meninas são mais suscetíveis a influências dos ambientes que frequentam, a exemplo da família, escola e amigos, eles também estão mais vulneráveis aos efeitos nocivos causados pelo uso dessas substâncias. Em função dessa vulnerabilidade física e mental, o uso de drogas por uma criança ou adolescente traz outros riscos além dos comuns a qualquer usuário de drogas. Sem falar que o uso abusivo de substâncias psicoativas produz o aumento do risco de acidentes e da violência, por tornar mais frágeis os cuidados com a própria vida, já enfraquecidos entre os adolescentes.

Tendo em vista que a parcela infanto-juvenil da população tem assegurado, com prioridade absoluta, o direito a uma vida saudável e isenta de riscos dessa natureza, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei nº 8069/90 garante que esses meninos e meninas vítimas das drogas tenham a oportunidade de se recuperar e ter uma vida digna com condições para o pleno desenvolvimento. ‘Direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência’ é o que preconiza o artigo 7º do ECA.

Quando se trata de meninos e meninas usuários de drogas esse direito à vida inclui oportunidades de tratamento e reabilitação. Diante disso, o Estatuto, em seus artigos 4º e 11, estabelece a necessidade de políticas públicas no tocante ao tratamento contra as drogas, incumbindo o poder público de fornecer gratuitamente os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento e reabilitação àqueles que necessitam.   

Dentre as políticas públicas voltadas para o tratamento de crianças e adolescentes dependentes químicos, está o estabelecimento de centros de tratamento contra a dependência química. A lei nº 8069/90 prevê ainda que caso o Estado não possua rede especializada nesse tipo de tratamento deverá recorrer à iniciativa privada com o intuito de formar convênios com instituições capacitadas para atender essa demanda. É importante ressaltar que a lei também prevê que o poder público tenha liberdade para estruturar o atendimento a esse público desde que ele seja imediato e com nível de presteza e qualidade adequados para oportunizar a recuperação e, consequentemente, devolver o respeito e a dignidade indispensáveis a esses meninos e meninas. 

Sergipe – O atendimento especializado a pessoas com transtornos relacionados ao uso de substâncias entorpecentes acontece em Sergipe através dos Centros de Atenção Psicossocial. Quando esses dependentes químicos são crianças e adolescentes, o atendimento é realizado pelo CAPS Infantil. Atualmente, meninos e meninas usuários de drogas dispõem de apenas duas unidades do CAPS especializadas em atendimento ao público infantil e adolescente. Elas funcionam na capital Aracaju e em Nossa Senhora do Socorro, já nos demais municípios o atendimento a esse público é realizado nos CAPS para transtornos mentais em parceria com os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). já nas cidades onde não existem CAPS, o serviço é prestado pelo CRAS e CREAS numa proposta de atendimento intersetorializado sendo que os Apoiadores Institucionais da Coordenação Estadual de Atenção Psicossocial (CEAP) prestam apoio acolhendo os serviços, capacitando os profissionais e acompanhando os casos mais complexos.

Os casos mais graves em que é necessário internamento para desintoxicação, o Estado dispõe do Serviço Hospitalar de Referência para Álcool e Outras Drogas, realizado pelo Hospital Cirurgia (SHR Ad – Cirurgia). A unidade atende adolescentes com até 17 anos de idade, oferecendo atenção hospitalar especializada, de acordo com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001), da Política Nacional de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas e da Política Estadual de Atenção Psicossocial.

Os critérios utilizados para admissão no SHR-ad - Cirurgia são: intoxicação grave, abstinência grave, comorbidades psiquiátricas, insucesso de tratamentos comunitários e situações de risco como tentativa de suicido, desvinculação social e familiar, auto e heteroagressão. O SHR Ad -Cirurgia está incumbida de dar cobertura à demanda de todo estado de Sergipe, com funcionamento 24 horas, durante os sete dias  da semana, acompanhando os usuários de forma intensiva levando em consideração seu quadro clínico e protocolos instituídos no hospital. São ofertados 16 leitos, sendo 06 destinados a adolescentes a partir de 12 anos com adequações para acolher seu responsável ou acompanhante respeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente.


Contatos
CAPS i “Vida”
Laudiane Cláudia dos Santos, assistente social e coordenadora CAPS i “Vida”
Tel.: (79)3179-3770
Rua Alberto Azevedo, 207, Bairro Suissa, Aracaju/SE

Rede de Saúde Mental
Karina Cunha, coordenação


Glaudenilson Siva
Coordenador do Disque Saúde e apoiador institucional da Coordenação Estadual de Atenção Psicossocial (CEAP)

Comitê Gestor do Plano Estadual de Combate ao Crack e Outras Drogas
Carlos Formiga, coordenador



Programa de Redução de Danos para crianças e adolescentes tem foco na reintegração familiar


Uma ação um tanto controvérsia, do campo da saúde pública, visa reduzir os danos causados pelo consumo de drogas ilícitas. É o chamado Programa de Redução de Danos. A iniciativa aplica-se àqueles que, não podendo ou não querendo, adotam comportamentos de risco ligados ao uso de drogas, como o compartilhamento de seringas, agulhas e cachimbos para fazer uso de substâncias psicoativas.

No Programa de Redução de Danos são realizadas intercessões direcionadas aos dependentes químicos que promovem a diminuição da vulnerabilidade associada ao consumo de drogas, a inclusão em serviços de saúde, a garantia dos direitos humanos e cidadania e a reintegração social. Tais intercessões referem-se à distribuição de seringas, evitando o compartilhamento e a própria infecção e de outras pessoas; incentivos à redução da frequencia do uso de drogas a fim de diminuir os danos que ela possa causar; orientações acerca da utilização de medicamentos que controlem a abistinência e da substiuição de uma droga de efeito mais devastador por outras com menor potencial de dependêcia, reduzindo aos poucos esse consumo até que o mesmo seja cessado.

O principal objetivo é reduzir a incidência de DST/HIV/Aids, Hepatites e outras doenças de transmissão sanguínea e sexual, entre os usuários de drogas. O programa de redução de danos inclui o constante monitoramento dos riscos de suicídio, overdose, e evolução dos efeitos prejudiciais das substancias psicoativas, cogitando-se a internação voluntária e a desintoxicação.

O que os agentes de programas de Redução de Danos destacam é que a ação não pode ser confundida com incentivo ao uso de drogas, embora fundamente-se no princípio da tolerância ou respeito às escolhas individuais. A Redução de Danos é um projeto que atua com informações sobre riscos, danos, práticas seguras, saúde, cidadania e direitos, para que as pessoas que usam álcool e outras drogas possam tomar suas decisões, buscar atendimento de saúde (se necessário) e estarem inseridas socialmente em um contexto de garantias de direitos e cidadania.

Segundo números de uma pesquisa realizada pela UNESCO em 2002, em escolas de 14 capitais brasileiras, cerca de 3,0% (141 mil jovens) declarou fazer uso diário, ou durante alguns dias na semana, de alguma droga ilícita. Quanto ao uso de drogas injetáveis, cerca de 0,3% dos estudantes das capitais pesquisadas afirmam fazer uso da via endovenosa, e a cocaína é a principal droga consumida. Os dados assustam ainda mais quando os envolvidos são crianças e adolescentes que estão em uma fase fundamental de desenvolvimento. 

Em Sergipe, o programa de redução de danos voltado para meninos e meninas é aplicado pela Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju de forma diferenciada. De acordo com informações da Coordenação de Redução de Danos do Município de Aracaju, entre os anos de 2002 e 2010 o programa atendeu cerca de 300 crianças e adolescentes usuárias de drogas e que viviam nas ruas da capital. Embora não existissem ações sistemáticas exclusivas para o público infanto-juvenil, os agentes atendiam os meninos e meninas com foco na área onde estes eram freqüentadores. A atenção dirigida pelo Programa de Redução de Danos ao consumo de drogas e à vulnerabilidade social entre crianças e adolescentes é caracterizada por intervenções comportamentais adaptadas que tenham foco nos fatores de proteção psicológico, físico e social. As visitas também são mais freqüentes que os atendimentos aos adultos. Quando a meta é o tratamento de meninos e meninas, o foco é a reintegração familiar, social e escolar, núcleos dos quais a grande maioria dessas crianças e adolescente sofre exclusão - razão que os leva a viver nas ruas na maior parte do tempo.

No último dia 4, a Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA), através da Secretaria Municipal de Saúde, retomou o Projeto de Redução de Danos, suspenso no ano passado. Foram nomeados 16 agentes redutores de danos aprovados em seleção. O projeto, vinculado à Escola de Redução de Danos do Ministério da Saúde, receberá um investimento de mais de 500 mil reais ao ano, sendo a maior parte uma contrapartida da Secretaria da Saúde de Aracaju. O trabalho é realizado no local onde esses grupos atuam, para promover uma educação em saúde. Este ano, as ações voltadas aos meninos e meninas terão pilares diferenciados para ampliar e especializar o tratamento infanto-juvenil. Uma das diretrizes deste projeto é o atendimento. Os agentes estão sendo capacitados com metodologias especificas para ampliar e especializar estas ações. Segundo a Coordenação Municipal de Redução de Danos, mais que propriamente a Redução de Danos, umas das prioridades do trabalho é a prevenção ao uso de drogas por crianças e adolescentes.


Contatos:
Coordenação da Escola Estadual de Redução de Danos
José Augusto Oliveira
Tel: (79) 3226-8322 / 9981-4912

Coordenação do Projeto de Redução de Danos do Município de Aracaju
Wagner Mendonça


Associação Sergipana de Redução e Ricos de Danos
Sérgio Andrade, presidenTel.: (79) 8823-8843

 


Projetos sociais também são fundamentais na prevenção ao uso de drogas por crianças e adolescentes

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cinco fatores propiciam o uso de substâncias psicoativas: falta de informação sobre o problema; dificuldade de inserção no meio familiar e no trabalho; insatisfação com a qualidade de vida; problemas de saúde; facilidade de acesso às substâncias. Entre os motivos alegados para o uso, pode-se destacar curiosidade; necessidade de pertencer a determinado grupo, diminuir inibições, adquirir coragem, relaxar para lidar com problemas ou simplesmente a obtenção de prazer. Estas razões estão estreitamente ligadas aos anseios por descobertas e novos desafios, muito comum ao universo juvenil. Esse anseio por novas experiências e descobertas acaba levando adolescentes e jovens a enveredam pelos caminhos das drogas.

Alguns acreditam que os fatores familiares são cruciais. Porém, o desenvolvimento social baseado na participação do ambiente que cerca o indivíduo, como a escola e a comunidade é de extrema importância no reforço da prevenção ao uso de drogas. Partindo deste princípio,  existem em várias partes do Brasil, projetos que partem da necessidade de nortear os professores para a prevenção ao uso de álcool e outras drogas, identificando fatores de risco para que se possa ajudar os estudantes através de ações preventivas. No convívio escolar, o projeto atua como mediador de conflitos não só junto às crianças e os adolescentes, mas também associados aos educadores e familiares, todos formando uma grande rede.

Dentre as ações desenvolvidas por estes projetos e iniciativas estão debates sobre a prevenção do uso de drogas com a comunidade escolar; discussão sobre políticas públicas de prevenção ao uso de drogas na infância e adolescência; conhecimento da realidade onde fica localizada a escola com relação ao problema das drogas e promoção do debate com especialistas para a comunidade escolar envolvendo estudantes, pais e professores. Além disso, os projetos se utilizam de atividades atrativas para chamar atenção dos meninos e meninas. São oficinas educativas, lúdicas e culturais geralmente no horário contrário ao da escola, impedindo que pelo menos nesse horário eles fiquem vulneráveis às drogas. 

Apesar da importância de uma família bem estruturada que assume o controle sobre os filhos com diálogo, atenção e atitudes preventivas, sempre há o temor que tais atitudes não sejam suficientes para afastá-los do risco de envolvimento com as drogas. Por isso se faz necessário, o desenvolvimento de ações que reúna família e instituições sociais em atividades socioeducativas junto às crianças e adolescentes.

O que pretende com esses projetos e ações é que, dentro do convívio escolar, estas iniciativas possam contribuir para a formação de cidadãos conscientes e críticos, transformadores das mudanças necessárias em seus convívios sociais. As expectativas partem do principio de que as ações mesurem os reais desafios com um foco principal, que é a obtenção de resultados positivos que melhorem a qualidade de vida de crianças e adolescentes, chegando pro fim a um objetivo final ainda maior, que é a prevenção do uso das drogas lícitas e ilícitas.

Em Aracaju é realizado o Projeto Refletir, uma iniciativa executada com o patrocínio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Aracaju, através do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e com o apoio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Aracaju que realiza a formação em educomunicação através de oficinas de rádio e mídia impressa para 50 adolescentes estudantes das Escolas Municipais Anízio Teixeira, no bairro Atalaia, e Laonte Gama, no Santa Maria. Paralelamente às oficinas de educomunicação, é realizada a formação de educadores da rede pública municipal de Aracaju como forma de potencializar as ações desenvolvidas junto aos estudantes.





Seminário de Formação para Educadores marca encerramento do projeto RefletIR

Durante o seminário, o consultor na Área de Drogas e AIDS do Ministé       rio da Saúde, Domiciano Siqueira, discutirá meios de como construir na sala de aula debates que provoquem nos adolescentes uma visão crítica e consciente sobre as consequências do uso de drogas.


Amanhã, 21, às 19h, será realizado o ‘Seminário de Formação de Educadores para a Prevenção ao Uso de Drogas’. O evento marca o encerramento do projeto RefletIR, desenvolvido pelo Instituto Recriando em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Aracaju e da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Aracaju. A palestra, voltada para todos os professores da rede municipal de ensino, além de profissionais e estudantes das áreas de Pedagogia, Licenciaturas, Psicologia e Serviço Social, acontecerá no auditório da Faculdade São Luís de França, localizada na Rua Laranjeiras, 1838, bairro Getúlio Vargas, Aracaju/SE.

A iniciativa é uma das ações de formação continuada para professores da rede municipal de ensino de Aracaju previstas no projeto. Através de oficinas de comunicação, os educadores também foram convidados a conhecer a metodologia da educomunicação, bem como a aprofundar seu olhar sobre o universo que envolve as drogas lícitas e ilícitas, repensar seu papel enquanto agente formador do público infanto-juvenil, além de traçar estratégias de atuação para obter maior envolvimento da comunidade escolar na prevenção ao uso de drogas.

O ‘Seminário de Formação de Educadores para a Prevenção ao Uso de Drogas’ contará com a palestra do presidente da Associação Brasileira de Redutores e Redutoras de Danos (ABORDA) e Consultor na Área de Drogas e AIDS do Ministério da Saúde, Domiciano Siqueira. Na ocasião, o especialista apresentará estratégias de abordagem sobre a prevenção ao uso de entorpecentes na perspectiva dos estudantes. A ideia é refletir junto com os professores sobre meios de como construir na sala de aula debates que não declinem para o senso-comum ou para uma visão preconceituosa sobre a temática, mas que estimulem entre os adolescentes uma visão crítica e consciente sobre as consequências do uso de drogas.

Além de desenvolver ações voltadas para os educadores da rede formal de ensino de Aracaju, o projeto RefletIR – Mobilização Social e Prevenção ao Uso de Drogas tem como público alvo estudantes de escolas municipais da capital sergipana. Atualmente, o projeto atende 50 adolescentes de 12 a 14 anos das Escolas Municipais de Ensino Fundamental Anísio Teixeira, no bairro Atalaia, e Laonte Gama, no bairro Santa Maria. Através de oficinas de rádio e mídia impressa, e da participação em palestras, debates e dinâmicas reflexivas, os educandos são estimulados a adotar uma visão mais ampliada e crítica sobre o uso de drogas, seus impactos a curto e longo prazo, além de serem alertados sobre as conseqüências que essas substâncias podem trazer para o indivíduo, para a família e para a sociedade.

A partir do aprendizado das técnicas de comunicação e do conhecimento adquirido durante os debates, os meninos e meninas produzem ao final de cada oficina peças midiáticas, como spots, fanzines, jornais murais e cartazes, cujas abordagens são sugeridas pelos próprios educandos a partir da realidade na qual estão inseridos. Depois de concluídos, esses produtos de comunicação são distribuídos na comunidade escolar e entre os moradores do bairro. Assim, mais do que aprender técnicas de comunicação, os educandos são estimulados a exercer a participação social na comunidade em que vivem de maneira construtiva e ética, tornando-se multiplicadores e mobilizadores sociais.


Núcleo de comunicação do Instituto Recriando
Tarcila Olanda
Elma Santos
Telefax: (79) 3246-5242/3246-5211

 

Parceiros:

                

sábado, 15 de outubro de 2011

Não deixa cair a profecia - Dom Pedro Casaldáliga

Mensagem de Dom Pedro Casaldáliga à Assembléia Geral do Cimi, enviada por vídeo e apresentada na abertura, na terça-feira, dia 4 de outubro.
"Reunida em assembleia geral, em tempos raríssimos, como dizia Santa Teresa, em tempos belos, que devem ser, simultaneamente, tempos de muito compromisso, de muita esperança.
Eu estava lendo, estes dias, o livro de Marcelo Barros, sobre Dom Helder Camara - Profeta para os nossos dias. Nos últimos dias de sua vida, Dom Helder falou para Marcelo: não deixa cair a profecia. Nós família do Cimi, os presentes na Assembleia, os espalhados por aí, devemos abrir os olhos, abrir o coração, e assumir a hora. Estamos convencidos de que não serão os governos de baixa democracia que resolverão os desafios maiores da maioria do nosso povo. Sabemos por experiência, que a causa indígena é uma causa que atrapalha. Os povos indígenas são inimigos do sistema. E das oligarquias sucessivas e os impérios sucessivos que agora são um macro-império volátil das grandes empresas, dos grandes bancos, que não podem falhar, porque falha a humanidade, parece.
Sentimos que mesmo aproveitando as brechas que os governos atuais nos dão, a nossa luta é maior. Devemos insistir no trabalho de conscientização no meio dos povos indígenas.
[É preciso] recordar também que é um momento de tentação, de cooptação, de divisão. Recordar que as autarquias do Incra, da Funai, do IBAMA, são apenas instituições marginais dentro do sistema, que existem para dar aparência de uma dedicação, de um cuidado.
De fato, a política indígena não é a favor dos próprios indígenas. A política agrária não é a favor do povo camponês. Sejamos conscientes. Sejamos críticos e autocríticos.
E mantenhamos a esperança. Pode falhar tudo. Menos a esperança. Estamos na tentação. Vontade às vezes dá de largar tudo. Quanto mais difícil o tempo, mais forte deve ser a esperança.
Na Romaria dos Mártires, celebrado agora em julho, recordávamos que fazer a memória dos mártires, é assumir as causas pelas quais eles deram a vida. É fazer memória de todos esses anos de Cimi, pelos quais tantos irmãos e irmãs, agentes de pastoral, agentes indigenistas, e os próprios índios, sobretudo, vêm lutando; vêm arriscando a vida; vêm dando a vida também.
Recordamos que uma palavra testamentária de Jesus diz; "Façam isso em memória de mim." Dêem a vida em memória de mim. Dêem a vida aos pobres, aos pequenos, aos povos indígenas.
Um grande abraço, e a paz subversiva do Evangelho".
Dom Pedro Casaldáliga, outubro 2011
Dom Pedro Casaldáliga
Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia
Fonte: Cimi/Ad

 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Uma crítica xamânica ao capitalismo

Se o “povo da mercadoria” não quiser que o céu caia sobre ele, é preciso que ajude a impedir a morte dos indígenas

06/10/2011

Joana Moncau
Belém, Pará
Desinformemonos.org

Minha mensagem que solto na minha boca, é que o céu só vai cair quando não tiver mais índio, quando não tiver mais floresta, mais rio, mais povo indígena - Foto: Joana Moncau
Cinquenta anos atrás, os Yanomami ficaram mundialmente conhecidos como os últimos homens da Idade da Pedra a serem descobertos pela civilização ocidental. Neste início do século XXI, com um panorama catastrófico da ocupação não indígena na Amazônia, uma das críticas mais duras e profundas a esse modelo de “civilização” chega justamente da boca de um xamã yanomami. Os primitivo, quem diria, somos nós.

Desde os anos 80, Davi Kopenawa se notabilizou como um dos líderes indígenas mais conhecidos da Amazônia. A profundidade e complexidade de suas reflexões políticas o levou mais longe. Além de prêmios renomados, como o Prêmio Global 500 da ONU, hoje, seu pensamento é reconhecido internacionalmente. Recentemente, lançou em Paris o livro A queda do céu, Palavras de um xamã yanomami. Nele estão seus pensamentos recolhidos em Yanomami pelo etnólogo Bruce Albert, seu amigo há mais de 30 anos.

O pensamento de Davi é uma crítica radical ao capitalismo vinda dos confins da floresta. Para ele, nós, ocidentais, o “povo da mercadoria”, estamos doentes, dada nossa incapacidade de ouvir. E os riscos disso não são poucos. Kopenawa sabe bem do que fala. A corrida pelo ouro levou seu povo a ser dizimado por epidemias e conflitos trazidos pelo garimpo, na década de 1980. Sua atuação política contra o garimpo foi fundamental para a demarcação da Terra Indígena Yanomami, em 1992, ao norte da Amazônia, na divisa com a Venezuela.

“Vamos lançar esse livro. Vamos ver se os novos vão abrir os ouvidos”, diz. Esperamos que sim, afinal, segundo as palavras de Davi, se o “povo da mercadoria” não quiser que o céu caia sobre ele, é preciso que ajude a impedir a morte dos indígenas. O dia que o último indígena morrer, será o fim do mundo.

A seguir entrevista exclusiva concedida a Desinformémonos.

Quando você ainda era criança e viu o homem branco pela primeira vez, ficou apavorado. Tua mãe te escondeu em um cesto para que se acalmasse. Hoje a história de contato do homem branco com seu povo demonstrou que tinha razão nesse medo?
Eu tinha razão mesmo. Hoje eu cresci e ainda olho para o homem branco desconfiado. Agora estou aqui na cidade, eu não conhecia o movimento da cidade, muito carro, muita gente, muito barulho. Agora eu cresci e encontrei o homem branco interessado pela nossa terra, nossa riqueza, enganando também o povo indígena. Quando virei homem, com 20 anos, comecei a lutar com o homem da cidade, o homem político que não quer saber de nós, não quer respeitar o direito do povo indígena, do povo Yanomami. Eu comprei essa briga. Agora eu estou defendendo meu povo, brigando com político, para não deixar meu povo sofrer.

Como você ganhou tanto destaque nessa briga?
Sou um filho do Yanomami que enxerga e vê, reclama com os políticos. O homem grande da cidade, o governo, para mim ele significa um gigante, um Golias. Ele é um espírito grande que quer tomar toda nossa floresta destruindo. Querem acabar com o povo indígena do Brasil. Mas eu reforcei a luta e fui mandado para enfrentar homem. A força da natureza mostrou o caminho para meu povo ficar na frente, como se joga bola de futebol. Minha luta é tipo futebol, que vem apanhando muito, apanhando dos políticos, aprendendo a defender. Precisa de coragem para enfrentar o homem.

Até hoje estou aqui. Conversando com vocês, conversando com antropólogo, com autoridades, para eles mudarem o pensamento e não repetirem o preconceito que eles têm. Preconceito nós todos temos, do índio e do branco. Então pelo menos tem que ouvir nossa voz. Conversar com a Funai também e com os antropólogos. Nosso governo está cuidando do nosso país e vocês lendo meu escrito no papel que meu amigo escreveu, que eu pedi para divulgar para outros estudantes, outros professores. Para mim isso é importante para fazer uma barreira, para não fazerem mais maldade de nós.

Nós somos gente, somos seres humanos, somos legítimos dessa terra. Isso eu aprendi e agora sou liderança do povo Yanomami, represento eles no Brasil e no mundo. Hoje em dia o mundo conhece o nome do povo Yanomami. Os teus filhos, a tua filha, vão continuar lendo, escutando o nome dos indígenas do Brasil que estão lutando. Essa é nossa luta para poder viver. Sem luta, sem reclamação é morte, morre muita gente. É importante que você esteja aqui me entrevistando. Queria que você escrevesse para nosso amigo que estuda na escola, as moças novas que não conhecem o índio, que nunca foram na aldeia, que nunca conheceram indígena. Então é bom essa mensagem para que acreditem que estamos defendendo nosso país.

Há muitos anos os Yanomami lutam contra o garimpeiro em suas terras. Quais os danos que essa atividade econômica já fez ao seu povo e às suas terras?
Essa história é muito triste para mim, mas eu posso contar. O tempo do garimpo foi em 1985 e em 1986, aconteceu uma invasão de 40 mil garimpeiros na nossa terra. A Funai se levantou, mas não fez força para tirar eles rápido. O Garimpeiro na terra Yanomami foi muito ruim, muito forte, porque o próprio governo abriu as portas para os garimpeiros trabalharem e invadirem nossa terra. Os garimpeiros mataram muitos Yanomami e, depois da invasão, chegou a doença do garimpo: malária, tuberculose, gripe, cachaça, bebida alcoólica. E também homem mau que mata a gente, aconteceu muito. Mas não gosto de falar muito porque eu sofri demais por causa do meu povo.

Eu sobrevivi e também reforcei a lutar para não deixar morrer os parente Yanomami no tempo do garimpo. O garimpo estragou nosso rio, derramou veneno (como o mercúrio), óleo, gasolina. Mataram peixe, destruíram todo nosso rio. E até hoje a doença não saiu. Porque a doença ninguém pega, a doença a Polícia não pega de volta. A doença entrou e então continua. Eu tive sorte que umas e outras lideranças me ajudaram para indicar meu nome para ONU. O prêmio Global 500 abriu muito espaço para eu poder sair. Porque aqui no Brasil eu não consigo, não tem governo bom, aqui só se promete. Foi a ONU que me deu apoio para sair do meu país e ir para outro mundo para contar a história do meu povo Yanomami, dizer o que que o governo está fazendo, que o governo está deixando morrer meu povo, que os garimpeiro estão destruindo a natureza.

Como está o garimpo hoje em dia nas terras Yanomami?
O governo Collor resolveu tirar garimpeiro e demarcar nossas terras. Os garimpeiros foram embora, mas depois eles voltaram. Eles voltaram até hoje e estão aumentando. Essa é nossa preocupação de novo. Os garimpeiros são bichos, como o bicho porco, que ficam metendo o nariz no chão. Então eles são porcos. E o garimpo continua, entraram de novo, até hoje estão lá trabalhando. Continuam sujando nosso rio. Isso daí não mudou não.

No seu livro, lançado na França e que ainda será lançado no Brasil, você alerta para o risco de que ocorra a “queda do céu” sobre o “povo da mercadoria”. Será que o “povo da mercadoria” não se dará conta de que o caminho que trilha é obscuro, a tempo?
Você chama planeta, nós chamamos Hutomosi, que fica em cima da gente. Esse é o perigo. Ninguém está olhando para ele, ninguém está sonhando com o que vai acontecer. Minha mensagem que solto na minha boca, é que o céu só vai cair quando não tiver mais índio, quando não tiver mais floresta, mais rio, mais povo indígena. Não tem mais pajé, acabou a floresta e o mundo vai inundar. O mundo vai inundar e vai pensar naquele que matou: o homem branco que matou meu povo, matou a floresta, destruiu tudo, não tem mais índio na terra, então o mundo nosso (chama Hutukara) vai se vingar para matar o povo da terra.

É assim que falo para meu amigo [Bruce Albert] escrever no papel para o povo acreditar. Isso aí é a mensagem. Tendo índio, tendo pajé, não vai acontecer. Isso não vai acontecer agora não, nós vamos viver ainda. É por isso que vocês têm que pensar e divulgar para outros também pensarem e defenderem nossa floresta, nosso povo.

Antigamente o céu que está aqui caiu, matou o povo. Nós somos sobrevivência do humano. Hoje, é o pajé que trabalha para segurar a onda do mundo, a onda do céu, para não cair. Esse é meu trabalho, para não deixar acabar meu povo Yanomami. Com os pajés, com o Pata (sábios), e para eles não morrerem de doença, gripe, malária. Então estou aqui falando com autoridades da cidade, para eles cuidarem. Se eles não quiserem cuidar, se morrermos nós todos, os índios, sem ajuda, então eu falo: sem índio, sem a floresta, o mundo vai cair, o mundo vai se vingar como aconteceu antigamente.

Do que os índios e os pajés precisam para não acabarem?
Os pajés Yanomami precisam apoio de saúde. O governo brasileiro tem dever de cuidar da saúde Yanomami. Não só, de outros parentes também: Tikuna, Makuxi, Wapixana, Waiwai, Waimiri-Atroari, Xavante, Kayapó… O governo brasileiro tem que cuidar de saúde, dar vacina, remédio, para eles fazerem tratamento. Tem que dar saúde de qualidade para cuidar do meu povo, para não deixar morrer os pajés que estão cuidando do nosso mudo.

Como você entende essas epidemias do contato?

Eu e meu povo chamamos essas epidemias de Xawara. Xawara é um espírito mau, que transmite doenças como gripe, sarampo, malária, tuberculose e outras doenças que vem andando. Porque essaXawara é lá da Europa, ela vem trazida de outros povos, de outros países. Aqui no Brasil não tinha Xawara, hoje sim, porque eles a trazem nos corpos de avião, de navio. Assim que vem trazida essa Xawara para ficar nas aldeias, nas comunidades. Ela ataca nós, ataca nossa alma, ataca nossos filhos, nossas mulheres, eles ficam doente. Xawara quer dizer “canibal” em português.

Enquanto xamã, o que acha que pode ser feito para que o povo da mercadoria abra os ouvidos e adquira sabedoria para parar de destruir esse mundo que é de todos?
Isso é complicado, é difícil. Nós já falamos muito, mas o povo só quer destruir para fazer mercadorias, as mercadorias que ficam embaixo da terra. Mercadoria dos brancos, significa destruir a natureza para tirar riqueza da terra: ouro, diamante, pedras preciosos, a madeira também. Isso é pensamento dos homens brancos. Para ele parar de fazer isso não tem remédio, não tem pessoal… Não tem cura para ele. Porque a raiz do pensamento que quer tirar mercadoria da terra, é profunda, a raiz está no pensamento da autoridade, que não vai parar de pensar não. Ele vai continuar pensando, tirando cada vez mais a riqueza da terra. Esse homem é louco. Homem ficou doente, com o pensamento doente. Ele não pensa, não escuta nós, nem lê, não acredita. Só acredita nele, porque ele tá com dinheiro na mão. Dinheiro, avião, carro, navio, armas pesadas, os exércitos estão junto com ele. Mas para parar, ele não vai parar não. Mas eu venho tentando, conversando para pararem de destruir a natureza.

Não tem cura então?

Não tem cura, não tem remédio. Só tem cura se mudar, como lavar uma panela. O homem que domina nós, que manipula nós, ele não pensa em nós, não pensa em vocês. Nós falamos, mas ele não quer perder mercadoria, não quer parar de destruir, não quer deixar de fabricar. Fabrica mais para vender mais, para negociar mais. Eu acredito que isso é difícil e para mudar só um governo novo, um governo bom. Eu não tenho um chefe nessa terra, não tenho amigo bom para governar o mundo. Para governar e controlar essa fábrica de mercadoria: mercadoria panela, rede, calção, carro, elétricos, internet, televisão. Ele não percebe não, porque ele é homem doente. Nós tentamos fazer ele escutar, mas ele não escuta. Ele é homem seco, não quer parar de tirar mercadoria. Mercadoria para mim significa tirado da terra pra fazer tijolo, cimento, madeira, ouro, diamante, para fazer vidro, pra fazer televisão. Isso tudo é material, mercadoria da terra. É tirado da terra.

Como conseguir um governo bom que resolva essa situação?

Para parar de fazer isso, para parar de fabricar, para parar de tirar é preciso mudar a mamadeira do governo, a mamadeira de todo mundo, de todos os governos que nosso país elege. Existe uma mamadeira só. Quando um governo sai e o outro vem, ele mama a mesma mamadeira. Essa mamadeira é suja, o governo não quer trocar. Nós Yanomami, falamos que tem que trocar a mamadeira, tem que trocar para outro governo bom, honesto, que quer ajudar o povo indígena, quer parar o que não presta. Para mudar a mamadeira, só os futuros, o futuro nosso, repensar. Nós não podemos mudar essa mamadeira. Hoje o presidente é uma mulher, ela está mamando a mesma mamadeira que José Sarney mamou, que o Collor mamou, que o Lula mamou. Não mudou anda. Eu pensava que o presidente mulher ia usar mamadeira nova e a cadeira nova.

Como conquistar essa “mamadeira nova”?
Depende do povo, porque o povo tem medo de reclamar. O povo quer mudar, mas autoridade não quer mudar não, porque ela quer dinheiro do povo, não sabe como ficaria se mudasse. Nem Deus não vai mudar. Assim sempre vai funcionando nosso país, nosso chefe, nossa autoridade, vão continuar maltratando nosso povo. Não tem emprego bom, não tem casa boa, não tem comida para crianças comer, muitos aqui na rua estão comendo lixo. A criança fica morando na favela, o chefe não vai dar a casa boa para ela. Não vai dar emprego bom para eles trabalharem e para ele ficar contente. Um fica triste e outro fica contente porque tá com salário bom, mercadoria boa, tá comendo comida boa, de primeira qualidade. É isso que o governo come. Esse daí pata xawara come. E nós? Comemos cabeça, orelha, tripa, essa é nossa comida. Para mercadoria, mudar a cabeça do homem é difícil.

Como é sua vida atualmente em meio a tanta atividade política?
Continuo morando junto com meu povo Yanomami. Não posso deixar meu povo sofrer sozinho, estou aqui porque sou representante do meu povo, sou porta-voz do meu povo. Não tenho casa para ficar na cidade, minha casa está na aldeia, meus filhos, família, mulher, estão todos lá. Eu tenho um lugar, uma casa na cidade, chama Hutukara Associação Yanomami. Nós criamos uma associação [em 2004] para ficar perto do governo. Se eu ficar todo tempo na aldeia, não resolve, não posso reclamar porque não estou vendo. Se vou perto da cidade, junto, olhando olho no olho para a Funai, o governador, o presidente, eu reclamo. Por isso fico na cidade dois meses, depois eu volto para a aldeia. A minha casa é na aldeia, não é na cidade. Eu não moro na cidade, eu fico trabalhando. Sou tipo um guardião do meu povo, fico vigiando, fica perto do computador para poder comunicar para São Paulo, Brasília, Manaus, comunicar para outro mundo.

O que você diria para “os novos” que ainda podem abrir os ouvidos?
Eu queria dize ruma mensagem para você mandar para as crianças e os estudantes que não conhecem sobre nós, não conhecem a floresta, não conhecem a comunidade, não conhecem meu povo, não conhecem os costumes tradicionais, não conhecem os pajés, as curandeiras, que estão lá na minha aldeia. Os novos da cidade que estudam, precisam se aproximar de nós. Precisamos aproximar nossos filhos para fazer amizade, para ficarem amigos, para defenderem, para lutarem juntos. Essa é minha mensagem para o povo da cidade. Se ele achar boa minha ideia que estou gravando aqui. Difunde pra quem quiser escutar, o professor, a professora, para ensinar as boas coisas, para preservar a natureza. Isso vale para os povos de todo o mundo: Venezuela, Colômbia, Equador, Brasil, México, Europa, Argentina, Japão. Queria que nossa mensagem chegasse para outro pessoal que escute e sinta vontade de ajudar. Nossa luta é importante para nosso povo e para o povo brasileiro, não só para o Yanomami. Tem que ter índio aqui nessa terra. O povo da floresta precisa também ajudar o não-índio. Sabemos que minha pele é diferente, mas nos somos um ser humano só. Não tem diferença. O sangue, a pele é diferente, mas nosso criador do mundo chama Omamë , ele fala que somos todos irmãos, um ser humano só. Corre um sangue só.